Este Espanhol que veio para trabalhar (como o próprio dizia), revolucionou a vida lá de casa e vai ficar para a nossa história. Como dizia, recentemente numa entrevista, Mário Wilson “o velho Capitão”, “Camacho é um dos nossos”.
Ontem à noite, no final do noticiário desportivo, o choque foi total quando passaram a sua apresentação como novo treinador “merengue”. O Manel ficou desolado. O Camacho não podia sair do Benfica. “Não quero”, “O Camacho é do Benfica”, “O Camacho é o Benfica”, dizia o petiz com os olhos em lágrimas e com a cabeça encostada ao sofá. Tentei explicar-lhe, em vão, que o Real Madrid era para o Camacho, o mesmo que o Benfica era para mim, que ele era Espanhol e ia treinar em Espanha. “Não quero!”
A olhar para o Manel inconsolável, recordei, sem saudade, o meu desespero quando saiu do Benfica o Jordão, o Chalana e mais tarde (e sem o mesmo fervor), o Rui Águas e o Paulo Sousa.
Veio a mãe e o amuo e a tristeza continuaram. As mesmas ideias, Espanha, espanhol, nada.
Valeu-nos o Moreira, esse pequeno Santo, que é para o Manel aquilo que o Bento foi para mim, o maior. O Moreira fica, é do Benfica e de Portugal (outra das paixões fomentada pela mãe).
Para o Manel praticamente tudo começou com Camacho, tirando o facto de, ao ano e meio de idade a olhar para a televisão, dizer algo parecido com Benfica ao ver um jogo de futebol. A Zé ensinou-lhe quem era o Camacho, o treinador do Benfica, Espanhol. Desde aí, sempre que o homem aparecia na televisão, ouvia-se “Olha o Camacho”. Espanha era a terra do Camacho e os espanhóis falavam como o Camacho. Depois veio o Féher, o desespero de todos e o miúdo sem perceber o que se passava. Quando viu o Camacho a chorar, ficou muito preocupado e durante quinze dias a um mês, perguntava pelo Húngaro. Foi o momento certo para lhe ensinar o nome dos outros jogadores e os seus atributos: Tiago como o teu primo, Nuno Gomes que tem cara de menina, Simão como o irmão do Tomás (colega da escola), Miguel como o teu colega, Ricardo (Rocha) como o vizinho das primas, João (Pereira) como o teu colega e Moreira que é guarda-redes e usa luvas. Este foi o mote para nova devoção. Com luvas nas mãos, o Manel gosta de imitar o Moreira a atirar-se para o chão e tentar agarrar a bola. Agora, sempre que vê o Moreira, quer em jogos, quer em publicidade, diz “Olha o Moreira”.
No final da Taça, além de ter ficado feliz por ver o Camacho, alegre saiu para a rua para engrossar a caravana de festejos, com o seu sorriso característico e depois de ouvir do Moreira as mesmas palavras do pai: “A Taça é nossa”.
Espero, para concluir, que o Benfica tenha reaprendido com Camacho, valores como dedicação e rigor. Os adeptos foram os primeiros a entende-lo e por isso, após a conquista da Taça, gritavam pelo seu nome, em homenagem ao trabalho desenvolvido em 18 meses. Nesse dia, os jogadores em campo, entregaram-se ao jogo da forma como ele gostava, com “sangue, suor e lágrimas”.