A notícia indicava que vinte e três concelhos concentram metade do poder de compra de Portugal Continental. Os dados tinham por base o “Sales Index”, que é um índice expresso em permilagem que permite comparar os concelhos entre si e analisar a contribuição de cada um para um total de 1000, o que corresponde aos 278 concelhos do Continente.
Este estudo, que em tempos colocou o concelho de S. João da Madeira no 3º lugar, é sempre muito esperado por revelar indicadores de rendimento e consumo de cada concelho. É calculado com base em variada informação, nomeadamente a população residente, as receitas fiscais, as vendas de automóveis, os consumos de electricidade, as dependências bancárias e os estabelecimentos comerciais.
O destaque era dado para a localização geográfica dos 23 concelhos, quase todos litorais, ocupando 5.0% da área total do Continente e concentrando 43.2% da população residente. Dos 23, onze concelhos situam-se na área da Grande Lisboa (até Setúbal), 6 na região do Grande Porto e 1 no Algarve. Para além de Leiria, que é um concelho do litoral, apenas 4 são concelhos do interior (Braga, Coimbra, Guimarães e V. N. Famalicão), sendo dois deles capitais de distrito. E então enumeravam: Lisboa, Porto, Sintra, Oeiras, Vila Nova de Gaia, Loures, Cascais, Almada, Matosinhos, Coimbra, Braga, Amadora, Seixal, Setúbal, Guimarães, Gondomar, Leiria, Vila Franca de Xira, Maia, Santa Maria da Feira, Odivelas, Loulé e V. N. de Famalicão.
Assim, cruamente.
Lendo outra vez, verificamos que não nos enganámos. Dos concelhos referidos nenhum é S. João da Madeira. Os números da Marktest, responsável por este estudo de periodicidade anual, retiram importância económica a este concelho. O poder de compra era o principal trunfo de S. João da Madeira quando se comparava com os concelhos vizinhos, todos eles “gigantes”, quer em área, quer em n.º de freguesias, ou em termos populacionais.
Se verificarmos a localização dos 23 concelhos, observa-se que todos estão servidos por auto-estradas, alguns por mais do que uma, independentemente dessas serem SCUTs ou com portagem. Em geral, todos têm em comum as rápidas acessibilidades, o que permite garantir a pronta mobilidade dos seus cidadãos, dos bens produzidos ou necessários, o mesmo acontecendo com os serviços. Durante anos ouvi, em conversa de amigos, dissertações sobre a importância das grandes vias na economia nacional. O exemplo era sempre o mesmo, S. João da Madeira devia parte do seu desenvolvimento à sua localização geográfica, em plena Estrada Nacional 1, que até meados da década de 80 do século passado era a principal via de comunicação do país. Com a A1 construída, no princípio da década de 90, novos centros económicos iriam aparecer e SJM ia perder poder de compra. Sempre rebati. O nó da A1 distava 7 quilómetros e uma distância tão curta poderia perfeitamente ser torneada, houvesse capacidade de captar investimentos a nível industrial, de serviços e de comércio, até porque efectivamente “o poder de compra era elevado”.
Os anos seguiram-se. Os números agora são outros...
Abordar este assunto é complicado. Recordar reivindicações e promessas eleitorais de uma ligação por auto estrada de S. João da Madeira ao nó da Feira da A1 seria um anacronismo. Acreditar que a redefinição das acessibilidades, com a abertura de novas frentes - a ligação à A29 (antigo IC1) no nó de Ovar e a auto-estrada directamente aos Carvalhos, numa via de traçado complicado, poderá dar novo alento à economia local, é uma opção “politicamente correcta”.
Enquanto se espera pela conclusão destas obras é necessário obter dos concelhos envolvidos na sub-região Entre Douro e Vouga (EDV) o compromisso de que a mobilidade na referida região será conseguida sem prejuízo para a população residente. Uma viagem de S. João da Madeira para Norte via EN1 é extremamente demorada devido aos semáforos entre Lourosa, Picoto e Grijó. A alternativa, via Santa Maria da Feira e daqui seguir numa das auto-estradas para Norte, torna-se imprevisível devido ao desesperante semáforo de Sanfins, obrigando a esperas por vezes prolongadas, para um percurso de 7 quilómetros. A nascente, em Nogueira de Cravo, mais um semáforo a condicionar o trânsito na ligação para Vale de Cambra ou para Arouca. Mesmo a sul, a sequência Pinheiro da Bemposta, Curval e Branca estão repletos de semáforos, situação torneada pela construção entre Oliveira de Azeméis e Estarreja de uma ligação rápida ao nó da A1 e também A29, o que facilitou a vida a quem se desloca para Sul.
O desenvolvimento desta sub-região fica fortemente penalizado pela existência destes sinais luminosos. Por todo o país, assistiu-se à sua substituição por rotundas, mesmo em estradas nacionais consideradas perigosas. As vantagens são óbvias, evitando-se a formação de longas filas de trânsito, com prejuízo para quem tem que se deslocar dentro da região. Aliás, as recentes notícias da perda de valências da Urgência do Hospital de S. João da Madeira e do encerramento da Maternidade do Hospital de Oliveira de Azeméis, com transferência desses serviços para o Hospital S. Sebastião em Santa Maria da Feira, obrigam a que se repense a continuidade do semáforo de Sanfins e até o de Nogueira de Cravo.
Esperemos que a saúde dos habitantes desta sub - região seja argumento preponderante para a eliminação destes gargalos da economia local.