A longevidade do labor é significativa e demonstrativa do contributo deste jornal para a expressão da comunidade de S. João da Madeira. O seu valor editorial, impresso ao longo destas três décadas, não se resumiu ao debate político, ou meramente a uma simples visão partidária.
Fundado na década de 1980, com o país a viver em estado democrático bem assimilado, com S. João da Madeira a transformar-se em cidade (a elevação tinha sido decretada apenas 4 anos antes), o labor afirmou-se pela sua forma, pela vontade em acolher conteúdos alternativos, mas também em promover o pluralismo em detrimento do populismo.
O labor foi o terceiro jornal a ser editado em S. João da Madeira depois de 1974. Da história dos outros dois títulos (Abril e Tribuna Sanjoanense) ficaram breves memórias, embora sejam recordados um pela referência ideológica e outro conectado com uma determinada força política, ou seja, como expressão do descontentamento de determinada faixa da população, sobre os destinos da vida autárquica. Talvez por isso, por aprender com os erros dos outros, o labor perdurou no tempo. É certo que recuperou muitos dos colaboradores do primeiro dos títulos atrás mencionados (infelizmente alguns já falecidos) mas, em simultâneo, não se fixou numa perspetiva partidária, conforme mencionei no final do primeiro parágrafo. Ao longo destas décadas, o jornal foi sendo identificado como apoiante de várias correntes políticas. Mais do que fazer e contrariar essa resenha histórica, incluindo as eleições autárquicas mais recentes, é preferível voltar à frase final do parágrafo anterior e compreender o que norteou o jornal ao longo dos anos.
É igualmente importante enquadrar o labor na história social de S. João da Madeira. Tendo a cidade perdido os seus títulos surgidos depois do 25 de Abril de 1974, a edição jornalística traduzia-se apenas no semanário O Regional. Ressalvo que este jornal sempre demonstrou abertura democrática, só que era precisamente o jornal onde escreviam os cronistas consagrados da cidade, que já o faziam há imensos anos. Por tudo isto, este semanário tinha uma carga conservadora e até moralista. As transformações sociais da década de 1960, com a divulgação da música pop, o movimento hippie e o Maio 68, mais a revolução nacional democrática de 1974, culminando com o movimento punk, fizeram explodir, durante a década de 1980, uma nova classe, a juventude. Não a classificada oficialmente pelos Censos, mas toda uma massa humana que de forma alguma se sentia envelhecida e estava sempre disposta a divertir-se e prevaricar. Manifestando continuamente essa vontade de transgredir, em quebrar as convenções. Um exemplo, de entre outros, pode ser dado através das rádios piratas, que surgiram precisamente da década de 1980 como uma forma de liberdade de expressão, não controlada, mais vocacionada para a partilha de música e de informação. Com a mercantilização do conceito, muitas dessas rádios encerraram e os interesses dos seus colaboradores dispersaram-se.
E é por aqui que o jornal labor se vai afirmar. Não apenas pelos despojos do processo da extinta rádio pirata “Serra Mar” mas, por assegurar um projeto editorial atrevido, mais progressista, com outra informação, com capacidade de envolver quem quisesse partilhar ideias de forma desassombrada. Havia uma frase escrita num placard, ainda a redação do jornal estava na Rua da Liberdade, que era significativa: “Não nos interessa quem faz melhor, interessa-nos quem faz”. Este acolhimento perdurou no tempo e a aceitação nas páginas do labor de toda uma corrente de inquietude, de irreverência, com algumas pinceladas de subversão, fazem deste jornal um projeto eternamente jovem.
E faço votos para que o labor assim perdure nos anos futuros, não se acomodando, procurando sempre editar a modernidade que vive na cidade. É neste capítulo, de potenciar e noticiar a expressão artística dos habitantes da cidade, com edições de artigos e mesmo imagens dos mais díspares autores que o labor ficará na História de S. João da Madeira.
Não posso terminar, sem mencionar a cooperação entre a direção do jornal e os mais diversos colaboradores. Além de ser espaço laboratorial, em que cada colaborador expande a sua imaginação pela escrita, o labor tem servido para a publicação das mais diversificadas opiniões políticas, garantia da pluralidade e democracia que têm orientado este jornal.
Por tudo isto, os meus parabéns ao labor, ao seu diretor Pedro Silva, aos vários elementos da redação, aos demais colaboradores e claro, aos leitores, pois o seu interesse é que tem mantido vivo o jornal.