quarta-feira, maio 23, 2007

Zona Proibida

Em meados da década passada, em Portugal, um novo conceito urbano surgia associado ao fenómeno da Expo 98. Várias cidades adoptavam e lançavam o programa Polis, esperando conseguir o mesmo que em Lisboa. A despoluição de pequenos rios, empedrando as suas margens, a recuperação de marginais, dotando-as com discotecas e bares, a construção de pontes para peões foram alguns dos projectos lançados.
Por todo o lado proliferaram zonas pedonais, ciclovias, pistas para “jogging”, “mecos” para evitar trânsito, além de outros pormenores arquitectónicos, como relvados decorados de forma arrojada, candeeiros e bancos peculiares, tudo isto com soluções demasiado semelhantes, aborrecendo a oferta e tornando-a sobretudo desportiva.
Para muitos municípios foi a oportunidade do programa Polis. Os não contemplados com o programa governamental, lançaram-se em projectos dentro do mesmo conceito - a criação de zonas de lazer.
Manuel Graça Dias – arquitecto – definiu assim todo este movimento: “(...)Depois, comecei a perceber que da maior parte das boas intenções anunciadas antes, quer por cansaço dos intérpretes envolvidos quer pelos costumeiros cortes orçamentais, iam desaparecendo as coisas diferentes e novas e só ia ficando o enorme manto igualitário e pobre a que ultimamente se chama “qualidade de vida”(...)”.
A vontade de adaptar novos conceitos urbanos na cidade, retirou legitimidade à zona pedonal do centro da cidade. As ruas, praças e largos classificados para esse efeito não servem para os tempos modernos. A ansiedade, bem portuguesa, de repetir as soluções de outros concelhos retirou-lhe importância.
Na década de 80 do século passado, S. João da Madeira passou a distinguir-se na região onde está inserida, precisamente pela transformação do seu centro – Praça Luís Ribeiro, Largo Santo António e mais algumas ruas com comércio instalado - em zona “só para peões”.
Ao seguir a tendência moderna, de dotar as cidades com lugares para desportos individuais, o centro da cidade sacrificou-se. Já tinha perdido comércio, em detrimento da Avenida Renato Araújo, pela inexistência de soluções de parqueamento de automóveis e prepara-se agora para perder mais visitantes nas suas horas de lazer.
A reposição de trânsito e consequente amputação da metade oeste da zona pedonal, descaracterizará de novo o centro.
A solução poderá ser a correcta, embora fiquem dúvidas na criação do novo espaço de lazer - Parque Urbano – e sobre o seu futuro, em especial, pelos serviços que irá oferecer, para além da possibilidade de se praticar “jogging”.
Para quem segue os lamentos legítimos dos habitantes e comerciantes da Praça, sente que nem tudo foi feito.
Em matéria de segurança nada foi projectado, nem executado.
A Zona Pedonal pelos últimos relatos está insegura.
Das forças policiais espera-se apenas e só uma acção: PATRULHAMENTO. Mais do que conselhos e políticas preventivas, os interessados por esta zona querem sentir-se seguros. Querem ver polícias na Praça e demais artérias. De preferência a pé.
A noção de patrulhamento parece esquecida dos compêndios da PSP local.
Se calhar, é tempo de se equacionar outras soluções para este local como: a Polícia Municipal ou a contratação de uma empresa de segurança, ambas devidamente enquadradas legalmente e financeiramente.
Para concluir, sem querer abordar o assunto do novo shopping, o conceito de zona de lazer que foi criado na Praça não foi devidamente ponderado ao longo dos últimos anos. A degradação foi chegando sobre várias formas: a inaptidão de parte do Parque América, quer pelo reduzido número de habitantes, como pela baixa ocupação de lojas; os edifícios degradados – agora demolidos; o desinvestimento em esplanadas; o eliminar de canteiros, arbustos e árvores; o encerramento de comércio, agências de bancos e seguros; a venda de droga; o aumento da insegurança. Para contrariar tudo isto, o grande investimento municipal, até à data, foi a transformação das artérias circundantes, implantando chapéus de ferro.
Todos estes sinais foram sendo captados pela população, que lentamente retirou dos seus hábitos uma ida ao centro. Para estes a Praça tornou-se em zona proibida.

(a publicar no dia 24/05/07)

quarta-feira, maio 02, 2007

Xeque - Mate

Ao olhar para a fotografia de suporte do cartaz da Gala de Comemoração dos 20 anos da AEJ, a realizar amanhã dia 4 de Maio, identifico-me entre os vários figurantes em pose para a posteridade.
O grupo fotografado fazia parte do 1º Campo de Férias Estamos Juntos, realizado nas traseiras da Escola “Primária” do Parque, em 1982.
Eu estava lá.
Estive sempre. Primeiro como participante até ao 3º Campo de Férias, depois no primeiro grupo de participantes promovidos a monitores, a partir do 4º.
Acompanhei todas as fases da Associação Estamos Juntos, fui sócio fundador, em 1986.
Não assisti, participei no desenrolar da sua história.
Em 1990 lancei a secção de xadrez, no período mais conturbado da história da Associação. Não o fiz sozinho, além dos amigos que estavam comigo nessa “epopeia”, apareceram vários xadrezistas experientes, que com o seu contributo tornaram possível o nascimento da secção.
Durante dez épocas fui seccionista, jogador, capitão de equipa, monitor de xadrez, entre outras tarefas, como organizador de Torneios, Campeonatos Nacionais e Distritais, colectivos e Individuais. É certo que fui acumulando outras funções ao longo desses anos na AEJ, entre as quais Vice – Presidente.
Esses anos não passaram depressa. Muitos títulos distritais conquistados, bons resultados a nível Nacional, como o 2º lugar no Nacional Feminino de Alzira Silva, logo em 1990 e da sua irmã, Madalena, 3ª, no ano seguinte, embora a grande aposta da AEJ tivesse sido a partir de 1992, os escalões de formação, tendo-se atingido bons resultados no Nacional de Sub-20 por Stephane Silva e Ricardo Pinho. Com base nesses jovens, criou-se uma equipa forte que atingiu o seu máximo ao subir à 2ª Divisão, em 1999, colocando-se entre as 20 melhores equipas do país.
Pelo meio deste percurso ascendente, tivemos sempre um rumo, a melhoria qualitativa. Se de inicio a “política” da secção esteve relacionada com factores numéricos - como quantidade de jogadores, títulos obtidos, que serviriam para a divulgação da modalidade e da Associação, no contexto da cidade e do distrito de Aveiro, a certo momento existiu necessidade de redefinir objectivos, prescindindo-se um pouco da formação, da conquista de títulos distritais e procurando-se a afirmação da AEJ como clube de âmbito nacional.
Ao assumir a Presidência da Direcção da AEJ, de 1999 a 2001, optei sempre pela defesa dos interesses desta associação, em detrimento de amizades ou de outros relacionamentos existentes.
Nem sempre fui bem compreendido. Hoje agiria de forma igual, estou convencido.
Não estive sozinho, obviamente. Recuperei parte da equipa que tinha fundado a secção de Xadrez. O propósito agora era a organização da AEJ, projectando-a para o futuro e consolidando-a na sua essência.
As principais conquistas neste biénio ficaram relacionadas com a adequação do estatuto de Associação Juvenil e com a concentração da actividade nas Corgas, tendo ficado assinado no final do meu mandato um protocolo com a Câmara Municipal de S. João da Madeira, em que esta se comprometia a ceder instalações para sede social da AEJ – o espaço visado era o actual, no entanto, o processo não foi directo -, a disponibilizar os campos de ténis, para dinamização de Escola e secção por parte da AEJ. Não me posso esquecer, que nesse protocolo ficou previsto o destacamento da Escola de Natação do nosso técnico, Luís Ferreira, com a despesa dos honorários a pertencerem à Câmara Municipal.
No final de 2001, a capoeira iniciava-se e juntava-se às secções existentes: Natação e Xadrez. Eu estava de saída. Foram dois anos intensos. Apadrinhei na Natação, o primeiro título Nacional de Daniela Azevedo; acompanhei o técnico Augusto Macedo nos primeiros passos da formação da sua nova equipa; aboli o pagamento de quotas por parte dos atletas. No xadrez cedi o destino da secção a Albino Faria - que dura até aos dias de hoje; promovi o fortalecimento da equipa principal, com o reforço de jogadores da região, que por pouco não subia ao escalão principal; mesmo no final, assegurei o reforço de Roman Chemeris, jogador que contribuiu nos últimos anos para a melhoria qualitativa do Xadrez em S. João da Madeira.
A grande transformação seria no Campo de Férias. Em dois anos, médias de 400 participantes, contra os 150 de anos anteriores. Horário alargado às tardes, serviço de almoço, foram as novidades introduzidas. Uma nova dinâmica nascia.
Passei os anos seguintes na presidência da Assembleia Geral, onde pacificamente assisti ao bom trabalho da direcção seguinte, liderada por Nuno Fernandes, tendo sempre presente o meu lema de servir o clube.
Desde 2003 participo em Assembleias Gerais, apenas na qualidade de sócio, no meio de directores e seccionistas. Acompanho pelos jornais as participações das várias secções e feitos dos seus atletas e treinadores, sem exigir nem projectar resultados, como sempre o fiz desde 1990.
Este último sábado, fruto de vários acontecimentos, apareci na sede para apoiar a equipa principal de xadrez, tão necessitada de resultados positivos no Campeonato Nacional da 2ª Divisão.
Ao ver afixado o cartaz da Gala desta sexta-feira, recordei este episódio da minha vida com alguma emoção.

(a publicar no dia 03/05/07)