terça-feira, julho 21, 2020

Página em branco

Ao exercício semanal de escrever uma crónica ponderei algumas vezes seguir João César Monteiro, modificando a cor das letras em certas sílabas ou palavras por inteiro, colocando-as a branco, assim com letras a branco. Ou seguir a tendência de James Joyce e introduzir sonoridade monocórdica em algumas palavras, esticar com brrrrrio. Já para não referir o estilo português sem pontuação de José Saramago ou as palavras interrompidas a mei

com uma frase inteira, esta pequena para exemplificar

o, utilizada por António Lobo Antunes.

- O que é para ti uma página em branco?

Simplesmente respondi, um desafio. Esquecendo os estilos, as sílabas quer ocultas, quer esticadas, ou interrompidas, ou outra manifestação pontual, para atingir o número de carateres necessários para a edição.

Foram anos desafiantes, com superação das minhas lacunas na escrita, contadas as horas passadas em frente ao teclado à espera da inspiração. Para iniciar um texto, para avançar no conteúdo, ou mesmo para rematar uma crónica.

As primeiras impressões vinham dos meus pais. Nem imaginam a emoção que lhes provoquei ao escrever sobre as suas origens, as suas casas maternas: fotografias nas paredes de Pombal e as portas e janelas de Gaia.

Eu recatado e numa assembleia geral:

- Começo por procurar a tua crónica e só depois leio o resto do jornal.

Eu desarmado, não esperando a relevância. Sempre sem saber o que responder.

Na zona desportiva municipal, sem no fundo da piscina a minha sombra:

- O rapaz tem um dom.

Em discurso direto e eu atrapalhado, habituado à indiferença dos amigos, à ausência de leitores no meio fabril, à educada

- Costumo ler-te.

Ou o reencontro

- A ti, ainda te vejo no jornal.

Longe da página de necrologia, respondia eu com humor negro.

Sem mais argumentos e com ausência de contraditório.

Não alimentei polémicas, preferi não comentar as respostas dos partidos do espectro político, sobretudo, da esquerda.

Uma colaboração no labor colada pelos anos, a Hora do Ardina referenciou-me na primeira página, repetindo-se a faceta quando assumi a defesa de uma instituição de São João da Madeira. Optei pela cidadania, em detrimento da independência com proximidade partidária.

Seguiu-se o reconhecimento, os amigos não indiferentes, telefonemas agradecendo menção, deixei de escutar 

- Costumo ler-te.

Nunca mais ouvi

- A ti, ainda te vejo no jornal.

Ainda a mesma atrapalhação pessoal.

Se voltar à piscina municipal, sem no fundo a minha sombra, vou explicar que escolhi escrever para comunicar com todos, para compensar a ausência, por raramente ir de dia à Praça, ou a qualquer café, nem frequentar a piscina, nem sair à noite na cidade, entre outros hábitos comunitários. Um gesto anacrónico, que foi acolhido por simpatia pelos leitores e que me permitiu estar presente na cidade em que nasci, vivendo afastado. Foi apenas isso, um contributo cívico. Nenhum atributo, Luísa.

O desafio desta semana está terminado. Espero que o leitor referenciado, prossiga na leitura do jornal labor com um sorriso nos lábios.

Assim me despeço destas páginas, agradecendo a todos a atenção dispensada, em especial, aos leitores que com os seus comentários me permitiram ter força para escrever e em particular, à direção e demais elementos da redação, pela paciência demonstrada em me editar.

 

(a publicar no dia 23/07/20)

terça-feira, julho 14, 2020

Esperar sentado

A entrevista à RTP3 de Pedro Nuno Santos (dia 08 de julho com Vítor Oliveira) causou algum desconforto no meio político. 
Fiel à sua ideologia, Pedro Nuno anunciou preferir votar em qualquer outro candidato presidencial, que não Marcelo Rebelo de Sousa, mesmo que essa candidatura não fosse protagonizada por qualquer militante do PS, podendo mesmo votar em candidatos oriundos de outra forças políticas de esquerda. O ministro das Infraestruturas e Habitação seguiu a divergência de outros militantes do PS, que, por sua vez, optaram por incentivar uma candidatura de Ana Gomes às eleições presidenciais, como por exemplo, o antigo eurodeputado Francisco Assis. 
Com estas posições plurais, que em nada ofendem, nem beliscam, o mandato do atual Presidente da República, coloca-se a hipótese de se apresentarem a sufrágio várias candidaturas, o que enriquecerá o debate, quebrando a unanimidade em torno do anunciado vencedor, o que permitirá enaltecer o ato eleitoral e o seu resultado.
Obviamente que a entrevista do nosso conterrâneo não se limitou a este assunto. Provavelmente o maior destaque foi o assumir de clivagens com o Primeiro-Ministro, optando o sanjoanense por virar à esquerda, quando o chefe de governo se decidir pela direção oposta. 
Na semana anterior,  se bem se recordam, o destaque da comunicação social nacional havia sido as assumidas divergências de Fernando Medina, em matéria de saúde pública.
Perante este cenário contestatário de dois destacados militantes do PS, as reações não se fizeram esperar. O próprio presidente do partido, Carlos César, em defesa do Primeiro-Ministro, anunciou que este estaria com intenções de governar a médio prazo, pelo que, perante a pergunta na entrevista publicada no dia seguinte no jornal Público, em conjunto com a Rádio Renascença, aconselhou aos dois potenciais candidatos a substitutos de António Costa, a esperarem sentados.
A convergência dos partidos de esquerda parlamentar em 2015, apoiando um governo do Partido Socialista, apesar da desconfiança de setores de direita, produziu resultados, que seriam improváveis anos antes.
A 8 de setembro de 2018, a jornalista do jornal Público, São José Almeida, com o seu longo percurso de acompanhamento da atividade do Partido Comunista Português, escrevia ter ficada surpreendida ao assistir às imagens editadas pela RTP, em que um militante do partido indignava-se com o seu secretário-geral pelas conquistas serem apenas sociais-democráticas, o que estaria a provocar criticas e divergências internas.
No mesmo capítulo, se bem se lembram, nas eleições legislativas de 2019, o Bloco de Esquerda apresentou-se como social democrata.
O arco de poder, estendido a estas duas forças políticas, alterou-lhes a visão ideológica. Para isso, muito contribuíram as horas de negociação lideradas por Pedro Nuno Santos, enquanto Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, até ter assumido o cargo de ministro.
É esta a grande vantagem de ficar sentado nos próximos anos. Pedro Nuno Santos é reconhecido pela esquerda. Qualquer jovem militante dos demais partidos de esquerda sabe quem ele é (o que não é fácil para um ministro de um governo do PS). Todo este capital político, poderá aumentar, caso a reestruturação da CP seja bem conseguida e a nacionalização da TAP passe o crivo das críticas, com distinção.
A sua capacidade de resiliência será determinante para o seu futuro político, podendo ter que assumir um percurso alternativo, ao jeito do que aconteceu a António Costa em 2007.
Ficará para sempre a dúvida, se tivesse assumido a autarquia sanjoanense, o negócio da água já estaria com menor volume de taxas cobradas? Certamente beneficiando os demais consumidores, em detrimento do parceiro privado da empresa municipal.            

(a publicar no dia 16/07/20)

quinta-feira, julho 02, 2020

Antes, durante e depois

Um mandato autárquico, de duração de quatro anos, é composto por três fases distintas: uma fase inicial, de estudo e análise, tendo por objetivo programar ações para cumprir as promessas eleitorais ou para avaliar as ações decorrentes do mandato anterior; uma fase de execução das ações programadas; e uma fase final de lançamento de novos projetos, correspondendo ao assegurar financiamento para futura execução.
Em São João da Madeira, após uma longa fase inicial, com indefinições ou redefinições de projetos, com entrada tardia de assessores, com substituições de vereadores, entre outras peripécias para a formação do grupo de trabalho político, a Câmara Municipal evidencia agora alguma maturidade, reconhecendo-se que a pouco mais de um ano do final do mandato, está em fase de execução de ações.
Começou já em 2019 com a ampliação da Rua João de Deus, continuando com a substituição do amianto em escolas públicas, passando pela requalificação da habitação nos bairros sociais e pela própria regeneração dos mesmos, prosseguindo pela reabilitação dos equipamentos desportivos municipais e terminando na revitalização do projeto da Praça, com o prazo previsto para finalizar a execução a ser precisamente nos meses anteriores à eleição autárquica de 2021. Pelo meio, há mais uma empreitadas a referir: ampliação do parque do rio Ul e melhoria do mobiliário urbano, além de embelezamento e alinhamento de alguns passeios, entre outras omissões, que atiram sempre a ação para o refazer. Faltando a novidade, como prova de outra dinâmica.
O confinamento, na quase totalidade do presente ano, adiou a maioria das iniciativas municipais, ou apoiadas e incentivadas pela autarquia, pelo que a sua atividade parece neste momento reduzida a empreitadas, não desfazendo de qualquer iniciativa não mencionada nos parágrafos anteriores.     
Nesta conjuntura, a apresentação do relatório das contas da autarquia referente ao ano 2019 acarreta uma inquietação. Apesar do excedente orçamental pelo segundo ano consecutivo, apesar da redução da dívida municipal, apesar de não ser necessário recorrer a empréstimo bancário para fazer face à despesa corrente, há contudo, outros indicadores que merecem outra atenção. Nomeadamente a menor receita gerada e a redução de obtenção de fundos comunitários para investimento. 
A gestão corrente está feita mas, é necessário questionar o futuro. A incerteza quanto à capacidade financeira futura, permite formular toda a dúvida com um simples, e depois?
Desdobrando a singeleza em várias questões:
Qual será a dinâmica da cidade a partir de 2021? 
Que novos equipamentos estão a ser projetados? 
Que novos programas sociais vão ser implementados? 
Como será salvaguardada a memória coletiva? 
Que incentivos haverá para a economia de proximidade?
Como incentivar a dinâmica cultural, fixando agentes permanentemente no concelho?
As competentes respostas serão apresentadas em futuro programa eleitoral. Não será inédito repetir propostas. No passado assim aconteceu, por isso, será com naturalidade que algumas das propostas de 2017 transitarão para 2021. 
À população caberá avaliar a oportunidade da repetição.   

(publicado no dia 02/07/20)


terça-feira, junho 16, 2020

Protestos pela Praça



Existe a tendência de analisar resultados das eleições autárquicas através da qualidade dos candidatos, suas propostas, ou por fatores exógenos, como a conjuntura nacional. Muitas vezes, analisa-se o efeito e esquece-se a causa, não se procurando entender a mudança de sentido de voto por parte dos eleitores. Obviamente, aqueles que são mais plurais, procuram através do seu voto manifestar, não só as suas preferências políticas mas, também, o seu protesto.
A Praça Luís Ribeiro está em constante transformação desde 1986. Depois de construído o IC2, retirando trânsito do centro da cidade, a criação da zona pedonal surgiu como proposta inovadora. Apesar de criticada e não ser considerada uma prioridade das obras municipais, o novo centro transformou-se em área de lazer da população, que ali promoveu novos negócios, desfrutou das suas esplanadas e assistiu à programação de entretimento proposta para as noites de fim de semana de verão. 
O conceito prolongou-se no tempo. A zona pedonal foi aguentando a decentralização (a deslocalização de comércio para a Avenida Renato Araújo, o retirar de concertos de verão para o jardim), só não suportou as novas obras de revitalização, operadas no virar do milénio. Um projeto mal assimilado, com as consequências desagradáveis das obras (ruído, lama, pó) a irritar a população, que apercebendo-se do aumento de artérias sem trânsito, onde não havia comércio, passou à ação, protestando e opondo-se ao avançar da obra. Alguns desses protagonistas seriam candidatos autárquicos em 2001 e essa força partidária venceu, com maioria absoluta, derrotando 18 anos de gestão autárquica do CDS-PP. 
Na década seguinte, assistiu-se ao encolher da zona pedonal. Um ajuste, com algumas artérias a receberem de novo trânsito, com aplicação de novo mobiliário urbano. Apesar da intervenção, o processo de descentralização já era irreversível, acrescido da criação de um novo parque urbano na cidade, junto às margens do Rio Ul e da abertura do shopping 8ª Avenida. As críticas iam surgindo, no entanto, nada alterava o aspeto decrépito que a zona pedonal tinha adquirido.
Em 2017, quando é mandado demolir o Elemento Arquitetónico, os protestos voltam a surgir. Curiosamente são jovens os protagonistas, revelando a sua ousadia e uma inesperada participação cívica. Outra curiosidade é a importância debatida sobre o aspeto funcional da Praça, após a longa agonia. Meses depois, nas eleições autárquicas, o PS vencia, com maioria absoluta e interrompia 16 anos de gestão autárquica liderada pelo PSD, embora os últimos dois fossem em coligação com o CDS-PP.
Chegados a 2020 há novamente obras na Praça Luís Ribeiro e de novo há protestos. Desta vez o mote é o abate das árvores com décadas de existência. Em reunião Camarária, o vereador da oposição reclama e exige a apresentação do comprovativo fitossanitário justificativo, argumentado pelo Presidente. População, com identificação por um movimento partidário, organiza-se numa petição pedindo para não haver mais abate de árvores e dois partidos de esquerda entram nesta luta, elegendo o ambiente como manifesto da sua indignação, suspendendo momentaneamente a defesa (legitima) dos direitos dos trabalhadores.
O mal estar é latente. O Arquiteto Paisagístico Sidónio Pardal acentuou as críticas, indicando que os plátanos deveriam ter sido substituídos ao longo dos anos e não retirados em simultâneo. Para contrabalançar, a Câmara Municipal mandou plantar mais de duas centenas de árvores no parque do rio Ul mas, pela imagem publicada nos jornais locais, os cinquenta centímetros dos pés plantados, a ser a receita aplicada na Praça Luís Ribeiro, não servirão para atenuar os protestos da população, bastante sensibilizada para questões ambientais. 
Em 2021 haverá eleições autárquicas. O resultado dessas eleições permitirá perceber a causalidade dos protestos às obras da Praça Luís Ribeiro, averiguando-se se as relações aqui expostas foram meramente casuais, ou se pelo contrário, este facto terá sido decisivo para formar a opinião do eleitor.                   

(a publicar no dia 18/06/20)

domingo, junho 07, 2020

Um esclarecimento


Na entrevista publicada na última edição do jornal labor aos diretores da AEJ, conduzida por Nuno Ferreira Santos, o meu nome surge indexado como solução para o futuro da secção de xadrez. Tal citação merece um esclarecimento e um enquadramento histórico, para os leitores deste jornal que habitualmente seguem as minhas crónicas e estando mais atentos, são conhecedores das funções que ultimamente tenho exercido nesta Associação.
Comecemos pelo enquadramento. 
No 1º Campo de Férias Estamos Juntos, em 1982, uma das atividades propostas aos participantes foi o xadrez. Para muitas crianças e jovens era o primeiro contacto com o jogo, aprendendo os seus rudimentos, como o movimento das peças e objetivo estratégico com o conceito de vitória. Para outras, as horas passadas em torno das peças e tabuleiros já eram frequentes, jogando-se com a noção integrada de xadrez, cumprindo-se as suas regras, sem necessidade de supervisão de monitores.
Nas edições seguintes, o Xadrez continuou como atividade do Campo de Férias, proporcionando-se novas experiências, como uma simultânea conduzida por um jogador federado, o sanjoanense Flávio Pinho, que jogou em vários tabuleiros contra uma dezena de participantes. Anos mais tarde, ainda nas traseiras da Escola Primária do Parque, na última semana do Campo de Férias organizavam-se vários torneios finais, o xadrez teve sempre o seu próprio troféu. Mesmo com a mudança para as Corgas, privilegiou-se o xadrez, colocando-se os tabuleiros no corredor de acesso às bancadas do complexo desportivo, dando-lhe muita visibilidade por ficar junto à entrada dos participantes.
 Após a oitava edição do Campo de Férias, em 1990, um grupo de jovens monitores (Rui Guerra, Ricardo Batista, Filipe Teixeira e Nuno Fernandes) empenhou-se em organizar um Torneio de Xadrez para verificar o pulsar da cidade de S. João da Madeira e aproveitar para convidar os participantes para integrar a secção a ser criada para o efeito. Entre antigos jogadores federados, participantes de Campo de Férias e outros, jovens e adultos, com gosto pela modalidade que não tinham oportunidade de competir com outros jogadores, o Torneio de Xadrez cumpriu os seus objetivos. Em Novembro do ano de 1990, a Associação Estamos Juntos inscreveu 20 jogadores na Associação de Xadrez de Aveiro e passou a competir a nível federado, proporcionando a participação em torneios, campeonatos distritais e nacionais. 
Os primeiros tempos da secção de xadrez serviram para consolidar o projeto a nível local. A necessidade de afirmação e de divulgação da modalidade, implicaram a organização de várias provas: Torneio Interno (na época prova obrigatória), Campeonato Distrital Absoluto e Campeonato Nacional Feminino, logo nos primeiros nove meses de existência da secção. Nessa época, os resultados obtidos pelos seus jogadores permitiram à AEJ participar no Campeonato Nacional de Equipas da 3ª Divisão – Zona Centro, por repescagem, contudo, não se conseguiu assegurar a manutenção. No final dessa época, fruto de bons desempenhos de anos anteriores, culminando com o segundo lugar no Nacional Feminino organizado em S. João da Madeira, Alzira Silva conseguia a internacionalização, representando Portugal nas Olimpíadas de Xadrez na antiga Jugoslávia.
Na época seguinte, 1991/92, a AEJ continuou os seus propósitos: organização e participação em provas. O número de jogadores aumentou para 25; o melhor resultado alcançado foi por Madalena Silva, 3º lugar no Campeonato Nacional Feminino; Cebaldo Smith sagou-se campeão distrital absoluto; em termos coletivos, a AEJ falhou o acesso à terceira divisão e para participar neste Campeonato, propôs-se organiza-lo. Apesar de jogar em casa, o resultado não permitiu assegurar a manutenção. 
Apesar da vitalidade destes dois primeiros anos, verificava-se que muitos dos jogadores estavam a abandonar a modalidade e como os resultados coletivos ficavam aquém do esperado, era necessário traçar novos objetivos para a secção. No campo de Férias Estamos Juntos, de 1992, procedeu-se a um trabalho de prospeção de jovens com talento para a modalidade. O Campo de Férias passava a servir de "viveiro", a uma das secções da AEJ. O projeto desportivo da associação ganhava mais consistência, juntando-se neste capítulo à secção de natação, como prolongamento competitivo do ensino da piscina municipal.
Em 1993, com a transformação operada, a AEJ venceu títulos distritais: Sub 20 por Stephane Silva; Sub 18 por Daniel Mota e Sub 14 por Miguel Fidalgo. A equipa coletiva, apesar de inesperado, venceu o Campeonato Distrital e assegurou por inerência e mérito próprio a presença na 3ª Divisão Nacional – Zona Centro.
Os anos seguintes seriam de continuação do modelo: apostar nos jovens, na sua melhoria qualitativa, promovendo-os lentamente à equipa principal e assegurar a manutenção na 3ª divisão, para mais tarde apostar na subida, para outro nível nacional. Até 1996/97, a AEJ foi sempre Campeã Distrital (pentacampeã), no entanto, a nível nacional a manutenção nunca era assegurada. Nesses anos, o campeonato de sub 20 e de sub 18 foi sempre ganho por um jogador desta Associação: Daniel Mota, Ricardo Pinho, Hugo Silva, Filipe Silva; Guy Ferreira, Pedro Martins e Ricardo Reis foram-se sucedendo. Em 1995, a título exemplificativo, Ricardo Pinho venceu o distrital de sub 20 e sagrou-se Campeão Distrital Absoluto. 
As presenças sucessivas na 3ª Divisão tiveram como corolário a obtenção da manutenção em 1998. 
É certo que o modelo baseado nos jovens apresentava um pequena falha, aos 18 anos, a grande maioria avançava para o ensino superior e os sábados com jogos de xadrez ficavam para segundo plano. Ainda assim, na época de 1998 / 99, a AEJ conseguiu subir com uma equipa baseada em jovens formados no clube: Stephane Silva, Daniel Mota, Guy Ferreira, ladeados pela veterania de Albino Silva. Em anos nove de existência, a AEJ estava nas vinte melhores equipas nacionais. Era tempo de definir novo objetivo, que passaria obrigatoriamente por permanecer vários anos naquela divisão e voltar a preparar jovens para o futuro. 
A partir desse ano, a minha colaboração com a secção de xadrez da AEJ terminava.
Com a passagem para a nova sede, Corgas, e com mais facilidade em acolher jovens, contando com a colaboração de Roman Chemerys, técnico Ucraniano, o destaque da década seguinte foi de aposta da equipa sénior, apenas com a presença de um jogador formado na AEJ: Stephane Silva, que nos primeiros anos do novo século, sagrou-se campeão distrital por três vezes. Apesar de não conseguir subir à primeira divisão, a AEJ consolidou-se como um clube da região norte do distrito de Aveiro, pelo nível técnico dos seus jogadores e tornou-se acolhedora, ao ponto de vários jogadores do distrito do Porto e da cidade de Aveiro preferirem ingressar nesta equipa de S. João da Madeira.
Na década passada, tudo se alterou, para melhor. Os resultados a nível Nacional começaram a aparecer. Em 2013, Cláudio Sá, jovem formado na AEJ, termina em primeiro lugar o nacional jovem de Xadrez Rápido, na categoria de sub 18. Em 2014, Gustavo Ribeiro, em sub 08, vence o nacional de jovens em Xadrez Semirrápido. Nesse mesmo ano, Henrique Aguiar vence o nacional de sub 16 em Xadrez Rápido. Em 2016, Gustavo Ribeiro, desta vez em sub 10, vence o nacional de jovens em Xadrez Semirrápido. Pelo meio desta melhoria, a equipa sénior conseguiu subir à primeira divisão, contando com dois jogadores formados no clube: Stephane Silva e Cláudio Sá. Uma passagem fugaz, é certo, no entanto, a prova que a história da secção de xadrez teve uma melhoria contínua ao longo dos anos.
Infelizmente, em 2018, a secção de xadrez encerrou. Para trás ficavam 28 anos de história, de jovens que aprenderam a jogar xadrez em Campos de Férias, de jovens que preferiram jogar xadrez a praticar outra modalidade desportiva, de jovens que optaram pela AEJ, defendendo com orgulho as suas cores. Durante todos estes anos, a AEJ não excluiu ninguém, foi acolhedora, inclusiva. Nunca exigiu resultados aos seus jogadores, no entanto, congratulou-se pelos feitos das suas equipas, ou dos seus jogadores individualmente, publicitando na imprensa local os seus resultados, destacando de igual forma os vencedores e todos os outros que defenderem o clube.
Feito o enquadramento, um paragrafo mais para o esclarecimento. Pelas funções que desempenho na Associação de Xadrez de Aveiro, Presidente da Mesa da Assembleia Geral, por incompatibilidade estatutária não me é permitido exercer funções diretivas, em qualquer dos seus sócios. Por isso, apenas quando terminar esse meu mandato, é que estarei disponível para ajudar a direção da AEJ, como bem referiram os diretores entrevistados. Os moldes como será reativada a secção (suspensa, sendo esta a causa para a AEJ perder o seu estatuto de sócio na Associação Distrital), a seu tempo serão definidos e publicitados.
      
             
(a publicar no dia 12/06)

terça-feira, maio 19, 2020

Erros, créditos e soluções desportivas



Na semana passada, na edição do semanário O regional, o colunista Adé, com o seu sentido de humor, evidenciou o demasiado tempo de entrega que os jornais locais demoram a chegar a casa dos seus assinantes. Como morador no concelho de Ovar, também eu desespero para receber os jornais de São João da Madeira. O labor nem sempre me é entregue à quinta-feira. Nas últimas duas semanas, uma edição foi recebida na terça-feira seguinte e o número anterior, na quarta-feira, ou seja, quase uma semana depois do dia habitual de edição. Ao associar-me a este protesto, apenas quero ressalvar que, muitas vezes, há edições que não consigo ler na integra e ao preparar o texto a publicar há factos que me escapam. Assim aconteceu com os protestos em forma de petição, sobre o abate de árvores na Praça Luís Ribeiro. Ao ler na edição da semana passada, que a petição tinha sido anunciada na semana anterior, percebi que afinal já havia protestos à volta das obras da Praça, que eu efetivamente desconhecia e que por isso, não os mencionei.
Sinal da mudança dos tempos, nos dias de hoje, as obras que causam polémicas são objeto de protesto, nas mais variadas formas. Sinceramente, não percebo o abate das árvores existentes na Praça, para em seu lugar plantar outras. Provavelmente, as novas serão pequenas, não permitirão às pessoas usufruir das suas sombras e algumas não vingarão, o que implicará mais uns anos até obterem o crescimento idêntico ao que ali existia e ficarem de porte semelhante. Recordo sempre que em 1997, quando visitei as obras do futuro Parque das Nações, quando Lisboa estava entusiasmada na edificação da Expo 98, no imenso estaleiro era possível observar as palmeiras, já plantadas e de enorme estatura. Para emendar o erro da Praça (não tem outro nome) e para sossegar a população, aconselho o mesmo procedimento: plantar já as novas árvores - permitindo o seu enquadramento definitivo e a possibilidade de antecipar a tonalidade verde para o centro, conferindo à zona todas as vantagens inerentes de uma plantação digna de referencia e de visita.   
Alguns comerciantes da cidade, sobretudo bares, durante o tempo de confinamento, procuraram antecipar receitas, vendendo por antecipação um crédito futuro. Com seguro e com apoio de marcas nacionais, estes comerciantes fidelizaram clientes e conseguiram obter alguma liquidez para o futuro. A solidariedade dos clientes será importante para o negócio, no imediato. O cativar será importante no curto prazo, para assegurar a sobrevivência empresarial. No entanto, só com o esforço dos clientes, com a sua capacidade em dispor de dinheiro para o comércio, é que haverá possibilidade de prosperar o negócio. É de louvar a dinâmica empresarial e esperar que os clientes ajudem. 
Não são só os comerciantes que precisam de apoio. Os diversos serviços e mesmo as associações desportivas locais estão a precisar de recuperar os seus indefetíveis e não só. Neste sentido, com as modalidades de pavilhão, piscinas e ginásios encerrados, com permissões para utilizar campos ao ar livre, existe a possibilidade de voltar a praticar desportos coletivos ou até individuais, como o ténis. Com a demais população a precisar de exercitar-se, para além da corrida ou caminhada individual, a possibilidade de competir é sempre atrativa. O aluguer de campos, ou mesmo pacotes de aulas de reciclagem, para diversas idades são soluções a precisar de serem postas em prática, pelas associações para disponibilizarem serviços adaptados a estes novos tempos e promoverem a boa forma física dos habitantes da cidade.
Existe todo o interesse, em cumprindo as normas da Direção Geral de Saúde, voltar à normalidade, aproveitando para recuperar o pulsar da cidade, apoiando os empresários instalados na cidade e as associações desportivas, numa ótica de cooperação, que permita recuperar o conceito de comunidade. 

(a publicar no dia 21/05)

terça-feira, maio 12, 2020

Recuperação, reconversão e regeneração


Os dados disponíveis, no dia 11 de Maio, indicam que no mundo a relação entre recuperados e doentes infetados por covid-19 é de sensivelmente 1 para 3. Em Portugal, apesar do número de recuperados estar a subir, a mesma relação é de 1 para 9, ou seja, pouco mais de 3000 recuperados, num total de cerca de 27000 casos. Lendo estes números e sendo conhecido alguns casos que tardam em obter o primeiro teste positivo, pode-se ficar com a sensação que o vírus em Portugal tem uma mutação especial. Esmiunçando os dados por concelho, suportando-me nos indicadores fornecidos pela Câmara Municipal de Ovar, verifica-se que neste concelho num total de 703 casos positivos, apenas 120 doentes ainda não recuperaram. Como se comprovou, o sistema nacional de indexação de dados da Direção Geral de Saúde é extremamente lento, por isso, factos positivos tardam em ser notícia e de acordo com os dados publicados no dia em que escrevo, 12 à tarde, em que o número de recuperado relativamente ao dia anterior foi superior ao número de infetados, não tardará muito para Portugal obter uma taxa de recuperados mais simpática, próxima da proporção mundial.
Há vinte anos, na viragem do milénio, o sector produtivo Português deixou de ser competitivo à escala global. Seguindo a tendência europeia, demasiadas indústrias foram deslocadas para o oriente asiático e os seus trabalhadores colocados numa situação de desemprego. Para muitos, com uma infância interrompida, sem possibilidades de continuar os estudos e colocados em tenra idade em fábricas, para ficarem com uma qualificação técnica, a única solução foi a reconversão profissional. Apesar de lógico, a mudança de profissão, nem sempre correu bem, trouxe precaridade, baixos salários e empregos pouco qualificados, que permitiram "atravessar" as sucessivas crises até ao presente ano. Nestes dias de pandemia, a economia de proximidade tende a suceder à globalização, pelo menos com consequências imediatas em termos de saúde pública, com o uso generalizado de máscaras pela população em espaços públicos. Oportunidade para as proscritas da globalização, aquelas que aprenderam a costurar ainda em tenra idade, aquelas que preservaram a sua máquina de costura. Agora com dois elásticos, um arame, um filtro e dois pedaços de algodão podem fabricar máscaras homologadas e proteger a demais população. Sem dificuldade, podem produzir mais de 200 máscaras por dia e atendendo ao facto de serem laváveis e reutilizáveis consegue-se escoar uma unidade produzida por 2,5 euros, no mínimo. Ironia destes tempos.
O último erre, o último paragrafo, para a referência às obras de regeneração da Praça Luís Ribeiro. Empreitada iniciada, em tempos de calamidade. Estruturas metálicas retiradas, árvores cortadas (seria mesmo necessário?), máquinas em movimento. Parece não haver contestação. Pelo menos não tive conhecimento. A amplitude conquistada transporta-nos para o passado e para outras latitudes. Apetecia-me escrever: não mexam mais. Tapem buracos, nivelem o piso, padronizem a calçada e não façam mais nada. Só que há um projeto e a obra tem que respeitar a vontade do autor. Ou autores, já não me lembro. Lamento que o anterior projeto não tivesse sido implementado. O lado poente da Praça com trânsito no sentido, único sul-norte, entrando pela Rua do Visconde e seguindo para a Rua Oliveira Júnior, era voltar ao original. Sem pecado, com perdão, por trinta e cinco anos de erro. Uma zona pedonal foi uma novidade urbana que a cidade absorveu. O seu posterior alargamento provou-se uma tentativa desesperada, com pouco significado, nem enquadramento comercial, nem funcionalidade para a população. Houve arruamentos que perderam utilidade, restando-lhes o parqueamento, desordenado. É certo que se cedeu ao automóvel, o estacionamento na frente dos Paços da Cultura é confrangedor. No entanto, entre parar e passar, há uma pequena diferença, que poderia ter sido suportada na Praça Luís Ribeiro, isolando o Parque América dos restantes edifícios. Para já a obra arrancou. Ainda falta muito para tudo terminar. 

(a publicar no dia 14/05)

terça-feira, maio 05, 2020

Desconfinamento gradual


Por estes dias o assunto principal ainda é a saúde pública. Apesar do número diário de casos positivos de covid-19 em Portugal ser perto das duas centenas e do número de mortes rondar a dezena e meia, valores semelhantes aos dos dias finais do mês de março, existe uma sensação global de melhoria.
A comparação com os indicadores do país vizinho ajuda a manter a confiança na resposta do Serviço Nacional de Saúde, quer através do profissionalismo de médicos, enfermeiros e pessoal auxiliar, quer pela capacidade de internamento, quer pela gestão de meios, como demonstrado pela capacidade de criação de hospitais de retaguarda, seja de reserva ou de campanha. 
Sendo lamentável qualquer morte, só no mês de abril falecerem 800 pessoas por covid-19, é com expetativa que se observa o retomar das atividades profissionais.
Com o uso generalizado de máscaras em estabelecimentos industriais, comerciais e transportes públicos, poderá ser possível diminuir o contágio nos próximos dias. É certo, pela experiência vivida nos sucessivos Estados de emergência, que só será possível verificar os efeitos deste desconfinamento daqui a três ou quatro semanas (pelo somatório do tempo de contágio mais tempo de aumento de carga viral, consequentes sintomas e marcação teste e finalizando pela obtenção do resultado).
Há um risco calculado, distante da imunidade de grupo, que espera-se não traga graves consequências.
Por estes dias as cidades ganham alguma vida.
Há mais movimento de automóveis. Lisboa teve filas em hora de ponta. O acesso à A4, no nó da A3 para o túnel de Águas Santas, voltou a ser referência nos programas radiofónicos, pelo trânsito condicionado. Os postos de abastecimento de combustíveis voltaram a ter clientes. Tudo ainda longe do habitual e apesar do preço inflacionado (literalmente) pela carga fiscal. Os transportes públicos recuperam clientes. O Metro do Porto aumentou a cadência das suas composições, para evitar congestionamento nas composições. A CP espera ter terminado o tempo de transportar ferro e passar a receber clientes. Os autocarros da Transdev seguem para o Porto com horário especial, com os passageiros afastados uns dos outros. Os voos internos Porto – Lisboa começam a ser anunciados.
Se no Estado de Emergência surgiram alterações nas atividades abertas ao público, como os acrílicos ao balcão, colaboradores a desinfetar carros e expositores, gel desinfetante e luvas oferecidas aos clientes, havendo igualmente profissionais adaptadas a porteiros de hipermercados, já para não falar na conversão de restaurantes em take-away ou mesmo nos sistemas de entregas ao domicílio, atividade recrutadora ou de reconversão profissional, veremos o que trarão estes tempos de calamidade.
Para já impera o uso de máscara. O acesso condicionado passou a ser anunciado no pequeno comércio. Os clientes ficam à porta à espera de vez. Com máscara na cara, mesmo no exterior do estabelecimento. As expressões faciais ficam reduzidas aos movimentos de olhos e sobrancelhas. A abertura deste comércio trouxe pessoas para as ruas da cidade, longe dos centros comerciais, que ainda estão encerrados. 
Ao longo de maio outras atividades reabrirão. Lojas de maior área, trazendo mais pessoas para as cidades. Anunciam-se as aulas presenciais para os alunos do 11º e 12º ano. Os bares e restaurantes poderão abrir, com lotações inferiores. No último fim de semana do presente mês, poderá voltar a jogar-se futebol. Embora, a época desportiva para as coletividades do concelho tenha terminado, com o consequente prejuízo da atividade física de jovens e dos restantes habitantes, deixando um vazio difícil de preencher no seu dia-a-dia. 
Ainda no final de maio serão retomadas as atividades religiosas, caso assim o entendam as demais confissões.
Tudo isto é vivido com enorme expetativa. Ficando-se aguardar o regresso das atividades culturais, não apenas os cinemas, teatros mas também, os concertos, as danças e as demais expressões artísticas que precisam da presença de público para se sentirem realizados.  
Depois de semanas a viver confinados, o desconfinamento é um momento de esperança. No entanto, a saúde pública continuará a comandar a sociedade, por isso, as atividades humanas ficarão sempre condicionadas, com consequências para os vários indicadores económicos.     

(publicado no dia 7 de Maio)

quinta-feira, abril 30, 2020

As lições de Abril

No inicio do mês de abril, a Câmara Municipal de São João da Madeira anunciou o seu apoio à imprensa local, através da colocação de publicidade institucional. Com esta medida, uma ajuda preciosa para o equilíbrio financeiro dos jornais, o município possibilitou o acesso à informação da população, leitores de jornais, quer sejam assinantes ou compradores avulsos através de quiosques.
A edição de jornais, neste momento de confinamento generalizado, é a principal demonstração de comunidade, superando as redes socias, pela compilação de factos verosímeis e pelo esforço das redações em procurar diversificar as notícias, apesar do monotonia temática ao percorrer as mais variadas páginas de cada edição.
Ao apoiar a imprensa, o executivo municipal demostrou uma grande capacidade democrática, conferindo oportunidade para todas as forças políticas divulgarem os seus comunicados, ou expressarem o seu programa, colocando-se no papel de oposição, divergindo do executivo naquilo que entendem e anunciando medidas que consideram mais pertinentes.
Do mesmo modo, ao permitir a publicação de artigos de opinião, expressando os pontos de vista de cada articulista, ou colaborador, existe a demonstração de uma outra forma de abertura democrática, o pluralismo da sociedade. A divulgação de perspetivas não propriamente partidárias é um contributo democrático. A quebra de unanimidade também, por que permite ao leitor apreciar diferentes opiniões e muitas vezes recebe informação inédita, o que enriquece o conteúdo do jornal publicado, permitindo um debate, que poderá ser esclarecedor e benéfico para o leitor.
É de enaltecer uma medida indireta de apoio à liberdade de expressão e ao pluralismo, numa semana em que se comemorou o 25 de Abril. Esta é, por ventura, a melhor consumação do "espírito de Abril", que muitos não querem entender e procuram minimizar o conceito de Liberdade, agarrando-se à perspetiva partidária, com a qual mais se identificam.
Não só de palavras, de ideias e de canções vive uma democracia. 
Neste vasto conceito, há ações que permitem e ajudam a definir quem as pratica. 
Concretizando, o que acabo de escrever, numa conjetura adversa, com os vereadores da oposição a pedirem a diminuição da taxa de disponibilidade, com pelo menos um membro do Partido Socialista a integrar uma plataforma que reivindica a revisão dos preço da água, com vários articulistas – alguns simpatizantes do Partido Socialista - a insistirem no tema, juntando-se aos demais, o Presidente da Câmara Municipal de São João da Madeira apresentou os resultados do exercício da empresa municipal Águas de São João. 
Esta medida de transparência, enobrecedora da gestão do autarca, acarreta um problema. O lucro apresentado em 2019, mesmo sem divisão pelos acionistas, dá razão a quem defende a redução da taxa de disponibilidade. Com a empresa de capitais mistos sem problemas de tesouraria, para não se repetir um obsceno exercício em 2020, é imperativo salvaguardar o interesse público, ou seja, dos munícipes e cobrar menos valor durante o presente ano. 
Redução ou eliminação?
Atendendo a que quem redigiu o contrato para a constituição da empresa Águas de São João, a gestão autarquica do PSD, é hoje defensor da revisão do mesmo, não tendo qualquer dificuldade em entrar em contradição com o seu passado, é um momento para aproveitar para eliminar a taxa de disponibilidade. 
Existem elementos geográficos, como a dimensão do concelho de São João da Madeira, quando comparados com outros de muito maior área, que cobram praticamente o mesmo valor, que sustentam o principio da proporcionalidade, o que neste caso equivaleria a cobrar praticamente zero euros.    
Estão reunidas as condições para reverter o preço da água.
Existe capital político associado a esta medida. 
Estou convencido será aproveitado. 
     
(a publicar no dia 29/04/20)

quinta-feira, abril 23, 2020

Uma real ajuda aos afetados pela covid-19



A covid-19, pelo números de casos surgidos nos concelhos vizinhos, alavancou as respostas das autarquias, conferindo-lhes um mediatismo nacional. 
Durante o último mês, aproveitando essas atenções, muitos autarcas encetaram planos de comunicação, diários, ou desencadearam ações de contingência, muitas vezes avulsas, de forma a minimizar o impacto da propagação da covid-19, ou para oferecer soluções para o Ministério de Saúde.
Obviamente que quem fala todos os dias, numa situação inédita e de difícil controlo, muito rapidamente entra em contradição, ou expõe-se ao sensacionalismo (ver comunicação de óbito de jovem 14 anos no concelho de Ovar, por parte de autarca, quando a autópsia não tinha sido efetuada) ou ao erro, como demonstrou o jornal labor, na edição da semana passada, com a capacidade real de testes instalada no Europarque, bem distante da anunciada.
Sendo certo que houve boa fé nas ações dos autarcas, parece ter existido algum excesso de boa vontade, dando como exemplo, a multiplicação de hospitais de campanha, em concelhos próximos, que felizmente até ao momento não têm sido necessários, por a capacidade de internamento dos hospitais ainda estar longe de ser preenchida. É certo que este trabalho efetuado é preventivo, no entanto, surgem notícias de outra soluções, como por exemplo no concelho da Maia, com a requisição de unidade hoteleira, que confere uma maior dignidade à população afetada.         
Penso que o esforço efetuado até ao momento deve ser continuado nos próximos meses. Com ações concretas de sensibilização da população para o uso de máscara, ou viseira. Com apoio domiciliário a quem ficar infetado ou a quem estiver impedido de sair à rua, por pertencer a grupo de risco ou estiver de quarentena (devendo esse apoio dimensionar a possibilidade de entregar refeições ou de compras) e claro com apoios concretos à totalidade da população, traduzindo-se isto na redução de taxas cobradas pelas autarquias, no fornecimento de água aos seus clientes.
Não querendo escalpelizar a totalidade de autarquias que já anunciou tal medida, é importante seguir com o exemplo de autarquias próximas, ou mesmo vizinhas, como é o caso de Oliveira de Azeméis. Esta semana, esta autarquia anunciou a redução da taxa de saneamento na fatura da água fornecida aos seus munícipes. Uma medida simples, para fazer face às dificuldades que a população daquele concelho vai viver nos próximos meses e que permitirá que um bem essencial seja consumido com menor custo. 
Quem, como eu, tem defendido igual medida em São João da Madeira, com a redução da taxa de disponibilidade, não pode deixar de aplaudir, a medida tomada pelo autarca socialista do concelho vizinho. 
Com os comerciantes com as suas lojas fechadas, sem faturação, muitos deles sem consumo de água, fará sentido pagar taxa de disponibilidade e de saneamento?
Com o aumento do desemprego, segundo os dados anunciados na imprensa, 500 temporários foram dispensados e com o transversal layoff haverá muito munícipe com perdas de rendimento no final do mês de Abril, como tal, repito a pergunta anterior, fará sentido pagar taxa de disponibilidade e de saneamento?
Com várias empresas com dificuldade em conseguir encomendas, algumas a produzir parcialmente, outras encerradas por layoff, fará sentido pagar a taxa de disponibilidade e de saneamento?
Cabe ao Presidente da Câmara Municipal de São João da Madeira ponderar a decisão e como acionista maioritário da empresa Águas de São João, executar a medida que considerar mais correta: ou apoia efetivamente a população local ou prefere distribuir os lucros, no final do ano, com o parceiro privado?     
Se este exercício é válido para a distribuição de água, que ficaria apenas com cobrança do consumo e com a taxa de resíduos sólidos, o que dizer do fornecimento de eletricidade e do pagamento de potência contratada (mais relevante do que o valor cobrado de IVA)?
Haja coragem para reverter estes excessos.
Nota: das 5 questões formuladas, apenas 4 têm resposta local. A quinta terá outro palco.      

(publicando em 23/04/20)