terça-feira, março 11, 2014

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                O aniversário da Associação Desportiva Sanjoanense não me deixou indiferente. Sem possibilidade física de estar presente nas comemorações, nem de escrever em data aproximada à da efeméride, optei por prolongar, por mais uma semana, as referências ao nonagésimo aniversário do principal clube da localidade.
                Mantenho com a ADS uma relação curiosa.
                Sou sócio há sensivelmente 25 anos, sem certeza alguma na data de efetivação. Pago quotas anualmente, sem atraso. Apesar da regularidade, nunca participei numa assembleia geral.
Afastado do estádio, no qual não entro há dezassete anos, distante de todos os pavilhões, nunca assisti a um jogo de uma equipa local nas Travessas, as presenças nas bancadas resumem-se a encontros das equipas jovens da ADS, quando algum familiar é membro da equipa adversária enquanto visitante. Um sobrinho, ou filhos de primos, já que a minha prole elegeu desportos que a Sanjoanense não pratica. Assisto a esses jogos repartido entre os apoios à família e o afeto pelo clube local.
Sou uma presença tão rara nas bancadas, que até colegas de escola têm dificuldade em reconhecer-me.
Apesar de distante, vou-me informando.
Ao fim-de-semana coleciono resultados desportivos. Procuro informação na internet sobre vários campeonatos. Troco sms’s para saber resultados em primeira mão dos desportos que habitualmente sigo. No trajeto de colecionador, tenho vários momentos, por exemplo, nos primeiros meses do ano, a prioridade vai para o Torneio das Seis Nações em râguebi. Divido-me pelos vários campos e sigo os jogos pouco preocupado em torcer por qualquer uma das seleções competidoras.
Ao domingo à noite, quando tenho um tempinho apuro os resultados da ADS. Se falhar, espero pela edição de quinta-feira no jornal labor. Leio os resultados das quatro modalidades coletivas. Aqui olho para as tabelas classificativas e verifico as posições ocupadas. Este é o único ritual a que me dedico enquanto sócio.
Nesses dois ou três jogos a que assisto, um de futebol e dois de hóquei patins, em especial nestes últimos, é reconfortante sentar-me nas bancadas do Pavilhão, pois recordo sempre a essência de ser associado da ADS. Olhar o recinto de jogo, o mesmo onde vi eufóricos momentos desportivos, das mais variadas equipas, é recordar as manhãs e tardes da ADS, nos idos 80, em que todos os caminhos iam dar à Rua Benjamim Araújo. Desde tenra idade segui a equipa de Basquetebol, uma equipa formada por Margalho, Cassiano, Lopes, Zé, Danilo, Barros, Borges, Ilídio, entre outros, treinada pelo eterno Pinto. Acompanhei a sua subida à 2ª Divisão e dois anos mais tarde, com o contributo do norte-americano Bruce, a subida à 1ª. Lembro-me sempre do abraço recebido do Margalho, mesmo após o final do decisivo jogo com o Académico do Porto, aqui em SJM. Depois continuei a acompanhar as equipas de basquetebol, a conhecer os reforços nacionais e estrangeiros, que muito contribuíram para alguma evolução social da cidade. Neste capítulo, não posso deixar de mencionar o brasileiro Sérgio Salvador, que sempre tratou os mais novos de forma igual, isto é, com mútuo respeito e abertura ao diálogo. 
Passados todos estes anos, é importante referir a atividade das quatro modalidades coletivas, mais a da secção de ginástica. Uma interessante história, procurando-se, cada vez mais, um modelo de sustentabilidade financeira das várias secções, através do equilíbrio entre as receitas, as despesas e a diminuição da dívida do clube.
Nunca é de mais enaltecer a promoção da igualdade de género, como prova a existência de equipas femininas nos vários escalões das diferentes modalidades. E mencionar também os seus mil atletas, a grande maioria, 85%, com menos de 18 anos, demonstrando a capacidade do clube em promover hábitos saudáveis na juventude.
A alteração de paradigma na ADS, concentrada no passado em agradar aos seus sócios, quando hoje, está centrada nos seus atletas, é o reflexo da boa gestão do seu atual presidente, Luís Vargas Cruz. Um reconhecimento público da sua atividade, esperando que permaneça por mais uns anos no cargo, de forma que o modelo de auto - sustentabilidade seja conseguido e que os êxitos desportivos sejam uma constante.
Finalizo com uma proposta, é necessário efetivar a passagem dos atletas e seus familiares para o futuro, tornando-os sócios. Os bons momentos vividos dentro e fora de campo, não se devem esgotar no final de uma qualquer época desportiva. Um vínculo apropriado, com uma quotização suave, poderá ser a alavanca para engrandecer ainda mais o clube, aumentando as receitas e alargando-se os apoiantes.
Caminha-se agora para o centenário.
Daqui a dez anos, outras histórias surgirão, a realidade será outra.
A ADS estará revivificada.
 
(a publicar no dia 13/03/14)