terça-feira, maio 19, 2020

Erros, créditos e soluções desportivas



Na semana passada, na edição do semanário O regional, o colunista Adé, com o seu sentido de humor, evidenciou o demasiado tempo de entrega que os jornais locais demoram a chegar a casa dos seus assinantes. Como morador no concelho de Ovar, também eu desespero para receber os jornais de São João da Madeira. O labor nem sempre me é entregue à quinta-feira. Nas últimas duas semanas, uma edição foi recebida na terça-feira seguinte e o número anterior, na quarta-feira, ou seja, quase uma semana depois do dia habitual de edição. Ao associar-me a este protesto, apenas quero ressalvar que, muitas vezes, há edições que não consigo ler na integra e ao preparar o texto a publicar há factos que me escapam. Assim aconteceu com os protestos em forma de petição, sobre o abate de árvores na Praça Luís Ribeiro. Ao ler na edição da semana passada, que a petição tinha sido anunciada na semana anterior, percebi que afinal já havia protestos à volta das obras da Praça, que eu efetivamente desconhecia e que por isso, não os mencionei.
Sinal da mudança dos tempos, nos dias de hoje, as obras que causam polémicas são objeto de protesto, nas mais variadas formas. Sinceramente, não percebo o abate das árvores existentes na Praça, para em seu lugar plantar outras. Provavelmente, as novas serão pequenas, não permitirão às pessoas usufruir das suas sombras e algumas não vingarão, o que implicará mais uns anos até obterem o crescimento idêntico ao que ali existia e ficarem de porte semelhante. Recordo sempre que em 1997, quando visitei as obras do futuro Parque das Nações, quando Lisboa estava entusiasmada na edificação da Expo 98, no imenso estaleiro era possível observar as palmeiras, já plantadas e de enorme estatura. Para emendar o erro da Praça (não tem outro nome) e para sossegar a população, aconselho o mesmo procedimento: plantar já as novas árvores - permitindo o seu enquadramento definitivo e a possibilidade de antecipar a tonalidade verde para o centro, conferindo à zona todas as vantagens inerentes de uma plantação digna de referencia e de visita.   
Alguns comerciantes da cidade, sobretudo bares, durante o tempo de confinamento, procuraram antecipar receitas, vendendo por antecipação um crédito futuro. Com seguro e com apoio de marcas nacionais, estes comerciantes fidelizaram clientes e conseguiram obter alguma liquidez para o futuro. A solidariedade dos clientes será importante para o negócio, no imediato. O cativar será importante no curto prazo, para assegurar a sobrevivência empresarial. No entanto, só com o esforço dos clientes, com a sua capacidade em dispor de dinheiro para o comércio, é que haverá possibilidade de prosperar o negócio. É de louvar a dinâmica empresarial e esperar que os clientes ajudem. 
Não são só os comerciantes que precisam de apoio. Os diversos serviços e mesmo as associações desportivas locais estão a precisar de recuperar os seus indefetíveis e não só. Neste sentido, com as modalidades de pavilhão, piscinas e ginásios encerrados, com permissões para utilizar campos ao ar livre, existe a possibilidade de voltar a praticar desportos coletivos ou até individuais, como o ténis. Com a demais população a precisar de exercitar-se, para além da corrida ou caminhada individual, a possibilidade de competir é sempre atrativa. O aluguer de campos, ou mesmo pacotes de aulas de reciclagem, para diversas idades são soluções a precisar de serem postas em prática, pelas associações para disponibilizarem serviços adaptados a estes novos tempos e promoverem a boa forma física dos habitantes da cidade.
Existe todo o interesse, em cumprindo as normas da Direção Geral de Saúde, voltar à normalidade, aproveitando para recuperar o pulsar da cidade, apoiando os empresários instalados na cidade e as associações desportivas, numa ótica de cooperação, que permita recuperar o conceito de comunidade. 

(a publicar no dia 21/05)

terça-feira, maio 12, 2020

Recuperação, reconversão e regeneração


Os dados disponíveis, no dia 11 de Maio, indicam que no mundo a relação entre recuperados e doentes infetados por covid-19 é de sensivelmente 1 para 3. Em Portugal, apesar do número de recuperados estar a subir, a mesma relação é de 1 para 9, ou seja, pouco mais de 3000 recuperados, num total de cerca de 27000 casos. Lendo estes números e sendo conhecido alguns casos que tardam em obter o primeiro teste positivo, pode-se ficar com a sensação que o vírus em Portugal tem uma mutação especial. Esmiunçando os dados por concelho, suportando-me nos indicadores fornecidos pela Câmara Municipal de Ovar, verifica-se que neste concelho num total de 703 casos positivos, apenas 120 doentes ainda não recuperaram. Como se comprovou, o sistema nacional de indexação de dados da Direção Geral de Saúde é extremamente lento, por isso, factos positivos tardam em ser notícia e de acordo com os dados publicados no dia em que escrevo, 12 à tarde, em que o número de recuperado relativamente ao dia anterior foi superior ao número de infetados, não tardará muito para Portugal obter uma taxa de recuperados mais simpática, próxima da proporção mundial.
Há vinte anos, na viragem do milénio, o sector produtivo Português deixou de ser competitivo à escala global. Seguindo a tendência europeia, demasiadas indústrias foram deslocadas para o oriente asiático e os seus trabalhadores colocados numa situação de desemprego. Para muitos, com uma infância interrompida, sem possibilidades de continuar os estudos e colocados em tenra idade em fábricas, para ficarem com uma qualificação técnica, a única solução foi a reconversão profissional. Apesar de lógico, a mudança de profissão, nem sempre correu bem, trouxe precaridade, baixos salários e empregos pouco qualificados, que permitiram "atravessar" as sucessivas crises até ao presente ano. Nestes dias de pandemia, a economia de proximidade tende a suceder à globalização, pelo menos com consequências imediatas em termos de saúde pública, com o uso generalizado de máscaras pela população em espaços públicos. Oportunidade para as proscritas da globalização, aquelas que aprenderam a costurar ainda em tenra idade, aquelas que preservaram a sua máquina de costura. Agora com dois elásticos, um arame, um filtro e dois pedaços de algodão podem fabricar máscaras homologadas e proteger a demais população. Sem dificuldade, podem produzir mais de 200 máscaras por dia e atendendo ao facto de serem laváveis e reutilizáveis consegue-se escoar uma unidade produzida por 2,5 euros, no mínimo. Ironia destes tempos.
O último erre, o último paragrafo, para a referência às obras de regeneração da Praça Luís Ribeiro. Empreitada iniciada, em tempos de calamidade. Estruturas metálicas retiradas, árvores cortadas (seria mesmo necessário?), máquinas em movimento. Parece não haver contestação. Pelo menos não tive conhecimento. A amplitude conquistada transporta-nos para o passado e para outras latitudes. Apetecia-me escrever: não mexam mais. Tapem buracos, nivelem o piso, padronizem a calçada e não façam mais nada. Só que há um projeto e a obra tem que respeitar a vontade do autor. Ou autores, já não me lembro. Lamento que o anterior projeto não tivesse sido implementado. O lado poente da Praça com trânsito no sentido, único sul-norte, entrando pela Rua do Visconde e seguindo para a Rua Oliveira Júnior, era voltar ao original. Sem pecado, com perdão, por trinta e cinco anos de erro. Uma zona pedonal foi uma novidade urbana que a cidade absorveu. O seu posterior alargamento provou-se uma tentativa desesperada, com pouco significado, nem enquadramento comercial, nem funcionalidade para a população. Houve arruamentos que perderam utilidade, restando-lhes o parqueamento, desordenado. É certo que se cedeu ao automóvel, o estacionamento na frente dos Paços da Cultura é confrangedor. No entanto, entre parar e passar, há uma pequena diferença, que poderia ter sido suportada na Praça Luís Ribeiro, isolando o Parque América dos restantes edifícios. Para já a obra arrancou. Ainda falta muito para tudo terminar. 

(a publicar no dia 14/05)

terça-feira, maio 05, 2020

Desconfinamento gradual


Por estes dias o assunto principal ainda é a saúde pública. Apesar do número diário de casos positivos de covid-19 em Portugal ser perto das duas centenas e do número de mortes rondar a dezena e meia, valores semelhantes aos dos dias finais do mês de março, existe uma sensação global de melhoria.
A comparação com os indicadores do país vizinho ajuda a manter a confiança na resposta do Serviço Nacional de Saúde, quer através do profissionalismo de médicos, enfermeiros e pessoal auxiliar, quer pela capacidade de internamento, quer pela gestão de meios, como demonstrado pela capacidade de criação de hospitais de retaguarda, seja de reserva ou de campanha. 
Sendo lamentável qualquer morte, só no mês de abril falecerem 800 pessoas por covid-19, é com expetativa que se observa o retomar das atividades profissionais.
Com o uso generalizado de máscaras em estabelecimentos industriais, comerciais e transportes públicos, poderá ser possível diminuir o contágio nos próximos dias. É certo, pela experiência vivida nos sucessivos Estados de emergência, que só será possível verificar os efeitos deste desconfinamento daqui a três ou quatro semanas (pelo somatório do tempo de contágio mais tempo de aumento de carga viral, consequentes sintomas e marcação teste e finalizando pela obtenção do resultado).
Há um risco calculado, distante da imunidade de grupo, que espera-se não traga graves consequências.
Por estes dias as cidades ganham alguma vida.
Há mais movimento de automóveis. Lisboa teve filas em hora de ponta. O acesso à A4, no nó da A3 para o túnel de Águas Santas, voltou a ser referência nos programas radiofónicos, pelo trânsito condicionado. Os postos de abastecimento de combustíveis voltaram a ter clientes. Tudo ainda longe do habitual e apesar do preço inflacionado (literalmente) pela carga fiscal. Os transportes públicos recuperam clientes. O Metro do Porto aumentou a cadência das suas composições, para evitar congestionamento nas composições. A CP espera ter terminado o tempo de transportar ferro e passar a receber clientes. Os autocarros da Transdev seguem para o Porto com horário especial, com os passageiros afastados uns dos outros. Os voos internos Porto – Lisboa começam a ser anunciados.
Se no Estado de Emergência surgiram alterações nas atividades abertas ao público, como os acrílicos ao balcão, colaboradores a desinfetar carros e expositores, gel desinfetante e luvas oferecidas aos clientes, havendo igualmente profissionais adaptadas a porteiros de hipermercados, já para não falar na conversão de restaurantes em take-away ou mesmo nos sistemas de entregas ao domicílio, atividade recrutadora ou de reconversão profissional, veremos o que trarão estes tempos de calamidade.
Para já impera o uso de máscara. O acesso condicionado passou a ser anunciado no pequeno comércio. Os clientes ficam à porta à espera de vez. Com máscara na cara, mesmo no exterior do estabelecimento. As expressões faciais ficam reduzidas aos movimentos de olhos e sobrancelhas. A abertura deste comércio trouxe pessoas para as ruas da cidade, longe dos centros comerciais, que ainda estão encerrados. 
Ao longo de maio outras atividades reabrirão. Lojas de maior área, trazendo mais pessoas para as cidades. Anunciam-se as aulas presenciais para os alunos do 11º e 12º ano. Os bares e restaurantes poderão abrir, com lotações inferiores. No último fim de semana do presente mês, poderá voltar a jogar-se futebol. Embora, a época desportiva para as coletividades do concelho tenha terminado, com o consequente prejuízo da atividade física de jovens e dos restantes habitantes, deixando um vazio difícil de preencher no seu dia-a-dia. 
Ainda no final de maio serão retomadas as atividades religiosas, caso assim o entendam as demais confissões.
Tudo isto é vivido com enorme expetativa. Ficando-se aguardar o regresso das atividades culturais, não apenas os cinemas, teatros mas também, os concertos, as danças e as demais expressões artísticas que precisam da presença de público para se sentirem realizados.  
Depois de semanas a viver confinados, o desconfinamento é um momento de esperança. No entanto, a saúde pública continuará a comandar a sociedade, por isso, as atividades humanas ficarão sempre condicionadas, com consequências para os vários indicadores económicos.     

(publicado no dia 7 de Maio)