quinta-feira, dezembro 27, 2007

Balanço: Impasse, Justiça e Fuga

A actividade da política local no ano de 2007 foi marcada por factores exógenos. A alteração e animação do quotidiano da cidade deveu-se a relações com entidades de índole nacional, que marcaram fortemente o ano que agora termina.

O impasse nas negociações com o Governo actual foram o ponto negativo, por não terem sido profícuas para a Cidade.

Os grandes assuntos pendentes do ano anterior (Encerramento das Urgências, construção e ligação à A32, aplicação na Linha do Vouga de vaivém) não se alteraram. As últimas notícias vindas a público relativamente a estes assuntos, demonstram que a crença, em se obter uma solução adequada à pretensão dos Autarcas locais, é cada vez menor. A prova disso são as verbas orçamentadas para o ano de 2008. Às dúvidas colocadas na Assembleia Municipal de 13 de Dezembro, o Presidente da Câmara Municipal de S. João da Madeira adiantou que a concessão da A32 não previa a construção da ligação a Ovar. Uma atitude que difere com a sustentada no passado, quando se procurava saber em que situação estava a ligação por auto-estrada ao Porto. Desta vez, houve vontade em trazer más notícias em primeira mão. Do encerramento das urgências, processo que a oposição política habilmente delegou a responsabilidade negocial no Presidente da Câmara, a convicção é que qualquer dia terá data marcada. O Ministro da Saúde contínua firme na ideia de transferir responsabilidades para os Centro de Saúde e para os médicos de família. Os próximos tempos deverão ser decisivos, até porque os serviços de Urgência do distrito de Aveiro com o encerramento previsto, já começaram a fechar.

Se no campo político, a grande acção da oposição foi engavetar o Presidente da Câmara, uma ajuda maior e preciosa foi obtida em matéria de acções judiciais. Por um lado, o capital político adquirido do processo que visava Teresa Correia, por outro, em processo ainda sem desfecho e este já envolvendo directamente o Presidente da Câmara, o poder autárquico foi beliscado pelo poder judicial. Estes processos trouxeram um outro factor importante, clarificaram perante os eleitores os negócios privados do Dr. Castro Almeida, o que foi extremamente importante para terminar com insinuações.

Neste panorama, o Dr. Castro Almeida encetou uma fuga para o futuro. Em termos de política local, procurou algo diferente do que apresentar Planos de Actividades repletos de conclusões de obras, inaugurações, lançamento a concurso público, ou início de empreitada. A apresentação em Outubro através do Engº. Mira Amaral do Plano de Inovação: “S. João da Madeira 2015” conseguiu trazer algo diferente de uma sucessão de pretensas obras municipais, com co-financiamento do Estado. Provavelmente não muito bem assimilado pela totalidade da população, este é um importante projecto que pode ajudar a alavancar a transformação da economia local, tornando-a mais competitiva.

Um autarca sabe que tem um contrato de quatro anos com os seus eleitores. Está a prazo no desempenho da sua função. Com a alteração da Lei, impondo a limitação do número de mandatos, sendo impossível aos autarcas cumprirem mais de três, o edil local tem a sua carreira política para rever. No máximo será autarca em S. João da Madeira a médio prazo, por um período de 6 anos. Desta forma, seguindo a ambição de outras figuras do seu partido a exercerem funções de Autarca, tornou-se figura nacional e consagrou-se como a voz da contestação ao líder populista do Partido Social Democrata.

Bem sei que muita gente espera com esta projecção política de Castro Almeida, que o Governo actue de forma diferente com a Cidade. Ambiciona-se que o seu protagonismo pessoal seja traduzido em melhores relações com os Ministros (não apenas com secretários de Estado) e que o concelho consiga inverter a tendência recente de perda de valências e de investimento público.

O próximo ano ficará caracterizado pela capacidade de afirmação na política nacional do Dr. Castro Almeida. Obviamente, a capacidade de execução enquanto Autarca estará em análise. A mediatização conseguida na imprensa pela cobertura por banda larga, dando acesso gratuito à internet, em todo o território geográfico deste concelho, foi o arranque. O plano de actividades para 2008 promete inaugurações várias e a resolução de problemas antigos da Cidade. Nada com direito a projecção nacional. Apenas e só a inauguração do Centro Empresarial e Tecnológico, desde que previamente dinamizado, poderá ter o efeito pretendido.

Estando já em campo de projecções, desejo um Bom Ano de 2008 a todos os leitores.

(a publicar dia 28/12/07)

domingo, dezembro 16, 2007

Dezembro

Nos últimos anos, a quadra natalícia tem-se expandido, correspondendo ao último mês do calendário.

As hostilidades abrem cedo, logo nas primeiras noites do mês são inauguradas em vários pontos do país as respectivas iluminações natalícias, promovidas essencialmente por Câmaras Municipais, aliando-se ao efeito Associações de Comerciantes. A dinâmica pretendida, de convocar as pessoas para as ruas, para junto do comércio tradicional, acarreta a preparação de várias iniciativas, todas elas consagradas ao Natal: árvores alusivas (com a maior da Europa aqui tão perto); a chegada do ícone da época vestido de vermelho; concursos promovendo a participação da população - quer através das iluminações dos exteriores das casas ou de prédios, quer impulsionando a decoração de rotundas, ou através de receitas de culinária. Algumas das iniciativas há mais tempo promovidas, entretanto perdem brilho, tornando-se mais moderadas.

Para quem habitualmente procura assunto para escrever umas linhas para partilhar com os leitores, este é um mês difícil. O “Espírito de Natal” bloqueia qualquer tentativa de um texto mais agreste, de uma chamada de atenção, de uma crítica. Mesmo até textos mais suaves, de sugestões, de propostas alternativas ao quotidiano da cidade, não conseguem receber o alento devido. Por outro lado, a disponibilidade para compor textos diminui já que a profissão exige mais dedicação. A necessidade de manter os indicadores de produtividade, pensanso na satisfação dos clientes, constrangem a vontade de escrever.

Os dias foram passando.

Para manter a regularidade de textos publicados, vejo-me “obrigado” a abordar a quadra do Natal. Sinceramente não sei o que escrever.

Assisti à dificuldade de um pai em explicar o significado da palavra Natal a um filho e o resumo conseguido, da festa de família onde se trocam presentes, é demasiadamente perigosa, apesar de todo o afecto incluído.

Poderia ser o mote.

Apesar da laicização do Estado, é bom preservar alguns valores tradicionais, para se perceber a origem dos festejos. Por todo o lado surgem presépios, de todas as formas, o que é importante para ensinamentos futuros.

O Natal é feito em torno da idade da inocência. É deles que surgem os melhores momentos, pela alegria demonstrada ao receberem as prendas, como pelas cantorias, isoladas ou em coros dos temas alusivos à quadra. Pela experiência vivida, neste período do novo conceito de Natal, verifico que o velho barbudo, apesar do fascínio que cria nos pequenos, contribui mais tarde para a primeira desilusão da vida.

Os adultos incutem a ilusão colectiva, sendo positiva e sadia, embora reconheça advenha maioritariamente, ou resumidamente, da possibilidade de poder-se consumir.

Em época de crise, os menos afortunados não são esquecidos. Efectuam-se várias e profícuas campanhas de solidariedade. Este ano, os Bancos Alimentares contra a fome recolheram mais 10% de alimentos do que em 2006. Os festejos de Natal lá em casa, começaram com a participação neste contributo. Serviu para os mais pequenos entenderem e interiorizarem o que devia ser o “Espírito de Natal”.

Oferecer antes de receber, uma compilação apressada para o significado do termo fraternidade.

A melhor forma de terminar o texto relativo à quadra.

Finalizo estas linhas, enviando a todos os leitores votos sinceros de um Bom Natal.



(a publicar no dia 20/12/07)

terça-feira, novembro 27, 2007

WWW

A actividade desportiva da cidade tem-se distribuído por três vertentes: o entretenimento, a associativa e a manutenção.
A primeira, o entretenimento, verifica-se pela existência de bons equipamentos desportivos, que permitem dar uma maior visibilidade ao município e servem sobretudo, para promover a organização de campeonatos ou eventos de âmbito nacional, torneios ou jogos particulares de selecções ou equipas nacionais, proporcionando aos habitantes da cidade e da região próxima, momentos de lazer como espectadores. Nos últimos anos, o melhor exemplo deste tipo de promoções é a chegada da Volta à Portugal em Ciclismo - obviamente, fugindo do conceito atrás definido de utilização dos equipamentos desportivos, embora num passado recente existam vários exemplos de aproveitamento dos espaços municipais para espectáculos do género, como o Mundial de Andebol de 2003.
A parte associativa do desporto compreende a formação, a competição e no limite o profissionalismo e está intimamente ligada aos vários clubes da cidade, que utilizam os equipamentos públicos e envolvem centenas de atletas. A divulgação de resultados nas páginas dos jornais locais demonstra bem, a forte actividade desportiva das associações do concelho. Associada a estes clubes, temos uma pequena componente de entretenimento, composta pela assistência a jogos ou treinos, normalmente formada por familiares dos atletas e nalguns casos por outros atletas da mesma secção e claro está, por sócios ou simpatizantes.
Por último, temos a vertente de manutenção. Por exclusão do desporto federado, a manutenção engloba todos os que praticam desporto apenas pela forma física ou pela promoção de saúde. Provavelmente, sem ser possível obter um número rigoroso destes desportistas, penso que esta última vertente é a que maior adesão tem tido nos últimos anos. Não errarei muito se contabilizarmos alguns dos inscritos na Escola de natação, nos grupos que alugam pavilhões, court de ténis e campos de futebol. Contudo, além daqueles e daquelas que frequentam ginásios, existem vários que praticam jogging (em corrida ou em ritmo de caminhada), além dos ciclistas de horas de lazer e dos utilizadores dos ringues em zonas habitacionais.
O conceito actual de Desporto apenas aceita a vertente federativa. Vários são os atletas que sentem a obrigação de recorrer a associações pela necessidade de competir no desporto federado. O bem estar, a forma física, a aprendizagem - sem componente competitiva - e a promoção pela saúde são actividades que caiem fora da moderna definição de desporto.
A ideia existente do “Desporto para todos” vai sendo abandonada e os índices calculados vão sendo descurados, porque ridiculamente comprovavam a pouca penetração da actividade desportiva nos hábitos da população Portuguesa.
A Autarquia de S. João da Madeira idealizou a sua política desportiva, no sentido de apoiar os clubes locais. Em tempo acertado e oportuno, procedeu à atribuição e distribuição de espaços públicos para sede social de várias Associações. Ao longo dos últimos anos, a Câmara Municipal tem contribuído para o financiamento dos clubes, através de contratos programa concedendo subsídios mensais, o que permitiu a qualquer dirigente competente gerir a sua Associação de forma mais organizada e profícua.
Além destes subsídios, surgiram também outros incentivos financeiros através de prémios por títulos individuais ou colectivos alcançados, tanto em competições distritais, como nas nacionais.
Neste panorama, extremamente animador para quem é dirigente, surge agora mais uma oportunidade de melhoria: a criação de uma página na Internet através do EDV Digital. Pelo que retive, das afirmações dos responsáveis do projecto, as associações aderentes terão ao ser dispor um Módulo que lhes permitirá fazer a gestão do ficheiro de Sócios, permitindo efectuar-se, entre outras opções, a listagem actualizada, o processo de pagamento de quotas, etc..
É certo que os clubes existem de acordo com a vontade dos seus associados, no entanto, a história recente, tem demonstrado que vários são os clubes, ou associações, que têm tido um rumo bem definido ao serviço do bem comum, da comunidade local.
Estes devidamente enquadrados por protocolos específicos, certamente estarão em condições de se organizar, no sentido de conseguirem uma autonomia de receitas, através da consignação de equipamento desportivos e espaços auxiliares públicos.
Este acto permitiria um aliviar das despesas correntes da Autarquia, reduzindo e clarificando o fluxo mensal dos subsídios atribuídos às colectividades locais e sobretudo, gerir melhor os mencionados bens públicos, muitos extremamente mal aproveitados, ou em concessão a privados.

quarta-feira, novembro 14, 2007

Gente com palavras

No seu desassossego, Bernardo Soares descreve o escritor de um modo inquietante. Na sua prosa surge a observação da não muito digna posição da cabeça de um autor, obrigada pelo acto da escrita, a estar vergada, colocando o escritor como um ser submisso.

O progresso introduziu a máquina de escrever como instrumento de escrita. Apesar de todas as melhorias consequentes, a postura de qualquer escritor não se alterou. Os textos sofreram alterações de forma, a caligrafia pessoal foi substituída por um tipo de letra “universal” mas, apesar deste avanço técnico, a cabeça continuou ligeiramente curvada a assistir ao fluxo de palavras entre o pensamento e o teclado “HCESAR” ou mais tarde “AZERT”.

Na exposição relativa ao centenário de nascimento de Miguel Torga, entre os vários objectos patentes: reportagens de várias homenagens, edições de livros e biografia do autor, estava em lugar de destaque a máquina de escrever do poeta Transmontano. Naquelas teclas foram “marteladas” as suas palavras, quer de poesia, quer a sua prosa, em formato de conto, ou em ensaio, ou o seu diário. Tal como o artesão era caracterizado pelas suas ferramentas também alguns dos escritores contemporâneos serviram-se da máquina de escrever para criar a sua obra.

Sempre com a cabeça inclinada.

A adaptação a novas tecnologias e a utilização de computadores pessoais, com processadores de texto com possibilidades múltiplas tornaram o acto da escrita mais acessível. Em primeiro lugar pela posição da cabeça. Os olhos passaram a fitar em frente um monitor, mantendo a cabeça horizontal. O domínio do teclado permite que os dedos vão escrevendo, sem necessidade de procurar a posição das letras, quer se escreva com um, dois, quatro ou mais dedos. As palavras vão aparecendo no ecrãn e pelo facto de existirem correctores automáticos, os erros ortográficos são prontamente eliminados. Existem outras possibilidades: escolher o estilo de letra, o tamanho da letra, o espaçamento entre linhas, entre outras hipóteses. Alguns editores de texto têm a capacidade de verificar a concordância gramatical de cada frase. Evita-se erros, acerta-se no sujeito e respectivo predicado, não colocando vírgulas antes do complemento directo. Pelo meio colocam-se uns adjectivos e uns advérbios, normalmente como este, de modo.

Pela facilidade destes meios, surgiram mais artigos de opinião nos jornais, mais relatos e comentários acerca do quotidiano e mais blogs pessoais na web.

Muitos destes novos membros da escrita têm pretensões a serem reconhecidos como escritores. Alguns não se assumem como tal, pretendendo uma classificação mais suave, menos pretensiosa, auto-denominando-se com outros títulos, independentemente da aceitação do público.

Só que o reconhecimento das palavras escritas é um acto moroso. Poucos são os que editam livros e têm sucesso editorial e mesmo este indicador não é o mais próprio para classificar autores. Os escritores Norte–Americanos actualmente mais procurados e mais reconhecidos têm mais de 70 anos de idade e alguns mais de quarenta anos de publicação de livros. Como se pode concluir, todos eles passaram pelo processo de escrita com a cabeça vergada.

Os bons utilizadores das novas tecnologias tardarão a ser galardoados. Provavelmente daqui a trinta ou quarenta anos, alguns desses escritores estarão a receber prémios de carreira, serão o tema de conversa literária e de leitura, quer seja em livro, ou noutro formato entretanto criado.

Neste processo de regeneração, existe uma tendência: esquecer o passado, relegar escritores duma época e os seus escritos para memórias, para prateleiras esquecidas de bibliotecas públicas, além da inserção desse nome na toponímia local, ou a atribuição a uma escola. Por vezes, criam-se prémios literários com nome de um determinado autor, por um período de tempo, esse já indeterminado.

Depois é para esquecer. Um dia em S. Martinho da Anta, na sua terra natal, o nome de Torga será apenas associado ao busto da Praça Central, junto ao negrilho. Tal como várias estátuas de tantos escritores, entretanto esquecidos, espalhadas por várias localidades de Portugal.


Neste sentido, se hoje lamentamos a intenção de alterar o nome da Escola EB 2/3, um dia o mesmo irá acontecer à memória de João da Silva Correia.

É urgente recriar-se a memória dos nossos escritores, que retrataram uma época específica, de forma a perpectuar no tempo todo esse passado, para gerações futuras.

quinta-feira, novembro 08, 2007

Participar

A troca de ideias sobre assuntos da cidade não pode ser exclusivo dos agentes políticos, em funções executivas ou em funções parlamentares.
A participação dos eleitores em actividades cívicas são raras. O acto mais frequente é a contestação a medidas anunciadas e por vezes, ou no limite, o recurso a acções judiciais para impedir a execução de determinadas decisões do poder político.
A sociedade civil devia debater o mais possível o quotidiano, emitir opiniões e sugestões, realizar estudos, introduzir temas e não esperar apenas pelas forças partidárias para decidir o futuro de todos.
O resultado prático dessas sugestões ou análises traduz-se muitas vezes, em nada. O poder político actua com desconfiança, sente-se legitimado pela força de votos conseguidos em eleições e caso não haja forte contestação, prefere continuar no seu trilho.
Normalmente, até às vésperas das eleições seguintes.
Nos últimos anos, esta relação entre eleitores e eleitos tem evoluído de forma diferente, num modo mais simbiótico, sem desconfianças sobre a pretensão dos cidadãos. Uma afinidade clara e enérgica, que permitiu a vários municípios adoptarem várias práticas de Democracia Participativa.
Neste parágrafo é urgente esclarecer este conceito, servindo-me para isso da definição existente na Wikipedia: “O regime da democracia participativa é um regime onde se pretende que existam efectivos mecanismos de controle da sociedade civil sob a administração pública, não se reduzindo o papel democrático apenas ao voto, mas também estendendo a democracia para a esfera social. Os defensores da Democracia participativa argumentam que o real sentido da palavra democracia foi esvaziado ao longo dos tempos, e foi reduzida a mera escolha de dirigentes, sem participação efectiva da sociedade civil organizada na administração de seus respectivos governos eleitos. Um exemplo é o orçamento participativo, com o intuito de submeter o destino de parte dos recursos públicos à consulta pública, através de reuniões comunitárias abertas ao público, onde primeiro são colectadas sugestões, depois votadas as prioridades, e encaminhadas ao governo para que ele atenda a solicitação através de investimento público.”
Em Portugal, além das consultas à população através da Agenda 21 Local, são vários os concelhos que optaram por introduzir o conceito de Orçamento Participativo. Uma dessas autarquias inovadoras é precisamente S. Brás de Alportel – caracterizada, tal como S. João da Madeira, por ter apenas uma freguesia. O concelho de Tomar, cujo executivo é liderado pelo PSD é outra das autarquias que já fez esta experiência. Além destes concelhos, também algumas freguesias já desenvolveram esta metodologia de participação cívica, como é o caso da Freguesia de S. Sebastião do concelho de Setúbal.
Estes exemplos permitem verificar que existem autarquias inovadoras neste âmbito.
O conceito genérico é normalmente associado à cidade brasileira de Porto Alegre onde foi aplicado pela primeira vez mas, como se pode observar, freguesias urbanas e concelhos com semelhanças ao de S. João da Madeira não se inibiram de adoptar o Orçamento Participativo, sem com isso deixar cair o “poder na rua”.
O apelo à participação na escolha do futuro da cidade efectuado pelo Presidente da Câmara de S. João da Madeira, a que já fiz referência em anterior artigo, terá forçosamente que contemplar este tipo de medidas inovadoras. Não se pode, por um lado, apelar à participação e por outro lado, não utilizar metodologias modernas de Democracia Participativa.
A sociedade civil não deve apenas participar em reuniões de trabalho para conhecer e ser confrontada com as ideias do executivo, quando estas existem. Esta forma de actuar é extremamente redutora para o conceito de participação, remetendo-nos para o exposto na definição de democracia atrás transcrita.
Esta aproximação entre eleitos e eleitores poderá esvaziar o conceito de oposição. Em termos práticos, esse sintoma só poderá ser verificado quando os executivos municipais que implementarem a Democracia Participativa forem sujeitos a votos. Nas eleições autárquicas existem sempre surpresas que não permitem criar regras de antevisão de resultados.

segunda-feira, outubro 22, 2007

Número Mágico

Ao iniciar um artigo para o Jornal Labor deparo-me sempre com duas condições: introduzir elementos de diferenciação e desejar que qualquer leitor dê por bem entregue o seu tempo de entretenimento e de procura de informação.
Os textos, que o Jornal publica em exclusivo, são escritos de forma desinteressada, pretendendo melhorar a qualidade da edição e nessa perspectiva, opto por vezes em lançar a debate alguns assuntos do quotidiano da Cidade. Ideias, apenas.
Neste aspecto, nunca consegui obter retorno por escrito, por parte de outras pessoas interessadas na realidade, com pontos de vista diferentes do exposto.
(Refugiei-me de provocações publicadas nalguns textos de terceiros, que objectivamente fugiam da troca de ideias. A criticas infundadas e de tentativas de ataques pessoais sem nexo, nada disse.)
Não quero com isto constatar que opiniões apresentadas, embora mais acutilantes, nada fracturantes, tivessem sido em vão. Como raramente me encontro em S. João da Madeira, não tenho oportunidade de contactar pessoalmente os leitores e assinantes do Jornal Labor. O reconhecimento surge por uma palavra amiga de circunstância, mais por via de familiares do que por convívio pessoal.
Os leitores foram-se fidelizando e mesmo com textos longos optam pela leitura. Se não for no acto imediato, procuram um tempo livre, para se debruçarem sobre uma nova visão dos acontecimentos. Esta curiosidade estende-se aos agentes da política, quer por leitura própria, quer através do resumo efectuado pelos seus assessores de imprensa. Mas, se por ventura nos cruzamos com um político local, na troca de opiniões sobre um assunto, este nega sempre a leitura dos nossos textos mais melindrosos, utilizando a técnica “esse por acaso não li”.
No dia de 11 Outubro, no discurso das Comemorações de Emancipação Concelhia, o Presidente da Câmara Municipal referiu-se ao futuro da Cidade, falando sobre os vinte e dois mil habitantes, número jamais oficial e anteriormente nunca reconhecido e que sendo uma projecção, foi por mim antecipado no texto que intitulei “Migrações”.
É certo que o ponto alto de todo o discurso se concretizou no reconhecimento do seu projecto pessoal para a Cidade, embora seja importante o apelo à participação colectiva no seu futuro.
Voltando ao número…
Os 22 mil surgiram como sinal da estagnação do crescimento populacional, a alternativa apresentada foi a hipótese para outro tipo de crescimento, sustentado em construção de qualidade superior ou então na construção de bairros sociais.
Não querendo colocar-me em bicos de pés, penso existir uma terceira via.
Nada mais do que a construção de qualidade superior em terrenos de preço inferior. Passo a explicar: promover em terrenos municipais a construção de habitações, não de âmbito social mas, de acabamentos de elevado nível. Com isto seria possível atrair e fixar jovens, com algum poder de compra, dando-lhes a opção de residência em S. João da Madeira a preços de acordo com a sua carteira.
Esta opção é frequente nos concelhos de Espinho e até em Santa Maria da Feira, em prédios com poucos condóminos, retirando-lhes desde logo, toda aquela carga de habitação social. Os preços das habitações, normalmente de tipologia T2, são mais baixos do que os de mercado. Não se pense que com isto os construtores ou promotores ficariam prejudicados, pois nos concelhos referidos o ritmo de construção não se alterou, antes pelo contrário, pois este sistema permite fixar residentes no concelho e alterar o seu ritmo de crescimento.
Não podemos acreditar que as políticas de juventude só se destinam a estudantes do secundário, baseando-se em acções de ocupação de tempos livres. É necessário contextualizar o jovem até uma idade superior e perceber que as suas preocupações fundamentais são a formação, o trabalho (emprego) e habitação própria.
Uma cidade moderna, competitiva e promovendo a inovação, com a possibilidade de vir a oferecer empregos com base em novas tecnologias, não pode manter-se com uma política de promoção de habitação arcaica, destinada apenas a angariar receitas através dos vários impostos municipais, ou a vender terrenos municipais com muitas mais valias.
Finalizar um texto deste modo é arriscado mas, imagine-se o risco de qualquer jovem em adquirir um apartamento em S. João da Madeira, através de empréstimo bancário e verificar a subida da prestação mensal, acompanhada pela desvalorização temporal do imóvel.
Este tipo de Habitação destinado a Jovens pode ser uma forma de aumentar a procura, numa cidade em que a oferta habitacional é grande mas, mais do que isso servirá para promover equílibrios sociais, evitando a exclusão de muitos e fixando uma classe média, importante para o desenvolvimento do Concelho.

(a publicar no dia 25/10/07)

segunda-feira, outubro 08, 2007

Usos & Costumes

Nas regiões vinhateiras as vindimas estão a acabar.
As do Douro têm um atributo especial. A longa tradição de viticultura produziu uma envolvência paisagística de beleza excepcional, classificada pela UNESCO, desde 2001, como Património da Humanidade, precisamente na categoria de paisagem cultural. Acrescente-se a qualidade dos vinhos produzidos, entre os quais o admirável Vinho do Porto.
A tradição da Região produziu efeitos em termos de evolução tecnológica, social e económica. Apesar de todas estas características procurou-se no Douro Vinhateiro manter a identidade da região. Se por um lado, a modernidade foi sendo alcançada com o desenvolvimento de Vila Real - hoje uma cidade com Universidade, diversos equipamentos adequados à sua dimensão, incluindo um enorme centro comercial e recentemente com a ligação à rede de auto-estradas do estado, por outro lado temos uma série de Vilas ou pequenas Cidades – sedes de concelho – e suas aldeias, com as características vinhateiras de sempre, apesar dos ténues sinais de progresso.
Neste espírito surgiu o programa “Aldeias Vinhateiras do Douro”, este ano na primeira edição. A ideia é valorizar e regenerar as tradições da Região, criando-se um vasto programa, envolvendo seis aldeias de outros tantos concelhos. A programação semanal envolve espectáculos de grupos locais e profissionais de teatro e animação de rua. Além de alguns Grupos de Danças e Cantares da Região, estão programadas animações por artistas espanhóis, italianos e portugueses, entre os quais, o conhecido Pedro Tochas. Uma série de espectáculos itinerantes, um misto de tradicional com moderno. As actividades tradicionais são hoje exploradas ao máximo, para efeitos turísticos. Com programações arrojadas, aplicando o tal conceito “combinado” numa fórmula que pretende sobretudo, atrair pessoas das próprias terras para a rua, numa série de dias e de noites. Mais os turistas interessados.
Este evento surge dentro do mesmo conceito, que orientou a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, no lançamento dos seus apelativos Festival de Teatro de Rua – Imaginarius e obviamente, A Viagem Medieval. Se ambos surgiram do nada, há pouco tempo e deixaram consequências para o presente e futuro, fica a certeza da promoção dos maiores e melhores eventos culturais da Região Entre o Douro e Vouga.
A estimativa da última edição d’ A Viagem Medieval foi o número total de visitantes ter-se situado perto do meio milhão de pessoas. Este é um sinal claro do envolvimento da população local, que participa por sentir que se observaram as capacidades concelhias. Um olhar interno, permitiu projectar o seu Castelo, para muito mais do que um simples “ex-libris”, presenteando-o com um cariz tradicional, até então oculto.
Pode parecer um contra-senso preparar um texto sobre tradição, num momento em que o assunto de todas as conversas na cidade de S. João da Madeira, é a abertura do Centro Comercial 8ª Avenida. Também objecto de romarias e curiosidade. Um pretexto para visitar a cidade. Preenchimento do vazio de quem ao fim de semana não pode sair da localidade. Redimensionando a amplitude dos interesses nocturnos e das horas de lazer.
Em suma, redefiniu-se o novo centro da Cidade, tornando-se o shopping na sua principal atracção, nos tempos actuais, fruto de conceitos modernos de comércio e lazer.
No imediato, nada se alterará.
A realidade não se refaz.
É sempre impetuosa a mudança em S. João da Madeira... Os edifícios antigos vão sendo substituídos por equipamentos mais modernos. Uma sucessão de construções que retiram o passado físico à Cidade.
Neste contexto, é urgente procurar na história da povoação, os costumes da sua população.
É tempo de recuperar as suas tradições: assumir o seu passado industrial, tão dignificante.
Analisar o lado pitoresco desse passado e explorá-lo. À semelhança do que outros fazem.
Envolver a população e lançar um evento cultural único, de dimensão significativa.
Encontrar outro motivo para a cidade ser visitada.
A fórmula até é simples.
Está cá tudo.

( publicado no dia 12 de Outubro de 2007)

quarta-feira, setembro 26, 2007

Lobos

A Selecção Nacional terminou a sua participação no Campeonato Mundial de Rugby, prova que se está a disputar, até ao próximo dia 21 de Outubro, em França.
A prática de desportos colectivos foi um dos principais legados do Império Britânico. Os Ingleses conseguiram, numa sociedade com classes, inventar uma forma de atenuar essas diferenças. Através dos desportos colectivos, qualquer súbdito de Sua Majestade poderia afirmar-se e realizar-se numa equipa heterogénea. A difusão pelo planeta e a assimilação pelos diversos povos de vários desportos, contribuíram para fenómenos curiosos de implementação de modalidades desportivas, em alguns pontos do Globo. O râguebi é uma delas. Na Oceânia, este é o desporto mais popular, mais praticado. Além da referida Nova Zelândia, estão também presentes neste Campeonato selecções da Austrália, da Samoa, das Ilhas Fiji e da Tonga.
O râguebi difere do futebol, por não ter sido desvirtuado na sua essência por povos latinos e sul-americanos, atingindo os dias de hoje grandemente fiel à sua génese.
No Campeonato do Mundo em competição, Portugal foi a única amadora e era também das vinte participantes a pior classificada do ranking mundial. Pela primeira vez a disputar uma prova desta importância, o “quinze” Português partiu com o propósito de nos quatro jogos previstos, tentar ganhar apenas um, frente à Roménia e perante os restantes adversários, perder mas, deixando uma imagem competitiva.
Se no primeiro jogo, com a Escócia a derrota ficou dentro do esperado, 52-10, Portugal partia para o segundo jogo (o mais esperado) frente à favorita Nova Zelândia, com o propósito de evitar sofrer cem pontos. Uma tarefa difícil. Para cumprir o objectivo, Portugal precisava de parar o adversário, resistir em média cinco minutos e vinte segundos entre cada ataque da Nova Zelândia, à linha do fundo. Não se conseguiu. Dezasseis ensaios para os Neozelandeses, uma sequência deles em períodos curtos e o resultado final 108-13, espelham bem a diferença dos dois conjuntos. Ainda assim, Portugal pontuou, inclusive através de um ensaio, por intermédio de Rui Cordeiro.
A reacção dos jogadores foi fantástica. Os Lobos, como se autodenominam, entraram em campo para se divertirem – palavras do Capitão. Tiveram pela frente alguns dos melhores jogadores do mundo, uma oportunidade única. Jogaram o jogo pelo jogo, marcaram um ensaio, uma conversão e dois pontapés de ressalto. No final, trocaram-se camisolas, visitaram-se os balneários, beberam-se umas cervejas e jogou-se uma partida de futebol...
No jogo seguinte frente à Itália, Portugal fez um excelente jogo, dando bastante réplica, embora perdendo por 31-5. Mais uma vez, Portugal conseguiu um ensaio e lutou bastante até ao final. Só nos últimos minutos é que o quinze Português fraquejou, sofrendo dois ensaios que desvirtuaram o marcador. No jogo disputado no passado dia 25 com a Roménia, a Selecção Nacional não se aguentou. Portugal perdeu por 14-10. Um jogo extremamente disputado com a Roménia a virar o marcador nos instantes finais.
Noutras modalidades com estes resultados e o falhanço total dos objectivos seria um escândalo no panorama desportivo nacional. Acrescente-se a isto, a suspensão por quatro jogos do jogador nacional Juan Severino, por ter agredido um adversário, logo no primeiro encontro.
Poderá parecer incompreensível, com este cenário, que a opinião pública se sinta orgulhosa da sua Selecção Nacional de Râguebi. Mas, a verdade é que está.
A Federação Portuguesa trabalhou bem a imagem desta equipa, na comunicação social. Projectou a sua simpatia e a visão do seleccionador (Tomás Morais) com antecedência.
Depois foi pô-los em campo…
As imagens dos jogadores nacionais a cantar o Hino Nacional a plenos pulmões, nos quatro jogos disputados - inclusive no primeiro jogo um deles emocionado verteu lágrimas pela cara abaixo - o abraço colectivo no momento solene e de alguns com a mão sobre o peito, foram momentos decisivos para a empatia do público nacional.
O amadorismo dos jogadores, participando com prejuízo nas suas carreiras profissionais foi compensado com a generosidade com que se entregaram ao jogo, nunca virando a cara à luta, ao valor do adversário. Uma placagem dos Portugueses foi um feito notável. Tal como, corridas com finta ou pontapés de progressão, foram classificadas como proezas fantásticas. Os pontos conseguidos por qualquer jogador tornaram-no herói nacional – o que dizer dos ensaios conseguidos?
Estamos perante um fenómeno nacional!
De repente, os grandes êxitos do futebol são esquecidos. Os recentes maus resultados e o comportamento do Seleccionador, levaram as pessoas a olharem para os bravos Lobos de outra forma.
Porém, não se lhes exige nada. Embora, o espírito de auto – crítica tivesse presente nas palavras finais, reconhecendo faltar experiência competitiva à Selecção para jogar a este nível.
Existiu nesta afeição pela Selecção um patriotismo genuíno, um modo diferente de sentir a nação, fazendo-me evocar os versos finais do poema de Fernando Pessoa dedicados a Bandarra:
“(…)Este, cujo coração foi
Não português, mas Portugal.”


(a publicar no dia 27/09/07)

quarta-feira, setembro 12, 2007

Regresso à escrita

A folha em branco, sem título é indicadora do momento: final de férias.
Ao fim de um mês esvaziaram-se-me as ideias. A custo consegue-se a articulação de frases ou de palavras.
Tento escrever um conto de Verão mas, falta-me poesia e ritmo na narrativa. Banalidades é o resultado. Desisto, elimino-o sem publicação.
Verifico nos apontamentos de verão alguma nota que queira desenvolver. Não me parece.
Procuro assuntos locais para pensar neles ou relacioná-los. A vontade de pesquisar é reduzida. Compilados os dados recolhidos acerca dos acontecimentos do último mês e fico sem palavras.
Mortes, acidentes e detenções, além de outras desgraças não são assuntos encantadores.
A derrota de Cândido na Volta, não merece uma referência à sua vitória em S. João da Madeira. Contudo, gostei imenso de ver a zona central cheia de gente, em pleno Agosto. Movimentar-me na Rua da Liberdade, ladeado por tantos transeuntes, é uma imagem que já não tinha desde um qualquer Domingo, ou Feriado de Dezembro, ou mesmo na véspera de Natal, do princípio da década de 90.
Encontro um assunto interessante sobre o Parque Urbano e a despoluição do Rio Ul. Tento estender o tema alguns parágrafos. É alucinante verificar que antes de se tratar da água do rio, se instalaram as pedras na margem. Apesar dos esforços da Câmara Municipal de S. João da Madeira para acabar com o despejo de esgoto de origem industrial, continuo sem perceber se existe algum cadastro ambiental a montante do rio, ou seja, nas freguesias de Milheirós de Poiares e de Romariz. De nada serve construir um interceptor, destinado a tratar os resíduos que vêm misturados com as águas pluviais, se o rio entrar na cidade poluído, ou perto disso.
Apesar do alerta inerente, abandono o texto a meio, não o conseguindo terminar a tempo do fecho da edição do jornal.
Preparo a leitura da primeira emissão de Setembro, depois das férias, à procura de algum tema para me dedicar. Vejo compilados alguns dos assuntos recolhidos em Agosto.
Encontro outros tópicos interessantes: Baixa do Imposto Municipal sobre Imóveis, será uma medida para incentivar a compra de casa em S. João da Madeira? Seria interessante para os promotores e sobretudo para os proprietários, que todos os anos observam o seu património a desvalorizar, devido à maior oferta que procura.
Sorrio com a abertura do 8ª Avenida já em Setembro e da forma, como em geral, as pessoas se vão rendendo à sua construção.
Faço as contas ao financiamento de manuais escolares e só totalizo 54. 615 Euros. Um pouco menos dos cem mil anunciados, devo ter-me enganado nas contas! Analiso o número de estudantes apoiados, 700, verificando com preocupação que 454 são pertencentes ao escalão A (agregados familiares com rendimento per capita inferior a 240 euros). Comento com alguns amigos que apoio a presente medida dizendo: “é preferível gastar dinheiro com manuais escolares do que com carros novos para vereadores ou administradores de empresas municipais”. A resposta que obtive fez-me corar. A notícia do Jornal Labor refere ainda a “consciência social” do Presidente da Câmara e a sua esquiva à esquerda. Preparo uma referência aos princípios da Democracia Cristã e da Social Democracia, que dominaram o espectro político Europeu na primeira metade da última década...
E o Plano Director Municipal? Sem artigo ainda preparado e com a revisão em curso - termina no fim do mês o período de sugestões aberto aos munícipes - espero ver as sugestões dos partidos políticos, preferencialmente antes da discussão em reunião de Câmara Municipal ou na própria Assembleia Municipal.
Entretanto reparo na hora, que se aproxima mais uma vez do fecho da edição do Jornal.
Fica outra vez adiada a minha colaboração no Jornal?
Olho para a folha ainda há pouco em branco e mudo de opinião: consegui escrever um artigo completo… sobre tudo, não referindo nada.

terça-feira, julho 24, 2007

Última dose

No passado dia 17 de Julho, Rui Rio na qualidade de presidente da Câmara Municipal do Porto (CMP), anunciou o fim do Porto Feliz. Este projecto, para os leitores menos atentos, tratava-se de uma tentativa de tirar da rua os toxicodependentes que se dedicam a “arrumar” carros.
O projecto havia sido anunciado em 2001, por altura das eleições autárquicas. Basicamente, o PSD propunha-se corrigir a política do Governo de António Guterres desenvolvida, desde o ano de 1996, no apoio a toxicodependentes. Uma política com forte sentido de Estado, assentando os seus pressupostos com a proliferação de Centros de Apoios a Toxicodependentes (CAT) e a criação do IDT – Instituto da Droga e da Toxicodependência. Uma vertente do Estado social.
A contra-proposta de Rui Rio, obviamente com alguns aspectos positivos, consistia numa “política directa”, obrigando à retirada das ruas dos arrumadores – independentemente da sua motivação para o tratamento, procurando posteriormente tal como a política do Governo, a sua reabilitação e reinserção no mercado de trabalho. O princípio da autonomia do doente para aderir ao tratamento seria a principal diferença entre metodologias.
Em cinco anos, os técnicos do "Porto Feliz" contactaram 2500 arrumadores. Quase 700 aderiram ao programa e 334 ficaram livres da droga e prontos a serem reinseridos no mercado de trabalho, segundo dados do Jornal de Notícias. O financiamento deste programa era assumido pela CMP, pelo IDT e pela Segurança Social. Desde Novembro passado que o IDT – presidido por João Goulão - pretendia rever a sua participação, por considerar que as verbas envolvidas não eram comportáveis. O programa nacional tinha conseguido agilizar despesas e as facturas apresentadas pelo Projecto Porto Feliz eram superiores.
Essencialmente e na prática passou a não haver duplicação de projectos, com a mesma finalidade, na cidade do Porto. Uma racionalização de despesa e de meios operacionais que beneficiam o estado Português. Além de outros aspectos, mais importantes, como o real tratamento ao toxicodependente ser assegurado por técnicos inseridos numa lógica estatal, atenta a novas metodologias, a novas formas de dependência, entre outros benefícios.
Se no Porto, a aventura Camarária durou 5 anos, ao abrigo de um protocolo especial e o principal responsável tenha chegado à conclusão, que apesar do “número de arrumadores na cidade ter diminuído, não foram totalmente erradicados, como se pretendia inicialmente”, outros projectos municipais tiveram uma curta duração, sem que daí se possa tirar conclusões sobre o sucesso do mesmos.
Na toxicodependência, como admitiu Rui Rio, o sucesso é relativo. Apesar de todo o aparato do Porto Feliz a taxa de toxicodependentes recuperados e inseridos, segundo o próprio presidente da CMP, foi de 13%.
Em S. João da Madeira, procurou-se antecipar o lançamento do projecto portuense e lançou-se atabalhoadamente em 2002, o “Prevenir o Futuro”. Partindo de apoios institucionais, mais alguns parceiros abrangentes e algumas empresas locais, a Câmara Municipal apadrinhou durante alguns meses, este projecto, que desde logo foi classificado de pioneiro e pasme-se de sucesso!
Número finais nunca foram apresentados, nem de toxicodependentes contactados, nem de casos concretos de reabilitação, nem nada. Vários erros foram efectuados e não querendo enumerar todos, aqui ficam alguns:
- metodologia de tratamento sem credibilidade científica;
- recrutamento por coação de “cobaias”;
- equipas de rua de apoio a toxicodependentes sem técnicos especializados;
- demasiado voluntariado, com parceiros a assumirem terem encontrado a solução para todos os problemas do flagelo;
O erro maior foi não partir do diagnóstico efectuado desde 1999, pela valência de apoio a toxicodependentes da Santa Casa da Misericórdia – O Trilho e ignorar toda a experiência acumulada nesta área, pelas suas técnicas, já com três anos de trabalho de terreno naquela altura.
A história do projecto local “Prevenir o Futuro” terminou ao fim de dois anos. Apesar de durante o pretérito ano lectivo, a PSP local usar esse nome para as acções de informação e sensibilização (?) sobre o assunto, junto das crianças do ensino básico.
Antes do final do projecto, houve uma série de dissidências, desvirtuando a ideia original do mesmo. O auxílio dado pelo Governo, saído das eleições de 2002 e liderado por Durão Barroso, foi diminuindo à medida que o controlo do défice público se tornou imperativo e o sentido de Estado obrigou a repensar-se a política nacional, única, para a toxicodependência.
Desde o final de 2004 ou meados de 2005, com a ruptura do projecto “Prevenir o futuro” o apoio em S. João da Madeira a toxicodependentes tem sido assegurado pelo Trilho. A Santa Casa da Misericórdia honra lhe seja feita, apoiada quer pela Segurança Social, quer pelo IDT, na medida em que supervisionada pelo CAT da Feira, não fechou as portas a ninguém. Com as dificuldades inerentes, manteve o projecto em funcionamento, apesar de todo o ostracismo a que esta valência foi sujeita, por não apoiar o projecto colectivo da sociedade sanjoanense, privilegiando uma postura técnica e humanamente coerente.
A longevidade de O Trilho, mesmo sem saber os números de pessoas envolvidas ao longo destes anos, faz deste um projecto de sucesso. Recordo que o processo de reabilitação e reinserção de toxicodependentes no mundo de trabalho, já era prática comum em S. João da Madeira, com o apoio de várias empresas, desde o ano de 2000.
Tivesse o executivo municipal eleito no ano 2001 em S. João da Madeira, apoiado esta prática e aquilo que constantemente se afirma como um “projecto de sucesso” tinha-se realmente confirmado, provavelmente ainda “apoiado pela tutela”, mesmo com a eleição do Governo actual, dentro do entendimento de aprovação a projectos lógicos e não concorrentes entre o próprio Estado.
Com estupefacção, não vi este assunto a ser referido nas eleições autárquicas de 2005. O branqueamento do “Prevenir o Futuro” não passou despercebido e entendi tal facto, pelo compromisso dos partidos políticos para com os membros das suas listas, envolvidos neste projecto - por inerência de serem directores de alguma associação.
Aliás, curiosamente ainda hoje, no diagnóstico inicial da Rede Social - disponível na página da Câmara Municipal de S. João da Madeira na Internet - não é feita qualquer alusão à toxicodependência, como se esta não fosse preocupante, nem existisse no concelho e não fosse infelizmente visível por todos.
Não me querendo alargar mais, espero com isto ter esclarecido os leitores, em especial, aqueles que por várias razões procuram junto dos responsáveis municipais informações sobre este projecto, obtendo sempre uma resposta oficial que, incompreensivelmente, os satisfaz.

Férias

É bom manter tradições e a redacção do Jornal Labor mantém o espírito, antigo, de que em Agosto é tempo de férias. Têm razão. Provavelmente os leitores também estão de férias, fora da residência e por isso, não se justifica garantir a edição no oitavo mês do ano.
Seguindo este calendário de publicação do jornal, a minha colaboração pela escrita terá a sua paragem para outros ócios. Fica concluído o segundo ano de textos publicados, num ritmo médio quinzenal: em dois anos enviei quarenta e oito textos para um pouco menos de noventa e seis edições.
O tempo agora é de descanso. A todos os leitores: Boas Férias!!!

terça-feira, julho 17, 2007

Ida ao Bosque

Nos primeiros dias de Verão, o cansaço acumulado ao longo de um ano de trabalho e a proximidade das férias encaminham o corpo e a mente para horas de descanso, preferencialmente serenas. Este ano, a chegada tardia dos dias quentes de Verão, com fins de semana chuvosos ou corridos a “nortada”, atiram a família para outras paragens que não a praia, tão perto de casa.
Encontra-se em contextos urbanos nas cidades de média dimensão, óptimas soluções para programas alternativos. Cidades com a história preservada, com várias ofertas para os tempos livres - desde o lazer em família a actividades didácticas - e sobretudo, urbes com reabilitações urbanas bem conseguidas, de forma a oferecer espaços amplos às populações, que prontamente se adaptam e adquirem hábitos de os frequentar.
Outra solução são os contactos com a natureza, em locais adequados. A observação da dinâmica dos animais em contraste com a tranquilidade do reino mineral ou vegetal, tornam-se nos passeios predilectos. Longe das áreas protegidas em serranias, os montes mais próximos não foram repovoados com espécies animais diferentes das existentes e raramente, podemos mostrar aos filhos mais do que rebanhos de vacas, ovelhas ou cabras. Simplesmente, gado. Bovino ou caprino.
A fauna bravia existente nas redondezas limita-nos as observações a ornitológicas. Esporadicamente, ainda assim. Sem esquecer os rastejantes de vária índole. Para quem, nas traseiras de casa é visitado por várias espécies de aves de rapina e voadores nocturnos, espera encontrar uma maior diversidade que vá de encontro as expectativas do imaginário dos mais pequenos numa ida à floresta. Permanece nas suas cabeças, a ideia dos animais vivendo em comunidade em pleno bosque.
É certo que a adaptação dos animais, dito selvagens, ao círculo humano é uma realidade. Testemunhos de um javali às portas de S. João da Madeira, provocando um acidente no IC2, há uns anos atrás, servem para assegurar ter presenciado um esquilo e mais tarde uma raposa a atravessar uma estrada no concelho da Feira. No entanto, tudo isto são observações isoladas sem qualquer hipótese de repetição. Provavelmente incursões do género da dos heróis do filme infantil “Pular a Cerca”.
A recepção no bosque não podia ter corrido da melhor maneira. No escuro da noite, um vulto de médio porte, em plena estrada, surgiu na frente do carro. Ao seu lado, o pequeno filho. A primeira impressão foi tratar-se duma vulgar cabra, meia perdida junto à estrada. Focando melhor, a surpresa de reconhecer uma mãe cervídeo e o seu “bambi”, alargou o contentamento familiar. O instinto maternal da corça foi comprovado por todos, pois a retirada da estrada só foi efectuada, quando o filhote estava em local seguro, fora do quentinho alcatrão, numa noite com temperaturas de 4º centígrados.
O resto do fim de semana foi chuvoso, quase nem víamos paisagens, por isso, das restantes e anunciadas espécies de animais, em habitat natural, existentes na reserva escolhida, nem vê-los.
Por estarmos em Espanha, aproveitámos, nas tréguas da chuva, para contemplar a harmonia paisagística das margens do Lago de Sanabria. Descobrindo, ou relembrando, ter por lá passado D. Quixote a caminho de mais uma aventura. Além das paisagens, os nossos vizinhos, conseguem preservar muito bem o seu património. Visitar Castelos faz também parte dos roteiros familiares. Este de Puebla de Sanabria, tão próximo de Portugal, não sendo muito grande tem o seu interior mais recheado e melhor aproveitado do que a maioria dos Castelos Nacionais, nos quais apenas se mostra muralhas, torres de vigia e ameias.
O regresso ficou marcado, pelo encanto de ver, pela primeira vez, Trás-os-Montes verde no Verão. As novas vias de comunicação permitem percorrer imensos quilómetros no interior do País, numa só tarde. Além desta vantagem, oferecem-nos óptimas oportunidades para o deslumbramento com a paisagem nacional: as belas e encantadoras encostas Durienses, quer atravessando o planalto ora rochoso, ora verdejante da Beira Alta. A incerteza do território.
Os estímulos duma viagem ficam nos actos e brincadeiras das crianças. No regresso à praia, ao construir um Túnel com o irmão, escavando na areia, a Luisinha optou por fazê-lo em curva, tal como tinha visto na A24, perto de Castro Daire. É certo que não memorizou a sua localização, referindo-se ao “Túnel da viagem a França”. Baralhada por ao regressar a Portugal, mal se transpõe a fronteira, ter atravessado uma aldeia com um nome deste país.

(a publicar no dia 19/07/07)

quarta-feira, julho 04, 2007

Jogos Olímpicos 2012

O historial da participação Portuguesa nas competições Olímpicas de Verão, se perspectivarmos a conquista de medalhas, demonstra ter existido três períodos diferentes:
a) uma fase inicial com a obtenção de bons resultados e a consequente conquista de medalhas em Vela, no que parecia ser a continuação do desígnio nacional de país de marinheiros, nos Jogos Olímpicos de 1948, 1952, 1960;
b) uma fase fantástica do Atletismo Português iniciada em 1976, por Carlos Lopes – Medalha de Prata nos 10.000 metros, no que se seguiriam os feitos históricos do mesmo Carlos Lopes – Medalha de Ouro na Maratona em 1984, Rosa Mota – Medalha de Ouro na Maratona em 1988 e Fernanda Ribeiro – Medalha de Ouro nos 10.000metros em 1996;
c) finalmente, um ciclo demonstrativo de outra capacidade técnica do Desporto Nacional, iniciado em 1996 na Vela com a obtenção da medalha de Bronze, à qual se seguiram em Sidney no ano 2000, duas medalhas de bronze, uma em Judo por Nuno Delgado e outra por Fernanda Ribeiro na corrida dos 10.000m. Em Atenas 2004, Portugal alcançou três medalhas: duas de Prata - novamente em Atletismo, desta feita em provas com um índice técnico mais elevado, Rui Silva nos 1.500 e Francis Obikwelu nos 100 metros - e uma de bronze por Sérgio Paulinho, no Ciclismo.
Esta mudança significativa dos resultados, que fazem a história das participações Olímpicas, foi acompanhada pela diversidade de modalidades englobadas na comitiva Portuguesa ao longo das últimas participações.
Os sacrifícios individuais dos atletas dos anos 80 não foram em vão. Portugal optou por outro tipo de política desportiva. Construíram-se mais e melhores infra-estruturas desportivas, adequadas à prática de desporto e não para recreio e lazer; as Federações desportivas organizaram-se de forma a prever e a apostar em ciclos Olímpicos; foi criado o estatuto de atleta de alta-competição; tendo sido dada a oportunidade a alguns atletas de profissionalização; nos últimos anos nasceram dois Centros de Preparação Olímpica em Portugal – Vila Real de Santo António e Rio Maior.
A um ano dos Jogos Olímpicos de Pequim, Portugal tem previsto a participação de 70 atletas, em diversas modalidades, com incidência nos desportos individuais. Razões existem para esta coincidência, que passam por critérios de qualificação e de apuramento mais difíceis de obter nos desportos colectivos.
Um dos atletas qualificados é Diogo Carvalho do Clube Galitos de Aveiro na modalidade Natação, o que vem provar o bom trabalho efectuado por treinadores e dirigentes de pequenos clubes, além do mérito pessoal do próprio nadador.
Para verificarmos que tudo está diferente no desporto nacional, já existe um Projecto Esperanças para os Jogos Olímpicos de 2012 em Londres. Engloba 144 atletas de 20 modalidades.
O desporto acompanha as histórias das nações.
Em meados do próximo ano as atenções públicas estarão viradas para os Jogos Olímpicos. Aí, ilustres desconhecidos passam a receber a atenção duma nação (e a esperança da conquista de um resultado surpreendente).
Em 2012, em S. João da Madeira tudo pode ser diferente.
Em 2007, existe uma Nadadora da AEJ – Ana Rodrigues – com bons resultados desportivos e tempos fantásticos. Recentemente esteve presente no Dia Olímpico, em prova decorrida em Rio Maior, organizada pelo Comité Olímpico Português.
Devidamente apoiada e com boas condições de treino, o que implica atender às sugestões e melhorias aventadas pelo seu treinador Luís Ferreira, uma nova página pode-se abrir no desporto local.
Haja vontade.
Tudo seria mais fácil, se ao lado quantitativo do desporto (n.º de praticantes, de atletas federados), aliássemos o lado da qualidade (títulos conquistados) e da excelência (resultados desportivos relevantes).
Esta forma de encarar um ciclo Olímpico, poderia ser pioneira na Gestão Desportiva Municipal e daí exemplar.

(a publicar no dia 05/07/07)

quarta-feira, junho 13, 2007

Migrações

Pelos valores retirados dos Censos populacionais, obtidos desde do ano de 1930 até ao último de 2001, verifica-se que a população de S. João da Madeira passou de 5.481 para 21.102 habitantes. Um crescimento populacional acelerado em setenta e um anos, equivalente a um aumento de 285%, praticamente o quádruplo da sua população aquando da emancipação concelhia.
Os valores seguintes, retirados da Wikipédia, mostram a evolução ao longo das últimas décadas,
1930 = 5481 habitantes
1960 = 11921 habitantes
1981 = 16444 habitantes
1991 = 18452 habitantes
2001 = 21102 habitantes
2004 = 21538 habitantes
Este último ano apesar de não estar associado a nenhum Censos, e portanto, sem o rigor em termos de estudos demográficos, divulga-se em todas as páginas dedicadas aos concelhos da Região Entre o Douro e Vouga (EDV), o que permite deduzir estar associado a um outro tipo de estudo, cuja fonte me é desconhecida.
O crescimento populacional está associado a factores naturais – número de nascimentos e número de óbitos - e a factores de migrações.
Este último é o grande responsável pelo aumento da população em S. João da Madeira e da região onde este concelho está inserido. A forte industrialização da região condicionou a fixação da população ao longo dos anos. Em 1930, o somatório da população dos concelhos do EDV apresentava o valor de 128.410 habitantes, sendo que actualmente esse número é de 283.856 pessoas.
Se analisarmos os dados dos concelhos vizinhos em termos de evolução numérica, podemos ficar mais elucidados sobre o crescimento populacional da região:

Ano Feira OA VC Arouca
1930 52679 33072 15745 21433
1960 83483 46263 20404 26378
1981 109531 62821 24224 23896
1991 118641 66846 24537 23894
2001 135964 70721 24805 24227
2004 142245 71243 24761 24019

O crescimento constante de S. João da Madeira, é similar aos concelhos de Santa Maria da Feira e de Oliveira de Azeméis ao longo dos anos. Vale de Cambra e Arouca estagnaram em termos de crescimento populacional, tendo este último regredido até, durante alguns anos.
Analisando de novo os dados de S. João da Madeira...
Em termos percentuais, o crescimento populacional entre os anos dos estudos referidos é o seguinte:
1930-1960: 117%
1960-1981: 38%
1981-1991: 12%
1991-2001: 14%
2001-2004: 2%
Se considerarmos em termos médios anuais, a relação é mais esclarecedora:
1930-1960: 3,9%
1960-1981: 1,8%
1981-1991: 1,2%
1991-2001: 1,4%
2001-2004: 0,7%
Isto significa que o ritmo de crescimento da população alterou após o ano de 2001. Em termos demográficos existem dois tipos de crescimento populacional, acelerado e lento. Pelos valores indicados em 2004, S. João da Madeira está na fase de crescimento lento. Isto significa que um dos tipos de crescimento atrás verificado se alterou. Empiricamente, deduzo tratar-se do contributo das migrações.
Esta fase de crescimento lento poderia ser explicada por algum dos seguintes fenómenos: a) existem vários fluxos de migração de rotina diária à volta do concelho, diversas são as freguesias vizinhas que recebem muitos habitantes provenientes de S. João da Madeira, devido à procura de preços mais baixos por metro quadrado das habitações ou de terrenos para construção de moradias individuais. b) o fluxo de estudantes para o ensino superior – estudos universitários - que, não encontrando na cidade resposta para as suas necessidades de emprego após obterem as resectivas licenciaturas, fixam residência noutros locais.
Estes fluxos sempre existiram e não me parece terem surgido apenas entre os anos de 2001 e 2004.
Existe um dado que não procurei mas, que poderia ser fundamental para perceber melhor a fixação e aumento da população em S. João da Madeira: trata-se do ano da finalização da construção e atribuição das habitações sociais no concelho. Este dado juntamente com a história industrial do concelho explicaria melhor o seu processo demográfico.
No entanto, é no emprego que surgem as melhores justificações. A perda de postos de trabalho no sector do calçado em S. João da Madeira - 1700 em 10 anos, trouxe como repercussão a migração negativa, ou seja, a crise no sector económico obriga à procura de emprego fora da cidade, para dentro do país ou para o estrangeiro.
Com este fluxo e observando em gráfico a evolução da população, podemos constatar que a curva característica apresenta sinais e semelhanças com uma curva logarítmica, fixando-se num determinado patamar de valores. A tendência será fixar-se em 22.500 habitantes em 2011.

(gráfico não disponível)

Tudo isto, salvaguardo, são suposições com base num valor estranho aos habituais Censos Populacionais.
A definição de um modelo para a cidade de S. João da Madeira não passa apenas pela qualidade de construção e funcionalidade de equipamentos públicos, acessibilidades às principais vias de comunicação e outros indicadores de índole urbana. Mais do que factores de modernidade, ao escolher-se um modelo existem implicações a nível económico, com reflexos na população activa e no número de habitantes da cidade.
Sendo certo que qualquer conceito moderno para a cidade não devia esquecer os problemas sociais da mesma: o desemprego constante (mais de 1.000 activos), os desempregados de longa duração (provavelmente retirados das listas do Centro de Emprego), uma população inactiva com necessidade de reconversão a curto e a médio prazo e claro, um tecido empresarial em lenta transformação, com artigos de valor acrescentado a não ocuparem a totalidade da mão de obra existente.
Tudo isto associado ao diagnóstico da Rede Social, cáustico a vários níveis, concretamente nas habilitações literárias da população do Concelho: para 4959 habitantes o 1º ciclo completo é a habilitação mais frequente.
Os próximos tempos não serão fáceis para a maioria da população residente em S. João da Madeira.
Não querer encarar esta situação é hipotecar o futuro da Cidade.
É urgente contrariá-la, traçando e executando projectos políticos na área social a médio prazo, dotando-os com elevadas verbas.
Todo o dinheiro aplicado na qualificação da população será mais útil do que qualquer obra municipal, tão caracteristicamente de fachada e muitas vezes desnecessária.

(a publicar no dia 21/06/07)

segunda-feira, junho 04, 2007

Handicap

Ao assumir o incumprimento do seu programa eleitoral, o Presidente da Câmara Municipal de S. João da Madeira revelou uma forte auto – confiança. Os valores anunciados de 30%, implicam a concretização de alguns projectos da responsabilidade do Governo. A construção da A32 - com uma saída que sirva os interesses de S. João da Madeira para ficar com uma ligação terrestre rápida ao Porto e a renovação da linha do Vouga, com a introdução do vai e vem local são as empreitadas pretendidas, cuja conclusão é esperada antes das próximas eleições autárquicas. O risco do executivo municipal, torna-se maior se a renovação do Cinema Imperador não se concretizar e a projectada Sala de Espectáculos não abrir as portas até 2009.
Nesse cenário as metas anunciadas não serão alcançadas e o programa eleitoral ficará concretizado em apenas 40%.
Perante este panorama estatisticamente desolador, o programa eleitoral do ano de 2005, que suportou a maioria do partido vencedor, servirá de modelo a novos projectos políticos, para o ciclo eleitoral seguinte.
Outros argumentos políticos serão revelados.
Um iniciado na causa política descobre desde muito cedo as preocupações dos partidos no período que antecede umas eleições autárquicas. Essas inquietações são normalmente e hierarquizando: candidato, elementos das listas, promessas eleitorais, acções de campanha e programa político. O método não varia muito de partido para partido. Vencidas as duas primeiras etapas - ficando as listas constituídas e divulgadas, procura-se uma série de frases fortes para elaborar as promessas eleitorais. Depois desta fase, as energias passam a estar concentradas em questões de propaganda eleitoral: cartazes de várias dimensões, sites na Internet, folhetos e jornal de campanha, campanhas de rua, uma ou outra acção política programada, os jantares característicos e claro, a caravana de encerramento.
O programa político, o projecto, as ideias sobre e para o município, por vezes não conhecem a luz do dia.
Manifestamente por falta de tempo. O arranque tardio, com a escolha de candidatos e a constituição de listas de forma intermitente, não permite muito mais.
Habitualmente fazem-se programas eleitorais com duas ou três ideias sobre um determinado assunto – tópico político. Elegem-se os assuntos mais relevantes, ou por questões de mediatismo momentâneo e assim consegue-se atingir números como quarenta a cinquenta ideias soltas para os municípios. Por vezes, nada mais são do que promessas.
Tudo isto tende a repetir-se nos vários concelhos do país.
Os partidos consideram o mais importante nas eleições autárquicas a apresentação de candidatos. Retirando significado a questões como projecto político e consequente programa eleitoral. Esta atitude, impõe uma ideia de menoridade destas eleições e revela um desinteresse das concelhias pela causa comum, a pública.
Utilizando uma linguagem desportiva, concretamente do golfe, diria ser este o “handicap” das estruturas locais dos partidos políticos. O atraso com que iniciam a campanha eleitoral, relativamente ao partido do executivo Camarário, não lhes permite ter oportunidade de reduzir a diferença para quem já tem projecto político e obviamente candidato pré - definido. A menos que alguma “tacada” mal efectuada, provoque situações de crise política ou financeira.
Como foi o caso da Câmara Municipal de Lisboa.
Para as próximas eleições intercalares, os partidos e listas de independentes apresentaram candidatos fortes: ex-ministros, ex-presidentes de Câmara, ex-autarcas e políticos com inegável currículo.
Na comunicação social, os últimos dois anos da Autarquia Lisboeta não foram esquecidos, exigiu-se aos candidatos ideias para a Capital, nalguns casos por estas serem desconhecidas, obviamente.
A fórmula autárquica dos partidos, para Lisboa não foi suficiente.
Enquanto uns alegam a natureza intercalar das eleições, para conseguirem ganhar tempo e apresentarem um projecto estruturado para a cidade, outros preparam o ataque ao candidato que lidera as sondagens. Assim, só serão divulgados alguns programas, sendo certo, que a concretização efectiva dos mesmos ficará por números idênticos aos revelados há dias em S. João da Madeira.

(a publicar dia 07/06/07)

quarta-feira, maio 23, 2007

Zona Proibida

Em meados da década passada, em Portugal, um novo conceito urbano surgia associado ao fenómeno da Expo 98. Várias cidades adoptavam e lançavam o programa Polis, esperando conseguir o mesmo que em Lisboa. A despoluição de pequenos rios, empedrando as suas margens, a recuperação de marginais, dotando-as com discotecas e bares, a construção de pontes para peões foram alguns dos projectos lançados.
Por todo o lado proliferaram zonas pedonais, ciclovias, pistas para “jogging”, “mecos” para evitar trânsito, além de outros pormenores arquitectónicos, como relvados decorados de forma arrojada, candeeiros e bancos peculiares, tudo isto com soluções demasiado semelhantes, aborrecendo a oferta e tornando-a sobretudo desportiva.
Para muitos municípios foi a oportunidade do programa Polis. Os não contemplados com o programa governamental, lançaram-se em projectos dentro do mesmo conceito - a criação de zonas de lazer.
Manuel Graça Dias – arquitecto – definiu assim todo este movimento: “(...)Depois, comecei a perceber que da maior parte das boas intenções anunciadas antes, quer por cansaço dos intérpretes envolvidos quer pelos costumeiros cortes orçamentais, iam desaparecendo as coisas diferentes e novas e só ia ficando o enorme manto igualitário e pobre a que ultimamente se chama “qualidade de vida”(...)”.
A vontade de adaptar novos conceitos urbanos na cidade, retirou legitimidade à zona pedonal do centro da cidade. As ruas, praças e largos classificados para esse efeito não servem para os tempos modernos. A ansiedade, bem portuguesa, de repetir as soluções de outros concelhos retirou-lhe importância.
Na década de 80 do século passado, S. João da Madeira passou a distinguir-se na região onde está inserida, precisamente pela transformação do seu centro – Praça Luís Ribeiro, Largo Santo António e mais algumas ruas com comércio instalado - em zona “só para peões”.
Ao seguir a tendência moderna, de dotar as cidades com lugares para desportos individuais, o centro da cidade sacrificou-se. Já tinha perdido comércio, em detrimento da Avenida Renato Araújo, pela inexistência de soluções de parqueamento de automóveis e prepara-se agora para perder mais visitantes nas suas horas de lazer.
A reposição de trânsito e consequente amputação da metade oeste da zona pedonal, descaracterizará de novo o centro.
A solução poderá ser a correcta, embora fiquem dúvidas na criação do novo espaço de lazer - Parque Urbano – e sobre o seu futuro, em especial, pelos serviços que irá oferecer, para além da possibilidade de se praticar “jogging”.
Para quem segue os lamentos legítimos dos habitantes e comerciantes da Praça, sente que nem tudo foi feito.
Em matéria de segurança nada foi projectado, nem executado.
A Zona Pedonal pelos últimos relatos está insegura.
Das forças policiais espera-se apenas e só uma acção: PATRULHAMENTO. Mais do que conselhos e políticas preventivas, os interessados por esta zona querem sentir-se seguros. Querem ver polícias na Praça e demais artérias. De preferência a pé.
A noção de patrulhamento parece esquecida dos compêndios da PSP local.
Se calhar, é tempo de se equacionar outras soluções para este local como: a Polícia Municipal ou a contratação de uma empresa de segurança, ambas devidamente enquadradas legalmente e financeiramente.
Para concluir, sem querer abordar o assunto do novo shopping, o conceito de zona de lazer que foi criado na Praça não foi devidamente ponderado ao longo dos últimos anos. A degradação foi chegando sobre várias formas: a inaptidão de parte do Parque América, quer pelo reduzido número de habitantes, como pela baixa ocupação de lojas; os edifícios degradados – agora demolidos; o desinvestimento em esplanadas; o eliminar de canteiros, arbustos e árvores; o encerramento de comércio, agências de bancos e seguros; a venda de droga; o aumento da insegurança. Para contrariar tudo isto, o grande investimento municipal, até à data, foi a transformação das artérias circundantes, implantando chapéus de ferro.
Todos estes sinais foram sendo captados pela população, que lentamente retirou dos seus hábitos uma ida ao centro. Para estes a Praça tornou-se em zona proibida.

(a publicar no dia 24/05/07)

quarta-feira, maio 02, 2007

Xeque - Mate

Ao olhar para a fotografia de suporte do cartaz da Gala de Comemoração dos 20 anos da AEJ, a realizar amanhã dia 4 de Maio, identifico-me entre os vários figurantes em pose para a posteridade.
O grupo fotografado fazia parte do 1º Campo de Férias Estamos Juntos, realizado nas traseiras da Escola “Primária” do Parque, em 1982.
Eu estava lá.
Estive sempre. Primeiro como participante até ao 3º Campo de Férias, depois no primeiro grupo de participantes promovidos a monitores, a partir do 4º.
Acompanhei todas as fases da Associação Estamos Juntos, fui sócio fundador, em 1986.
Não assisti, participei no desenrolar da sua história.
Em 1990 lancei a secção de xadrez, no período mais conturbado da história da Associação. Não o fiz sozinho, além dos amigos que estavam comigo nessa “epopeia”, apareceram vários xadrezistas experientes, que com o seu contributo tornaram possível o nascimento da secção.
Durante dez épocas fui seccionista, jogador, capitão de equipa, monitor de xadrez, entre outras tarefas, como organizador de Torneios, Campeonatos Nacionais e Distritais, colectivos e Individuais. É certo que fui acumulando outras funções ao longo desses anos na AEJ, entre as quais Vice – Presidente.
Esses anos não passaram depressa. Muitos títulos distritais conquistados, bons resultados a nível Nacional, como o 2º lugar no Nacional Feminino de Alzira Silva, logo em 1990 e da sua irmã, Madalena, 3ª, no ano seguinte, embora a grande aposta da AEJ tivesse sido a partir de 1992, os escalões de formação, tendo-se atingido bons resultados no Nacional de Sub-20 por Stephane Silva e Ricardo Pinho. Com base nesses jovens, criou-se uma equipa forte que atingiu o seu máximo ao subir à 2ª Divisão, em 1999, colocando-se entre as 20 melhores equipas do país.
Pelo meio deste percurso ascendente, tivemos sempre um rumo, a melhoria qualitativa. Se de inicio a “política” da secção esteve relacionada com factores numéricos - como quantidade de jogadores, títulos obtidos, que serviriam para a divulgação da modalidade e da Associação, no contexto da cidade e do distrito de Aveiro, a certo momento existiu necessidade de redefinir objectivos, prescindindo-se um pouco da formação, da conquista de títulos distritais e procurando-se a afirmação da AEJ como clube de âmbito nacional.
Ao assumir a Presidência da Direcção da AEJ, de 1999 a 2001, optei sempre pela defesa dos interesses desta associação, em detrimento de amizades ou de outros relacionamentos existentes.
Nem sempre fui bem compreendido. Hoje agiria de forma igual, estou convencido.
Não estive sozinho, obviamente. Recuperei parte da equipa que tinha fundado a secção de Xadrez. O propósito agora era a organização da AEJ, projectando-a para o futuro e consolidando-a na sua essência.
As principais conquistas neste biénio ficaram relacionadas com a adequação do estatuto de Associação Juvenil e com a concentração da actividade nas Corgas, tendo ficado assinado no final do meu mandato um protocolo com a Câmara Municipal de S. João da Madeira, em que esta se comprometia a ceder instalações para sede social da AEJ – o espaço visado era o actual, no entanto, o processo não foi directo -, a disponibilizar os campos de ténis, para dinamização de Escola e secção por parte da AEJ. Não me posso esquecer, que nesse protocolo ficou previsto o destacamento da Escola de Natação do nosso técnico, Luís Ferreira, com a despesa dos honorários a pertencerem à Câmara Municipal.
No final de 2001, a capoeira iniciava-se e juntava-se às secções existentes: Natação e Xadrez. Eu estava de saída. Foram dois anos intensos. Apadrinhei na Natação, o primeiro título Nacional de Daniela Azevedo; acompanhei o técnico Augusto Macedo nos primeiros passos da formação da sua nova equipa; aboli o pagamento de quotas por parte dos atletas. No xadrez cedi o destino da secção a Albino Faria - que dura até aos dias de hoje; promovi o fortalecimento da equipa principal, com o reforço de jogadores da região, que por pouco não subia ao escalão principal; mesmo no final, assegurei o reforço de Roman Chemeris, jogador que contribuiu nos últimos anos para a melhoria qualitativa do Xadrez em S. João da Madeira.
A grande transformação seria no Campo de Férias. Em dois anos, médias de 400 participantes, contra os 150 de anos anteriores. Horário alargado às tardes, serviço de almoço, foram as novidades introduzidas. Uma nova dinâmica nascia.
Passei os anos seguintes na presidência da Assembleia Geral, onde pacificamente assisti ao bom trabalho da direcção seguinte, liderada por Nuno Fernandes, tendo sempre presente o meu lema de servir o clube.
Desde 2003 participo em Assembleias Gerais, apenas na qualidade de sócio, no meio de directores e seccionistas. Acompanho pelos jornais as participações das várias secções e feitos dos seus atletas e treinadores, sem exigir nem projectar resultados, como sempre o fiz desde 1990.
Este último sábado, fruto de vários acontecimentos, apareci na sede para apoiar a equipa principal de xadrez, tão necessitada de resultados positivos no Campeonato Nacional da 2ª Divisão.
Ao ver afixado o cartaz da Gala desta sexta-feira, recordei este episódio da minha vida com alguma emoção.

(a publicar no dia 03/05/07)

terça-feira, abril 24, 2007

Jornalista!?

A interiorização de conceitos na fase de aprendizagem, em idades pré-escolares, confrontada com as informações obtidas em casa, leva por vezes à confusão dos miúdos.
Na pré-escola a professora ensinou aos pequenos “aquele que escreve nos jornais é um jornalista”, entre outras profissões de carácter lógico, com ligação do sujeito ao objecto.
Conhecendo a faceta do pai, enquanto colaborador nas páginas deste jornal, o meu filho ficou confuso. Duvidou dos ensinamentos caseiros. O meu pai é jornalista – pensou. À noite, em casa, esperou a minha chegada e mal me viu, disparou:
- Pai, tu és jornalista!
Atónito, perguntei-lhe quem lhe tinha dito tal coisa, pensando ser a confusão motivada pela informação de algum colega, cujos progenitores pudessem ser leitores ou assinantes das páginas deste jornal.
- A Fernanda (educadora)!
Ainda lhe perguntei se por acaso era leitora do jornal.
- Não, apenas me ensinou as profissões e como tu escreves no jornal, és jornalista!
Pois!
A face visível da minha vida provoca destas confusões. Lá expliquei ao Manel que num jornal não escreviam apenas e só jornalistas. Existem outras pessoas que escrevem sobre vários assuntos, sendo designados como cronistas, analistas, comentadores (deixei de fora articulistas e colunistas, para não o confundir ainda mais), não sendo propriamente jornalistas.
Não sei se ficou muito satisfeito com a explicação, se calhar, tinha gostado mais que eu lhe tivesse dito que sim.
Optei por não tentar a forma oficial, colaborador, sobretudo pela dificuldade em associar o termo com o objecto, em substituição da correcta associação, a acção.
Terminei a relembrar-lhe a profissão do pai e as várias vezes em que lhe mostrei, em determinadas lojas, o produto comercializado e produzido na empresa em que o pai exerce o seu real ofício.
Se o meu filho na inocência dos seus seis anos tem dúvidas, embora a conversa as tenha parcialmente dissipado, imaginem o que se passará na cabeça da irmã de apenas quatro anos? Para ela, sou essencialmente “arranjador”, definido por aquele que arranja - em geral, brinquedos. É claro que as minhas qualificações vão-se alterando com a tarefa a executar e a ocupação conhece outros nomes, seguindo a lógica da ligação do sujeito ao verbo. Por vezes, fico com o rótulo de cozinheiro, quando me dedico a aquecer no microondas, algum prato pré confeccionado. Pouco mais sei, reconheço.
Sendo o bricolage doméstico uma função com um grau de ocupação elevado, tarefeiro seria o título supremo que poderia obter em casa. Curiosamente, rima com o grau académico da minha licenciatura e como defendeu o nosso primeiro, é socialmente assim aceite e utilizado.
Títulos à parte, voltando às dúvidas do meu filho, segundo o Tomo IV do Dicionário Hoauiss da Língua Portuguesa, jornalista é aquele “que trabalha como redactor, repórter, colunista ou director em órgão de imprensa ou programa jornalístico na rádio ou na televisão”. Portanto, para que não fiquem dúvidas, não sou.
Caso pensasse que o meu contributo ocasional pudesse ser considerado jornalismo, estava enganado. A palavra anterior a jornalista no mesmo dicionário é precisamente jornalismo e está definido “por actividade profissional que visa colectar, investigar, analisar e transmitir periodicamente ao grande público, ou a segmentos dele, informações da actualidade, utilizando veículos de comunicação(...)”. Como podem ver tenho dificuldades em integrar-me nesta definição, logo na terceira palavra.
Resta-me continuar a escrever como amador, sem carreira, nem carteira profissional. De nada me servirá colectar, investigar, analisar e transmitir dados, porque serei sempre colaborador no jornal.
Já agora, segundo o referido dicionário, no Tomo II, colaborador é “aquele que escreve artigos para uma publicação periódica sem pertencer ao corpo permanente dos seus redactores”. Colaborar é, no mesmo contexto, definido como “escrever artigos”.
Simples, não é?
Fico perplexo quando os leitores vêem outras intenções na minha escrita.

(a publicar no dia 26/04/07)

quarta-feira, abril 18, 2007

ALLGARVE

Desiluda-se quem pense encontrar neste texto alguma abordagem à recente campanha turística preparada pelo Ministro da Economia, para promoção da região do Turismo do Algarve.
Tão pouco alguma alusão ao conceito turístico desta cidade.
Daquela região surge um bom exemplo de divulgação das principais actividades culturais, um cartaz: anunciando os eventos, os concelhos, as datas associadas e o local de realização. É usual aparecer nos jornais nacionais, diários ou semanários, em jeito de publicidade e obviamente são espalhados vários painéis por toda a região.
Esta forma de promoção cultural colectiva dos vários municípios da região Algarvia é a forma adequada de como deve ser feita a programação cultural. Em actividades calendarizadas em concelhos próximos, deve existir a preocupação de não sobrepor actividades no mesmo dia, por vezes fim de semana e nalguns casos, semanas.
Trata-se apenas e só de programação integrada entre vários concelhos, uma vertente que infelizmente a sub-região Entre Douro e Vouga nunca abordou. É corrente nesta região surgirem coincidências fantásticas, com justaposição de datas de eventos, festivais, concertos, entre outros, que infelizmente só prejudica o promotor, o espectáculo ou a actividade, além do público e dos artistas, obviamente.
A concepção cultural merecia nova atenção à programação do auditório dos Paços da Cultura. Na semana em que se realiza uma louvável iniciativa – Festival de Teatro - nunca é demais lembrar que a inércia na programação deste espaço, continua a ser a legenda da política cultural da cidade. Dois anos depois da sua abertura, os hábitos culturais da cidade não se alteraram substancialmente. A propagada “grande actividade” continua com um ritmo lento. Depois de um prometedor arranque, o número de espectadores por mês, bem como o número de espectáculos promovidos em igual período não são muito encantadores. Sobretudo, servindo-nos desses números para justificar o grande investimento que será a recuperação do antigo Cinema Imperador transformando-o em Casa das Artes do Espectáculo (CAE).
Procurando por outra via essa justificação, tendo como base uma série de antigas salas de cinema, ou de teatro restauradas nos últimos anos em vários pontos do país, mais uma série de equipamentos construídos de raiz para o efeito, os dados da capacidade dessas Salas de Espectáculos e o número de habitantes desses concelhos (segundo a Wikipédia) são os seguintes:
Guarda : 44.084 habitantes - Teatro Municipal 626 lugares;
Vila Real: 49.957 habitantes – Teatro de Vila Real 500 lugares;
Faro: 57.151 habitantes - Teatro Municipal 794 lugares;
Figueira Foz: 62.601 habitantes – Centro de Artes 800 lugares;
Aveiro: 73.335 habitantes – Teatro Aveirense 632 lugares;
Viseu: 96.810 habitantes – Teatro Viriato 300 lugares;
Famalicão: 127.567 habitantes – Casa das Artes 500 lugares;
Coimbra: 168.105 habitantes - Teatro Gil Vicente 773 lugares;
Braga: 170.000 habitantes – Theatro Circo 1500 lugares;
Guimarães: 188.178 habitantes – Centro Cultural Vila Flor 794 lugares;
Se fizéssemos uma relação (regra de três simples) com todas as cidades, teríamos a necessidade da capacidade ideal do CAE entre 65 a 300 lugares, sendo os extremos as cidades de Viseu e Guarda, respectivamente. Este dado é curioso porque são cidades em que o equipamento similar mais próximo dista mais de 70 quilómetros. Se considerarmos a relação entre as médias (do número de habitantes de cada concelho e de lugares por Teatro) chegávamos ao seguinte valor, 147 lugares, o que seria o ideal para o CAE.
O auditório dos Paços da Cultura tem uma capacidade de 200 lugares. Pelas minhas contas, sem nenhum rigor científico, seria suficiente para o número de habitantes de S. João da Madeira (21.102 segundo o Censos 2001).
Não apresentarei qualquer conclusão, lembro apenas a existência do auditório do Europarque, em Santa Maria da Feira, com capacidade de 1.500 lugares e claro está, a distância de S. João da Madeira a este equipamento e às cidades de Aveiro e Porto.
Pode-se contrariar tudo isto, argumentando com as capacidades únicas do CAE e a possibilidade de com este investimento aumentar significativamente o número de espectadores por evento, atraindo novos públicos. Sobre isto, remeto os interessados ao artigo publicado no Jornal Público de 11 de Novembro de 2006, intitulado “Descentralização da Cultura” da autoria de Joana Gorjão Henriques, no qual outros dados são indicados e que servirão para cada qual tirar as suas conclusões.
Para terminar, relembro que o Theatro Circo de Braga, demorou 17 anos a ser restaurado. Sensato.

(a publicar no dia 19/04/07)

quarta-feira, abril 04, 2007

Perguntar não ofende

A publicação de qualquer estudo de reestruturação do Estado, encomendado pelo actual Governo, deve ser um sufoco para os autarcas do país. A incerteza no fornecimento de serviços mínimos de Estado à população do seu concelho, deixou-os “à beira de um ataque de nervos”. Um pouco por todo o lado, assiste-se à reestruturação proposta pelo Ministério da Saúde e surgem as primeiras propostas dos Ministérios da Justiça e da Administração Interna.
O conceito de Estado altera-se.
As autarquias contrapõem com estudos próprios, ou inclusivé com manifestações. Todos os políticos, enquanto presidentes de Câmaras Municipais são defensores da reorganização do Estado, desde que não afectem o seu concelho.
O próprio financiamento das autarquias tem sofrido bastantes restrições, deixando os autarcas entre duas situações: ou reduzem o investimento municipal, ou reduzem na despesa corrente. Normalmente a segunda opção é a escolha. A forma de o fazer é que não parece criteriosa.
Em S. João da Madeira, a Câmara Municipal optou por reduzir o financiamento às aulas de Inglês promovidas, há muitos bons anos, pelo Instituto de Línguas. Ao financiar apenas aulas para carenciados e desempregados, a decisão do Executivo Camarário embora válida é pouco sustentada, em primeiro lugar por penalizar a restante população, que passará a ter aulas mais caras do que actualmente e ao basear-se na concorrência a efectuar a promotores privados. Além do contra-senso, a Câmara Municipal cria um precedente, que poderá no futuro voltar-se contra si própria.
Várias questões podem ser levantadas acerca do financiamento municipal que colide com alguns negócios privados:
1) A nível de ensino, os proprietários de escolas privadas terão legitimidade de questionar porque é que as Escolas Públicas são financiadas pela Autarquia?
2) Os promotores imobiliários não sentirão a concorrência da empresa Municipal de Habitação?
3) Os ginásios podem questionar a existência de uma Escola de Natação Municipal, que lhes retira alunos?
4) Os agentes de saúde privada podem insurgir-se contra os esforços da Autarquia para assegurar a continuidade de serviços de saúde pública à população?
5) Uma empresa a instalar-se na cidade, promovendo aulas de futebol para crianças, pode insurgir-se contra o subsídio atribuído aos clubes da cidade?
6) Um proprietário de uma Lan-house pode reclamar pela gratuitidade no acesso à web, no espaço Internet?
Com um pouco de bom senso a prevalecer, assertivamente respondia NÃO a todas estas questões. Não, porque o que se espera da Autarquia é a defesa dos interesses da população, mesmo que isso signifique a concorrência directa ou indirecta a negócios privados. Até porque estes ao instalarem-se na cidade sabem quais são as áreas de actuação da Autarquia, os financiamentos atribuídos e devem equacionar isso na ponderação da rentabilidade do negócio a criar. Ou pelo menos, deveriam...
Não acredito, sinceramente, que só ao fim destes anos de co-existência do Instituto de Línguas com os seus concorrentes, estes tenham-no finalmente “descoberto”.
Esta decisão do Executivo Municipal, inclusivamente, é contrária à tendência nacional e europeia de promover a formação e a qualificação pessoal ao longo da vida activa. Sabendo-se que o Inglês é um dos pilares da sociedade moderna e tecnológica, não facilitar o seu ensino a toda a população é impedir-lhes o futuro.
Estas contradições na actuação da Câmara Municipal são surpreendentes.
Aproveito a oportunidade para desejar uma Boa Páscoa a todos os leitores.

(a publicar no dia 05/04/07)

terça-feira, março 06, 2007

Ontem não te vi no 8ª Avenida

Conforme tem sido noticiado na imprensa local e não só, no próximo Outono está programada a abertura do centro comercial 8ª Avenida. Pelos valores de investimento anunciados, verifica-se que S. João da Madeira se prepara para um novo momento da sua economia, apostando claramente no sector terciário, em detrimento das indústrias de transformação que a caracterizaram ao longo das últimas décadas.
A opção, pelo que pude ler recentemente, será acompanhada por outros investimentos em superfícies comerciais, o que permitirá aumentar a oferta de emprego, modificando a sua caracterização, obrigando a uma maior formação e consequente qualificação da população activa.
O conceito urbano será novamente questionado. Apesar das principais indústrias estarem remetidas a zonas apropriadas, as áreas comerciais tendem a alargar-se pelo território concelhio, salvaguardando-se a Reserva Agrícola que S. João da Madeira ainda consegue manter, de forma absurda, desde a definição do PDM em vigor.
O número de empregos a criar é o principal argumento a favor, para a construção destes “shoppings”. A oferta de outro tipo de comércio e de zonas de lazer, complementam o rol de benefícios.
O outro lado do 8ª avenida será a concorrência ao comércio tradicional. Em primeiro lugar precisamente pelo estacionamento – durante anos os comerciantes exigiram parques subterrâneos e agora que estão construídos, a abertura do shopping com centenas de lugares gratuitos à disposição, retirará os carros de novo do centro; em segundo lugar pela essência do centro comercial em si mesmo - climatizado tanto no Inverno como no verão. Com tudo isto e para agravar, assiste-se à abertura, em Ovar, do novo centro comercial e em Santa Maria da Feira anuncia-se outro, para abrir em 2009.
A própria zona pedonal da cidade não terá muitos argumentos para atrair a população. As cinco salas de cinema anunciadas, mais a inevitável praça de alimentação serão apostas suficientes para atrair pessoas ao 8ª Avenida. Mesmo outras áreas de lazer da cidade em fase de ampliação ou remodelação, terão dificuldade em ser atractivas e ficarão desertas em alguns momentos do ano.
A tudo isto se assistiu noutras cidades do nosso País.
Para contrariar esta tendência, as associações de comerciantes devem programar atempadamente, iniciativas para fidelizar a população ao comércio tradicional. Não apenas no Natal mas sim, permanentes.
O apoio da Autarquia é indispensável.
A partir do próximo Outono, obviamente, a oferta proposta alterará os interesses da população local e de terras vizinhas, modificando por isso, os hábitos diários de cada um.
A sociabilização local passará pelo espaço a inaugurar.
A expressão do título do presente artigo passará a ser usual na comunidade local.
O momento do desencontro associado a um ponto de referencia. Normalmente, como local de encontro de um grupo, de interesses vários, de uma rotina do quotidiano, nos momentos de lazer.
Não te vi no cinema, no pavilhão, no futebol, na praça, num determinado café, ou num bar, na avenida, na igreja, nas piscinas, no jardim, no parque, ou em outros locais foram expressões que acompanharam a cidade ao longo de épocas. Indicadores de um forte espírito comunitário.
Mais do que adornar o léxico local, o novo centro comercial desenvolverá um diferente conceito comercial na cidade, redefinindo a sua centralidade. A aridez que provocará à sua volta não está bem definida. Mas, nada ficará igual. A menos que a população residente aumente consideravelmente, o que só poderá ser conseguido alterando-se a “política de ocupação dos solos”, construindo-se habitações destinadas para jovens, atraindo e fixando desta forma esta faixa da população na cidade.
Isso é assunto para outra oportunidade.

Nota: É incompreensível que a construção destes centro comerciais, da responsabilidade de empresas enquadradas em sistemas de higiene e segurança, mesmo até em sistemas de gestão ambiental continuem a incomodar os vizinhos imediatos, retirando-lhes qualidade de vida, durante todo o processo de execução da obra. Tudo ficará bem quando a obra estiver concluída, no entanto, poderia ser evitado este transtorno a terceiros, não aceitável nos dias de hoje.

(a publicar no dia 08/03/07)

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Escrita Regular

Aprecio cronistas de periodicidade regular. Normalmente ocupam páginas de uma ou mais publicações, escrevendo semanalmente. Alguns mais raros, escrevem diariamente. Como é difícil a leitura de todos os escritos, mesmo para o mais atento leitor, a compilação em livros é uma forma simpática de, com um ritmo mais apropriado a cada um, podermos dedicar o nosso tempo ao autor, enquanto cronista.
Nos últimos dias, dediquei-me a ler a compilação de textos publicados por Miguel Esteves Cardoso, “A minha Andorinha”, editado em 2006.
Para mim tudo começou com ele: a leitura dos textos de Escrítica Pop, de 1982; os textos semanais no Expresso; a aventura do Independente; a Kapa... depois perdi-o, na Má Língua. Eu sei que já “ninguém” o lê. Ou melhor, passam os olhos pela sua coluna no semanário Expresso, vêem a sua figura obesa e seguem para outra página. Como desapareceu das luzes da ribalta, sem aparecer na televisão, ficou esquecido. No entanto, ainda mexe.
A particularidade da sua prosa é a apreciação do cidadão nacional. Analisa grupos, comportamentos. Fala do ócio, da preguiça, dos prazeres da vida, sem malícia, com o respeito pelos outros.
Esta forma interessante de escrever mantêm-no activo – actualmente, em duas publicações nacionais - há vinte e muitos anos.
A publicação dos seus textos é uma garantia para o director do jornal. A publicação nos jornais é a sua garantia.
Um jornal vive da capacidade de trabalho da sua redacção mas também, dos textos dos seus colaboradores, ao abrigo de artigos de opinião ou de crónicas.
Os jornais locais têm uma outra singularidade, são meios de divulgação das actividades das várias colectividades locais. Páginas e páginas de informação desportiva são frequentes em qualquer edição do Jornal Labor. Uma relação simbiótica e profícua entre ambas as partes. Várias são as associações e diferentes secções que se divulgam, com esforço dos seus responsáveis, ou por quem assina os textos.
É importante não esquecer que o associativismo ainda é uma prestação de serviço à comunidade, à qual os seus dirigentes se dedicam sem fins lucrativos. Estão obviamente sujeitos a críticas, primeiro em sede própria, nas Assembleias Gerais, por exemplo. Como a sua actividade não se restringe à sede social, ou demais instalações desportivas, as críticas podem extravasar e surgirem artigos de opinião nos jornais locais.
Cabe aqui ao Director do Jornal, para defesa da sua publicação, dar oportunidade de defesa ao clube visado, moderando as críticas, caso estas se tornem insultuosas ou com juízo de valor, alertando para o conteúdo do texto, conseguindo assim que os seus leitores, assinantes e até anunciantes não sejam melindrados por problemas, que por vezes, não devem sair da sede dos clubes.
A elevação dos textos escritos para um jornal, incute-lhe uma qualidade superior e permite-lhe diferenciar-se dos restantes.
Uma nota final, fico contente por ter motivado o regresso do Sr. Albino Costa à escrita.

(publicado a 15/02/07)