quarta-feira, fevereiro 20, 2013

Terceira parte

 
                No debate sobre a atividade desportiva em S. João da Madeira, realizado no âmbito do Fórum Re:pensar a cidade, quatro ideias foram expressas pelo painel de convidados:
            - o papel do poder local no desenvolvimento desportivo do país, expressa por Vicente Moura, tendo em conta a construção de infraestruturas desportivas municipais e pelo apoio às coletividades desportivas;
            - a sustentabilidade das modalidades desportivas, sobretudo através das quotas pagas nos escalões de formação e pelos masters (atletas com mais de 25 anos), defendida por Pedro Sarmento;  
            - o pioneirismo de S. João da Madeira, evocado por Augusto Araújo - grande conhecedor da história desportiva da cidade - quando referiu o empreendedorismo da população local em matéria de equipamentos destinados à prática de desporto.
            - a felicidade manifestada por Ana Rodrigues, por ter participado nos Jogos Olímpicos de Londres, apesar das contrariedades vividas na preparação.
            Na apresentação do debate, expressei a minha ideia sobre a atividade desportiva. Defendi a existência de cinco fases no desporto: a captação, o ensino, as competições, o alto-rendimento e uma última, equivalente à manutenção da boa condição física, em idades posteriores à do período de competição.
As três primeiras fases correspondem respetivamente ao primeiro contacto com a modalidade, à noção generalizada do desporto a praticar e ao desenvolvimento de competências físicas dos atletas, através do treino e dos jogos. No topo destas fases temos a alta competição, correspondendo à participação em campeonatos absolutos, ou às equipas seniores participando nos nacionais em divisões superiores.
A quarta fase envolve o alto rendimento desportivo, caraterizado pela chamada à seleção nacional ou pela integração no programa olímpico, mediante obtenção de marcas pessoais correspondente à exigência fixada.
No último nível, temos os praticantes de atividade física, que não pretendem competir em alto nível, pretendendo apenas manter a boa forma física, procurando exercitar-se em termos individuais, ou em equipa, utilizando os espaços disponíveis da cidade.
Com este enquadramento e atendendo aos sensatos conselhos do painel como, a coordenação entre o desporto escolar e o associativo e por outro lado, o evitar megalomanias na construção de equipamentos desportivos (é sempre bom ouvir), devemos perguntar como deve ser feita a gestão desportiva municipal?
Envolvendo os técnicos das associações e professores de educação física das escolas, poderá desenvolver-se um plano integrado de desenvolvimento desportivo, lançando-se a captação e ensino de várias modalidades. Seguindo os ensinamentos do professor Pedro Sarmento, estas modalidades podem ser auto sustentáveis, pagando toda a competição.
Se assim for, uma sustentação conseguida a médio prazo, o papel da autarquia deve canalizar-se para outros campos. Se seguirmos os conselhos dos convidados e fugirmos da construção desenfreada, poderá ser lançado em alternativa um programa ambicioso melhoria da qualidade desportiva dos atletas da cidade. No limite este programa poderá dar apoio a atletas com potencial olímpico, continuando-se na senda do pioneirismo desportivo, defendido por Augusto Araújo.
Uma ideia que poderá mudar o paradigma do desporto nacional: a envolvência das autarquias nos programas olímpicos. O que a fazer fé nas palavras iniciais de Vicente Moura, só assim será garantido novo desenvolvimento desportivo do país.
Ao ouvir Ana Rodrigues a expressar o seu contentamento por toda a sua carreira, percebi que não estava errado ao propor ambicioso título para o debate, da passada sexta-feira. O sucesso desportivo não vive apenas de medalhas olímpicas. O esforço e o sacrifício de Ana foram compensados pela felicidade de estar presente nos Jogos Olímpicos.
É importante que sejam criadas melhores oportunidades para as gerações vindouras.
A população de S. João da Madeira carateriza-se pela ambição, sobretudo, a que se dedica ao desporto. 
         
(a publicar no dia 21/02/13)

quarta-feira, fevereiro 13, 2013

Promotores de vida saudável

            Ao preparar o debate sobre a atividade desportiva de S. João da Madeira, para o Fórum Re:pensar a cidade, recolhi alguns dados dos clubes da cidade.
            À informação do dinamismo desportivo e associativo, juntei os elementos históricos. Elaborei uma escala de tempo e agrupei os clubes pela data de fundação. Escolhi como limites para os intervalos do tempo: a emancipação concelhia – 1926; a revolução democrática – 1974; a mudança de século / milénio – 2000. Os resultados apresento-os no gráfico seguinte:
 
 
            Analisei apenas os clubes ativos na atualidade. Algumas associações foram-se perdendo ao longo destes anos e portanto, não estão contabilizadas.
            Os conhecedores do desporto da cidade, identificam o clube da coluna da esquerda do gráfico – Associação Desportiva Sanjoanense, fundada em 1924. Na segunda coluna acrescentam-se outros dois: o Clube Campismo e o Dínamo Sanjoanense, fundados respetivamente em 1953 e 1957.
A vida democrática a partir de 1974 trouxe uma maior dinâmica associativa à cidade, assim em 1976 o Turbo Clube é constituído e em 1977 formam-se os Kágados. Na década de 80, apareceram pela seguinte ordem: Real Sociedade da Praça, Centro Cultura e Desporto (CCD), CCD Fundo de Vila, Associação Desportiva e Recreativa “Amigos do Vicente” e Associação Estamos Juntos. Já na década de 90 do século anterior, surgiu a Arma – Associação Sanjoanense de Artes Marciais – e Shaolin Si. Finalizando-se este período com 12 coletividades.
            A tendência de formar clubes dedicados a uma só modalidade, continuou com a mudança do milénio. A Associação de Pais da Escola Dr. Serafim Leite, os Serviços Sociais do Pessoal do Município de S. João da Madeira, ambas dedicadas ao atletismo, são um bom exemplo. Nos anos seguintes, a vontade da população em participar ativamente no desporto verificou-se com a fundação de clubes como: a Associação É bom viver, o Clube de Bilhar, a Aproj – Associação de Promoção da Juventude, a Petertumble Motorsport, a SJM – Sub e por fim, a Poolfiction.
            Durante anos os clubes completavam-se, raramente havia modalidades idênticas em clubes diferentes. Hoje isso já não acontece. Temos algumas modalidades a serem praticadas por mais do que um clube, havendo mesmo uma feroz concorrência entre eles. Bilhar, Futsal, Futebol são desportos com jogos entre equipas locais. Todo-o-terreno com uma lógica própria e atletismo completam a lista de modalidades com mais do que um clube.
O fenómeno do atletismo, com quatro clubes dedicados, projeta a cidade como o maior centro da modalidade no distrito de Aveiro. Sendo necessário referir a pouca especialização dos atletas, a maioria essencialmente de estrada, o que a torna no desporto mais praticado em S. João da Madeira.
O número total de atletas em S. João da Madeira ascende a 2285, das mais variadas modalidades, que não vou aqui enumerar. Deste número, 23% são mulheres, ou seja, cerca de 552, provando que a igualdade de género é uma oportunidade do desporto, embora haja ainda muito caminho a percorrer, sobretudo, em modalidades como o futebol ou o futsal, em que nenhuma rapariga as pratica como atletas de desporto federado.
O indicador do número de jovens atletas envolvidos nas coletividades da cidade, é extremamente significativo sobre a mudança de paradigma ocorrido na gestão desportiva da cidade nas últimas décadas. 1500 jovens, equivalente a dois terços do total de atletas, são o exemplo da dedicação das nossas coletividades à promoção da vida saudável da sua juventude. Por detrás deste magnífico número estão dirigentes, seccionistas e técnicos que tudo fazem para assegurar o bom funcionamento de treinos e de jogos destes jovens, durante toda a época desportiva. Não esquecendo que muitos deles o fazem de forma voluntariosa, muitas vezes, com prejuízo da sua vida profissional.
As assistências nos jogos em casa dos escalões de formação, na totalidade das suas equipas, são amplamente superiores aos jogos das equipas de seniores, em qualquer modalidade. Tive a oportunidade de o confirmar ao espreitar o jogo de basquetebol dos sub 16 masculinos, do último fim-de-semana, entre a ADS e a Ovarense.   
A cidade reconhece-se nos seus jovens. Envolve-se em torno deles e isso é importante para erigir o espírito comunitário e fortalecer a sua identidade.
Este será um dos temas do debate do dia 15 de Fevereiro, a Atividade Desportiva da Escola aos Jogos Olímpicos, que irá realizar-se nos Paços da Cultura, pelas 21h30m.
 
(a publicar no dia 14/02/2013)
              
 

quarta-feira, fevereiro 06, 2013

Tubarões Azuis

         Sábado passado, tirei a tarde para visualizar o jogo de futebol entre Cabo Verde e Gana, via Eurosport. Às 15 horas, estava em frente ao televisor. Por este canal, futebol, só sigo a Taça das Nações Africanas.
Era a minha oportunidade para ver um jogo da seleção surpresa deste campeonato, que tanto aprecio. Nessa manhã, li o relato de Angola e dos festejos dos 50.000 caboverdianos radicados em Luanda, após o jogo que ditou a derrota e consequente afastamento do país acolhedor destes emigrantes.  
Na minha história de telespetador, o sábado à tarde foi muitas vezes consagrado a seguir jogos de râguebi, devidamente comentados pelo eclético Cordeiro do Vale, que tudo fazia para explicar as regras do jogo. A sua voz acompanhava outras modalidades e jamais percebi qual era a sua verdadeira especialidade. 
No Eurosport, habituei-me aos comentários de Olivier Bonamici, entendendo-o como um seguidor do futebol africano e conhecedor dos jogadores das mais variadas seleções, sobretudo, as de expressão francesa. O seu sotaque está adequado aos mais variados jogos dos países francófonos, por isso, ao ouvi-lo a comentar o jogo de Cabo Verde, estranhei-o.
A primeira parte foi lenta, tão lenta que parecia jogar-se ao ritmo de uma morna. Sentado no sofá, foi tempo de tirar uma sesta.
Uma folguinha.
A desejada atividade de fim-de-semana.
Acordei no início da segunda parte, com o resultado ainda a zero. Ainda estremunhado, ouvi o comentador, atrás mencionado, a falar num país representante da lusofonia.
O conceito tinha sido posto em causa, nas páginas do jornal público por António Pinto Ribeiro, no dia 18 de Janeiro em artigo intitulado “Para acabar de vez com a lusofonia”, fundamentando a sua teoria, pelo número de habitantes dos países africanos que falam português.
O golo do Gana, um penalti ao jeito dos mafiosos jogos europeus, tornou o jogo vivo. Os jogadores de Cabo Verde empolgavam, procurando chegar ao golo do empate. Em matéria de ritmo, a morna tinha sido destronada por um funaná, ou até uma coladeira. Lembrei-me das músicas de Os Tubarões, da voz de Ildo Lobo, que tive a oportunidade de ver a cantar o tema Sodade no cineteatro de Mindelo, na ilha de S. Vicente.
A certa altura, o comentador lusófono fala do mundo crioulo. Na oportunidade de afirmação do mundo crioulo em matéria de desporto. Podendo este campeonato fixar mais jogadores, naturais daquele país, na seleção de Cabo Verde. No mesmo jogo, misturam-se conceitos. No último lance, os mesmos comentadores incentivam o convidado cabo-verdiano a traduzir para crioulo a expressão “vamos ter fé”.
Livre marcado, bola desviada para canto, por um super Abdul Fatawu Dauda, o herói da tarde. Todos na área. Canto mal marcado e após uma longa corrida, o Gana faz o segundo golo.
No final do jogo, Olivier Bonamici fez uma apreciação correta, falando da falta de eficácia dos atacantes de Cabo Verde. O outro comentador e o convidado falaram da vitória moral e do erro de arbitragem como justificativo para a derrota. Argumento que se estendeu a vários jornais dos mais diversos países africanos de expressão oficial portuguesa.
Afinal, a lusofonia existe. Não apenas nas afinidades linguísticas e culturais mas, também na reação coletiva à derrota… desportiva.
 
(a publicar no dia 7/02/13)