quarta-feira, setembro 28, 2016

"Setubro" ou "Outembro"?

A disputa partidária, em torno da reabertura da urgência no hospital de S. João da Madeira, não permitiu o melhor esclarecimento à população local.

               Compreende-se o regozijo de quem defende o Serviço Nacional de Saúde, por se ter obtido uma valência que imprime um carater de maior proximidade à população, após meses de luta, incluindo a organização de petição, que poderá ter culminado com a reversão do anterior acordo entre o Estado e a Santa Casa da Misericórdia de S. João da Madeira (SCM).

Sendo certo que existe uma data prevista para o Hospital albergar de novo o serviço de urgência, aberto 24 horas por dia, será necessário perguntar se este desfecho é suficiente para melhorar a oferta de cuidados de saúde da população de S. João da Madeira?

               Há um exercício imediato que devia ser feito, comparar o que está previsto ficar disponível em Janeiro de 2017, com o acordo revertido com a SCM, que deveria ter entrado em vigor no princípio deste ano. O jornal labor, por ocasião da divulgação das intenções Ministeriais, publicou a comparação do atual estado do Hospital com os ganhos associados, tendo-o efetuado de forma factual.

Atendendo à recente divulgação do decreto de lei no mês de Agosto, seria um trabalho jornalístico consequente fazer a publicação da referida comparação, para permitir aos leitores tirar as devidas conclusões. A sugestão não pretende ser uma interferência na linha editorial do labor. Sendo estes artigos, apenas de opinião, ser eu próprio a divulgar esse estudo, seria maior a ingerência. Além disso, já manifestei anteriormente a defesa da entrega da gestão do hospital de S. João da Madeira à SCM, pela sua história na criação do mesmo e pela competência que tem demonstrado ao longo dos vários anos na gestão das suas valências, muitas delas em parceria com o Estado Português. Por isso, ser eu a dinamizar a comparação, ficaria sempre a ideia de que não seria isento, independentemente do resultado obtido.

Antes de avançar, recordo que o acordo com a SCM, mantinha o Hospital no Serviço Nacional de Saúde, com a gestão a ser assegurada pela entidade sanjoanense, à semelhança de outros acordos que o Estado fez com a União das Misericórdias.

Dentro do princípio da incerteza da data para abertura das urgências, surgiu o anúncio de obras no Hospital para acolher a nova valência. Mesmo os mais otimistas ficaram receosos, prevendo um adiamento para data dúbia – o título deste texto pretende exemplificar isso mesmo.

Espera-se um cumprimento do prazo e que a população da cidade e dos arredores possa rapidamente ver melhorada o seu acesso aos cuidados hospitalares.

Os acontecimentos do último ano na maioria dos Hospitais nacionais, com tempos de espera híper elevados e sem camas para internar doentes, terão pesado de que maneira para a reabilitação da rede de urgência nacional.

É importante, contudo, deixar um alerta.

Mais do que motivos partidários, o que levou no passado ao encerramento das urgências em S. João da Madeira, foram as estatísticas da adesão de utentes aos serviços. A reduzida frequência da população durante o período noturno, culminou com o seu fecho. Para evitar um desfecho idêntico no futuro é imprescindível informar a população da abertura da urgência, evitando-se a procura do Hospital S. Sebastião como primeiro acesso ao atendimento público. Do mesmo modo, dispersar durante o dia, a urgência por Centros de Saúde, dará um mau resultado estatístico, com consequências imprevisíveis dentro da dinâmica do Centro Hospitalar do Entre Douro e Vouga.

Estou convicto que o verdadeiro balanço sobre o estado do Hospital será feito em Janeiro de 2018. Confiando que à época, a vida hospitalar não se resumirá a um ou dois pisos ocupados e a uma urgência com pouca frequência. Se assim acontecer, de pouco serviu a reversão.

 

(a publicar no dia 29/10/16)

quarta-feira, setembro 21, 2016

O fim do verão

                A época estival, marcadamente quente e seca, está a terminar.

O bom clima e os fogos florestais, relativamente distantes, permitiram à piscina municipal de S. João da Madeira acolher um número considerável de visitantes, durante os últimos três meses. O novo mini parque aquático, consequência de investimento autárquico, incrementou a condição de espaço de lazer da piscina pública, todavia continuando a diferencia-la dos equipamentos semelhantes da região.

Por outro lado, as condições climatéricas permitiram uma boa adesão de público aos eventos organizados no centro da cidade - com a Câmara Municipal a assumir um maior protagonismo.

A animação em Junho, com a ocupação do Jardim, obedeceu à lógica partilhada de organização conjunta entre a autarquia e as várias associações locais. Uma prática comum, durante os meses mais frios em inúmeros acontecimentos, que tem o seu apogeu na instalação das barraquinhas associativas, pelo jardim fora, nos derradeiros dias da Primavera.

Para os meses de verão, a Câmara Municipal arriscou regressar sozinha à animação da Praça. Com festas temáticas, trazendo para o efeito grupos musicais, com boa capacidade de puxar o público para a dança, tal o ritmo rápido que imprimem aos seus concertos.  

De realçar o risco, ao promover eventos no último fim-de-semana de Julho e mesmo durante o mês de Agosto, em plena época de debandada dos habitantes locais para zonas balneares. Pelos relatos da imprensa, acompanhados de fotografias demonstrativas, permitiu verificar-se a boa participação da população.

Pode-se fazer a analogia com a conclusão do segundo parágrafo deste texto, ajudando o leitor a perceber melhor a referência à piscina municipal: com produtos diferenciadores há público, logo a população permanece em S. João da Madeira, recebendo alguns forasteiros e em alguns espaços municipais pode-se ter enchentes, beneficiando com isso a cidade, os seus moradores e os agentes económicos das zonas envolvidas.

Não posso deixar de abrir um parêntesis para referir a capacidade de mobilização que a Festa Salsices Antigas imprimiu ao contexto local. Sendo certo que tenho que salvaguardar a minha declaração de interesses, por ter sido membro da organização da mesma, apenas para prestar homenagem a um malogrado amigo, não tendo qualquer interesse comercial com o evento. Independentemente de toda e qualquer interpretação que possa ser atribuída ao que vou de seguida escrever, o facto de o bar “Pé de Salsa” e a rua terem ficado repletos, inclusivamente beneficiando o negócio dos vizinhos, prova que é possível aos empresários captaram clientes.

Perante estes factos, existem quatro possibilidades para a autarquia promover a animação para as próximas estações, caraterizadas por eventos em locais protegidos do frio e sobretudo, da chuva. Ou continua a suportar-se nas Associações locais, esperando que o voluntariado seja capaz de agregar público em torno dos eventos. Ou permite que as Associações assumam a sua capacidade organizativa e demonstradora de magnetismo social, como é o caso do evento “Party Sleep Repeat”, promovido pela Associação Cultural Luís Lima. Ou assume o mesmo risco, como no verão e especialmente, na Poesia à Mesa, de continuar sozinha a promover os eventos. Ou, finalmente, permite a entrada em cena de agentes privados, numa parceria alargada visando o benefício da população da cidade.

Explicando melhor este último ponto. A parceria não deve resultar unicamente no aluguer de instalações, pode e deve ser inovadora e diferenciadora, pela introdução de novos conceitos, de novas dinâmicas, que poderiam dar bons resultados para o futuro, despertando essencialmente o interesse de outros agentes, em particular, culturais e com isto trazer mais-valias para o concelho, aproveitando as infra-estruturas que existem na cidade, criando-se uma forte agenda cultural, sem estar dependente do orçamento da autarquia.     

O Outono começa hoje.

 

(a publicar no dia 22/09/16)

quarta-feira, setembro 07, 2016

Salsices Antigas nos 30 anos do Pé de Salsa

                A penúltima transformação urbanística de S. João da Madeira ocorreu em 1986, com a criação da Zona Pedonal, na Praça Luís Ribeiro e ruas adjacentes.
                (a última está a decorrer na recuperação das instalações da antiga EIC e Oliva)
                Numa dessas ruas, mais precisamente na Padre Oliveira, surgiu um estabelecimento comercial que viria a alterar o conceito de diversão no centro da cidade, concretamente o Pé de Salsa bar, inaugurado a 9 de Setembro do ano atrás mencionado.
                Num espaço inicialmente destinado à instalação de uma casa de máquinas, o bar introduziu novidades no quotidiano local: as cadeiras de lona tipo cineasta, a pouca luz amarelada, a cerveja servida em canecas de cerâmica branca, as bases em cortiça para suportar os copos de vidro, o serviço de chá e as fatias de bolo caseiro a acompanhar, o tabuleiro de xadrez e música, a dar ambiente sonoro às conversas dos clientes. Pela época, eu ia entrando timidamente por lá e foram estas as recordações que ficaram. Lembro-me da lista telefónica registada num armário e de um horário mais noturno e só menciono isto, por ter ali passado um sábado à tarde, a ajudar um amigo a pendurar os seus quadros, com a grade, que funcionava como portão de acesso, fechada e sem mais ninguém dentro no bar.
Havia naquele ambiente de novidade um transportar para outras paisagens: atrás do balcão eram pendurados os bilhetes de concertos, visionados por algum dos clientes, ou mesmo pelos sócios do espaço, Pedro Marreiros e Hélder Cardoso. Prática comum em bares existentes no Algarve, geridos por estrangeiros residentes em Portugal. No meio daqueles ingressos estavam colocados os de acesso ao futebol, não havendo por ali espaço para desconsiderações intelectuais.
Quando a minha timidez foi vencida, no que fui ajudado pelas afinidades musicais com os outros clientes, mais assíduos, do Pé de Salsa, passei a frequentar mais o espaço, tornando-me igualmente habitual. Assisti a mudanças da sociedade comercial, ao alargamento do horário, à montagem de esplanada, à instalação da máquina de cerveja à pressão, à venda de gelados, à ampliação das instalações, com a aplicação de uns panos pretos provisórios a tapar as partes inacabadas, que foram retirados alguns anos depois, já coçados pelo fumo de cigarros, quando finalmente as obras terminaram. Vi a parte superior da Rua Padre Oliveira completamente cheia, o bar a abarrotar e também ali estive em noites desoladoras. Todos recordamos o primeiro Carnaval, em que não foi necessário ir para a diversão na vizinha Ovar, tal foi a folia vivida no bar sanjoanense, o que se repetiria nos anos seguintes.
O que tornou icónico o Pé de Salsa, fazendo do bar um símbolo dos anos 80 da década passada, foi a interação com os clientes, especialmente promovida pelo Joaquim Carvalho, falecido este ano. Várias eram as noites, em que clientes a certo momento passavam a estar a trabalhar atrás do balcão, ou no serviço de bar, ou a colocar música, ou mesmo a lavar copos à mão, antes de haver máquina apropriada. E o contrário também acontecia: assistir a concertos, a filmes, a jogos de futebol, participar em jantares, passeios, férias, além de outras atividades de grupo, incluía muitas vezes os donos do Pé de Salsa.
Nestes últimos meses assisti ao desfilar das memórias, expressa em homenagem ao Quim, por testemunhos individuais escritos no facebook. Dada a componente multimédia das redes sociais a indexação de músicas foi o fio condutor. Presentes estavam as palavras de gratidão e de reconhecimento da amizade, sobre o grande ser humano que foi o Joaquim Carvalho. Descobri, entretanto, que existem fiéis depositários da receita do molho de cachorro, por ele introduzida nos cardápios sanjoanenses. E lembrei-me que cheguei a exportar para a Bélgica, a ideia de fazer palavras cruzadas, ou atualmente o sudoku, utilizando o fino guardanapo de papel, possibilitando a posterior realização dos passatempos a outros interessados – uma prática de partilha das páginas do jornal, que caraterizava o Pé de Salsa.
Em Janeiro deste ano, no momento solene do funeral do Quim, o reencontro com o Pedro Marreiros deixou-me uma tarefa, de participar na organização dos 30 anos do bar por ele fundado, que serviria também para a respetiva homenagem póstuma. De nada serviria informar o Pedro que já não moro, nem trabalho, em S. João da Madeira. Fiquei com o encargo. Só depois de agendar a data com o bar, logo em Fevereiro, é que me apercebi que não tinha o contacto de nenhum dos restantes organizadores, todos eles residentes fora de S. João da Madeira. Os meses foram passando e em Junho era chegado o momento de arregaçar as mangas. Primeiro procurei os números de telefone dos restantes organizadores. Transmiti o meu plano a quem me tinha encomendado a tarefa, limaram-se arestas, batizou-se o evento e sem esforço e muitas vezes por acaso, encontrei quem tinha delineado envolver nesta organização. Curiosamente, a receção de todos foi fantástica o que facilitou a tarefa.
É pois neste misto de recordação, homenagem, encontro geracional, que se espera uma noite de comemoração, muito divertida, como outrora. Para isso, recriando o ambiente sonoro estarão 5 Djs e serão projetadas imagens com alguns anos.
Haveria mais para fazer?
Talvez haja oportunidade daqui a uns anos.
 
(a publicar no dia 08(09/16)