quarta-feira, dezembro 30, 2015

Um ano não resolvido

                No balanço do ano de 2015 é importante destacar os acontecimentos que marcaram a vida local.

A devolução, pelo Estado, do Hospital à Santa Casa da Misericórdia em Julho e meses mais tarde, a marcação de eleições municipais intercalares, foram os acontecimentos políticos do ano.

Um ano que arrancou com a ressaca de três milhões desperdiçados pela maioria da vereação, que não soube aproveitar o financiamento garantido, para obrigar a construir-se uma piscina coberta, tão necessária para a população local e dos arredores.

Esta amputação do bem estar dos cidadãos, privados de receber um moderno equipamento necessário para atividades físicas, treinos desportivos, que permitiria oferecer uma melhoria das condições de saúde da população, estava ao alcance dos vereadores eleitos.

No processo do Hospital, onde se procurou um consenso generalizado ignorando a proprietária do espaço, precisamente a Santa Casa da Misericórdia, havia outros pressupostos: uma governação com uma reforma do sistema nacional de saúde, liderada pelo então ministro Correia de Campos, em que se impôs uma racionalização dos meios hospitalares, atendendo às pretensões das autarquias, logo das populações, isto a partir de 2005 e um segundo pressuposto, iniciado numa fase posterior, da devolução às Santa Casas dos Hospitais nacionalizados em 1974. Segundo a imprensa local, o processo terá sido iniciado pelo então secretário de Estado, Manuel Pizarro, alguém que com frequência visita a cidade.

Toda a contestação, verificada ao longo de 2015, peca por tardia e chega fora do contexto partidário do PS, quando exerce responsabilidade de Governo e sobretudo, do seu sentido de Estado.

                Apesar da intenção desse mesmo Estado, em devolver à Santa Casa da Misericórdia a gestão do hospital, existem dúvidas que serão esclarecidas, nos primeiros dias de Janeiro, pelo Tribunal de Contas.

                É também em Janeiro que ficará resolvida, democraticamente, a questão da composição da vereação. A 24 de Janeiro, os eleitores serão chamados às urnas para votarem nas eleições intercalares. Todos os cenários estão em aberto. É a grande certeza de um processo eleitoral.

                Para a memória futura fica o registo dos últimos dias da anterior vereação e a pretensa confusão, por desconhecimento da lei, da constituição da comissão administrativa. De tal forma, que ainda hoje, apesar de a referida comissão ser composta por apenas 5 elementos, alguns dos ex-vereadores ainda são referidos como titulares do cargo.

                Outro registo curioso, verificado em vários textos de opinião e não só, é a interpretação do conceito de democracia. Pedir aos eleitores que decidam o futuro da presidência e da vereação municipal foi apelidado de tudo. Um pouco de humildade ficava melhor a quem escreve, reconhecendo o próximo ato eleitoral, como a verdadeira prova de esclarecimento sobre o que se passou na cidade, desde 2013.

O número de concorrentes às eleições intercalares é um sinal dos tempos atuais, pós bipartidarismo. A dispersão de voto fica garantida, apesar de haver fortes indícios de apenas duas forças políticas conseguirem mais de 2.000 votos.

Se 2015 é um ano não resolvido politicamente, também noutras áreas há vários assuntos que ficam para 2016. Vou destacar apenas dois de âmbito desportivo. Por um lado, o regresso aos Jogos Olímpicos da Ana Rodrigues. Os tempos obtidos na época de retorno à AEJ, permitem ter esperanças, que tal como, em Londres - 2012, em 2016 esta atleta estará no Rio de Janeiro. Nos próximos meses os tempos mínimos de acesso aos Jogos serão certamente obtidos e reconhecidos. O outro apontamento desportivo, do balanço do ano, que hoje termina, está relacionado com a equipa sénior masculina de basquetebol da ADS. Pela segunda época consecutiva, os últimos segundos dos jogos decisivos têm sido terríveis para a formação sanjoanense. Espera-se uma inversão na presente época e que os últimos jogos da presente época tenham um desfecho favorável às cores alvinegras e a tão desejada subida de divisão seja atingida.

Um último parágrafo para desejar um excelente ano novo aos leitores.

 

(a publicar no dia 31/12/15)

quarta-feira, dezembro 23, 2015

Que a Força esteja convosco

 

                Pela proximidade da quadra festiva, nos últimos dias andei arredado da pré-campanha eleitoral. Não visitei páginas de facebook dos candidatos, não vi as fotografias do porta-a-porta, nem quem aparece a apoiar os candidatos. Não li promessas eleitorais e soube que tinha sido publicada uma entrevista de um dos candidatos mas, nem perdi o meu tempo. Poderia apelar a uma campanha diferenciadora, recolhendo as semelhanças encontradas nas várias organizações, só que decidi concentrar-me em outros assuntos e essa análise ficará para uma próxima oportunidade.

                O fim-de-semana passado foi rico em acontecimentos distintos. Aqui fica um resumo de alguns dos temas que despertaram o meu interesse:

1)      As eleições em Espanha colaram-me ao televisor no Domingo à noite. O sul da Europa contínua a repudiar as maiorias de direita. Ainda é cedo para tecer considerações, contudo, salta à vista que a bipolarização assente em duas ideologias terminou. Como em muitos países do norte da Europa, o espectro político alarga-se e os acordos parlamentares para formação de governo passam a ser comuns, formando-se coligações de programas diferentes, assumindo-se desta forma uma maioria relativa. A Espanha, pela sua importância económica, é fundamental para a reivindicação dos países do sul. Essencialmente para a Europa repensar-se, reestruturando dívidas, questionando, entre outros pontos, o facto de esses países terem uma moeda forte, com uma economia débil, o que lhes impossibilita de serem competitivos fora do espaço europeu.    

2)      A intervenção no banco Banif mostrou a agilidade do novo governo. Depois do BCP no primeiro governo de José Sócrates, do BPN no seu segundo governo, do BES no governo de Passos Coelho, temos um quarto banco a ser intervencionado pelo Estado em menos de seis anos. Ou em menos de um menos mês do novo governo. É certo que no primeiro caso, a intervenção foi camuflada. No mais recente, ficou evidente a debilidade da economia portuguesa: a banca ou está nacionalizada ou em mãos de estrangeiros. As dívidas ficam na mão dos contribuintes portugueses.

3)      O sétimo episódio da Guerra das Estrelas fez-me regressar a uma sessão de início da tarde de cinema. Sou seguidor da saga desde os anos oitenta. Os episódios 4, 5 e 6, os primeiros a serem publicados, vi-os vezes sem conta, em casa, através do sistema de leitor de vídeo. Confesso que a sequência relativa aos três primeiros episódios, tive alguma dificuldade em assimilar. Um deles nem vi. Por isso, fui assistir a este episódio com alguma reserva. Com o desenrolar da ação, voltei a viver o mesmo prazer que tinha sentido no episódio quatro. E ao identificar as imagens da sucata de todas as máquinas das várias Guerras, percebi que estava a ver um remake desse episódio, sem no entanto, estar assim classificado. Os princípios da saga estão consagrados ao longo de todo o filme: a dualidade do mal e do bem, o vencer aproveitando um facto inesperado, o sentir da Força e o descobrir de um novo Jedi.       

Mais haveria a mencionar, só que não é o momento certo.

Como a edição deste jornal é publicada, precisamente na véspera do dia de Natal, cumpro a tradição de desejar a todos os leitores Votos de Festas Felizes.

               

 

quarta-feira, dezembro 16, 2015

Tira - Teimas

                Esperava-se um pouco mais dos partidos políticos de S. João da Madeira.

Ao praticamente não alterarem as suas listas, os partidos locais assumiram um risco nulo e lançam para as eleições praticamente os mesmos intervenientes de há dois anos. Basicamente a única alteração que existe é a oitava recandidatura do Engenheiro Cortez e na constituição das listas dos partidos mais votados, as modificações surgem a partir do quarto ou do quinto lugar, conforme a coligação ou partido.

Um calculismo extremamente revelador do que aconteceu nos últimos anos, sem ninguém querer assumir uma cisão com a inércia municipal, exercida de forma prejudicial para a cidade e os seus cidadãos.

Esperava-se um pouco mais: uma estratégia mais ousada por algum dos partidos; uma ruptura com o passado recente; uma reestruturação das listas, com nomes novos, bem posicionados para serem eleitos de forma clara. Mas não, o eleitorado terá que se pronunciar sobre os acontecimentos dos últimos anos, elegendo praticamente os mesmos vereadores.

A própria exceção, da apresentação do candidato da CDU, é no fundo a continuação da disputa política estendida à Assembleia Municipal. O candidato Jorge Cortez, é um dos políticos mais considerados da cidade e dos mais experientes. A sua actividade política recente não passou despercebida, pela aproximação às posições defendidas pelo PSD, mas também pelo feroz combate político, em especial, pelos fortes ataques ao PS local. A exemplo disso, numa sessão da Assembleia Municipal, este deputado da CDU acusou o partido socialista de ter práticas fascistas. Inimaginável, para muitos, só que não se viu qualquer repúdio em forma de comunicado por parte do partido visado. Um silêncio constrangedor, que terá desiludido muitos militantes e simpatizantes socialistas, contribuindo muito provavelmente para o mal-estar vivido na comissão política concelhia. Certo é que Jorge Cortez pode captar mais votos do que é costume e se atingir novamente o milhar de votos, pode ser eleito, tal como nas eleições intercalares de 1984. Como o Bloco de Esquerda irá comparecer às eleições de 2016, existirá um voto ideológico concorrencial. Este partido tentará consolidar o resultado das eleições legislativas e afirmar-se como força política em S. João da Madeira, contudo, a grande notoriedade  do candidato da CDU poderá prevalecer na decisão dos eleitores.

É certo que os partidos e o movimento independente puseram estas intercalares como uma continuação das eleições de 2013. No entanto, é preciso não esquecer que daqui a um ano e meio, estaremos de novo em eleições autárquicas para um período de 4 anos.

Neste capítulo, o regresso de Paulo Cavaleiro e Fátima Roldão às listas autárquicas, poderá ser interpretado como um sinal para o futuro, sobretudo se o PSD garantir a eleição do quarto vereador. A eleição do quinto elemento, apesar de toda a estima que me merece a candidata, não me parece atingível.

Não queria terminar este pequeno comentário, sem referir duas máximas que fui aprendendo da política.

A primeira foi com o diretor do labor, Pedro Silva, que em 2001 ensinou-me que candidato derrotado, em eleições anteriores, não se deve candidatar de novo. Atos eleitorais recentes comprovaram a sua regra, havendo exceções, como a eleição de Ricardo Rio à Câmara Municipal de Braga, eleito quando concorreu pela terceira vez, no entanto, os seus adversários em 2013, eram pela primeira vez cabeças de lista.

A segunda regra é igualmente simples e refere-se à constituição de listas. A melhor forma de calar os críticos partidários, é convidá-los a integrarem a lista. Um bom exemplo é o mais recente Governo liderado por António Costa. A facção do PS, que se preparava para ser oposição interna e provavelmente exigir a demissão do líder, foi desmembrada, por agora, através do convite a alguns dos seus membros para Ministros ou Secretários de Estado.

Por tudo o que ficou atrás escrito, é que se esperava um pouco mais dos partidos políticos. Aguardemos pelas propostas e programa eleitoral, para verificarmos se há mais audácia.

 

(a publicar no dia 17/12/15)

quinta-feira, dezembro 10, 2015

Slogans eleitorais

                Entre o processo de demissão e o de nomeação da comissão administrativa da Câmara Municipal de S. João da Madeira, houve uma reportagem da imprensa nacional, salvo erro do Jornal Notícias (JN), que ao fazer referência à oposição, utilizou o plural para líder.

Numa frase, ao duplicar a liderança, o jornalista do JN resumiu a actividade política do concelho, desde 2013 até ao presente. Uma oposição com liderança bicéfala, com dois vereadores a assumir o comando, um pelo número de mandatos conseguidos – três - e outro, mesmo singular, a conseguir impor a agenda, fazendo a ouvir a sua voz minoritária. Ainda em matéria de reportagens pela comunicação social, as imagens da RTP, após a reunião de apresentação de demissão da totalidade dos elementos da lista do PSD, dando primazia ao vereador do Movimento Independente SJM Sempre, retrataram o que se passou durante estes últimos dois anos.

A oposição incomodou o executivo municipal, em particular pelos ataques constantes ao seu presidente. No entanto, a dupla liderança retirou protagonismo ao mais votado e perturbou a necessidade da sua afirmação política.

A emancipação política foi uma preocupação do líder da concelhia do PS, sobretudo atendendo à contestação partidária, presente em pequenos episódios como as declarações de João Carlos Silva no chumbo do PS às novas piscinas, ou mesmo, na apresentação das duas listas de delegados ao congresso do partido e que culminou na semana passada, com as divergências manifestadas na comissão política da concelhia local, face à constituição da lista a apresentar nas eleições intercalares de 2016.

Estes condicionalismos foram razão para a aposta num slogan pessoal da candidatura do PS. Uma jogada arriscada, típica de um jogo de poker, quando um apostador coloca todas as suas fichas em cima da mesa, comprometendo tudo naquele momento. Além disso, o slogan não traz nenhuma mensagem política, pois jamais se provou a ausência temporal do Presidente da Câmara, nos últimos dois anos, evidenciando-se desde a primeira hora, a redução do seu salário, como benéfica para os cofres municipais.

A poucos dias da data limite de entregas das candidaturas, ainda só é conhecido mais um cartaz eleitoral. As outras forças políticas terão até ao dia 14 de Dezembro para apresentarem as suas listas e darem a conhecer os seus argumentos eleitorais. Enquanto isso não acontece, ou não surgem notícias na imprensa local, concentremo-nos no slogan da coligação PSD / CDS.

O apelo à maioria é um desígnio dos partidos da direita, com pelo menos 35 anos. Depois de 12 anos em maioria absoluta, o PSD não conseguiu em 2013 atingir votação suficiente para a reconquistar. Os últimos dois anos trouxeram um imobilismo táctico, com desperdício de verbas comunitárias e limite ao endividamento. Esses factos políticos foram aproveitados para solicitar ao eleitorado uma clarificação. Uma posição extremamente democrática, que contraria a argumentação utilizada durante dois anos pela oposição.

O slogan em si é singelo. O pedido ao eleitorado coincide com a situação política nacional, na qual a maioria relativa não venceu a maioria ideológica do parlamento e por tal, a coligação do PSD / CDS viu-se apeada do poder. Esta combinação de momentos atrai mais o eleitorado, que pode rever-se nas eleições locais e mobilizar-se para evitar novos desaforos dos partidos derrotados.

Temos, portanto, um cartaz com cariz político a defrontar um slogan mais pessoal. É claro que, ainda faltam os outros concorrentes e as contas aí baralham-se e passam a ser outras.

Neste particular confronto entre PSD e PS, para as eleições de 2016 a vantagem está do lado do PSD. Em 2013, o PS tinha uma mensagem política forte e do lado do PSD, havia a necessidade de dar a conhecer o candidato.

Desta vez não.

 

 

quarta-feira, dezembro 02, 2015

Coligações

Trinta e dois anos depois, PSD e CDS vão concorrer coligados às eleições autárquicas de S. João da Madeira.

Depois da maioria obtida em 1979 e repetida em 1982, pela coligação denominada AD, o poder autárquico a partir dessa data, tem alternado entre CDS / PP - de 1984 a 2001 - e PSD, a partir desse ano até ao presente.

Durante os últimos 15 anos, a soma dos votos dos dois partidos, nas respetivas eleições autárquicas, variou da seguinte forma:

- em 2001: PSD + CDS = 8462 votos;

- em 2005: PSD + CDS = 7922 votos;

- em 2009: PSD + CDS = 7356 votos;

- em 2013: PSD + CDS = 4104 votos;

Em 12 anos, a intenção de voto nestes dois partidos diminuiu para mais de metade. A perda de votos do CDS foi mais intensa: passou de 3059 votos em 2001, para os 296 de 2013; a esta tendência decrescente, verifica-se uma gradual descida em 2005, 1463 votos e em 2009, o CDS obteve 833. Pelo lado do PSD, o percurso é diferente: em 2009 atingiu a sua melhor votação, 6523 votos, depois dos 5403 em 2001 e dos 6459 em 2005; já em 2013, verificou-se uma queda abrupta para os 3808 votos.

Apresente-se os resultados do PS, desde 2001 até 2013, em eleições autárquicas:

- em 2001: PS = 2433 votos;

- em 2005: PS = 2270 votos;

- em 2009: PS = 3077 votos;

- em 2013: PS = 3513 votos;

Ou seja, o PS aumentou a sua votação desde 2005, no entanto, não absorveu a totalidade de votos perdidos pelos dois partidos de direita. Os cerca de 4358 perdidos ao longo dos anos pelos dois partidos, não se refletem em ganhos no PS (1243 votos em 8 anos, repartidos por praticamente 800 votos de 2005 para 2009 e o restante dessa data para 2013). Pode-se então concluir, que o voto autárquico em 2013 foi um voto de protesto, penalizando o PSD, o que não significou uma grande transferência para o PS.

Antes de avançar e para não ficar a ideia de que a tendência de voto em S. João da Madeira é nos partidos da coligação, convém analisar qual o somatório dos resultados eleitorais destas duas forças políticas, em período semelhante, nas eleições legislativas e europeias, comparando-os com os do PS. O último resultado, dos que se seguem, corresponde aos votos na coligação, como todos se recordam.

Assim, nas eleições legislativas, recolhendo os valores dos últimos 17 anos:

- em 1999: PSD + CDS = 4928; PS = 5664 votos

- em 2002: PSD + CDS = 5700; PS = 5020 votos;

- em 2005: PSD + CDS = 4451; PS = 6226 votos;

- em 2009: PSD + CDS = 4944; PS = 4967 votos;

- em 2011: PSD + CDS = 5023; PS = 3888 votos;

- em 2015: PSD + CDS = 4700; PS = 4037 votos;

            Convém indicar que os votos no CDS têm pouca amplitude de variação: um mínimo de 1108 e um máximo de 1423. Quando a amplitude máxima do somatório dos partidos é cerca de 1000 votos. Portanto, a maior alteração registada foram os votos para o PSD.

            Nas eleições europeias, há uma ligeira diferença, pois tanto o primeiro como o último valor correspondem a resultado efetivos da coligação de direita:

- em 2004: PSD + CDS = 2633; PS = 3995 votos;

- em 2009: PSD + CDS = 3264; PS = 2367 votos;

- em 2014: PSD + CDS = 2160; PS = 2522 votos;

            A oscilação apresentada em ambas eleições, com os valores mais altos a coincidir com vitórias nacionais, permite concluir sobre a flutuação de votos, em conformidade com o programa ou os candidatos dos partidos, não sendo por isso linear existir um voto ideológico na cidade.

            Existe na análise política, a ideia do voto penalizador ao partido do Governo, nas eleições autárquicas, europeias e até presidenciais. Por outro lado, à semelhança dos restantes países europeus, começou a indexar-se o voto de protesto, ou antissistema, como aquele aplicado nas franjas do espetro político (por exemplo, independentes em eleições autárquicas ou MPT nas últimas europeias). As eleições europeias, normalmente a meio do mandato de um Governo, provam que foi essa a ideia do eleitorado local, pois em 2004, em pleno Governo de coligação de direita, o PS teve mais votos. Em 2009 inverteu-se a tendência, sendo a eleição antes do final do mandato de um Governo PS e já em 2014, a coligação de direita perdeu novamente votos.

            Se o eleitorado local segue as tendências nacionais, podemos interpretar os resultados das eleições autárquicas à luz desses fenómenos. Embora, não seja possível relacionar o partido vencedor com qualquer sinal de protesto do eleitorado.

Tal como a tendência nacional, o voto autárquico de protesto em 2013, dispersou-se em S. João da Madeira por independentes, pequenos partidos, ou brancos e nulos, ou mesmo no aumento da abstenção.

É certo que a primeira leitura que se faz é que o voto no Movimento Independente SJM Sempre recebeu os votos dos descontentes de direita, por inerência da aritmética, daqueles que sempre votaram no CDS. É prematuro perceber se esse voto se vai manter, porque estas eleições autárquicas, sendo intercalares, têm um enquadramento diferente: existe uma coligação autárquica entre dois partidos dominadores da vida política local dos últimos 36 anos; existe um ressentimento político face aos acontecimentos da política nacional (o que pode transmitir-se no voto de protesto ao Governo em funções); existe um vasto conhecimento da forma de atuação dos vários candidatos.

Por tudo isto, a coligação de direita espera captar o voto militante ou simpatizante dos eleitores locais, montando a sua campanha com este objetivo. 

Em contrapartida, só uma ampla coligação de esquerda, seria suficiente para travar este ímpeto. No entanto, com as péssimas relações existentes entre as estruturas locais dos demais partidos, tal será impossível em 2016.

 

quarta-feira, novembro 25, 2015

À boleia

Há coincidências curiosas. As eleições Presidenciais serem marcadas precisamente para o dia, já definido, das intercalares para a Câmara Municipal de S. João da Madeira, é uma dessas casualidades que permite tecer alguns comentários.

                Em primeiro lugar, o benefício na redução dos custos da democracia. A poupança no escrutínio, com a formação das mesas eleitorais para um só dia, só pode ter vantagens. Além disso a própria autarquia, ao abrir as suas portas num só domingo, para as duas eleições, também tem proveito, na redução de despesas de funcionamento: em horas extraordinárias dos seus funcionários, além de outros custos como eletricidade e outros.

                Mais baralhadas ficam as estruturas locais dos partidos políticos, com as duas eleições no mesmo dia. O empenho terá que ser repartido entre as duas eleições, não se podendo desprezar nenhuma delas, como é óbvio.

                Isto se a maioria dos partidos políticos definir previamente, qual o candidato a Presidente da República que apoiarão. É certo que apenas o PSD e CDS estão indecisos, o PS deu liberdade de voto aos seus militantes, pois há duas candidaturas da sua área: uma de militante e outra independente, esta patrocinada pelos seus mais destacados partidários e ex-presidentes da República e posto isto, temos à esquerda as candidaturas apoiadas pelos respetivos partidos: Marisa Matias, pelo BE e Edgar Silva, pela CDU.

                Se as máquinas partidárias podem ficar fragilizadas pelas duas eleições em simultâneo, já as próprias candidaturas locais podem aproveitar a embalagem da eleição presidencial para receber mais alguns votos e apoios inesperados.

                Todos se recordam da presença do Professor Marcelo Rebelo de Sousa em S. João da Madeira no último mês de Setembro, num comício que encheu a Casa da Criatividade, numa ação da candidatura distrital do PàF. Conseguir juntar as duas campanhas, repetindo a presença do candidato Presidencial em S. João da Madeira, poderia catapultar a candidatura local de Ricardo Figueiredo para uma vitória maioritária.

                O mesmo acontecendo, em escala diferente, aos candidatos do BE e CDU. A presença dos candidatos Presidenciais, em ações concretas de campanha, pode permitir a fixação de mais votos, embora os dois casos sejam distintos, como veremos mais adiante.

                Já para o PS local, fruto das divisões de Lisboa, o melhor é ignorar as eleições presidenciais. Se apoiar um, pode desiludir os seus eleitores. Se apoiar o outro, pode receber o mesmo grau de insatisfação de outros. Este isolamento, que à primeira vista poderia ser benéfico para o resultado local, poderá trazer dissabores, se considerarmos a necessidade de afirmação das outras forças partidárias.

Se analisarmos as últimas eleições, portanto, as legislativas, verificamos que o Bloco de Esquerda conseguiu cerca de 1.200 votos neste concelho. Esta mesma votação nas autárquicas permitirá eleger um vereador no próximo dia 24 de Janeiro. Sendo assim, atendendo ao crescimento eleitoral desta força partidária, é razoável que o Bloco, nestas eleições, se apresente com a forte convicção de eleger um vereador (ou vereadora) em S. João da Madeira. Além disso, atendendo às circunstâncias dos últimos dois anos, das divergências políticas do executivo e da Assembleia Municipal, o Bloco de Esquerda é a única força política imaculada, por ter estado ausente dos órgãos municipais, durante esse período. Este afastamento pode permitir captar votos dos descontentes com o nível do debate político, dos aborrecidos com o extremar de posições, dos desgostosos por tudo se resumir a questões apenas partidárias, ou mesmo no limite, pela excessiva partidarização da sociedade local.

Estamos perante uma alternativa ao voto de esquerda, que poderá apanhar a boleia da candidatura presidencial, ajudada pela disponibilidade dos seus mediáticos militantes presentes em campanha e daí elevar o debate autárquico, introduzindo novos e importantes temas, dentro do quadro ideológico que carateriza o Bloco de Esquerda. A eleição de Moisés Ferreira para deputado provou que o voto no distrito de Aveiro, nesta força política, é firme. O desafio agora é consolidar esse voto também em S. João da Madeira.

A data das duas eleições pode ser uma mera coincidência, no entanto, como aqui demonstrado, pode ser bem aproveitada. Por alguns...

 

(a publicar no dia 26/11/15)

quarta-feira, novembro 18, 2015

À procura de gambozinos

                No rescaldo da noite eleitoral do passado dia 4 de Outubro, Helena Roseta, independente eleita deputada pelas listas do PS, pelo círculo eleitoral do distrito de Lisboa, à pergunta se “o voto do centro tinha fugido ao partido?”, respondeu prontamente que “os eleitores do centro são os gambozinos da política portuguesa”.

                Perante uma afirmação tão contundente, convém recordar alguns episódios da história democrática do nosso país. Em 1975, Mário Soares colocou o socialismo na gaveta, ao formar governo, repetindo a sempre graça, quando era empossado primeiro-ministro. Muitos anos mais tarde, o assumido católico, António Guterres, conquista o poder e forma Governo de inspiração pouco socialista. Após a sua demissão, um dos seus ex-ministros das Finanças, Sousa Franco, viria a escrever, por volta de 2003, que o PS só ganharia eleições se tivesse um discurso apelativo para o centro, agradando a esse eleitorado, que inclinava o seu sentido de voto conforme as propostas apresentadas pelos partidos do arco do poder. E a verdade, é que em 2005, José Sócrates venceu com maioria parlamentar, com um discurso e programa de governo, claramente social-democrata.

                Estas oscilações do partido do centro-esquerda, também foram acompanhadas por iguais migrações programáticas e até ideológicas por parte do PSD. Entre a social-democracia e o liberalismo, conforme a opção dos seus militantes ao elegerem o líder do partido. Ficou célebre a acusação de Luís Filipe Menezes, em 1995, aos “sulistas, elitistas e liberais” apoiantes de Durão Barroso, no confronto que este teve com Fernando Nogueira. É certo que em 1999, Durão Barroso assumiu a liderança do partido e desde aí, a aproximação ao programa liberal foi ziguezagueando, até encontrar em Passos Coelho um claro defensor do liberalismo.

                Ora, esta opção ideológica colocou o PSD afastado do centro, bem à direita. O PS fez o seu recente programa eleitoral apontando ao centro-esquerda, aproveitando a trincheira definida pelo PSD, durante a última governação e na própria campanha eleitoral.

Os resultados eleitorais das eleições legislativas demonstraram, entre outras coisas, a perda de 700 mil votos por parte da coligação PAF, relativamente a 2011. Acontece que estas centenas de milhares de votos, não tiveram a deslocação habitual para o partido do centro-esquerda. Desta vez, muitos desses eleitores migraram o seu sentido de voto mais para a esquerda, votando no Bloco de Esquerda, apesar de o PS ter reconquistado umas quatro a cinco centenas de milhares de votos. Ou seja, o descontentamento, o voto penalizador aos partidos do Governo, não seguiu a tradicional tendência de voto no partido da oposição ideologicamente mais próximo do centro. Uma tradição que ditou a alternância vitoriosa de PSD e PS, nos últimos 40 anos.

A partir da contagem dos votos das eleições legislativas e até aos dias de hoje, observamos o PS a abrir uma outra trincheira. Abandonou o centro, muito provavelmente com receio que o fenómeno europeu da radicalização atingisse o partido e o extinguisse. Com dois acordos, colocou-se mais à esquerda, agora bem no espectro do socialismo democrático.

Temos portanto, uma bipolarização da política nacional em dois blocos antagónicos: uma direita entrincheirada no liberalismo e a esquerda, por sua vez, alinhada atrás do socialismo democrático.

Com este cenário, havendo um vazio ao centro, devemos questionar o que irá acontecer à social-democracia no atual panorama político nacional?

Sem propostas para os eleitores que sempre preferiram partidos que promovessem a justiça social, com base na sociedade e não apenas no Estado, ficam dúvidas sobre em quem estes eleitores poderão votar. Poderia pensar-se ser o momento ou a oportunidade de formar-se um novo partido, no entanto, olhando para as movimentações de alguns militantes de ambos os partidos, é de crer que PSD e PS ainda se vão colocar de novo ao centro e até num futuro muito próximo.

Pelo caminho, haverá umas eleições presidenciais, em que um dos candidatos assumiu claramente a sua costela social-democrática e outra das candidatas também aposta nesse eleitorado, deixando os extremos entregues aos seus próprios protagonistas, com clara ausência da direita liberal. Portanto, haverá nos próximos meses, na política nacional “caça aos gambozinos” e estou convencido que ainda não será desta que os portugueses moderados, não serão decisivos em eleições.

            Apenas mais três parágrafos, para não defraudar os leitores, relacionando as eleições intercalares, para a Câmara Municipal de S. João da Madeira, com este fenómeno nacional em curso.

Não é clara a linha ideológica de cada força na política local. Direita conservadora em confronto com o centro-direita e a hipotética esquerda a sofrer duros ataques dos eleitos da CDU, além da normal dualidade PSD – PS são normais na história democrática. Para agravar a questão, as “alianças” políticas pós-eleitorais confundiram o eleitorado, não permitindo identificar blocos programáticos ou ideológicos na política local.

Como é lógico, o balanço da atividade da política em S. João da Madeira, resume-se basicamente à rejeição dos investimentos, municipais ou co-participados por fundos comunitários, dos últimos dois anos. E isso torna-se difícil de enquadrar, sobretudo quando em 2014 se rejeita um investimento de pouco mais de 2 milhões de euros e no ano seguinte, se aprova praticamente o mesmo valor para outros fins, sem, no entanto, o autorizar. Não existem gambozinos que entendam isto, por isso, as eleições intercalares do próximo dia 24 de Janeiro, serão um episódio circunscrito à realidade local, não havendo qualquer relação com a política nacional.

 

(a publicar no dia 19/11/15)

quarta-feira, novembro 11, 2015

Uma vida dedicada ao desporto

                João Araújo foi meu professor de Educação Física. Corria o ano de 1983, a Escola Secundária ainda não tinha patrono, nem sequer pavilhão. Os alunos, para ter as suas aulas, deslocavam-se no intervalo das atividades, do antigo Liceu até ao Pavilhão de Desportos da ADS. Regressando de novo à escola, após a hora de exercício físico.

Por esses anos, o panorama de infra-estruturas desportivas da cidade resumia-se ao estádio de futebol com campo relvado e pista de atletismo; ao campo de futebol em terra batida ali adjacente; o tal pavilhão atrás referido, mais os pavilhões de duas escolas – da Escola Secundária Serafim Leite e da Escola Preparatória; a acrescentar a isto junte-se um tanque piscina nas traseiras da escola do parque.

Com tão poucas infra-estruturas, a oportunidade de iniciar a prática desportiva para uma criança era reduzida. As modalidades abriam os seus treinos aos miúdos de 10 ou 12 anos, com raras excepções, como a escola de patinagem da ADS, que admitia crianças de tenra idade. Sendo assim, havia uma série de jovens, cujo contacto com a atividade física era demasiado tardio. Com este enquadramento, nessa época, o professor de Educação Física desempenhava um papel extremamente importante no ensino de movimentos que permitiriam ao aluno aumentar a sua agilidade, a sua velocidade, a sua flexibilidade e mesmo a sua resistência física.

Dentro deste espírito, o professor Araújo desempenhava extremamente bem o seu papel. Recebia-nos no pavilhão sempre com um sorriso. Os rapazes sempre solicitando uma aula de desporto colectivo, de preferência com bola, e o professor a encaminhar a turma para a atividade por si pretendida, acompanhando com mestria toda a turma, corrigindo movimentos e ensinando com um discurso fácil e pedagógico o que pretendia. No final dessas aulas, concedia aos alunos o jogo com bola, ou a promessa de o fazer na aula seguinte, o que era cumprido.

Depois desse ano, mudei de escola e mesmo afastado, acompanhei à distância o trabalho no desporto do Professor Araújo, enquanto preparador físico das equipas de hóquei em patins. Primeiro aqui na ADS e depois, ao longo de anos, na sua carreira noutros clubes, com um palmarés invejável, como é do conhecimento geral.

A sua nomeação para diretor da piscina municipal foi extremamente importante para a Associação Estamos Juntos, devido à sua sensibilidade para as condições intrínsecas de cada modalidade desportiva. O direito da equipa de natação de treinar no horário nobre da piscina foi por si defendido e implementado, contra ventos e marés, como é normal, quando há uma mudança de paradigma.

Anos mais tarde, o professor Araújo enquanto “promotor” concelhio de desporto fazia-me chegar convites para divulgação em S. João da Madeira, do xadrez, de cuja secção era eu responsável na AEJ. Assisti a várias reuniões, por si lideradas, de planeamento dessas ações desportivas e percebi a sua intenção de apoiar as modalidades com menor visibilidade na cidade, puxando-as para entrarem na esfera autárquica. Isto numa época em que não era vereador.

Em 1997, quando me aproximei do Partido Socialista, o professor Araújo como me conhecia bem do passado, recebeu-me sem qualquer desconfiança e com a simpatia de sempre. Desde esse ano, passámos a conversar mais frequentemente, atendendo à proximidade de residência e aos pontos de vista em comum, não só desportivos mas também políticos, mesmo comigo arredado destas últimas lides. 

Na minha faceta de colaborador do labor, encontrei no professor Araújo um leitor atento, que parava para falar comigo sobre o que eu escrevia, dando-me conselhos sobre alguns assuntos, ou mesmo informações que eu registava e utilizava meses ou anos depois, nas minhas crónicas.

Fica a saudade, sobretudo das nossas conversas desportivas, em que eu escutava atentamente a sua vontade em perceber o treino, no desenvolvimento da metodologia, contando-me como foi recolhendo pormenores ao longo da sua vida, como por exemplo, os treinos de Mário Wilson (o velho capitão) no futebol da Académica de Coimbra.

Fica também a homenagem pelo seu apoio às mais diversas modalidades e o reconhecimento, se tivesse sido vereador com pelouro, o desporto em S. João da Madeira teria ficado bem diferente, para melhor, claro.                 

 

(a publicar no dia 12/11/15)

terça-feira, novembro 03, 2015

Catch 22

                As eleições intercalares em São João da Madeira eram o desfecho inevitável, atendendo à forte tensão em que se realizavam as reuniões da sua Câmara Municipal.

                Em Julho deste ano, há precisamente 4 meses, antecipei este cenário e previ eleições em 2016, quando ainda se punha a hipótese de o orçamento municipal não ser aprovado e o município ter que viver em gestão por duodécimos, durante pelo menos um ano civil. Nesse artigo, na minha análise, adiantava que o PSD iria esperar pelo desfecho das eleições legislativas. Como qualquer resultado dessas eleições lhe seria favorável, este partido tudo faria para promover eleições intercalares no próximo ano, num contexto de fragilidade da oposição municipal, por boicote ao mandato iniciado em 2013.

O certo é que o resultado das legislativas em São João da Madeira, provou que o voto da direita regressou ao PSD e tal como era de esperar, algumas das suas principais figuras ficaram livres, por não integrarem as listas a deputados. Mesmo com a formação do atual Governo Constitucional, segundo se consta, de curto prazo, o próprio Dr. Castro Almeida, novamente nomeado para Secretário de Estado, passará a disponível para a disputa eleitoral que se aproxima.   Em contrapartida, um governo PS atirará para Lisboa, alguns dos dirigentes locais.

              Um cenário óbvio.

Bem avisou, o próprio diretor do jornal labor, Pedro Silva, em editorial publicado em Setembro último, apelando a que em lugar de lamentações, era preferível à oposição renunciar aos mandatos e provocar eleições intercalares, numa jogada de antecipação.

                Tal não aconteceu, sem se perceber muito bem porquê.

                O ardil dos 22 projetos de investimento implicava um paradoxo, tal como na literatura, na obra escrita por Joseph Heller, que intitula este texto. A questão em São João da Madeira, ainda era mais simples. Se aprovassem os investimentos, a oposição daria cobertura à política e sobretudo, às contas do município, validando os empréstimos, aumentando o endividamento, o que contrariava a sua versão, repetida até à exaustão, de que essas contas estavam “erradas”. Pelo contrário, ao reprovarem os investimentos, além de contrariarem as decisões anteriores, aprovadas em reunião, como o Plano de Atividades do presente ano, davam a oportunidade ao executivo PSD de demonstrar a vontade da oposição em boicotar a sua ação.

                A escolha foi feita. 

                As consequências desta opção serão conhecidas a 24 de Janeiro de 2016.

                Poder-se-ia escrever um pouco mais sobre as contradições do processo, nomeadamente os votos favoráveis e em sentido contrário passado uns meses, ou o voto aprovando um empréstimo de 1,7 milhões de euros e chumbando o empréstimo de pouco mais de 200 mil euros, por receio de utilização desta verba para outros fins, que não o acordado. Contudo, cada leitor já teve oportunidade de retirar deste imbróglio a sua própria conclusão, pelo que não acrescentarei nada a este ponto.

                O importante agora é apelar ao bom senso eleitoral. Esperar que as forças políticas, partidos e movimentos, apresentem um programa eleitoral positivo, com propostas concretas para a cidade. Nestes dois anos, tiveram a oportunidade de conhecer os demais dossiers municipais, para agora apresentarem uma ideia de cidade, fundamentada em projetos concretos, projetando-a no futuro.

                Será esta capacidade de distanciamento aos acontecimentos dos dois últimos anos, que será premiada pelos eleitores locais. Viver no passado, no que não aconteceu, no que não foi aprovado, na falta de consensos, na crítica, será penalizador.

                Os eleitores cansaram-se dos episódios destes últimos anos. Aliás, estou convencido que a maioria deles, ainda não percebeu o que se passou nos Paços do Concelho desde 2013.    

               

(a publicar no dia 05/11/15)

quarta-feira, outubro 21, 2015

Ida à bola

                Existe uma perspetiva romântica no futebol, traduzida pela hipótese de os clubes com menos recursos se agigantarem e venceram os mais fortes.

                A Taça de Portugal é uma prova com essa componente sonhadora.

                O reencontro entre as equipas seniores da Sanjoanense e a Académica de Coimbra permitia colocar o clube local na rota das notícias do futebol nacional e claro, recordar a sua tão vasta história.

Assim aconteceu, a imprensa desportiva fez eco do passado glorioso da ADS, as passagens pela primeira divisão há 50 anos atrás e, com igual destaque, os jogadores com a sua formação no clube e que chegaram aos principais emblemas nacionais, tendo por isso, brilhantes currículos como desportistas, incluindo as chamadas à seleção nacional.

Das efemérides com meio século, é importante evocar as figuras que fazem a história do clube. Nas paredes do restaurante Almeida está registado um curioso episódio desses jogos de futebol, entre precisamente estas duas equipas, que se defrontaram no último dia 18. Não me recordo do nome do jogador de Coimbra, que com graça, imortalizou o acontecimento. O estudante, cansado de perder a bola no confronto com o jogador da ADS, precisamente o Almeida, chegou ao intervalo e falou-lhe nas manchas de pele que o caracterizavam. Aproveitando a ingenuidade do jogador adversário, aconselhou-o a não se esforçar muito, que era o melhor remédio. Escusado será dizer, que palavra do médico foi aceite pelo jogador da ADS, com consequências no desempenho dos dois jogadores na etapa complementar. Para se ter uma ideia do valor do jogador da ADS, recorde-se as palavras de Eusébio, que elegeu Almeida como um dos adversários mais temíveis dos que teve de enfrentar.

  Com este cartaz histórico, o apelo para regressar ao Estádio Conde Dias Garcia estava lançado. Oportunidade para voltar àquelas bancadas, quase duas décadas depois.

Um desafio agendado.

Ocasião para rever velhas amizades, também disponíveis para ir à bola.

É engraçado ouvir nas bancadas as expressões de sempre: “bola para o campo do Simões”, ou a verbalização restringente ao treinador do clube adversário com o “vai para a gaiola”. Destacou-se durante o jogo o apoio constante da claque, ajudados pelo restante público, em especial com o incentivo acompanhado com palmas com a sigla do nome do clube.

É igualmente engraçado ter como colegas de bancada tantos jovens e crianças, muitos deles jogadores de futebol das camadas jovens e sobretudo, muitas senhoras.

Um apontamento para a equipa da ADS, muito jovem, com os jogadores a terem uma entrega muito grande ao jogo, o que é importante por ser sinal de que respeitam o clube que representam. Tal como o treinador.

Do que se passou dentro do campo, pode haver melhores relatos. Para os meus olhos de adepto, deixo os meus apontamentos:

- o adversário marcou muito cedo;

- a ADS procurou chegar ao empate e houve lances na área da Académica, que a mim me pareceram merecedores da marcação de grande penalidade;

- o segundo golo dos jogadores de Coimbra poderia ter acabado com o jogo, no entanto, a ADS voltou a empenhar-se em marcar;

- só o conseguiu na 2ª parte (um belo golo), contudo, a Académica marcou de seguida;

- até ao final, o treinador visitante refrescou a equipa e surgiram naturalmente mais dois golos (um por sinal, muito bom).

Apesar das ameaças, foi uma tarde sem chuva. Ainda assim, fui prevenido, com guarda chuva, impermeável e optando pela bancada central. Contrastando com outras épocas, em que não usava o dito acessório e como o dinheiro era pouco, escolhia ver os jogos entre a bancada lateral, a superior ou o antigo peão. Muitas vezes, em dias de chuva, era obrigado ao abrigo debaixo dos ramos de uma qualquer árvore.

É certo que nos dias de hoje, os hábitos e horários dominicais são outros, por isso, apesar de ter passado um bom momento no Estádio Conde Dias Garcia, não devo ali regressar tão cedo. A menos que em próximas épocas, o clube do vizinho concelho a sul, volte a jogar no mesmo Campeonato e série da ADS. Um derby regional é um verdadeiro derby e já tenho saudades de assistir a um jogo desses. Desta forma, não teria que esperar pelo sorteio de uma eliminatória da taça de Portugal para ir outra vez à bola.

 

(a publicar no dia 22/10/15)

quarta-feira, setembro 30, 2015

Uma história antiga

                A música é uma das artes que é pouco tangível. Recorre-se a gravações em vários formatos tecnológicos para ouvi-la e terminando essa auscultação, não sobra nada de concreto. Fica o registo na memória e numa audição seguinte, poderão existir partes bem assimiladas, decoradas até, que permitem ao ouvinte trautear, ou mesmo cantar, se for o motivo.

                Na presença de executantes, em concertos ao vivo, existe uma relação diferente. Naturalmente, que os formatos tecnológicos são substituídos pelos instrumentos executados pelos músicos. A amplificação de som pode introduzir uma dose de tecnologia e as gamas sonoras serem trabalhadas, para o espectador ter oportunidade de ouvir os sons graves, intermédios e agudos sem qualquer dificuldade.

O artista é a alma do concerto. A sua preparação técnica, aliada à sua capacidade de interpretação, sobretudo esta última, são factores que contribuem para a qualidade do espetáculo.

Sexta-feira passada, portanto, dia 25 de Setembro, tive oportunidade de assistir ao recital de Piano, por Nelly Santos Leite e Graça Mota, promovido pela Academia de Música de Santa Maria da Feira e incluído no programa de festejos do seu 60º aniversário.   

Para os mais entendidos nestas andanças musicais, este duo apresentou-se a público no final da década de 80, chegando a atuar em S. João da Madeira, na Biblioteca Municipal.

Praticamente 27 anos passados, sentei-me de novo numa plateia para ouvir este Duo a 4 mãos. Em ambiente familiar, ou de grande proximidade às artistas e à instituição promotora do concerto, era importante verificar qual seria a capacidade interpretativa das pianistas e o seu sincronismo, tantos anos passados.

  A maturidade artística ficou evidente logo na primeira peça tocada. Em Suite Dolly op. 56, de Gabriel Fauré, à sobriedade dos andamentos iniciais, seguiu-se uma execução bem quente do “Le Pas Espagnol”, que mexeu com a plateia, transportando-a para uma viagem sonora ao país vizinho. Estava dado o mote do concerto.

Até ao intervalo, os diálogos entre oitavas fizeram-se ouvir nas seleccionadas “Danças Eslavas” de Dvorak ou na magnificência de Brahms, com as duas primeiras “Danças Húngaras”. A plateia estava rendida ao ritmo incutido pelas artistas e a satisfação era visível no rosto dos assistentes, durante a merecida pausa das pianistas.

Na 2ª parte, após a inquietude das “Melodias Rústicas Portuguesas” de Fernando Lopes Graça, que como é evidente não deixou nenhum espetador indiferente, seguiu uma interpretação fabulosa desse brilhante tema de George Gershwin, “Rhapsody in Blue”. Uma sonoridade bem americana, perto do registo jazzístico, como é reconhecido, fazendo parte do repertório de muitos duos a quatro mãos ou mesmo a dois pianos e à qual Nelly Santos Leite e Graça Mota incutiram uma versão extraordinária, com uma cadência estonteante.

No final do concerto, pela longevidade do duo, retive a ideia dos vários caminhos da música. É sempre bom recomeçar um, no qual o artista se sente feliz.

Depois de muitos anos de ensino de música, da sua divulgação na cidade, com a promoção de concursos de piano e também com o acumular da direção de Academia de Música de S. João da Madeira, Nelly Santos Leite sentou-se ao piano, não demonstrando qualquer amargura, ou mesmo ressentimento.

Uma lição de vida, demonstrável pelo entusiasmo com que tocou o repertório musical escolhido.

Uma importante atitude, deixando os mais novos admirados pela segurança exibida.

 

(a publicar no dia 1/10/15)

quarta-feira, setembro 16, 2015

Uma década

                A 15 de Setembro de 2005, iniciei a colaboração, de forma espontânea, com o jornal labor, através da publicação de artigos de opinião.

                Nesta semana, pela proximidade de datas, totalizo 10 anos de colaboração regular neste periódico.

                Tempo de efeméride.

                No decorrer desta década, enviei para este jornal um total de 300 textos, segundo as minhas contas. Uma média anual de trinta publicações, o que permite a aproximação aos três textos editados por mês. Embora tal valor seja excessivo e não corresponda a qualquer métrica pretendida. 

                Nos primeiros quatro anos de colaboração, até 2009, o labor publicou 106 dos meus textos. Após esse período, nos três anos seguintes, foram publicados 99 artigos e finalmente, nos últimos três anos, os restantes 95. Ou seja, nos primeiros quatro anos os textos eram publicados de forma menos intensa, dois por mês e pelos números dos últimos seis anos, passei a editar três artigos por mês.      

Uma intensificação na publicação com o avançar dos anos, facilmente explicável.

Tal como referido no primeiro parágrafo, arranquei por iniciativa pessoal. Ao longo dos meses seguintes, com periodicidade intermitente, fui publicando alguns textos, tentando perceber qual a receptividade dos leitores. O frenético lançamento de obras públicas, sobretudo lideradas e idealizadas pelo município, não me deixavam indiferente. Fazia sugestões de obras julgadas necessárias. Lá pelo meio, conseguia ter a audácia de atirar uma crónica romanceada, ou abordar um assunto nacional relacionado com o quotidiano local.

Das poucas incursões que fazia pela cidade, recebia oralmente o reconhecimento pelos textos publicados. Recebia felicitações pessoalmente, trocava uma ou outra ideia com quem tinha lido as minhas opiniões e ia verificando qual o grau de aceitação.

Pelo meio das publicações, ousei abrir um blogue. Alarguei os temas de escrita e assumi a crítica política, na perspectiva de cidadania. Estávamos em 2007. Ao meu lado, numa das páginas do jornal labor, o conceituado Doutor Renato Figueiredo, entretanto falecido, fazia uma apreciação a um dos meus textos. Quase em simultâneo, um leitor amigo sugeria o lançamento de um livro, com a compilação das crónicas. Sinais de reconhecimento e aumento da responsabilidade, enquanto cronista. Embora me mantivesse sempre fiel ao pedido de publicação, que sempre acompanha o envio do texto para o labor, pelo correio eletrónico.

Nos meses seguintes, incrementei a edição de crónicas romanceadas. Ainda assim, tive tempo para a crítica mais incisiva à atividade política. Esgrimi argumentos contra o hipotético vaivém a implementar na linha do Vouga e muito especialmente, fui, desde a primeira hora, contrário a qualquer Centro de Alto Rendimento desportivo a construir nas margens do Rio Ul. Batalhas argumentativas curiosas, que me permitiam estar mais confortável e publicar textos com maior frequência.

A partir de 2010, decidi estudar um pouco mais, fazendo uns cursos de escrita criativa. Aproveitei esse tempo para publicar nas páginas do jornal, alguns dos contos inventados, ficando meses sem me referir ao quotidiano local. Quando o fazia, repetia a fórmula de sempre, preparava-me com dados concretos e com base neles, tecia considerações. Passei a fazer maiores sugestões à política local, deixando a crítica de lado e sobretudo, abandonando as obras públicas. Descobri por essa altura, por exemplo, a proximidade entre o número de eleitores e número de habitantes de S. João da Madeira. Ainda assim, o comentário político não foi abandonado. Terminei esse ano tecendo considerações futuristas: internet sem fios, em todo o concelho, não seria concretizável; e as requalificações de edifícios tendo em vista a sua ocupação cultural não teriam suporte financeiro para ganhar escala regional e nacional.

Os anos seguintes poderiam ser mais do mesmo. Contudo, tive o convite, endereçado pela concelhia local do PS, para participar no Fórum Re:pensar S. João da Madeira e passei a estar mais próximo da cidade. A publicação de textos cruzou-se com a preparação do Fórum, prevalecendo a ideia prévia de cidadania, em lugar do pressuposto partidário. Curiosamente, muitos desses textos aproximaram-me de muitos leitores e finalmente passei a receber telefonemas de agradecimento pela referência, ou pelo tema eleito, ou mesmo, pelas palavras expressas. 

Apesar da minha saída prematura do Fórum, mantendo-me dentro da linha de independência partidária, continuei em 2013, a publicar regularmente artigos no jornal labor. Nesse ano, apenas falhei duas edições e embora tenha reduzido a presença nestas páginas no ano seguinte e no presente (um sinal de inversão na edição), continuo a receber o contacto direto de alguns leitores, com o mesmo incentivo que recebi anteriormente.

Dez anos volvidos, com pouco tempo para muito mais, continuo a escrever regularmente para o labor. Tentando agradar aos leitores e sobretudo, procurando surpreender, mais pelo conteúdo, do que pelo formato, deixando-os inquietos, sem saber qual o tema a desenvolver nas linhas deste jornal.

Neste ponto, com esta carga em cima dos ombros, é natural ponderar a continuidade desta atividade. Por um lado, pesa-se a inatividade na escrita, beneficiando as noites de leitura e sobretudo, a desobrigação de ter um serão ocupado. Por outro, a regularidade da comunicação escrita, o esquematizar argumentos, preencher com parágrafos colunas de jornal. E ainda há uma outra hipótese, suspender a atividade por tempo indeterminado.     

Por agora, no balanço dos 10 anos de escrita, fica o agradecimento aos leitores pelo tempo dispensado e claro, ao diretor do jornal pela oportunidade oferecida, não esquecendo os demais colaboradores do jornal, pela paciência manifestada em aturar os meus atrasos, ou a imprevisão de envio de artigo, em cima do fecho da edição.

 

(a publicar no dia 17/09/15)

 

quarta-feira, setembro 09, 2015

Ainda não foi desta, Chalana

            Comecei a ver o jogo entre Portugal e França, da passada sexta-feira, apenas na 2ª parte. Pelo meio surgiram notícias de Évora e só me concentrei no jogo de futebol, a 30 minutos do apito final.

            À tardinha, antes do inicio do jogo, lembraram-me o Europeu de 1984. Um célebre encontro das meias-finais com a França, jogado no dia de S. João. Ainda falei das derrotas mais recentes, em 2000 na Holanda, pela mão de Abel Xavier ou em 2006, no Mundial da Alemanha, num jogo seco. Só que não eram essas as recordações que motivavam o meu interlocutor. Apenas as de França, de há 31 anos. Um jogo épico, com Portugal a perder o jogo aos 119 minutos, desfazendo-se um empate a duas bolas e terminando uma participação excelente na fase final de um campeonato. Um jogo memorável da nossa seleção – relembravam-me, destacando a participação do pequeno génio, Fernando Chalana, entre outros. Entretanto, a memória falhava e não surgia mais nenhum nome. Lá lembrei o Jordão e um dos golos dessa tal tarde, provavelmente um dos momentos desportivos que mais apreciei e a conversa ficou por ali, pelas fintas em progressão do Chalana, pelos seus cruzamentos para a área, entre outros apontamentos caraterísticos do futebol.

            À noite, com o resultado a nulo, acreditei que um acaso poderia dar uma vitória a Portugal. Pelos vistos, há 40 anos não ganhámos um jogo à seleção de França, o que significa que eu nunca vi tal feito. Antes pelo contrário, só encaixei derrotas, nas tais meias-finais e se calhar em mais uns quantos jogos, que não recordo, ou não segui.

Assim aconteceu… outra vez.

            É certo que o jogo era praticamente de treino e o mais importante era ganhar três dias depois, o que veio a suceder. Sendo assim, abriu-se a hipótese de novamente haver um confronto, em fases finais, entre Portugal e França.

            Em 1984, os jogadores da seleção Portuguesa jogavam todos em clubes nacionais. A diferença para a seleção Francesa era teoricamente brutal, pois os gauleses tinham realizado um Campeonato do Mundo em 1982 sensacional, terminando em 4º e dois anos depois jogavam em casa. Além do fator desportivo, havia toda a condição do país de emigrantes. Um confronto de assalariados com os empregadores. A fadiga, a impreparação para os momentos de pressão num jogo, foram as justificações para o não sucesso de Portugal.

            Em 2000 e em 2006 tudo se tinha alterado. Vários jogadores portugueses alinhavam no estrangeiro, nas melhores equipas europeias e a diferença entre as duas seleções era menor e por isso, o confronto foi sempre equilibrado. É certo que houve falhas, como acontece na maioria das vezes com equipas portuguesas. Aquela desconcentração fatal.

            Em 2015/16, o barómetro de qualidade de uma seleção são os jogadores que alinham em equipas apuradas para a Liga dos Campeões. Como este assunto é melindroso, pois da seleção nacional apenas 5 ou 6 jogadores, respetivamente no jogo de 6ª e de 2ª, é que estão nesta condição, poderá ser explicado por aqui o desaire caseiro com a França. Se considerarmos, outro dos indicadores de qualidade várias vezes utilizado, jogador de equipas a participar nas 5 principais ligas europeias: Inglaterra, Espanha, Alemanha, Itália e França, o caso ainda fica mais complicado.

Poderá ser este o problema da atual seleção nacional, quando comparada com anos recentes, apenas dois dos seus jogadores são provenientes de uma das oito melhores equipas europeias (Real Madrid), enquanto há uns anos atrás, a convocatória enchia-se com referências a esses colossos.

            A consistência da carreira desportiva é difícil. Manter-se na ribalta durante todo o percurso desportivo não é para todos. Aguentar a pressão dos diversos treinadores, dos colegas de equipa, dos próprios adeptos, mais a dos adversários e mesmo, da opinião pública de um país estrangeiro não está ao alcance de qualquer um.  

            Se um Português aguenta isto tudo, é uma excepção. A maioria desiste, prefere outras paragens, a todos os níveis mais calmos.

O fado nacional, o da curta quimera, a justificar resultados desportivos.

Quando a ambição ocupar o lugar da resignação e a persistência for exemplo, haverá uma geração que olhará para os seus parceiros europeus de outra forma. Sem soberba mas, em contrapartida, sem se sujeitar à humilhação.

O desporto poderia ajudar a vencer o preconceito histórico.

Vejamos o que nos reserva, o Europeu de França de Junho de 2016.

 

(a publicar no dia 10/09/15)

quarta-feira, setembro 02, 2015

O que esperar dos novos deputados?

                A um mês das eleições legislativas, é oportuno introduzir como tema de debate, quais as expetativas dos eleitores, relativamente aos deputados a eleger pelo seu círculo eleitoral – o distrito de Aveiro. 

                Independentemente dos últimos acontecimentos do último ano legislativo, é importante recordar a tentativa do Estado em organizar-se, exercitando a sua proximidade às populações.

À tentativa falhada na década de 90, para introduzir a regionalização, não aceite pelos eleitores em referendo, seguiu-se uma reorganização silenciosa das competências regionais do Estado. Criando-se efetivamente um mapa de regiões, conseguindo-se em cada uma delas, sub-delegações de vários ministérios com competências de gestão administrativa e patrimonial. Neste capítulo, são de fácil exemplo as Direções Regionais de Educação (DRE) ou as Administrações Regionais de Saúde (ARS).

                Com total entendimento, a população de S. João da Madeira viu algumas das suas escolas ficarem ligadas à DRE – Norte (DREN) e os seus equipamentos de saúde serem regidos pela ARS – Norte. O mesmo entendimento motivou não haver objeções à influência da Comissão Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte nos destinos do concelho, há largos anos. De igual forma, a adesão recente à Área Metropolitana do Porto foi entendida como perfeitamente normal pela grande maioria da população, pela proximidade da grande cidade, não esquecendo a afinidade com a mesma.  

                Este reposicionamento do concelho, ligando-se ao Norte do país, não teve o mesmo acompanhamento em termos eleitorais.

                Ao eleger deputados pelo distrito de Aveiro, a população de S. João da Madeira está a escolher eleitos que estão afastados dos centros de decisão da sua área de influência. Na sua maioria estes centros estão localizados na cidade do Porto.

Os deputados do distrito de Aveiro, além da presença habitual na Assembleia da República, têm direito a um dia livre, para exercer a sua atividade no seu círculo eleitoral. Neste cenário, em tal dia, o rodopio dos deputados distritais, entre Aveiro e Porto, deveria ser constante para defender os interesses da população dos concelhos do Entre Douro e Vouga (EDV): S. João da Madeira, Santa Maria da Feira, Arouca, Vale de Cambra e Oliveira de Azeméis.

  Só que existem outros afazeres, nomeadamente, os relacionados com a Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro, composta por 11 concelhos do distrito de Aveiro. Ou seja, uma região com mais população e logo com mais potenciais eleitores a quem agradar.

Neste panorama é um anacronismo político para o EDV eleger representantes pelo Distrito de Aveiro.

Este é o desafio colocado aos futuros deputados na Assembleia da República, com ligações a S. João da Madeira:

- ajustar os concelhos às Área Metropolitanas ou a Comunidades intermunicipais, se o números de eleitores o justificar, será a continuação da reorganização silenciosa das regiões. Alterar os círculos eleitorais, aproximando os eleitos dos centros de decisão, tal como a população, é o desafio para uma legislatura.

Estarão os candidatos interessados nisto?

É importante para a defesa dos interesses da população da cidade e dos concelhos vizinhos, que as suas próximas reivindicações tenham sequência nos partidos políticos. 

 

(a publicar no dia 03/09/15)

quarta-feira, julho 29, 2015

Milhões sem festa

Antes das férias de verão, é raro haver assuntos para comentar.
As últimas semanas na política local contrariam a tendência estival.

A meio do mês fomos confrontados com os valores dos fundos
comunitários atribuídos ao município. 3 milhões desperdiçados, 5 milhões
reclamados, 7 milhões atribuídos, foi a aritmética utilizada na
argumentação. A frase popular "mais vale um pássaro na mão do que dois a
voar", resume a discussão e permite relembrar que existem oportunidades que
não se repetem. Os 5 milhões reclamados pressupunham uma lógica de
favoritismo ao concelho, baseado na ligação do secretário de Estado, Castro
Almeida, à cidade. A invocação da cunha à portuguesa e do típico jeitinho do
político da administração central estavam subentendidos, só que desta vez
não funcionou.
Dias depois, o empréstimo municipal. O presidente da Câmara
Municipal, Ricardo Figueiredo apresentou o seu plano de investimentos, a
necessidade de contrair empréstimo e o valor envolvido. Mais, explicou os
montantes do endividamento atual, as consequências do empréstimo nas contas
municipais e quais os valores a abater nos próximos dois anos, indicando
qual o valor final da dívida municipal. Esperava-se muita discussão e uma
posição de coerência da oposição, chumbando o empréstimo, alegando as "más
contas", como têm vindo a repetir nos últimos dois anos. Contudo, o PS
rebateu. Limitou o endividamento, retirou projetos e ao apresentar a sua
proposta, obviamente teve que vota-la favoravelmente. Ou seja, aprovou
tacitamente as contas do PSD. É claro que o erro político foi reconhecido e
para emendá-lo, atabalhoadamente, voltou a falar-se em auditorias às contas
municipais, quando no ano passado, essa análise já tinha sido efetuada por
entidade competente e aprovada nos órgãos municipais.
No próximo trimestre, se a incoerência não prevalecer, o PS não pode
reprovar o orçamento municipal para 2016. Está agarrado ao seu plano de
investimento e não terá hipótese de alterar o sentido de voto. A teoria dos
duodécimos não se concretizará.
Ao retirar das propostas a Academia de Campeões, o PS voltou a
melindrar as Associações locais. A ADS, um dos clubes lesados, reclamou
prontamente a insensibilidade da ação política. O futebol envolve
diariamente demasiadas crianças e jovens da cidade e seus arredores, em
treinos e aos fins-de-semana em jogos, para em ano de eleições legislativas
optar-se por assumir uma medida impopular.
O choque entre o PS e as associações locais é apanágio desde 2013.
Primeiro foi com os Ecos Urbanos, meses depois com a AEJ, a propósito da
nova piscina municipal. Aliás, antes de avançar no texto, se o que foi feito
com este empréstimo para os investimentos, estudo e contra-proposta, tivesse
sido o método utilizado na piscina, ou seja, analisar o projeto do
arquitecto Souto Moura contrapor com uma redução do custo da obra, indicando
qual o montante máximo do valor final pretendido, estaríamos agora numa
situação totalmente diferente de credibilidade e toda a questão de
responsabilidade seria reconhecida.
Assim não foi. Ficou mais uma vez provado, passado praticamente um
ano, que o PS local quis chumbar a piscina por questões meramente
partidárias, em prejuízo da população.
Entretanto, nesta última semana, foi assinado o protocolo entre a
Santa Casa da Misericórdia e o Ministério da Saúde, para devolução do
Hospital de S. João da Madeira à instituição local.
Um culminar de longas negociações. Apesar do assunto ainda estar
fresco e de os ânimos permanecerem exaltados, é importante esclarecer e
recordar que a Santa Casa da Misericórdia sempre prestou assistencialismo em
S. João da Madeira e que conseguiu erguer valências que promovem a sua
auto-sustentabilidade. Infelizmente confunde-se tudo e ao não se reconhecer
a importância histórica desta instituição, estamos a esquecer a história da
cidade, da sua população sofredora e daqueles que dedicaram a sua vida a
prestar auxílio ao próximo. Não esquecendo a importância da fundação, pela
iniciativa da Santa Casa, do Hospital de S. João da Madeira, que em 1974
passou para a esfera do Estado.
A ilusão dos apoios das redes sociais, dos números conseguidos na
petição em defesa do hospital, estancou na mobilização de rua. A vigília a
16 de Maio demonstrou que a população não estava com o PS. 200 pessoas,
segundo a imprensa local, é um número muito baixo, para quem queria defender
uma causa da cidade e demonstrar ter um grande apoio da população.
É na rua, na mobilização da população para ações políticas, que se verifica
se há tendências de mudança. Em Maio isso não se verificou.
Na manhã de 28 de Julho, em frente às instalações da Santa Casa da
Misericórdia estavam 100 pessoas, segundo a SIC Notícias.
A fraca envolvência dos sanjoanenses, nesta causa, demonstra que o
tema foi mal desenvolvido.
O número de manifestantes foi semelhante ao de uma ação de um
partido de extrema - esquerda.
Uma evidência, com a terrível constatação, o PS local caminha para o
abismo.

quarta-feira, julho 22, 2015

Sapato aos molhos

                Ao longo dos vários anos de escrita no jornal labor, tenho desenvolvido alguns temas utilizando estas páginas como laboratório de ideias.

                A partilha com os leitores surge por dificuldades pessoais (e profissionais) em colocar em prática alguns conceitos e daí ser mais honesto divulgá-los, esperando que um dia a ideia seja desenvolvida por alguém, independentemente de a inspiração ter surgido das minhas palavras ou não.

Um tema assíduo neste jornal foi o desenvolvimento do conceito de turismo industrial à restante cidade, em especial, aos mais variados agentes económicos. Em Maio de 2013, finalizava uma série de artigos, fazendo apelo ao complemento do conceito turístico, sugerindo que, aos seus produtos icónicos: chapéus, sapatos, lápis e etiquetas, fossem acrescentados artigos como colchões, ou mesmo, doutras eras industriais como: as máquinas de costura, torneiras, banheiras e outros como a cera e seus derivados, dos primórdios da industrialização ou provavelmente ainda duma época de manufactura.

Uma forma de complementar os circuitos industriais, sugeri nesse artigo, poderia ser através da sua extensão aos produtos gastronómicos. Exemplos não faltavam no texto e não vou repeti-los.

É conhecida a base da economia nacional, em copiar o negócio do vizinho e conseguir melhores ou idênticos resultados financeiros.

Dentro desta máxima, consegue-se explicar a apetência da restauração duma cidade, ou mesmo duma região, em apresentar aos clientes produtos semelhantes. Pastelaria e pratos cozinhados não diferem muito, se pensarmos bem. Quando alguém tem êxito com a venda dum produto, os outros imitam-no e assim democratiza-se o artigo anteriormente diferenciador.

A diferenciação passa depois a pormenores de paladar e aí entra a subjetividade das papilas de cada um.

Tudo isto é recordado e evocado, porque descobri que um restaurante de S. João da Madeira está com divagações gastronómicas em torno dos circuitos industriais.

Para já, foi apresentado o Sapato, no Restaurante Tudo aos Molhos, no Largo Santo António.

Muito provavelmente, outros produtos do nosso imaginário industrial um dia passarão a constar da ementa deste restaurante.

Tudo vai do começar. Se se repetir a fórmula económica à portuguesa, daqui a uns anos, não haverá na cidade café, bar, restaurante ou hotel que não apresente aos seus clientes, uma ementa onde constem pratos com nomes alusivos à indústria local.

                Para já vamos fazendo a degustação, ali no largo.

 

Nota: Ana Rodrigues estará este fim-de-semana em ação em Coimbra. Será o culminar duma excelente época, no seu regresso à AEJ. Faço votos para que na próxima semana, as felicitações aos seus resultados sejam generalizadas na imprensa local.

 

(a publicar no dia 23/07/15)

quarta-feira, julho 15, 2015

A reabilitação da Rua da Liberdade

 

                Sensivelmente há um ano, ao debruçar-me sobre as obras da Rua da Liberdade, verifiquei que não existia relação causa – efeito entre a empreitada municipal e a abertura de lojas.

                Em Julho de 2014, a parte intervencionada, mais a nascente, ou aproveitando a cota, a parte inferior, tinha sido sujeita a reabilitação, com demoras e várias críticas e no final, os espaços comerciais que estavam encerrados antes do início da empreitada, permaneciam no mesmo estado. Convém relembrar que nessa intervenção reintroduziu-se o trânsito naquela artéria, criando bolsas de estacionamento.

                Em contraste, na parte superior da dita rua, mais próxima da Praça Luís Ribeiro, a intervenção resumiu-se a retirar os chapéus de ferro, melhorando o aspeto visual e a perspetiva do arruamento. Nesse período analisado, abriram três espaços comerciais.

                Recorri a este indicador, de aberturas de lojas, verificando que ainda era cedo para analisar a tal relação causa – efeito da empreitada municipal.

                Um ano depois, apesar da letargia reinante na Rua da Liberdade, muita coisa mudou.

                Na parte inferior, com bolsas de estacionamento, reabriram lojas. E melhor, não fechou nenhuma das existentes. Embora subsistam alguns espaços sem inquilino.

                Comparando com a metade superior, no último ano fecharam três lojas. Não esquecendo que havia já duas encerradas, verifica-se que o panorama é desolador.

                Um ano e meio depois das referidas obras, já é possível verificar uma tendência: a reintrodução de trânsito e estacionamento permitiu revitalizar uma parte da Rua da Liberdade.

                As lajes áridas de granito, enquadradas pela calçada bem portuguesa, não são um grande atrativo. Em especial, com um sentido de trânsito sem saída, ou de retorno ou ponto de entrada.

                A zona pedonal, ou o que resta dela, tem que se ajustar à procura.

                A proximidade do estacionamento foi sempre reclamada pelos comerciantes. Muitos deles, fugiram do centro, instalando-se na Avenida Renato Araújo, por entenderem o modo operatório dos seus clientes, sempre forçando a circulação automóvel até à porta da loja, arriscando multas por estacionamento indevido.

                Dentro desta lógica e de acordo com a evidência da reabertura de lojas devido à reabilitação municipal, seria importante retomar as obras na Rua da Liberdade. Fluir o trânsito ascendentemente e reintroduzi-lo a sul da Praça Luís Ribeiro, parece ser inevitável. Ligar à Rua do Visconde, ou Rua do Dourado, não escandalizará ninguém. Transferir os lugares de estacionamento, existentes na confluência dessas ruas, mais para o centro da Praça, aumentando o seu número, não cria qualquer conflito e até permitirá corrigir alguma falta de mobilidade.

                Com isto amplia-se o acesso à zona comercial, condicionando o trânsito a uma faixa de um só sentido. Permitirá aumentar o estacionamento e ao mesmo tempo, criar zonas de mobilidade ampla para pessoas com necessidades especiais. Um corredor bem no centro da Praça.

                É evidente que isto seria um remendo, caso a ambição seja, de uma vez por todas, retirar o Elemento Arquitectónico da Praça, a Rua da Liberdade deveria ligar a Norte, à Rua Oliveira Júnior, rasgando a Praça em dois lados: um com as suas esplanadas e demais comércio e o outro com várias hipóteses, uma das quais o badalado parque infantil.

                Daqui a uns anos, cá estaremos para ver a solução e verificar a repercussão que a mesma teve no comércio tradicional. 

                 O importante é programar a obra mais simples para os próximos meses.

 

(a publicar no dia 16/07/15)