terça-feira, julho 21, 2020

Página em branco

Ao exercício semanal de escrever uma crónica ponderei algumas vezes seguir João César Monteiro, modificando a cor das letras em certas sílabas ou palavras por inteiro, colocando-as a branco, assim com letras a branco. Ou seguir a tendência de James Joyce e introduzir sonoridade monocórdica em algumas palavras, esticar com brrrrrio. Já para não referir o estilo português sem pontuação de José Saramago ou as palavras interrompidas a mei

com uma frase inteira, esta pequena para exemplificar

o, utilizada por António Lobo Antunes.

- O que é para ti uma página em branco?

Simplesmente respondi, um desafio. Esquecendo os estilos, as sílabas quer ocultas, quer esticadas, ou interrompidas, ou outra manifestação pontual, para atingir o número de carateres necessários para a edição.

Foram anos desafiantes, com superação das minhas lacunas na escrita, contadas as horas passadas em frente ao teclado à espera da inspiração. Para iniciar um texto, para avançar no conteúdo, ou mesmo para rematar uma crónica.

As primeiras impressões vinham dos meus pais. Nem imaginam a emoção que lhes provoquei ao escrever sobre as suas origens, as suas casas maternas: fotografias nas paredes de Pombal e as portas e janelas de Gaia.

Eu recatado e numa assembleia geral:

- Começo por procurar a tua crónica e só depois leio o resto do jornal.

Eu desarmado, não esperando a relevância. Sempre sem saber o que responder.

Na zona desportiva municipal, sem no fundo da piscina a minha sombra:

- O rapaz tem um dom.

Em discurso direto e eu atrapalhado, habituado à indiferença dos amigos, à ausência de leitores no meio fabril, à educada

- Costumo ler-te.

Ou o reencontro

- A ti, ainda te vejo no jornal.

Longe da página de necrologia, respondia eu com humor negro.

Sem mais argumentos e com ausência de contraditório.

Não alimentei polémicas, preferi não comentar as respostas dos partidos do espectro político, sobretudo, da esquerda.

Uma colaboração no labor colada pelos anos, a Hora do Ardina referenciou-me na primeira página, repetindo-se a faceta quando assumi a defesa de uma instituição de São João da Madeira. Optei pela cidadania, em detrimento da independência com proximidade partidária.

Seguiu-se o reconhecimento, os amigos não indiferentes, telefonemas agradecendo menção, deixei de escutar 

- Costumo ler-te.

Nunca mais ouvi

- A ti, ainda te vejo no jornal.

Ainda a mesma atrapalhação pessoal.

Se voltar à piscina municipal, sem no fundo a minha sombra, vou explicar que escolhi escrever para comunicar com todos, para compensar a ausência, por raramente ir de dia à Praça, ou a qualquer café, nem frequentar a piscina, nem sair à noite na cidade, entre outros hábitos comunitários. Um gesto anacrónico, que foi acolhido por simpatia pelos leitores e que me permitiu estar presente na cidade em que nasci, vivendo afastado. Foi apenas isso, um contributo cívico. Nenhum atributo, Luísa.

O desafio desta semana está terminado. Espero que o leitor referenciado, prossiga na leitura do jornal labor com um sorriso nos lábios.

Assim me despeço destas páginas, agradecendo a todos a atenção dispensada, em especial, aos leitores que com os seus comentários me permitiram ter força para escrever e em particular, à direção e demais elementos da redação, pela paciência demonstrada em me editar.

 

(a publicar no dia 23/07/20)

terça-feira, julho 14, 2020

Esperar sentado

A entrevista à RTP3 de Pedro Nuno Santos (dia 08 de julho com Vítor Oliveira) causou algum desconforto no meio político. 
Fiel à sua ideologia, Pedro Nuno anunciou preferir votar em qualquer outro candidato presidencial, que não Marcelo Rebelo de Sousa, mesmo que essa candidatura não fosse protagonizada por qualquer militante do PS, podendo mesmo votar em candidatos oriundos de outra forças políticas de esquerda. O ministro das Infraestruturas e Habitação seguiu a divergência de outros militantes do PS, que, por sua vez, optaram por incentivar uma candidatura de Ana Gomes às eleições presidenciais, como por exemplo, o antigo eurodeputado Francisco Assis. 
Com estas posições plurais, que em nada ofendem, nem beliscam, o mandato do atual Presidente da República, coloca-se a hipótese de se apresentarem a sufrágio várias candidaturas, o que enriquecerá o debate, quebrando a unanimidade em torno do anunciado vencedor, o que permitirá enaltecer o ato eleitoral e o seu resultado.
Obviamente que a entrevista do nosso conterrâneo não se limitou a este assunto. Provavelmente o maior destaque foi o assumir de clivagens com o Primeiro-Ministro, optando o sanjoanense por virar à esquerda, quando o chefe de governo se decidir pela direção oposta. 
Na semana anterior,  se bem se recordam, o destaque da comunicação social nacional havia sido as assumidas divergências de Fernando Medina, em matéria de saúde pública.
Perante este cenário contestatário de dois destacados militantes do PS, as reações não se fizeram esperar. O próprio presidente do partido, Carlos César, em defesa do Primeiro-Ministro, anunciou que este estaria com intenções de governar a médio prazo, pelo que, perante a pergunta na entrevista publicada no dia seguinte no jornal Público, em conjunto com a Rádio Renascença, aconselhou aos dois potenciais candidatos a substitutos de António Costa, a esperarem sentados.
A convergência dos partidos de esquerda parlamentar em 2015, apoiando um governo do Partido Socialista, apesar da desconfiança de setores de direita, produziu resultados, que seriam improváveis anos antes.
A 8 de setembro de 2018, a jornalista do jornal Público, São José Almeida, com o seu longo percurso de acompanhamento da atividade do Partido Comunista Português, escrevia ter ficada surpreendida ao assistir às imagens editadas pela RTP, em que um militante do partido indignava-se com o seu secretário-geral pelas conquistas serem apenas sociais-democráticas, o que estaria a provocar criticas e divergências internas.
No mesmo capítulo, se bem se lembram, nas eleições legislativas de 2019, o Bloco de Esquerda apresentou-se como social democrata.
O arco de poder, estendido a estas duas forças políticas, alterou-lhes a visão ideológica. Para isso, muito contribuíram as horas de negociação lideradas por Pedro Nuno Santos, enquanto Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, até ter assumido o cargo de ministro.
É esta a grande vantagem de ficar sentado nos próximos anos. Pedro Nuno Santos é reconhecido pela esquerda. Qualquer jovem militante dos demais partidos de esquerda sabe quem ele é (o que não é fácil para um ministro de um governo do PS). Todo este capital político, poderá aumentar, caso a reestruturação da CP seja bem conseguida e a nacionalização da TAP passe o crivo das críticas, com distinção.
A sua capacidade de resiliência será determinante para o seu futuro político, podendo ter que assumir um percurso alternativo, ao jeito do que aconteceu a António Costa em 2007.
Ficará para sempre a dúvida, se tivesse assumido a autarquia sanjoanense, o negócio da água já estaria com menor volume de taxas cobradas? Certamente beneficiando os demais consumidores, em detrimento do parceiro privado da empresa municipal.            

(a publicar no dia 16/07/20)

quinta-feira, julho 02, 2020

Antes, durante e depois

Um mandato autárquico, de duração de quatro anos, é composto por três fases distintas: uma fase inicial, de estudo e análise, tendo por objetivo programar ações para cumprir as promessas eleitorais ou para avaliar as ações decorrentes do mandato anterior; uma fase de execução das ações programadas; e uma fase final de lançamento de novos projetos, correspondendo ao assegurar financiamento para futura execução.
Em São João da Madeira, após uma longa fase inicial, com indefinições ou redefinições de projetos, com entrada tardia de assessores, com substituições de vereadores, entre outras peripécias para a formação do grupo de trabalho político, a Câmara Municipal evidencia agora alguma maturidade, reconhecendo-se que a pouco mais de um ano do final do mandato, está em fase de execução de ações.
Começou já em 2019 com a ampliação da Rua João de Deus, continuando com a substituição do amianto em escolas públicas, passando pela requalificação da habitação nos bairros sociais e pela própria regeneração dos mesmos, prosseguindo pela reabilitação dos equipamentos desportivos municipais e terminando na revitalização do projeto da Praça, com o prazo previsto para finalizar a execução a ser precisamente nos meses anteriores à eleição autárquica de 2021. Pelo meio, há mais uma empreitadas a referir: ampliação do parque do rio Ul e melhoria do mobiliário urbano, além de embelezamento e alinhamento de alguns passeios, entre outras omissões, que atiram sempre a ação para o refazer. Faltando a novidade, como prova de outra dinâmica.
O confinamento, na quase totalidade do presente ano, adiou a maioria das iniciativas municipais, ou apoiadas e incentivadas pela autarquia, pelo que a sua atividade parece neste momento reduzida a empreitadas, não desfazendo de qualquer iniciativa não mencionada nos parágrafos anteriores.     
Nesta conjuntura, a apresentação do relatório das contas da autarquia referente ao ano 2019 acarreta uma inquietação. Apesar do excedente orçamental pelo segundo ano consecutivo, apesar da redução da dívida municipal, apesar de não ser necessário recorrer a empréstimo bancário para fazer face à despesa corrente, há contudo, outros indicadores que merecem outra atenção. Nomeadamente a menor receita gerada e a redução de obtenção de fundos comunitários para investimento. 
A gestão corrente está feita mas, é necessário questionar o futuro. A incerteza quanto à capacidade financeira futura, permite formular toda a dúvida com um simples, e depois?
Desdobrando a singeleza em várias questões:
Qual será a dinâmica da cidade a partir de 2021? 
Que novos equipamentos estão a ser projetados? 
Que novos programas sociais vão ser implementados? 
Como será salvaguardada a memória coletiva? 
Que incentivos haverá para a economia de proximidade?
Como incentivar a dinâmica cultural, fixando agentes permanentemente no concelho?
As competentes respostas serão apresentadas em futuro programa eleitoral. Não será inédito repetir propostas. No passado assim aconteceu, por isso, será com naturalidade que algumas das propostas de 2017 transitarão para 2021. 
À população caberá avaliar a oportunidade da repetição.   

(publicado no dia 02/07/20)


terça-feira, junho 16, 2020

Protestos pela Praça



Existe a tendência de analisar resultados das eleições autárquicas através da qualidade dos candidatos, suas propostas, ou por fatores exógenos, como a conjuntura nacional. Muitas vezes, analisa-se o efeito e esquece-se a causa, não se procurando entender a mudança de sentido de voto por parte dos eleitores. Obviamente, aqueles que são mais plurais, procuram através do seu voto manifestar, não só as suas preferências políticas mas, também, o seu protesto.
A Praça Luís Ribeiro está em constante transformação desde 1986. Depois de construído o IC2, retirando trânsito do centro da cidade, a criação da zona pedonal surgiu como proposta inovadora. Apesar de criticada e não ser considerada uma prioridade das obras municipais, o novo centro transformou-se em área de lazer da população, que ali promoveu novos negócios, desfrutou das suas esplanadas e assistiu à programação de entretimento proposta para as noites de fim de semana de verão. 
O conceito prolongou-se no tempo. A zona pedonal foi aguentando a decentralização (a deslocalização de comércio para a Avenida Renato Araújo, o retirar de concertos de verão para o jardim), só não suportou as novas obras de revitalização, operadas no virar do milénio. Um projeto mal assimilado, com as consequências desagradáveis das obras (ruído, lama, pó) a irritar a população, que apercebendo-se do aumento de artérias sem trânsito, onde não havia comércio, passou à ação, protestando e opondo-se ao avançar da obra. Alguns desses protagonistas seriam candidatos autárquicos em 2001 e essa força partidária venceu, com maioria absoluta, derrotando 18 anos de gestão autárquica do CDS-PP. 
Na década seguinte, assistiu-se ao encolher da zona pedonal. Um ajuste, com algumas artérias a receberem de novo trânsito, com aplicação de novo mobiliário urbano. Apesar da intervenção, o processo de descentralização já era irreversível, acrescido da criação de um novo parque urbano na cidade, junto às margens do Rio Ul e da abertura do shopping 8ª Avenida. As críticas iam surgindo, no entanto, nada alterava o aspeto decrépito que a zona pedonal tinha adquirido.
Em 2017, quando é mandado demolir o Elemento Arquitetónico, os protestos voltam a surgir. Curiosamente são jovens os protagonistas, revelando a sua ousadia e uma inesperada participação cívica. Outra curiosidade é a importância debatida sobre o aspeto funcional da Praça, após a longa agonia. Meses depois, nas eleições autárquicas, o PS vencia, com maioria absoluta e interrompia 16 anos de gestão autárquica liderada pelo PSD, embora os últimos dois fossem em coligação com o CDS-PP.
Chegados a 2020 há novamente obras na Praça Luís Ribeiro e de novo há protestos. Desta vez o mote é o abate das árvores com décadas de existência. Em reunião Camarária, o vereador da oposição reclama e exige a apresentação do comprovativo fitossanitário justificativo, argumentado pelo Presidente. População, com identificação por um movimento partidário, organiza-se numa petição pedindo para não haver mais abate de árvores e dois partidos de esquerda entram nesta luta, elegendo o ambiente como manifesto da sua indignação, suspendendo momentaneamente a defesa (legitima) dos direitos dos trabalhadores.
O mal estar é latente. O Arquiteto Paisagístico Sidónio Pardal acentuou as críticas, indicando que os plátanos deveriam ter sido substituídos ao longo dos anos e não retirados em simultâneo. Para contrabalançar, a Câmara Municipal mandou plantar mais de duas centenas de árvores no parque do rio Ul mas, pela imagem publicada nos jornais locais, os cinquenta centímetros dos pés plantados, a ser a receita aplicada na Praça Luís Ribeiro, não servirão para atenuar os protestos da população, bastante sensibilizada para questões ambientais. 
Em 2021 haverá eleições autárquicas. O resultado dessas eleições permitirá perceber a causalidade dos protestos às obras da Praça Luís Ribeiro, averiguando-se se as relações aqui expostas foram meramente casuais, ou se pelo contrário, este facto terá sido decisivo para formar a opinião do eleitor.                   

(a publicar no dia 18/06/20)

domingo, junho 07, 2020

Um esclarecimento


Na entrevista publicada na última edição do jornal labor aos diretores da AEJ, conduzida por Nuno Ferreira Santos, o meu nome surge indexado como solução para o futuro da secção de xadrez. Tal citação merece um esclarecimento e um enquadramento histórico, para os leitores deste jornal que habitualmente seguem as minhas crónicas e estando mais atentos, são conhecedores das funções que ultimamente tenho exercido nesta Associação.
Comecemos pelo enquadramento. 
No 1º Campo de Férias Estamos Juntos, em 1982, uma das atividades propostas aos participantes foi o xadrez. Para muitas crianças e jovens era o primeiro contacto com o jogo, aprendendo os seus rudimentos, como o movimento das peças e objetivo estratégico com o conceito de vitória. Para outras, as horas passadas em torno das peças e tabuleiros já eram frequentes, jogando-se com a noção integrada de xadrez, cumprindo-se as suas regras, sem necessidade de supervisão de monitores.
Nas edições seguintes, o Xadrez continuou como atividade do Campo de Férias, proporcionando-se novas experiências, como uma simultânea conduzida por um jogador federado, o sanjoanense Flávio Pinho, que jogou em vários tabuleiros contra uma dezena de participantes. Anos mais tarde, ainda nas traseiras da Escola Primária do Parque, na última semana do Campo de Férias organizavam-se vários torneios finais, o xadrez teve sempre o seu próprio troféu. Mesmo com a mudança para as Corgas, privilegiou-se o xadrez, colocando-se os tabuleiros no corredor de acesso às bancadas do complexo desportivo, dando-lhe muita visibilidade por ficar junto à entrada dos participantes.
 Após a oitava edição do Campo de Férias, em 1990, um grupo de jovens monitores (Rui Guerra, Ricardo Batista, Filipe Teixeira e Nuno Fernandes) empenhou-se em organizar um Torneio de Xadrez para verificar o pulsar da cidade de S. João da Madeira e aproveitar para convidar os participantes para integrar a secção a ser criada para o efeito. Entre antigos jogadores federados, participantes de Campo de Férias e outros, jovens e adultos, com gosto pela modalidade que não tinham oportunidade de competir com outros jogadores, o Torneio de Xadrez cumpriu os seus objetivos. Em Novembro do ano de 1990, a Associação Estamos Juntos inscreveu 20 jogadores na Associação de Xadrez de Aveiro e passou a competir a nível federado, proporcionando a participação em torneios, campeonatos distritais e nacionais. 
Os primeiros tempos da secção de xadrez serviram para consolidar o projeto a nível local. A necessidade de afirmação e de divulgação da modalidade, implicaram a organização de várias provas: Torneio Interno (na época prova obrigatória), Campeonato Distrital Absoluto e Campeonato Nacional Feminino, logo nos primeiros nove meses de existência da secção. Nessa época, os resultados obtidos pelos seus jogadores permitiram à AEJ participar no Campeonato Nacional de Equipas da 3ª Divisão – Zona Centro, por repescagem, contudo, não se conseguiu assegurar a manutenção. No final dessa época, fruto de bons desempenhos de anos anteriores, culminando com o segundo lugar no Nacional Feminino organizado em S. João da Madeira, Alzira Silva conseguia a internacionalização, representando Portugal nas Olimpíadas de Xadrez na antiga Jugoslávia.
Na época seguinte, 1991/92, a AEJ continuou os seus propósitos: organização e participação em provas. O número de jogadores aumentou para 25; o melhor resultado alcançado foi por Madalena Silva, 3º lugar no Campeonato Nacional Feminino; Cebaldo Smith sagou-se campeão distrital absoluto; em termos coletivos, a AEJ falhou o acesso à terceira divisão e para participar neste Campeonato, propôs-se organiza-lo. Apesar de jogar em casa, o resultado não permitiu assegurar a manutenção. 
Apesar da vitalidade destes dois primeiros anos, verificava-se que muitos dos jogadores estavam a abandonar a modalidade e como os resultados coletivos ficavam aquém do esperado, era necessário traçar novos objetivos para a secção. No campo de Férias Estamos Juntos, de 1992, procedeu-se a um trabalho de prospeção de jovens com talento para a modalidade. O Campo de Férias passava a servir de "viveiro", a uma das secções da AEJ. O projeto desportivo da associação ganhava mais consistência, juntando-se neste capítulo à secção de natação, como prolongamento competitivo do ensino da piscina municipal.
Em 1993, com a transformação operada, a AEJ venceu títulos distritais: Sub 20 por Stephane Silva; Sub 18 por Daniel Mota e Sub 14 por Miguel Fidalgo. A equipa coletiva, apesar de inesperado, venceu o Campeonato Distrital e assegurou por inerência e mérito próprio a presença na 3ª Divisão Nacional – Zona Centro.
Os anos seguintes seriam de continuação do modelo: apostar nos jovens, na sua melhoria qualitativa, promovendo-os lentamente à equipa principal e assegurar a manutenção na 3ª divisão, para mais tarde apostar na subida, para outro nível nacional. Até 1996/97, a AEJ foi sempre Campeã Distrital (pentacampeã), no entanto, a nível nacional a manutenção nunca era assegurada. Nesses anos, o campeonato de sub 20 e de sub 18 foi sempre ganho por um jogador desta Associação: Daniel Mota, Ricardo Pinho, Hugo Silva, Filipe Silva; Guy Ferreira, Pedro Martins e Ricardo Reis foram-se sucedendo. Em 1995, a título exemplificativo, Ricardo Pinho venceu o distrital de sub 20 e sagrou-se Campeão Distrital Absoluto. 
As presenças sucessivas na 3ª Divisão tiveram como corolário a obtenção da manutenção em 1998. 
É certo que o modelo baseado nos jovens apresentava um pequena falha, aos 18 anos, a grande maioria avançava para o ensino superior e os sábados com jogos de xadrez ficavam para segundo plano. Ainda assim, na época de 1998 / 99, a AEJ conseguiu subir com uma equipa baseada em jovens formados no clube: Stephane Silva, Daniel Mota, Guy Ferreira, ladeados pela veterania de Albino Silva. Em anos nove de existência, a AEJ estava nas vinte melhores equipas nacionais. Era tempo de definir novo objetivo, que passaria obrigatoriamente por permanecer vários anos naquela divisão e voltar a preparar jovens para o futuro. 
A partir desse ano, a minha colaboração com a secção de xadrez da AEJ terminava.
Com a passagem para a nova sede, Corgas, e com mais facilidade em acolher jovens, contando com a colaboração de Roman Chemerys, técnico Ucraniano, o destaque da década seguinte foi de aposta da equipa sénior, apenas com a presença de um jogador formado na AEJ: Stephane Silva, que nos primeiros anos do novo século, sagrou-se campeão distrital por três vezes. Apesar de não conseguir subir à primeira divisão, a AEJ consolidou-se como um clube da região norte do distrito de Aveiro, pelo nível técnico dos seus jogadores e tornou-se acolhedora, ao ponto de vários jogadores do distrito do Porto e da cidade de Aveiro preferirem ingressar nesta equipa de S. João da Madeira.
Na década passada, tudo se alterou, para melhor. Os resultados a nível Nacional começaram a aparecer. Em 2013, Cláudio Sá, jovem formado na AEJ, termina em primeiro lugar o nacional jovem de Xadrez Rápido, na categoria de sub 18. Em 2014, Gustavo Ribeiro, em sub 08, vence o nacional de jovens em Xadrez Semirrápido. Nesse mesmo ano, Henrique Aguiar vence o nacional de sub 16 em Xadrez Rápido. Em 2016, Gustavo Ribeiro, desta vez em sub 10, vence o nacional de jovens em Xadrez Semirrápido. Pelo meio desta melhoria, a equipa sénior conseguiu subir à primeira divisão, contando com dois jogadores formados no clube: Stephane Silva e Cláudio Sá. Uma passagem fugaz, é certo, no entanto, a prova que a história da secção de xadrez teve uma melhoria contínua ao longo dos anos.
Infelizmente, em 2018, a secção de xadrez encerrou. Para trás ficavam 28 anos de história, de jovens que aprenderam a jogar xadrez em Campos de Férias, de jovens que preferiram jogar xadrez a praticar outra modalidade desportiva, de jovens que optaram pela AEJ, defendendo com orgulho as suas cores. Durante todos estes anos, a AEJ não excluiu ninguém, foi acolhedora, inclusiva. Nunca exigiu resultados aos seus jogadores, no entanto, congratulou-se pelos feitos das suas equipas, ou dos seus jogadores individualmente, publicitando na imprensa local os seus resultados, destacando de igual forma os vencedores e todos os outros que defenderem o clube.
Feito o enquadramento, um paragrafo mais para o esclarecimento. Pelas funções que desempenho na Associação de Xadrez de Aveiro, Presidente da Mesa da Assembleia Geral, por incompatibilidade estatutária não me é permitido exercer funções diretivas, em qualquer dos seus sócios. Por isso, apenas quando terminar esse meu mandato, é que estarei disponível para ajudar a direção da AEJ, como bem referiram os diretores entrevistados. Os moldes como será reativada a secção (suspensa, sendo esta a causa para a AEJ perder o seu estatuto de sócio na Associação Distrital), a seu tempo serão definidos e publicitados.
      
             
(a publicar no dia 12/06)

terça-feira, maio 19, 2020

Erros, créditos e soluções desportivas



Na semana passada, na edição do semanário O regional, o colunista Adé, com o seu sentido de humor, evidenciou o demasiado tempo de entrega que os jornais locais demoram a chegar a casa dos seus assinantes. Como morador no concelho de Ovar, também eu desespero para receber os jornais de São João da Madeira. O labor nem sempre me é entregue à quinta-feira. Nas últimas duas semanas, uma edição foi recebida na terça-feira seguinte e o número anterior, na quarta-feira, ou seja, quase uma semana depois do dia habitual de edição. Ao associar-me a este protesto, apenas quero ressalvar que, muitas vezes, há edições que não consigo ler na integra e ao preparar o texto a publicar há factos que me escapam. Assim aconteceu com os protestos em forma de petição, sobre o abate de árvores na Praça Luís Ribeiro. Ao ler na edição da semana passada, que a petição tinha sido anunciada na semana anterior, percebi que afinal já havia protestos à volta das obras da Praça, que eu efetivamente desconhecia e que por isso, não os mencionei.
Sinal da mudança dos tempos, nos dias de hoje, as obras que causam polémicas são objeto de protesto, nas mais variadas formas. Sinceramente, não percebo o abate das árvores existentes na Praça, para em seu lugar plantar outras. Provavelmente, as novas serão pequenas, não permitirão às pessoas usufruir das suas sombras e algumas não vingarão, o que implicará mais uns anos até obterem o crescimento idêntico ao que ali existia e ficarem de porte semelhante. Recordo sempre que em 1997, quando visitei as obras do futuro Parque das Nações, quando Lisboa estava entusiasmada na edificação da Expo 98, no imenso estaleiro era possível observar as palmeiras, já plantadas e de enorme estatura. Para emendar o erro da Praça (não tem outro nome) e para sossegar a população, aconselho o mesmo procedimento: plantar já as novas árvores - permitindo o seu enquadramento definitivo e a possibilidade de antecipar a tonalidade verde para o centro, conferindo à zona todas as vantagens inerentes de uma plantação digna de referencia e de visita.   
Alguns comerciantes da cidade, sobretudo bares, durante o tempo de confinamento, procuraram antecipar receitas, vendendo por antecipação um crédito futuro. Com seguro e com apoio de marcas nacionais, estes comerciantes fidelizaram clientes e conseguiram obter alguma liquidez para o futuro. A solidariedade dos clientes será importante para o negócio, no imediato. O cativar será importante no curto prazo, para assegurar a sobrevivência empresarial. No entanto, só com o esforço dos clientes, com a sua capacidade em dispor de dinheiro para o comércio, é que haverá possibilidade de prosperar o negócio. É de louvar a dinâmica empresarial e esperar que os clientes ajudem. 
Não são só os comerciantes que precisam de apoio. Os diversos serviços e mesmo as associações desportivas locais estão a precisar de recuperar os seus indefetíveis e não só. Neste sentido, com as modalidades de pavilhão, piscinas e ginásios encerrados, com permissões para utilizar campos ao ar livre, existe a possibilidade de voltar a praticar desportos coletivos ou até individuais, como o ténis. Com a demais população a precisar de exercitar-se, para além da corrida ou caminhada individual, a possibilidade de competir é sempre atrativa. O aluguer de campos, ou mesmo pacotes de aulas de reciclagem, para diversas idades são soluções a precisar de serem postas em prática, pelas associações para disponibilizarem serviços adaptados a estes novos tempos e promoverem a boa forma física dos habitantes da cidade.
Existe todo o interesse, em cumprindo as normas da Direção Geral de Saúde, voltar à normalidade, aproveitando para recuperar o pulsar da cidade, apoiando os empresários instalados na cidade e as associações desportivas, numa ótica de cooperação, que permita recuperar o conceito de comunidade. 

(a publicar no dia 21/05)

terça-feira, maio 12, 2020

Recuperação, reconversão e regeneração


Os dados disponíveis, no dia 11 de Maio, indicam que no mundo a relação entre recuperados e doentes infetados por covid-19 é de sensivelmente 1 para 3. Em Portugal, apesar do número de recuperados estar a subir, a mesma relação é de 1 para 9, ou seja, pouco mais de 3000 recuperados, num total de cerca de 27000 casos. Lendo estes números e sendo conhecido alguns casos que tardam em obter o primeiro teste positivo, pode-se ficar com a sensação que o vírus em Portugal tem uma mutação especial. Esmiunçando os dados por concelho, suportando-me nos indicadores fornecidos pela Câmara Municipal de Ovar, verifica-se que neste concelho num total de 703 casos positivos, apenas 120 doentes ainda não recuperaram. Como se comprovou, o sistema nacional de indexação de dados da Direção Geral de Saúde é extremamente lento, por isso, factos positivos tardam em ser notícia e de acordo com os dados publicados no dia em que escrevo, 12 à tarde, em que o número de recuperado relativamente ao dia anterior foi superior ao número de infetados, não tardará muito para Portugal obter uma taxa de recuperados mais simpática, próxima da proporção mundial.
Há vinte anos, na viragem do milénio, o sector produtivo Português deixou de ser competitivo à escala global. Seguindo a tendência europeia, demasiadas indústrias foram deslocadas para o oriente asiático e os seus trabalhadores colocados numa situação de desemprego. Para muitos, com uma infância interrompida, sem possibilidades de continuar os estudos e colocados em tenra idade em fábricas, para ficarem com uma qualificação técnica, a única solução foi a reconversão profissional. Apesar de lógico, a mudança de profissão, nem sempre correu bem, trouxe precaridade, baixos salários e empregos pouco qualificados, que permitiram "atravessar" as sucessivas crises até ao presente ano. Nestes dias de pandemia, a economia de proximidade tende a suceder à globalização, pelo menos com consequências imediatas em termos de saúde pública, com o uso generalizado de máscaras pela população em espaços públicos. Oportunidade para as proscritas da globalização, aquelas que aprenderam a costurar ainda em tenra idade, aquelas que preservaram a sua máquina de costura. Agora com dois elásticos, um arame, um filtro e dois pedaços de algodão podem fabricar máscaras homologadas e proteger a demais população. Sem dificuldade, podem produzir mais de 200 máscaras por dia e atendendo ao facto de serem laváveis e reutilizáveis consegue-se escoar uma unidade produzida por 2,5 euros, no mínimo. Ironia destes tempos.
O último erre, o último paragrafo, para a referência às obras de regeneração da Praça Luís Ribeiro. Empreitada iniciada, em tempos de calamidade. Estruturas metálicas retiradas, árvores cortadas (seria mesmo necessário?), máquinas em movimento. Parece não haver contestação. Pelo menos não tive conhecimento. A amplitude conquistada transporta-nos para o passado e para outras latitudes. Apetecia-me escrever: não mexam mais. Tapem buracos, nivelem o piso, padronizem a calçada e não façam mais nada. Só que há um projeto e a obra tem que respeitar a vontade do autor. Ou autores, já não me lembro. Lamento que o anterior projeto não tivesse sido implementado. O lado poente da Praça com trânsito no sentido, único sul-norte, entrando pela Rua do Visconde e seguindo para a Rua Oliveira Júnior, era voltar ao original. Sem pecado, com perdão, por trinta e cinco anos de erro. Uma zona pedonal foi uma novidade urbana que a cidade absorveu. O seu posterior alargamento provou-se uma tentativa desesperada, com pouco significado, nem enquadramento comercial, nem funcionalidade para a população. Houve arruamentos que perderam utilidade, restando-lhes o parqueamento, desordenado. É certo que se cedeu ao automóvel, o estacionamento na frente dos Paços da Cultura é confrangedor. No entanto, entre parar e passar, há uma pequena diferença, que poderia ter sido suportada na Praça Luís Ribeiro, isolando o Parque América dos restantes edifícios. Para já a obra arrancou. Ainda falta muito para tudo terminar. 

(a publicar no dia 14/05)

terça-feira, maio 05, 2020

Desconfinamento gradual


Por estes dias o assunto principal ainda é a saúde pública. Apesar do número diário de casos positivos de covid-19 em Portugal ser perto das duas centenas e do número de mortes rondar a dezena e meia, valores semelhantes aos dos dias finais do mês de março, existe uma sensação global de melhoria.
A comparação com os indicadores do país vizinho ajuda a manter a confiança na resposta do Serviço Nacional de Saúde, quer através do profissionalismo de médicos, enfermeiros e pessoal auxiliar, quer pela capacidade de internamento, quer pela gestão de meios, como demonstrado pela capacidade de criação de hospitais de retaguarda, seja de reserva ou de campanha. 
Sendo lamentável qualquer morte, só no mês de abril falecerem 800 pessoas por covid-19, é com expetativa que se observa o retomar das atividades profissionais.
Com o uso generalizado de máscaras em estabelecimentos industriais, comerciais e transportes públicos, poderá ser possível diminuir o contágio nos próximos dias. É certo, pela experiência vivida nos sucessivos Estados de emergência, que só será possível verificar os efeitos deste desconfinamento daqui a três ou quatro semanas (pelo somatório do tempo de contágio mais tempo de aumento de carga viral, consequentes sintomas e marcação teste e finalizando pela obtenção do resultado).
Há um risco calculado, distante da imunidade de grupo, que espera-se não traga graves consequências.
Por estes dias as cidades ganham alguma vida.
Há mais movimento de automóveis. Lisboa teve filas em hora de ponta. O acesso à A4, no nó da A3 para o túnel de Águas Santas, voltou a ser referência nos programas radiofónicos, pelo trânsito condicionado. Os postos de abastecimento de combustíveis voltaram a ter clientes. Tudo ainda longe do habitual e apesar do preço inflacionado (literalmente) pela carga fiscal. Os transportes públicos recuperam clientes. O Metro do Porto aumentou a cadência das suas composições, para evitar congestionamento nas composições. A CP espera ter terminado o tempo de transportar ferro e passar a receber clientes. Os autocarros da Transdev seguem para o Porto com horário especial, com os passageiros afastados uns dos outros. Os voos internos Porto – Lisboa começam a ser anunciados.
Se no Estado de Emergência surgiram alterações nas atividades abertas ao público, como os acrílicos ao balcão, colaboradores a desinfetar carros e expositores, gel desinfetante e luvas oferecidas aos clientes, havendo igualmente profissionais adaptadas a porteiros de hipermercados, já para não falar na conversão de restaurantes em take-away ou mesmo nos sistemas de entregas ao domicílio, atividade recrutadora ou de reconversão profissional, veremos o que trarão estes tempos de calamidade.
Para já impera o uso de máscara. O acesso condicionado passou a ser anunciado no pequeno comércio. Os clientes ficam à porta à espera de vez. Com máscara na cara, mesmo no exterior do estabelecimento. As expressões faciais ficam reduzidas aos movimentos de olhos e sobrancelhas. A abertura deste comércio trouxe pessoas para as ruas da cidade, longe dos centros comerciais, que ainda estão encerrados. 
Ao longo de maio outras atividades reabrirão. Lojas de maior área, trazendo mais pessoas para as cidades. Anunciam-se as aulas presenciais para os alunos do 11º e 12º ano. Os bares e restaurantes poderão abrir, com lotações inferiores. No último fim de semana do presente mês, poderá voltar a jogar-se futebol. Embora, a época desportiva para as coletividades do concelho tenha terminado, com o consequente prejuízo da atividade física de jovens e dos restantes habitantes, deixando um vazio difícil de preencher no seu dia-a-dia. 
Ainda no final de maio serão retomadas as atividades religiosas, caso assim o entendam as demais confissões.
Tudo isto é vivido com enorme expetativa. Ficando-se aguardar o regresso das atividades culturais, não apenas os cinemas, teatros mas também, os concertos, as danças e as demais expressões artísticas que precisam da presença de público para se sentirem realizados.  
Depois de semanas a viver confinados, o desconfinamento é um momento de esperança. No entanto, a saúde pública continuará a comandar a sociedade, por isso, as atividades humanas ficarão sempre condicionadas, com consequências para os vários indicadores económicos.     

(publicado no dia 7 de Maio)

quinta-feira, abril 30, 2020

As lições de Abril

No inicio do mês de abril, a Câmara Municipal de São João da Madeira anunciou o seu apoio à imprensa local, através da colocação de publicidade institucional. Com esta medida, uma ajuda preciosa para o equilíbrio financeiro dos jornais, o município possibilitou o acesso à informação da população, leitores de jornais, quer sejam assinantes ou compradores avulsos através de quiosques.
A edição de jornais, neste momento de confinamento generalizado, é a principal demonstração de comunidade, superando as redes socias, pela compilação de factos verosímeis e pelo esforço das redações em procurar diversificar as notícias, apesar do monotonia temática ao percorrer as mais variadas páginas de cada edição.
Ao apoiar a imprensa, o executivo municipal demostrou uma grande capacidade democrática, conferindo oportunidade para todas as forças políticas divulgarem os seus comunicados, ou expressarem o seu programa, colocando-se no papel de oposição, divergindo do executivo naquilo que entendem e anunciando medidas que consideram mais pertinentes.
Do mesmo modo, ao permitir a publicação de artigos de opinião, expressando os pontos de vista de cada articulista, ou colaborador, existe a demonstração de uma outra forma de abertura democrática, o pluralismo da sociedade. A divulgação de perspetivas não propriamente partidárias é um contributo democrático. A quebra de unanimidade também, por que permite ao leitor apreciar diferentes opiniões e muitas vezes recebe informação inédita, o que enriquece o conteúdo do jornal publicado, permitindo um debate, que poderá ser esclarecedor e benéfico para o leitor.
É de enaltecer uma medida indireta de apoio à liberdade de expressão e ao pluralismo, numa semana em que se comemorou o 25 de Abril. Esta é, por ventura, a melhor consumação do "espírito de Abril", que muitos não querem entender e procuram minimizar o conceito de Liberdade, agarrando-se à perspetiva partidária, com a qual mais se identificam.
Não só de palavras, de ideias e de canções vive uma democracia. 
Neste vasto conceito, há ações que permitem e ajudam a definir quem as pratica. 
Concretizando, o que acabo de escrever, numa conjetura adversa, com os vereadores da oposição a pedirem a diminuição da taxa de disponibilidade, com pelo menos um membro do Partido Socialista a integrar uma plataforma que reivindica a revisão dos preço da água, com vários articulistas – alguns simpatizantes do Partido Socialista - a insistirem no tema, juntando-se aos demais, o Presidente da Câmara Municipal de São João da Madeira apresentou os resultados do exercício da empresa municipal Águas de São João. 
Esta medida de transparência, enobrecedora da gestão do autarca, acarreta um problema. O lucro apresentado em 2019, mesmo sem divisão pelos acionistas, dá razão a quem defende a redução da taxa de disponibilidade. Com a empresa de capitais mistos sem problemas de tesouraria, para não se repetir um obsceno exercício em 2020, é imperativo salvaguardar o interesse público, ou seja, dos munícipes e cobrar menos valor durante o presente ano. 
Redução ou eliminação?
Atendendo a que quem redigiu o contrato para a constituição da empresa Águas de São João, a gestão autarquica do PSD, é hoje defensor da revisão do mesmo, não tendo qualquer dificuldade em entrar em contradição com o seu passado, é um momento para aproveitar para eliminar a taxa de disponibilidade. 
Existem elementos geográficos, como a dimensão do concelho de São João da Madeira, quando comparados com outros de muito maior área, que cobram praticamente o mesmo valor, que sustentam o principio da proporcionalidade, o que neste caso equivaleria a cobrar praticamente zero euros.    
Estão reunidas as condições para reverter o preço da água.
Existe capital político associado a esta medida. 
Estou convencido será aproveitado. 
     
(a publicar no dia 29/04/20)

quinta-feira, abril 23, 2020

Uma real ajuda aos afetados pela covid-19



A covid-19, pelo números de casos surgidos nos concelhos vizinhos, alavancou as respostas das autarquias, conferindo-lhes um mediatismo nacional. 
Durante o último mês, aproveitando essas atenções, muitos autarcas encetaram planos de comunicação, diários, ou desencadearam ações de contingência, muitas vezes avulsas, de forma a minimizar o impacto da propagação da covid-19, ou para oferecer soluções para o Ministério de Saúde.
Obviamente que quem fala todos os dias, numa situação inédita e de difícil controlo, muito rapidamente entra em contradição, ou expõe-se ao sensacionalismo (ver comunicação de óbito de jovem 14 anos no concelho de Ovar, por parte de autarca, quando a autópsia não tinha sido efetuada) ou ao erro, como demonstrou o jornal labor, na edição da semana passada, com a capacidade real de testes instalada no Europarque, bem distante da anunciada.
Sendo certo que houve boa fé nas ações dos autarcas, parece ter existido algum excesso de boa vontade, dando como exemplo, a multiplicação de hospitais de campanha, em concelhos próximos, que felizmente até ao momento não têm sido necessários, por a capacidade de internamento dos hospitais ainda estar longe de ser preenchida. É certo que este trabalho efetuado é preventivo, no entanto, surgem notícias de outra soluções, como por exemplo no concelho da Maia, com a requisição de unidade hoteleira, que confere uma maior dignidade à população afetada.         
Penso que o esforço efetuado até ao momento deve ser continuado nos próximos meses. Com ações concretas de sensibilização da população para o uso de máscara, ou viseira. Com apoio domiciliário a quem ficar infetado ou a quem estiver impedido de sair à rua, por pertencer a grupo de risco ou estiver de quarentena (devendo esse apoio dimensionar a possibilidade de entregar refeições ou de compras) e claro com apoios concretos à totalidade da população, traduzindo-se isto na redução de taxas cobradas pelas autarquias, no fornecimento de água aos seus clientes.
Não querendo escalpelizar a totalidade de autarquias que já anunciou tal medida, é importante seguir com o exemplo de autarquias próximas, ou mesmo vizinhas, como é o caso de Oliveira de Azeméis. Esta semana, esta autarquia anunciou a redução da taxa de saneamento na fatura da água fornecida aos seus munícipes. Uma medida simples, para fazer face às dificuldades que a população daquele concelho vai viver nos próximos meses e que permitirá que um bem essencial seja consumido com menor custo. 
Quem, como eu, tem defendido igual medida em São João da Madeira, com a redução da taxa de disponibilidade, não pode deixar de aplaudir, a medida tomada pelo autarca socialista do concelho vizinho. 
Com os comerciantes com as suas lojas fechadas, sem faturação, muitos deles sem consumo de água, fará sentido pagar taxa de disponibilidade e de saneamento?
Com o aumento do desemprego, segundo os dados anunciados na imprensa, 500 temporários foram dispensados e com o transversal layoff haverá muito munícipe com perdas de rendimento no final do mês de Abril, como tal, repito a pergunta anterior, fará sentido pagar taxa de disponibilidade e de saneamento?
Com várias empresas com dificuldade em conseguir encomendas, algumas a produzir parcialmente, outras encerradas por layoff, fará sentido pagar a taxa de disponibilidade e de saneamento?
Cabe ao Presidente da Câmara Municipal de São João da Madeira ponderar a decisão e como acionista maioritário da empresa Águas de São João, executar a medida que considerar mais correta: ou apoia efetivamente a população local ou prefere distribuir os lucros, no final do ano, com o parceiro privado?     
Se este exercício é válido para a distribuição de água, que ficaria apenas com cobrança do consumo e com a taxa de resíduos sólidos, o que dizer do fornecimento de eletricidade e do pagamento de potência contratada (mais relevante do que o valor cobrado de IVA)?
Haja coragem para reverter estes excessos.
Nota: das 5 questões formuladas, apenas 4 têm resposta local. A quinta terá outro palco.      

(publicando em 23/04/20)

segunda-feira, abril 20, 2020

Números na pandemia

No passado fim de semana ficou visível, por todo o país, a diferença entre os valores apresentados do número de casos de infeção de covid-19. Por um lado, os valores registados pelos Delegados de Saúde locais e por outro o boletim epidemiológico da Direção Geral de Saúde, ambos com atualização diária. Salvaguardando-se estes últimos com a referência que apenas reportam 78 a 79% dos casos.
Caso semelhante havia acontecido há umas semanas atrás, no concelho do Porto, com a Direção Geral da Saúde a duplicar o número de infetados para este concelho, justificando o erro com contagem dupla, tendo prontamente identificado o problema e retificado o método de contagem.
Desta vez, o diferendo numérico deveu-se à supressão do número de casos apresentados pelas autarquias, que reportavam os dados indicados pelos delegados de saúde concelhios e por indicação da Direção Geral de Saúde passaram a estar indexados ao boletim epidemiológico, atrás referido. Ou seja, ao número de casos apresentados para cada concelho, deve-se fazer um acréscimo de 22%, para termos a noção da realidade.
Esta medida centralizadora permite desconfiança da população, que ao seguir os dados relativos ao seu concelho, verifica de um dia para o outro, a redução do valor e obviamente, passa a duvidar dos dados apresentados. Não me parece que com esta medida, haja vontade em penalizar os Delegados de Saúde Locais, nem colocar em causa a sua competência. 
Há sempre várias formas de apresentar números.
Apesar do lamentável número de óbitos provocados pela pandemia, em Março de 2020 morreu menos gente que em igual período de 2018. Quando foi publicada esta taxa, os jornais sensacionalistas do país não tinham manchete. Os mesmos que às primeiras mortes, não respeitaram privacidade e lutos dos familiares, noticiavam que afinal, apenas 2% dos falecidos de Março tinham sido vítimas da covid-19. O confinamento nacional estava a resultar e esta prática poucas manchetes poderia trazer.
O número de casos suspeitos, no dia em que escrevo, praticamente 140.000 habitantes, nunca pode ser relacionado com o total da população portuguesa. Caso fosse, jamais seria respeitado o confinamento e dificilmente evitar-se-ia a propagação.
É esta lógica, de apresentação de indicadores para condicionar a população, que se enquadra a amputação de valores por parte da Direção Geral de Saúde. O número de casos confirmados em todo o país deverá ser praticamente 21.000 habitantes. Em alguns concelhos com esse diferencial, a percentagem de população infetada será de 1% (por exemplo, Ovar), no entanto, a maioria não se aproxima desse valor. 
É para o quociente entre o número de óbitos e o número de infetados – taxa de letalidade – que devemos atentar. Com o valor do número de infetados amputado, esta taxa situa-se um pouco acima dos 3,1%, um indicador bastante alto, segundo os dados da Organização Mundial de Saúde. Seguindo o somatório do número de casos indicados pelos  delegados de saúde concelhios, a taxa de letalidade diminuía para 2,5%, o que poderia não provocar qualquer reação de quarentena na demais população.
Os testes posteriores a quem acusou positivo ainda estão demorados. Muitas pessoas ainda estão à espera de fazer o primeiro dos dois testes, que caso acusem ambos negativos, lhes confere alta hospitalar. Só assim se explica que o número de recuperados seja tão baixo. Importa relembrar que em Portugal, o primeiro recuperado foi anunciado antes do primeiro óbito, o que provocou alguma irrelevância à pandemia. 
Não é irrelevante a apresentação de dados. Pode-se é escolher vários indicadores e trabalhar os números conforme se pretende, como aqui demonstrei.
Há no entanto dois que por serem reais, merecem toda a atenção: o número de óbitos e o número de doentes com covid-19 em cuidados intensivos (este permite aferir a capacidade de tratamento do Serviço Nacional de Saúde).
Se em Março faleceram 187 pessoas com ou de covid-19, em Abril, ao fim de doze dias, o número de óbitos é de 348 pessoas. Número significativo com grande incidência no distrito de Aveiro e de Braga, o que implicou uma subida de 25%, em comparação com o mesmo período do ano passado, da taxa de mortalidade destes distritos.
Apesar de ser aborrecido, quem tiver possibilidade, deve manter-se em confinamento, evitando as saídas à rua. Para quem continua a ter que trabalhar, não basta desejar boa sorte, é importante saber que vai estar protegido e a respeitar os cuidados de higienização. 

(a publicar no dia 16/04/20)

quarta-feira, abril 08, 2020

Tempo no confinamento


A falta de noção de tempo no confinamento causa desconforto. Não o dia-a-dia, pois o ritmo diário é mantido de acordo com a luz solar e horário das refeições, mesmo com tolerância, obriga a manter uma certa ordem.
A desordem começa quando não se sabe qual o dia da semana, ou o dia do mês. Apesar do esquema diário ser semelhante, é na sucessão de dias idênticos que se sente o tal mal estar. Dias sem sair de casa, dias com a mesma rotina, dias monotemáticos, sempre com a mesma conversa com o mais diverso interlocutor.
Para contrariar a incerteza, recorro à paginação semanal dos colunistas do jornal diário, que avidamente leio. Ao ver cada coluna, sei qual é o dia da semana e assim, tranquilizo-me. 
A alvorada é feita precisamente com o jornal a acompanhar o café matinal e o pão fresco, recolhido minutos antes ao portão (uma das vantagens do confinamento, entregas diárias pela madrugada). Sem pressa, sem preocupações de cumprir horários, sem calcular tempos de transporte, metade do jornal fica lido.
Sem atividade profissional, opto pelo exercício físico, dedicando tempo à malhação. O que começou por ser um concerto de expetoração, oferecido por uns brônquios carregados e uma caixa de ar pouco estimulada, ao fim de uma semana transforma-se numa tosse suave, ou mesmo, apenas e só numa respiração com inspirações e expirações breves. A forma física, sem adjetivo, permite-me intervalar os medicamentos da asma, suavizando a posologia, feito apenas alcançado em dias de verão, em climas claramente quentes e pouco húmidos.
A acompanhar o exercício, para manter a cadência, opto por ouvir música. Oportunidade para escutar vários dos pequenos concertos, oferecidos por uma rádio norte-americana (NPR). Escolho o primeiro, muitas vezes sugerido pela plataforma de partilha e a partir daí fico a aguardar pela escolha seguinte, em modo automático selecionada pelo algoritmo. Desta forma, passei a conhecer uma série de bandas, que não fazia a mínima ideia que existiam e muitas delas, a partilhar com os meus conhecidos, familiares ou amigos.
Entretanto, dou o lugar a outro membro da família: a partilha é um dos segredos do confinamento. Outro, é estar cada um ocupado com as suas tarefas, independentemente das horas despendidas, em diferentes divisões da casa. A reunião familiar, os quatro elementos, faz-se à hora das refeições. As tarefas para esse momento estão previamente definidas, para não haver discussões sobre inércias individuais, ou evidências de preguiça. Momento para falar dos mais variados assuntos, para trocar impressões sobre o evoluir da infeção na região, no país e abordar o quotidiano de cada um: inscrições para exames, trabalhos enviados para professores para os mais novos, tarefas profissionais da cara metade, tarefas domésticas já realizadas ou a programar, ou mesmo, para partilhar as conversas com outros confinados, espalhados pelo país. Tempo até para os inevitáveis conselhos paternais, que surgem sempre nestes momentos.
Depois de almoço, oportunidade para executar aqueles "trabalhos" há muito adiados. Se necessito de mão-de-obra para ajudar tenho que requisitar com antecedência. Terminada a tarefa, oportunidade para colocar a leitura em dia. Se a meteorologia ajudar, umas horas passadas no exterior a fixar vitamina D, é a melhor opção. Caso contrário, a partilha de compartimento, sem incomodar os outros.  
Nesta fase do dia surge a necessidade, por defeito profissional, de controlar indicadores. Escolho um diferente cada dia, para evitar sistematizações e repetições na quinzena: fluxos financeiros, fluídos de abastecimento à casa, tráfego de internet no telemóvel, entre outras verificações. Também é uma boa hora para utilizar os telefones e colocar a conversa em dia com os demais destinatários.
Pelas 18h30m, liga-se a televisão. Procura-se um filme, um episódio de uma série, em site especializado e até ao jantar, com os óculos na cara, atenta-se no programa escolhido. Depois de jantar, um pequeno zapping, até à hora da série do canal 2. Terminada a visualização, escolhe-se outro programa aleatoriamente e por mais meia hora, ou coisa e tal, pois o sono começa a apertar.
A rotina criada é interrompida com a chegada do jornal labor, entregue pelo carteiro, à quinta-feira. Um facto diferente, que ajuda a colocar ordem no dia da semana. 
Curiosamente no domingo passado, o corpo pediu mais descanso e a alvorada foi já tardia. A confirmação humana, mesmo em tempo de confinamento, dos textos sagrados.

terça-feira, março 31, 2020

Até ao confinamento

No inicio de março, optei por enviar para o jornal labor um longo texto, dividido em três partes, cada correspondendo a uma edição semanal, por prever que o mês seria difícil e pouco tempo me restaria para o exercício de escrita. 
Assim foi.  
Apesar de na primeira semana de março estar convalescente, devido a um bloqueio no esófago, obrigando-me a fazer uma endoscopia baixa, que não resolveu o problema e uma alta, definitiva, no bloco de pequenas cirurgias do Hospital de Santo António do Porto, tudo na madrugada de 29 de Fevereiro, consegui ter discernimento para decidir o que publicar nessa semana. Como senti que a aproximação do vírus covid-19 era inevitável, naquele mesmo dia surgiu o primeiro caso em Portugal, com internamento no mesmo hospital, onde horas antes eu tinha feito os tratamentos, fiquei apreensivo, decidindo editar uma breve história da AEJ, nos moldes atrás descritos.
Nos catorze dias seguintes fiquei de alerta aos possíveis sintomas físicos. Recorrendo a uma tabela sintomática ilustrativa, publicada pela Organização Mundial de Saúde, fui avaliando o meu estado, esperando que rapidamente ultrapassasse o período de incubação, sem qualquer complicação. Entretanto, surgiam noticias de testes ao vírus covid-19 positivos nos concelhos de Ovar e de Santa Maria da Feira, com uma grande proximidade ao meu perímetro de residência e de trabalho. Na segunda semana de março, a aproximação foi cada vez maior. A freguesia onde habito passou a ser notícia nacional e a freguesia onde trabalho, faz fronteira com outra freguesia, que se tornou mundialmente famosa, por ser dali oriunda a mãe infetada a fazer o primeiro parto nessa condição. No final dessa semana, estando eu a perfazer a quinzena pós noite no Hospital Santo António, mais confiante portanto, sou informado que a esposa de um colega de trabalho tinha acusado positivo. Apesar do colega ter ficado em isolamento uns dias antes, desde que havia suspeitas de contaminação, o perigo de contágio era agora muito superior. 
A terceira semana de Março foi terrível. Cada dia, mais casos em Portugal, piores notícias vindas de Espanha e de Itália, enfim, do mundo inteiro. Trabalhei a semana toda de máscara, sempre a limpar as mãos, a desinfetar objetos, impondo regras sanitárias aos restantes elementos da equipa de trabalho, evitando o aproximar, o aglomerar, o falar sem máscara. Enquanto isso, no município de Ovar pedia-se uma cerca sanitária e o Estado ficava em emergência. A dupla condição e a confusão gerada, ainda me permitiram atravessar a calamidade, com um certificado da empresa durante dois dias.  Entretanto, apesar dos seus esforços, junto do SNS24, para realizar o teste ao vírus covid-19, apenas ao fim de uma semana, o meu colega conseguiu fazer o exame. Ainda assim, apenas dois dias depois, o resultado foi divulgado – positivo. Ao chegar a casa, no final de sexta-feira à tarde, respondo ao inquérito telefónico do SNS24, apesar de eu não ter sintomas, só tinham passado nove dias desde o último contacto com o infetado, sendo que a partilha de espaço fechado, por mais de quinze minutos, foi condição determinante. Passei a estar referenciado, ficando em isolamento profilático durante cinco dias.
O fim de semana foi penoso. Mantive-me de máscara. Aprendi finalmente a respirar com este equipamento de proteção individual. Lembrei-me da respiração de Carlos Lopes, campeão olímpico, enquanto fazia a maratona: pelo nariz. Deste modo, a boca não seca tanto e não é preciso beber tanta água. Aproveitei o isolamento para a leitura, colocando em dia a leitura diária do Público e dedicando-me à releitura do livro "Os Irmãos Karamazóv" de Fyodor Dostoevsky.
Os restantes dias estive em teletrabalho, sempre confinado ao quarto. Uma experiência curiosa, sem tempos de deslocação: acabar de lavar os dentes, em seguida ligar o portátil e entrar em contacto com os restantes elementos da empresa; o regresso "a casa", em sentido contrário, fechar o portátil e começar a ler, ou fazer outra atividade (aproveitei para visualizar uma série britânica, sobre os adeptos de futebol do Surderland). Sintomas, não tive. Passei a medir a temperatura duas vezes por dia (obtendo valores disparatados como 34,9º ou 35,2º); não tive dores de cabeça, nem de garganta, nem outras complicações (comi com apetite e não perdi o olfato). Apesar de tudo, perdi peso. Teste não fiz. Prioritários por estes dias eram os profissionais de saúde e os doentes com sintomas. Entre estes contavam-se alguns colegas da empresa,  que apesar de terem pequenos sintomas, o teste efetuado revelou estarem limpos do covid-19.
Ao quinto dia tive alta. Apesar disso, como a cerca sanitária de Ovar tinha-se tornado mais seletiva, não pude sair do concelho. Passei do isolamento profilático para o estado de quarentena comunitária. Deixei o quarto, para começar a trabalhar em teletrabalho em qualquer compartimento da casa, podendo fazer as refeições com a restante família.
No final dessa tarde, outro caso do vírus covid-19, provocado por outro foco, colocou a totalidade da empresa em quarentena. Voltei a ficar em isolamento. Desta vez, não me confinei ao quarto. Nem em teletrabalho.
O meu segundo isolamento profilático já terminou. 
Continuo sem sintomas. 
Aprendo a viver em confinamento.
O relato desta experiência ficará para uma próxima edição.

(a publicar no dia 02/04/20)

terça-feira, março 10, 2020

Breve história da AEJ - 3ª parte - nas Corgas

Apresento hoje o último texto sobre a história da AEJ. Se o leitor se recorda, no texto anterior descrevi a dedicada ação da nova direção, com as alterações desencadeadas no clube, demonstrando como esta associação estava dispersa pela cidade.

Apesar da nova dinâmica, a AEJ precisava de concentrar toda a sua atividade nas Corgas. A Câmara Municipal de S. João da Madeira em outubro de 2001 cedeu umas salas disponíveis no complexo desportivo das Corgas, mais a gestão dos courts de ténis. Apesar de realizado o desejo, as eleições autárquicas em dezembro de 2001 elegeram um novo Presidente da Câmara Municipal, o que significou que o processo de mudança para a nova sede demorou um pouco mais.

É neste clima de negociação que se inicia o mandato de Nuno Fernandes. Após vários meses de negociações, a AEJ conseguiu a cedência das instalações atuais, concentrando a sede social, a organização do campo de férias, a secção de xadrez, a de capoeira e a de natação, tudo nas Corgas. Na nova sede, nasceram novas secções – ténis e parapente e estendeu-se o apoio a outras atividades – karting e motociclismo. Com tudo isto, a AEJ passou a ser um clube eclético e reconhecidamente ganhou o estatuto de segunda associação desportiva da cidade.

Os resultados desportivos continuaram a aparecer, sobretudo, nas secções desportivas mais antigas. Com destaque para a natação e o título de Campeão Nacional de Gustavo Costa, treinado por Augusto Macedo. 

Em outubro de 2005, é eleito presidente da AEJ, Artur Barbosa. Pela primeira vez, um sócio não fundador passa a liderar os destinos do clube. Do seu curto mandato, destaque para a aproximação à juventude, com um conceito de animação envolvendo os jovens monitores dos Campo de Férias Estamos Juntos (CFEJ). É neste ano que surge um novo projeto na Natação, com Luís Ferreira a treinar um novo lote de nadadores e onde prontificavam entre outros, Diogo Moreira e Ana Rodrigues.

A mudança de presidente, com a eleição de Pedro Neto, em 2007, permitiu à AEJ ser liderada por um jovem, oriundo dos monitores dos CFEJ. Pedro Neto liderou o clube até 2010. No seu mandato fecharam as atividades de parapente, motociclismo e karting e em contrapartida, o judo esteve em atividade durante o ano de 2008. Um regresso às origens do CFEJ. O judo infelizmente não teve continuidade, essencialmente, porque a atividade estava localizada fora do Complexo Desportivo das Corgas, o que contrariava a essência da AEJ dos últimos anos.

É por estes anos, que o trabalho individual de Ana Rodrigues na Natação começa a sobressair. A Federação Portuguesa de Natação aponta-a para o projeto Olímpico de Londres, para o ano de 2012.

Em 2010, surge um novo capítulo na história da AEJ. António Deville é eleito presidente. Depois de dezanove anos de sucessivas lideranças de sócios fundadores e de mais cinco com direções de antigos participantes em Campos de Férias, surge um sócio, sem aqueles predicados, a comandar os destinos do clube. Condição que se manteve ao longo dos últimos 9 anos.

Os resultados desportivos são igualmente melhorados. Antes de fechar portas, o xadrez chegou a competir durante uma época no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, ou seja, entre as 10 melhores equipas do país. Em 2013, demonstrando a longevidade desta secção, Rodrigo Ribeiro, filho de um dos primeiros xadrezistas do clube sagra-se vice-campeão Nacional de sub-08.

               Embora nem só de destacados resultados desportivos viva um clube, a atividade da secção de ténis, nunca chegou a sobressair no contexto distrital ou nacional da modalidade. Para isso, pode ter contribuído o sucessivo mau estado do piso dos courts municipais e o adiar da resolução e modernização daquelas instalações desportivas.

Relativamente à Natação, destaque para o trabalho de Ana Rodrigues. Em 2010, consegue a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos da Juventude, realizados em Singapura. Dois anos mais tarde, Ana Rodrigues sempre conseguiu o apuramento para os Jogos Olímpicos de Londres – a página dourada do desporto desta Associação. Aliás, da cidade de S. João da Madeira.

Era o culminar do sonho desportivo da AEJ, premeditado nos anos 80 do século passado, ainda no Tanque-piscina da Escola Primária do Parque, por Armando Margalho, enquanto monitor de natação, que traçou um desafio para o desporto de S. João da Madeira: “com o complexo desportivo das Corgas, estavam reunidas condições para um sanjoanense participar nos Jogos Olímpicos”.

Em 2020, esta associação, sob a liderança de Joaquim Fial, procura consolidar o seu projeto desportivo, contando com cinco secções: Natação, Ténis, Triatlo, Surf e Fitness, envolvendo mais de 100 atletas. O CFEJ continua a ser organizado, tendo-se adaptado aos novos tempos, aumentando a sua duração, com maior diversificação de atividades, procurando ser uma solução de confiança, para os pais que pretendem ocupar os seus filhos nas férias escolares.

Novos talentos desportivos, entretanto, despontaram. Um novo nadador, Henrique Silva, está referenciado pela Federação Portuguesa de Natação, treinando regularmente no Centro de Alto Rendimento de Rio Maior, conseguindo obter títulos nacionais.

Novos objetivos serão traçados, novos sonhos se concretizarão.

 

(a publicar no dia 26/03/20)

 

 

Breve história da AEJ - 2ª parte - pela cidade

Na semana passada abordei a história da AEJ no período circunscrito às traseiras da escola do Parque. O artigo terminava com a oficialização do conceito “Estamos Juntos” e pela vontade da AEJ em participar em provas oficiais de basquetebol e de natação.

A inscrição em Campeonatos Nacionais na Federação Portuguesa de Basquetebol não foi realizada atempadamente. Só em 1987 é que a AEJ competiu em termos federados. Nesse ano, além de promover a internacionalização Campo Férias Estamos Juntos (CFEJ), recebendo em S. João da Madeira, um grupo de jovens ingleses, é inaugurado o Complexo Desportivo Municipal das Corgas, com pavilhão e piscina interior de 25 metros. Durante as três épocas seguintes, a AEJ competiria no Campeonato Nacional da 3ª Divisão em Basquetebol e estaria inscrita na Associação de Natação de Aveiro. Durante esse período, já no ano 1988, após um interregno na organização do CFEJ, José Miguel Guerra assume a presidência da AEJ, sendo na sua presidência que é organizado em 1989 o espetáculo “Adeus ao Verão”, com a subida ao palco, montado na Praça Luís Ribeiro, de vários artistas locais.

Em 1990 é extinta a secção de basquetebol. A secção de Natação vê os seus atletas saírem para a Associação Desportiva Sanjoanense e António Pinho, após demissão de José Miguel Guerra, assumindo o cargo de presidente interinamente, procura consolidar o seu trabalho desenvolvido na organização do CFEJ, já no complexo das Corgas, lançando um novo técnico, Luís Ferreira e consequentemente um novo projeto para a secção de Natação e apoia a criação da secção de xadrez.  

É com base no trabalho destas duas secções que a AEJ atravessa a última década do século passado. Com o xadrez a viver em salas emprestadas e a natação a utilizar a piscina para treinos (cada secção reunia os documentos em casa do seu diretor), ressaltavam os resultados desportivos alcançados. Durante estes anos o tronco comum da AEJ era a organização do CFEJ, que abandonou o modelo simplesmente desportivo e passou a proporcionar aos participantes momentos de diversão, adequados aos tempos de férias escolares, tendo sempre como ponto alto, a sua festa final, preparada para ser exibida na Praça Luís Ribeiro, no meio da programação das noites de verão da cidade.

O xadrez arrancou com bons resultados a nível Nacional, como o 2º lugar no Campeonato Nacional feminino de Alzira Silva, logo em 1991, organizado em S. João da Madeira, pela AEJ, que valeu à jogadora a internacionalização, tendo participado nas Olimpíadas da modalidade em Novi Sad (ex-Jugoslávia). Apesar deste resultado, a grande aposta da AEJ passou a ser a partir de 1992, os escalões de formação, com a conquista de vários títulos distritais e tendo-se atingido bons resultados no Campeonato Nacional de Sub-20 por Stephane Silva e Ricardo Pinho. Com base nesses jovens, criou-se uma equipa forte que atingiu o seu máximo ao subir à 2ª Divisão, em 1999, colocando-se entre as 20 melhores equipas do país.

Os resultados da Natação nesta década são essencialmente individuais, com uma sucessão de atletas a conseguirem atingir a marca de campeão nacional, em escalões de tenra idade. Títulos em campeonatos e ótimos resultados nacionais conseguidos por Inês Aleixo, João Bastos, André Bastos, Daniela Azevedo acompanhados por outros atletas fizeram a AEJ aparecer no contexto distrital como um clube de referência e projetar o clube para patamares episódicos de disputa da 3ª Divisão Nacional. A partir de 1992, a AEJ voltou a ser o único clube com secção de Natação em S. João da Madeira, com o regresso ao clube de Augusto Macedo.

Ao longo destes anos desta década de 90, sempre com Lisete Costa a liderar o clube, ainda surgiu uma nova secção de desporto automóvel, para apoio a pilotos locais como Paulo Lima e Pedro Correia.

Na viragem para o novo milénio, Rui Guerra assumiu a presidência da AEJ. O clube passou a ter uma sede social, embora reduzida, alteraram-se os estatutos, criou-se o ficheiro de sócios, realizaram-se Assembleias Gerais duas vezes por ano, mantiveram-se as duas secções desportivas (natação e xadrez), o campo de férias alargou o seu horário para a tarde, diversificando a oferta aos participantes e ainda houve oportunidade para a inscrição da AEJ como associação juvenil, no então denominado, Instituto Português da Juventude. A reorganização do clube, fez a cidade aproximar-se da AEJ, passando esta a ser vista como uma solução para a concretização de projetos desportivos e é assim que surge a secção de capoeira, que passava a treinar na Escola Secundária Dr. Serafim Leite.

 

(a publicar no dia 19/03/20)

 

 

Breve história da AEJ - 1ª parte - à volta do Parque

No dia 27 deste mês será realizada a Assembleia Geral Extraordinária da Associação Estamos Juntos para revisão da totalidade dos seus Estatutos. Oportunidade para dar relembrar aos leitores do jornal labor a história, em modo breve, desta associação.

Dividi os quase quarenta anos, em três textos. Hoje publico a primeira parte, intitulada à volta do Parque. Nas próximas duas semanas serão publicados os textos com as etapas posteriores.

Apesar do ano de fundação da Associação Estamos Juntos ser 1986, a atividade sob designação “Estamos Juntos” começou em julho de 1982. As traseiras da Escola Primária do Parque acolhiam o 1º Campo de Férias, que contou com 65 participantes, de idades compreendidas entre os 4 e os 12 anos. As atividades realizavam-se durante as manhãs dos dias de semana, propondo-se aos participantes o contacto com diversas modalidades desportivas: Natação - aproveitando-se o tanque piscina de 12,5 metros, construído à época naquele espaço; Futebol – atendendo à existência de um ringue em terra batida, com duas balizas no recreio da referida Escola; Voleibol – por existir uma rede da modalidade num outro ringue, igualmente em terra batida; Judo – colocando-se os colchões apropriados no refeitório da referida Escola; Xadrez – com tabuleiros a partilhar o espaço do Judo. Estas atividades tinham como complemento os passeios em grupo pelo Parque Nossa Senhora dos Milagres, no qual o circuito de manutenção era desafiador para as crianças verificarem a sua apetência para exercitar os seus dotes físicos. Esta atividade foi inovadora na ocupação de tempos livres de crianças, em período de férias escolares.

Todas as manhãs, pelas 9 horas, os participantes eram recebidos sempre do mesmo modo. Crianças e monitores davam as mãos fazendo uma grande roda, ouviam de Armando Margalho as novidades do dia, ou as recomendações, conselhos e no final da palestra todos gritavam “Estamos Juntos”, precedida da contagem “1, 2, 3”. Este ritual manteve-se durante os anos que o Campo de Férias Estamos Juntos (CFEJ) se realizou nas traseiras daquela Escola. Cada nova edição trazia uma novidade: uma faixa do CFEJ à passagem para as traseiras da Escola do Parque; os cartazes promocionais distribuídos por S. João da Madeira; uma bandeira do CFEJ, hasteada todas as manhãs, antes da receção na roda; a festa final, noturna, inicialmente com o encerramento dos torneios desportivos e passado uns anos com a atuação dos demais grupos etários, exibindo em palco as suas competências artísticas; o acampamento na Serra da Freita e houve um ano que nos quinze dias de preparação do CFEJ, além de limpar as ervas dos ringues, houve tempo para roçar e montar um campo de basquetebol, com duas tabelas chumbadas, aproveitando-se a experiência acumulada na construção de um pequeno lado, que iniciado em 1982, apenas terminaria em 1987. Um ponto mais para explicar a simbologia dos CFEJ, inicialmente para melhor identificar os participantes, solicitava-se aos pais das crianças uma t-shirt, estampando-se monocromaticamente o logótipo da edição do Campo de Férias. Ainda nesta fase da história do CFEJ, surgiu a oferta dessa t-shirt, primeiro como o símbolo em bicolor e mais tarde com várias cores estampadas e com desenhos mais imaginativos.

A envolvente desportiva do CFEJ iria marcar o inicio de atividade da Associação Estamos Juntos. O aproveitamento do campo de basquetebol, promovendo jogos ao fim de tarde, entre um grupo de antigos atletas federados e a vontade de jogar semanalmente vestindo um equipamento de um clube, fizeram nascer a Associação Estamos Juntos (AEJ). Em agosto de 1986, oficializava-se o conceito Estamos Juntos. O seu primeiro presidente foi Armando Margalho. O grupo informal que organizava o CFEJ, que durante anos se autointitulou de Cooperativa, passava a associação, abrindo-se assim, uma nova etapa no desporto de S. João da Madeira. Ao basquetebol, juntava-se a secção de natação, procurando-se potenciar os melhores alunos da escola de natação municipal, que funcionava até então, claro está, no tanque piscina da Escola do Parque.

 

(a publicar no dia 12/03/20)

 

quarta-feira, março 04, 2020

18 meses

Sensivelmente daqui a ano e meio serão agendadas as eleições autárquicas de 2021. Em final de setembro ou princípio de outubro do próximo ano, conforme o calendário a afixar pelo Governo. Pode parecer uma data distante, mesmo havendo umas eleições Presidenciais no inicio do ano, contudo, já há movimentações partidárias que permitem tecer algumas considerações.

O Partido Socialista tem como objetivo consolidar o resultado obtido em 2017, mantendo o maior número de Câmaras Municipais conquistadas nessas eleições. Por seu lado, o Partido Social Democrata pretende recuperar o que perdeu, meta definida antes das eleições legislativas de 2019. Os restantes partidos, atendendo à expressividade de cada um, ainda não se focaram totalmente no processo.

Na prática, o PS tem um programa já a decorrer – Diálogo Olhos nos Olhos – que consiste na promoção de debate entre elementos do grupo parlamentar, eleitos por cada ciclo eleitoral, com habitantes dessa região. Um itinerário distrital, com periodicidade mensal, que deverá percorrer a totalidade do país, permitindo assim, acertar ideias e slogans para a campanha eleitoral.

Do lado do PSD, a técnica é diferente. Primeiro sugerem-se candidatos, com as concelhias a convidarem, para encabeçar a lista, os seus militantes melhor posicionados para vencerem as eleições. Os convites podem ser endereçados a militantes de outras concelhias, ou recorrer-se a independentes perfeitamente identificados com o partido. A título de exemplo, observe-se a sugestão do nome de Paulo Rangel, atualmente eurodeputado, como candidato à Câmara Municipal do Porto.

Em São João da Madeira o processo não será diferente.

O cenário é novo.

Após 16 anos de executivos de maioria PSD, em 2021 tudo se altera, com o PS a chegar na confortável posição de ter maioria na autarquia. Este conforto proporciona a possibilidade de apropriação da execução do plano de atividades municipal. Ou escrito de outra forma, a procura da execução do programa eleitoral. Ora, nesta matéria, os dezoito meses que faltam para as eleições parecem ser pouco para o atual executivo.   

Tarda o lançamento de obras na Praça Luís Ribeiro, com consequência imediata de causar desconforto aos habitantes, comerciantes e seus clientes (pó e lama durante a execução). Quanto mais tarde terminar, ou mais próximo do ato eleitoral, a assimilação do novo conceito por parte da população poderá não ter o efeito esperado (em 2017, nos meses anteriores às eleições, a retirada do Elemento Arquitetónico da Praça não foi nada pacífica). Por outro lado, não fazer nada é prejudicial, sobretudo, depois de três anos à espera e de tal empreitada ter sido amplamente propagandeada. Para não fazer, já existe o tema da Piscina, o adiamento da gestão elétrica de baixa tensão, entre outras promessas que não serão cumpridas, como a instalação da Casa da Memória.

Ainda há outros temas que podem gerar desconforto, como a política de continuidade na gestão da água, em que a mudança de executivo nada alterou, nem trouxe benefício direto para a população, ou seja, não houve reversão simbólica, nem devolução de rendimentos à população, com a respetiva redução das taxas cobradas na fatura da água.

É neste desequilíbrio que o PSD poderá apostar. Fazendo analogia com a sua história, este partido terá que convidar um candidato com perfil dinâmico, conhecido no concelho, com uma visão clara para a cidade. Atributos que poderão agradar aos eleitores e alterar o sentido de voto daqueles 1700 que em 2017 votaram no PS e que nas intercalares de 2016, tinham votado na coligação PSD/CDS.

Por tudo isto, em 2021, as eleições autárquicas de São João da Madeira deverão ser extremamente interessantes, se se proporcionarem escolhas partidárias adequadas. No limite poderão desencadear um processo eleitoral sem vencedor anunciado.

 

(a publicar no dia 05/03/20)

quarta-feira, fevereiro 19, 2020

A porta não se fechou

Ao chegar ao número 49 da Rua da Liberdade, deparo-me com a porta, de acesso ao prédio, fechada. Durante vários meses a passagem esteve franqueada, pelo que não era necessário utilizar chave para transpor a entrada do edifício. Enquanto me certifico se ainda tenho a correta, percorre-me uma estranha sensação que um dia o meu acesso por aquela porta ficará condicionado. Coloco a que julgo ser certa na ranhura e sem resistência a fechadura cede. Ao subir a escada até ao segundo andar, continuo a pensar no desconforto sentido e no que será, um dia circular por ali, sem o mesmo objetivo dos últimos anos, aceder à residência dos meus pais.

Nos primeiros anos da década de 1960, o meu pai foi colocado em São João da Madeira, para exercer funções de notário. Inicialmente, instalou-se numa pensão que existiu no lado poente da Rua 11 de Outubro. Anos depois, já com a minha mãe a viver e a lecionar por cá, montaram casa na Rua Dr. Maciel, junto à estação. Por ali, os meus irmãos viveram os seus primeiros anos, até que no final dessa década, a família transferia-se para a morada descrita no paragrafo anterior, na qual a minha mãe ainda hoje reside na sua condição de viúva.

A vida dos meus pais na comunidade sanjoanense manifestou-se pelas mais diversas formas: nas associações (em especial em Associações de Pais, na Santa Casa da Misericórdia, na Associação Cultural Alão de Morais, na Creche Albino Dias Fontes Garcia, na delegação local da Cruz Vermelha); na política (não partidária) – tendo o meu pai exercido mandato como vereador, antes e depois do 25 de Abril de 1974; no discreto apoio à paróquia (com destaque para o serviço gratuito prestado pelo meu pai, que lhe valeu uma forte amizade do Padre Aguiar) e claro (e sobretudo) pelas suas atividades profissionais, com o meu pai como advogado, com escritório próprio e a minha mãe como professora efetiva na Escola Secundária Dr. Serafim Leite e ajudando os alunos que precisavam de apoio no estudo de matemática.

Ainda hoje, a família procura estar inserida na comunidade.

24 anos depois de se ter reformado, a minha mãe continua a apoiar alunos em sua casa. À disciplina de matemática, acrescentou outras matérias, o que lhe permite continuar a adquirir novos conceitos ou a reciclar conhecimentos antigos. Além do ensino, a componente paroquiana também ficou em exclusivo para ela.

Sem os descendentes diretos a trabalhar em São João da Madeira, a tarefa de continuar no escritório de advogados Guerra e Vilela (sociedade entretanto constituída pelo meu pai e sua sócia) está entregue ao neto mais velho.

É no associativismo que existe grande afinidade com a cidade. Em especial, na troca de informação entre irmãos divulgando os resultados da Associação Desportiva Sanjoanense – ao domingo, como sócio, assumo essa transmissão, sobretudo do futebol, não escondendo regozijo com as equipas das outras três modalidades praticadas e também dos feitos da natação. Em comum, entre os três irmãos, o estatuto de sócio fundador da Associação Estamos Juntos, o que implica uma relação por vezes emotiva, outras vezes racional com esta associação. A última destas ponderações, levou-me a mim e ao meu irmão Miguel de volta ao ativo nos órgãos sociais. Os interesses pela vida associativa tornaram-me sócio da Santa Casa da Misericórdia e da Associação Cultural Alão de Morais, uma continuidade curiosa do passado dos meus pais.

A anterior menção ao meu irmão Miguel, permite fazer a ligação à sua residência em São João da Madeira, há quase nove anos, facultando-lhe a possibilidade de ter vida social na cidade.

Por fim a vertente política, ressalvando as aventuras do Partido Humanista que em tempos envolveu o meu irmão Luís, a independência tem sido apanágio familiar. Neste particular, já houve uma aproximação minha ao Partido Socialista em 1997, tendo exercido o mandato de deputado municipal como independente. Apesar de ter participado, desde 2012, em fóruns preparativos das eleições autárquicas, a minha rebeldia (e se calhar algum mau feitio), mantiveram-me longe das listas eleitorais, apesar dos convites endereçados por alguns candidatos.

É certo que esta exposição, através da publicação de artigos de opinião no jornal labor, contraria a discrição familiar. Uma contradição sem prejuízo para a intimidade de cada membro.

A porta ainda não se fechou.

Afinal, são agora várias.

Enquanto estiverem abertas, a retidão pela qual o meu pai era reconhecido terá que ter continuidade.  

 

(a publicar no dia 20/02/20)

 

quarta-feira, fevereiro 12, 2020

Pedro e Nuno

O troço sul da Linha do Vouga está a receber programas turísticos com locomotivas movidas a vapor. Recentemente a CP organizou um comboio entre Aveiro e Macinhata do Vouga, onde está localizado o Museu Ferroviário, estando agendado para breve mais passeios, com composições que são peças desse Museu, ou que estavam abandonadas pelo país e que, entretanto, passaram a ser reparadas e colocadas à disposição destes programas para os apaixonados dos comboios antigos.

As sucessivas reportagens na comunicação social sobre esta atração turística permitem verificar o seu sucesso e possibilitam ao promotor alargar os programas de oferta. Naturalmente, a Câmara Municipal de Águeda já dimensionou a oportunidade em termos de turismo e pretende ser parceiro ativo da CP, esperando receber mais visitantes no concelho.

Se o destino do troço Sul do Vouguinha está traçado e o seu futuro por agora parece estar assegurado, o que poderá acontecer ao troço Norte, entre Espinho e Oliveira de Azeméis?

Antes de avançar, recordo aos leitores menos familiarizados com esta Linha, que o troço a sul do concelho vizinho está encerrado, devido ao seu estado degradado. Ou seja, de Oliveira de Azeméis até Sernada do Vouga não circulam comboios. Recordo, igualmente, que o traçado original seguia desta última estação até Viseu, estando este troço fechado desde o final do século XX. Refira-se o pormenor geográfico, deste traçado ser paralelo ao rio que dá o nome à linha, ora circulando o comboio pela sua margem esquerda, transpondo o rio por belas pontes, para circular na margem direita, incutindo ao projeto original um enquadramento natural digno de visita e registo.

Ao longo dos anos muitas foram as hipóteses de transformação do troço Norte da linha do Vouga. Corredor para ligação ao metro do Porto (à semelhança da linha da Póvoa); alargamento da bitola para circularem outras composições mais modernas e mais rápidas; introdução de um sistema de vai e vem apenas na cidade de São João da Madeira. Tudo pressupostos de acordo com o momento vivido pelo país, no desenvolvimento de soluções de transportes públicos, ou pensando-se apenas numa localidade.

Nos últimos anos prevaleceu uma nova solução, provavelmente a melhor, ligar a Linha do Vouga à Linha do Norte em Espinho. Ou seja, permitir que as cidades de Oliveira de Azeméis, São João da Madeira e Santa Maria da Feira passem a estar ligadas ao Porto por ferrovia direta. Neste sentido, surgiu a ideia de as ligar a S. Bento, à semelhança do que existe com os comboios que saem da estação portuense e seguem para Braga, Guimarães e Marco de Canaveses.

Um novo itinerário na Grande Área Metropolitana do Porto, criando soluções ferroviárias para os concelhos a sul do Douro, completando a larga oferta rodoviária e promovendo a coesão territorial. Em termos de transportes coletivos, atendendo ao novo modelo de passes, incentivado pelo Governo do Partido Socialista, surge uma oportunidade para deslocações de esta zona para a cidade do Porto e vice-versa. Recordo que os 40 euros de custo mensal de passe / andante permitem circular através dos transportadores aderentes por toda a Área Metropolitana do Porto, incluindo o Metro do Porto, a CP, os SCTP e alguns privados, onde se inclui a Transdev. Neste sentido, um comboio, mesmo com velocidade média (80KM/h) permitirá percorrer os quilómetros que separam estes concelhos da cidade do Porto, num tempo razoável, evitando-se as filas de automóveis na entrada e saída da grande cidade, além das despesas inerente de combustível, portagens e estacionamento para quem não o tiver gratuito. Mesmo para quem já opta pelo autocarro, o comboio pode ser mais vantajoso: em tempo, de São João da Madeira a Santa Maria da Feira o autocarro tem que parar nove vezes, caso haja passageiros interessados em entrar ou sair do autocarro nos locais apropriados; em lugares para passageiros, o autocarro normal tem capacidade para 50 lugares, havendo horários em que seguem dois autocarros seguidos para fazer face à procura, ficando ambos lotados à entrada para a autoestrada A1. Como se pode ver, as vantagens não se limitam à descarbonização da área metropolitana, embora não se deva descurar essa vertente.

No Plano de Investimentos Ferroviários 2016-2020, a Linha do Vouga não foi contemplada. Apesar da sua baixa execução (11%), está a ser preparado um novo plano para a próxima década. O Programa Nacional de Investimentos 2030 está em discussão pública. As primeiras referências na comunicação social nada adiantavam se a Linha do Vouga estava envolvida nessa discussão.

Por curiosidade fui espreitar o Programa e os seus projetos.

117 páginas no total.

Nos projetos da Ferrovia, que importa aqui focar, estão contemplados 75 milhões de Euros para a requalificação do troço Espinho – Oliveira de Azeméis da Linha do Vouga, a realizar-se entre 2021 e 2025. Analisando melhor a ficha de investimento, afinal a requalificação é mais ambiciosa, já que inclui a construção de ponto de amarração à linha do Norte. O objetivo deste investimento será “aumentar a quota de mercado da via-férrea, permitindo serviços suburbanos diretamente à cidade de Oliveira de Azeméis”.

Caso este investimento público seja concretizado nos próximos anos, Pedro Nuno Santos ficará na história como o ministro que permitiu a requalificação da Linha do Vouga, depois de décadas ao abandono. Neste processo não pode ficar esquecido Nuno Freitas, presidente da CP, que com pouco tempo de mandato tem alterado a forma de gestão da empresa pública, com sinais muito positivos, sobretudo na reabilitação de recursos, na qual se insere perfeitamente a linha do Vouga.