terça-feira, março 06, 2007

Ontem não te vi no 8ª Avenida

Conforme tem sido noticiado na imprensa local e não só, no próximo Outono está programada a abertura do centro comercial 8ª Avenida. Pelos valores de investimento anunciados, verifica-se que S. João da Madeira se prepara para um novo momento da sua economia, apostando claramente no sector terciário, em detrimento das indústrias de transformação que a caracterizaram ao longo das últimas décadas.
A opção, pelo que pude ler recentemente, será acompanhada por outros investimentos em superfícies comerciais, o que permitirá aumentar a oferta de emprego, modificando a sua caracterização, obrigando a uma maior formação e consequente qualificação da população activa.
O conceito urbano será novamente questionado. Apesar das principais indústrias estarem remetidas a zonas apropriadas, as áreas comerciais tendem a alargar-se pelo território concelhio, salvaguardando-se a Reserva Agrícola que S. João da Madeira ainda consegue manter, de forma absurda, desde a definição do PDM em vigor.
O número de empregos a criar é o principal argumento a favor, para a construção destes “shoppings”. A oferta de outro tipo de comércio e de zonas de lazer, complementam o rol de benefícios.
O outro lado do 8ª avenida será a concorrência ao comércio tradicional. Em primeiro lugar precisamente pelo estacionamento – durante anos os comerciantes exigiram parques subterrâneos e agora que estão construídos, a abertura do shopping com centenas de lugares gratuitos à disposição, retirará os carros de novo do centro; em segundo lugar pela essência do centro comercial em si mesmo - climatizado tanto no Inverno como no verão. Com tudo isto e para agravar, assiste-se à abertura, em Ovar, do novo centro comercial e em Santa Maria da Feira anuncia-se outro, para abrir em 2009.
A própria zona pedonal da cidade não terá muitos argumentos para atrair a população. As cinco salas de cinema anunciadas, mais a inevitável praça de alimentação serão apostas suficientes para atrair pessoas ao 8ª Avenida. Mesmo outras áreas de lazer da cidade em fase de ampliação ou remodelação, terão dificuldade em ser atractivas e ficarão desertas em alguns momentos do ano.
A tudo isto se assistiu noutras cidades do nosso País.
Para contrariar esta tendência, as associações de comerciantes devem programar atempadamente, iniciativas para fidelizar a população ao comércio tradicional. Não apenas no Natal mas sim, permanentes.
O apoio da Autarquia é indispensável.
A partir do próximo Outono, obviamente, a oferta proposta alterará os interesses da população local e de terras vizinhas, modificando por isso, os hábitos diários de cada um.
A sociabilização local passará pelo espaço a inaugurar.
A expressão do título do presente artigo passará a ser usual na comunidade local.
O momento do desencontro associado a um ponto de referencia. Normalmente, como local de encontro de um grupo, de interesses vários, de uma rotina do quotidiano, nos momentos de lazer.
Não te vi no cinema, no pavilhão, no futebol, na praça, num determinado café, ou num bar, na avenida, na igreja, nas piscinas, no jardim, no parque, ou em outros locais foram expressões que acompanharam a cidade ao longo de épocas. Indicadores de um forte espírito comunitário.
Mais do que adornar o léxico local, o novo centro comercial desenvolverá um diferente conceito comercial na cidade, redefinindo a sua centralidade. A aridez que provocará à sua volta não está bem definida. Mas, nada ficará igual. A menos que a população residente aumente consideravelmente, o que só poderá ser conseguido alterando-se a “política de ocupação dos solos”, construindo-se habitações destinadas para jovens, atraindo e fixando desta forma esta faixa da população na cidade.
Isso é assunto para outra oportunidade.

Nota: É incompreensível que a construção destes centro comerciais, da responsabilidade de empresas enquadradas em sistemas de higiene e segurança, mesmo até em sistemas de gestão ambiental continuem a incomodar os vizinhos imediatos, retirando-lhes qualidade de vida, durante todo o processo de execução da obra. Tudo ficará bem quando a obra estiver concluída, no entanto, poderia ser evitado este transtorno a terceiros, não aceitável nos dias de hoje.

(a publicar no dia 08/03/07)