Existe uma perspetiva romântica no futebol, traduzida pela hipótese de os clubes com menos recursos se agigantarem e venceram os mais fortes.
A Taça de Portugal é uma prova com essa componente sonhadora.
O reencontro entre as equipas seniores da Sanjoanense e a Académica de Coimbra permitia colocar o clube local na rota das notícias do futebol nacional e claro, recordar a sua tão vasta história.
Assim aconteceu, a imprensa desportiva fez eco do passado glorioso da ADS, as passagens pela primeira divisão há 50 anos atrás e, com igual destaque, os jogadores com a sua formação no clube e que chegaram aos principais emblemas nacionais, tendo por isso, brilhantes currículos como desportistas, incluindo as chamadas à seleção nacional.
Das efemérides com meio século, é importante evocar as figuras que fazem a história do clube. Nas paredes do restaurante Almeida está registado um curioso episódio desses jogos de futebol, entre precisamente estas duas equipas, que se defrontaram no último dia 18. Não me recordo do nome do jogador de Coimbra, que com graça, imortalizou o acontecimento. O estudante, cansado de perder a bola no confronto com o jogador da ADS, precisamente o Almeida, chegou ao intervalo e falou-lhe nas manchas de pele que o caracterizavam. Aproveitando a ingenuidade do jogador adversário, aconselhou-o a não se esforçar muito, que era o melhor remédio. Escusado será dizer, que palavra do médico foi aceite pelo jogador da ADS, com consequências no desempenho dos dois jogadores na etapa complementar. Para se ter uma ideia do valor do jogador da ADS, recorde-se as palavras de Eusébio, que elegeu Almeida como um dos adversários mais temíveis dos que teve de enfrentar.
Com este cartaz histórico, o apelo para regressar ao Estádio Conde Dias Garcia estava lançado. Oportunidade para voltar àquelas bancadas, quase duas décadas depois.
Um desafio agendado.
Ocasião para rever velhas amizades, também disponíveis para ir à bola.
É engraçado ouvir nas bancadas as expressões de sempre: “bola para o campo do Simões”, ou a verbalização restringente ao treinador do clube adversário com o “vai para a gaiola”. Destacou-se durante o jogo o apoio constante da claque, ajudados pelo restante público, em especial com o incentivo acompanhado com palmas com a sigla do nome do clube.
É igualmente engraçado ter como colegas de bancada tantos jovens e crianças, muitos deles jogadores de futebol das camadas jovens e sobretudo, muitas senhoras.
Um apontamento para a equipa da ADS, muito jovem, com os jogadores a terem uma entrega muito grande ao jogo, o que é importante por ser sinal de que respeitam o clube que representam. Tal como o treinador.
Do que se passou dentro do campo, pode haver melhores relatos. Para os meus olhos de adepto, deixo os meus apontamentos:
- o adversário marcou muito cedo;
- a ADS procurou chegar ao empate e houve lances na área da Académica, que a mim me pareceram merecedores da marcação de grande penalidade;
- o segundo golo dos jogadores de Coimbra poderia ter acabado com o jogo, no entanto, a ADS voltou a empenhar-se em marcar;
- só o conseguiu na 2ª parte (um belo golo), contudo, a Académica marcou de seguida;
- até ao final, o treinador visitante refrescou a equipa e surgiram naturalmente mais dois golos (um por sinal, muito bom).
Apesar das ameaças, foi uma tarde sem chuva. Ainda assim, fui prevenido, com guarda chuva, impermeável e optando pela bancada central. Contrastando com outras épocas, em que não usava o dito acessório e como o dinheiro era pouco, escolhia ver os jogos entre a bancada lateral, a superior ou o antigo peão. Muitas vezes, em dias de chuva, era obrigado ao abrigo debaixo dos ramos de uma qualquer árvore.
É certo que nos dias de hoje, os hábitos e horários dominicais são outros, por isso, apesar de ter passado um bom momento no Estádio Conde Dias Garcia, não devo ali regressar tão cedo. A menos que em próximas épocas, o clube do vizinho concelho a sul, volte a jogar no mesmo Campeonato e série da ADS. Um derby regional é um verdadeiro derby e já tenho saudades de assistir a um jogo desses. Desta forma, não teria que esperar pelo sorteio de uma eliminatória da taça de Portugal para ir outra vez à bola.
(a publicar no dia 22/10/15)