“Visito, poto, cibo, redimo, tego, colligo, condi”. Do latim, a referência aos sete deveres de caridade. Para enquadramento dos leitores, sirvo-me da tradução de Luísa Benvinda Álvares no livro de David Camus “A Demanda do Cavalheiro Morgennes”: “ (…) visitar os doentes, dar de beber a quem tem sede, alimentar quem tem fome, salvar os cativos, vestir os nus, acolher os estrangeiros e fazer os serviços religiosos em honra dos defuntos (…) ”.
O mote dos mesteres das boas acções cristãs poderá ajudar-nos a perceber melhor as divergências entre os partidos locais no que concerne à existência, ou não, de acção social.
Ambos os lados têm razão, embora tenham perspectivas diferentes para os mesmos problemas. Sucintamente, a oposição, mais pelas palavras dos membros do PS, acusa a inexistência de aplicação de políticas socais. Por seu lado, o partido de poder, o PSD, rebate com uma série de apoios concedidos aos mais desfavorecidos.
Os militantes do PS, apoiados pelas políticas sociais desenvolvidas pelos sucessivos governos do mesmo partido, defensor do conceito do “Estado social”, pretendem ver consagradas na autarquia políticas estruturadas de apoio social.
A tudo isto, o PSD local, sem qualquer experiência significativa do seu partido nesta área, enquanto governo nos últimos catorze anos, tem pouco onde se suportar. O dilema liberal de redução da importância do Estado está sempre presente no discurso deste partido, obrigando os seus autarcas a recorrerem ao artifício da caridade, concedendo vários e avultados apoios, embora fazendo-o de forma desestruturada e pontual.
Sem entrar em mais pormenores e porque socialmente a época é de crise conturbada, o período de pré-campanha eleitoral pode ser óptimo para o lançamento de várias promessas de apoio aos mais desfavorecidos.
É normal.
Em todos os quadrantes políticos, os programas eleitorais procuram soluções para apoio aos desprotegidos.
No léxico dos partidos políticos locais, deveria surgir algo mais do que as habituais promessas de auxílio aos grupos sempre visados: os idosos, as pessoas com muito baixo rendimento e, neste ano difícil, os desempregados.
É necessário falar-se abertamente dos excluídos – pessoas de faixa etária entre os 40 a 60 anos, com poucas habilitações curriculares e profissionais – para os quais, a mudança no tipo de emprego existente na cidade, os deixou numa situação periclitante e pouco sustentável. Para estes a inclusão social deve prever a rápida reconversão profissional, em parceria com o Instituto de emprego e Formação Profissional (IEFP) local, sem tiques de caciquismo, nem afrontamentos ridículos.
Sem ser exaustivo existem outros assuntos, que deveriam ser colocados na “ordem do dia”.
A promoção da igualdade de género não pode ficar apenas patente nas listas de candidatos eleitorais, embora ao abrigo da lei da paridade. O associativismo neste particular deve ser promovido e incentivado, de forma que na vida pública não haja restrições à igualdade de oportunidades para homens e mulheres.
Este assunto permite recordar o elevado índice de violência doméstica no concelho. Segundo o relatório anual de Segurança Interna de 2008, S. João da Madeira era o terceiro concelho de Portugal continental com mais queixas apresentadas. Se nos lembrarmos do indicador “Taxa de criminalidade”, que colocou S. João da Madeira em 4º lugar dos concelhos de Portugal, segundo dados de 2006 - embora nos remeta para questões de segurança, não deixa de ser a consequência de vários problemas sociais da cidade e freguesias vizinhas – verifica-se que do outro lado da “Qualidade de vida”, o aspecto da cidade é sombrio.
Não posso terminar sem referir a desigualdade no acesso ao desporto. Nenhuma associação do concelho promove o desporto para pessoas e crianças com deficiência física. A marginalização social neste capítulo permite constatar que o estigma da “diferença”, ainda não favoreceu a integração destes indivíduos na vida da cidade.
Aproveito as linhas finais para desejar boas férias aos leitores, prometendo retomar a partir de Setembro o contacto mais assíduo, a fim de manter viva a opinião e o direito de cidadania.
(publicado dia 30/07/09)