Aprecio cronistas de periodicidade regular. Normalmente ocupam páginas de uma ou mais publicações, escrevendo semanalmente. Alguns mais raros, escrevem diariamente. Como é difícil a leitura de todos os escritos, mesmo para o mais atento leitor, a compilação em livros é uma forma simpática de, com um ritmo mais apropriado a cada um, podermos dedicar o nosso tempo ao autor, enquanto cronista.
Nos últimos dias, dediquei-me a ler a compilação de textos publicados por Miguel Esteves Cardoso, “A minha Andorinha”, editado em 2006.
Para mim tudo começou com ele: a leitura dos textos de Escrítica Pop, de 1982; os textos semanais no Expresso; a aventura do Independente; a Kapa... depois perdi-o, na Má Língua. Eu sei que já “ninguém” o lê. Ou melhor, passam os olhos pela sua coluna no semanário Expresso, vêem a sua figura obesa e seguem para outra página. Como desapareceu das luzes da ribalta, sem aparecer na televisão, ficou esquecido. No entanto, ainda mexe.
A particularidade da sua prosa é a apreciação do cidadão nacional. Analisa grupos, comportamentos. Fala do ócio, da preguiça, dos prazeres da vida, sem malícia, com o respeito pelos outros.
Esta forma interessante de escrever mantêm-no activo – actualmente, em duas publicações nacionais - há vinte e muitos anos.
A publicação dos seus textos é uma garantia para o director do jornal. A publicação nos jornais é a sua garantia.
Um jornal vive da capacidade de trabalho da sua redacção mas também, dos textos dos seus colaboradores, ao abrigo de artigos de opinião ou de crónicas.
Os jornais locais têm uma outra singularidade, são meios de divulgação das actividades das várias colectividades locais. Páginas e páginas de informação desportiva são frequentes em qualquer edição do Jornal Labor. Uma relação simbiótica e profícua entre ambas as partes. Várias são as associações e diferentes secções que se divulgam, com esforço dos seus responsáveis, ou por quem assina os textos.
É importante não esquecer que o associativismo ainda é uma prestação de serviço à comunidade, à qual os seus dirigentes se dedicam sem fins lucrativos. Estão obviamente sujeitos a críticas, primeiro em sede própria, nas Assembleias Gerais, por exemplo. Como a sua actividade não se restringe à sede social, ou demais instalações desportivas, as críticas podem extravasar e surgirem artigos de opinião nos jornais locais.
Cabe aqui ao Director do Jornal, para defesa da sua publicação, dar oportunidade de defesa ao clube visado, moderando as críticas, caso estas se tornem insultuosas ou com juízo de valor, alertando para o conteúdo do texto, conseguindo assim que os seus leitores, assinantes e até anunciantes não sejam melindrados por problemas, que por vezes, não devem sair da sede dos clubes.
A elevação dos textos escritos para um jornal, incute-lhe uma qualidade superior e permite-lhe diferenciar-se dos restantes.
Uma nota final, fico contente por ter motivado o regresso do Sr. Albino Costa à escrita.
(publicado a 15/02/07)
compilação dos textos publicados no jornal labor (www.labor.pt), de 2004 a 2020.
quarta-feira, fevereiro 14, 2007
quinta-feira, fevereiro 01, 2007
Bairrismo e oposição
“A História não nos dá nenhum exemplo, nem um, de unanimidade ou mesmo de maioria absoluta onde essa maioria se tenha mostrado com a força de quem tem razão, segura, justa, generosa e com a vocação de quem está ao serviço dos outros.(...)”, cito Carlos Quevedo, num excerto de um dos seus textos publicados no livro “Já não me lembrava”.
A unanimidade foi o principal facto da política concelhia no ano de 2006, o primeiro do segundo mandato do executivo liderado pelo Dr. Castro Almeida.
O PSD aproveitou três assuntos nacionais para envolver a oposição e de seguida esvaziou-a na Assembleia Municipal: primeiro com a aprovação do documento contestatário à pretensa intenção do Secretário de Estado da Administração Interna em extinguir Juntas de Freguesia, em concelhos de uma freguesia única; no caso do possível financiamento à renovação da linha do Vouga, para introdução de um transporte tipo vai-vém; finalmente, no emotivo e (im)previsível fecho da Urgência do Hospital.
Para cada um destes assuntos, o argumento principal rondou sempre o “bairrismo”: “não se pode extinguir uma Junta de Freguesia como a de S. João da Madeira”; “um voto unânime é importante para negociar com o governo a possibilidade de requalificação da linha do Vouga, infra-estrutura que permitirá dotar a cidade com um moderno e único transporte”; e no Hospital, após meses (se calhar anos) em que o Director foi anunciando a importância de se preparar a defesa da Urgência, quando o Ministério da Saúde anunciou o estudo, a situação ficou colocada da seguinte forma, “quem não está contra o fecho das Urgências, está contra a cidade e os seus munícipes”.
Desta forma, o executivo camarário deu outra dimensão à sua nova maioria. Conseguiu criar a imagem de que até a oposição local “está do seu lado”.
Perante este ardil a oposição desapareceu. As recentes entrevistas dos líderes das concelhias locais, apesar das divergências apresentadas, demonstraram isso mesmo.
Dos actuais partidos de oposição com representação camarária, um manteve a convicção que os bons projectos em curso são os do executivo anterior e outro, por seu lado, manteve uma excelente retórica num discurso de oposição, com argumentos adequados, virados para o passado e não para o futuro.
Em todo o espectro político permanece a convicção que o futuro da política local passa forçosamente pelo actual Presidente. É evidente de que nada serve opinar sobre a sua eventual carreira política, a nível nacional, como eu próprio já o fiz, ou querer encaminhá-lo para a Feira, como vi escrito na imprensa local na semana anterior. Nos próximos dois anos e meio, o calendário político terá a agenda do Dr. Castro Almeida, que como político profissional e experiente, saberá qual o seu tempo de saída e certamente quer deixar o seu cunho na cidade, finalizando alguns seus projectos antigos, mais os que apresentou no seu programa eleitoral e pelos quais tem lutado. Aliás, apesar de alguns contratempos que vão sempre aparecendo ao longo da gestão política, a imagem dinâmica e sobretudo, renovadora com que o Presidente da Câmara se apresentou ao eleitorado em 2001, ainda resiste.
Obviamente, o PSD está refém da sua continuidade e os outros partidos anseiam a sua saída.
É por aqui que poderá começar a diferença entre os vários partidos.
Da oposição espera-se a apresentação de propostas alternativas e inovadoras. A sua capacidade de argumentação não deve apenas servir para criticar o facto consumado, ou em vias de o ser mas também, para marcar a agenda política da cidade.
A oposição deverá iniciar assertiva e tranquilamente o seu projecto político com um discurso de ruptura, com ideias próprias - novas de preferência, com um projecto integrado para a cidade e claro, com um conceito urbano esclarecido, onde sejam enquadrados os parceiros regionais envolventes, até por referência ao novo QREN que assim o exige.
Numa cidade em renovação, com fluxos permanentes de pessoas, tendo por ideia ser o centro da região onde está inserida, o argumento “bairrismo” não pode continuar a ser uma bandeira. Corre-se vários riscos como a dificuldade de integração de novos munícipes e o afastamento das populações vizinhas.
Termino com um forte conceito escondido por detrás da globalização, “uma pessoa é de onde se sente bem”.
(publicado em 01/02/07)
A unanimidade foi o principal facto da política concelhia no ano de 2006, o primeiro do segundo mandato do executivo liderado pelo Dr. Castro Almeida.
O PSD aproveitou três assuntos nacionais para envolver a oposição e de seguida esvaziou-a na Assembleia Municipal: primeiro com a aprovação do documento contestatário à pretensa intenção do Secretário de Estado da Administração Interna em extinguir Juntas de Freguesia, em concelhos de uma freguesia única; no caso do possível financiamento à renovação da linha do Vouga, para introdução de um transporte tipo vai-vém; finalmente, no emotivo e (im)previsível fecho da Urgência do Hospital.
Para cada um destes assuntos, o argumento principal rondou sempre o “bairrismo”: “não se pode extinguir uma Junta de Freguesia como a de S. João da Madeira”; “um voto unânime é importante para negociar com o governo a possibilidade de requalificação da linha do Vouga, infra-estrutura que permitirá dotar a cidade com um moderno e único transporte”; e no Hospital, após meses (se calhar anos) em que o Director foi anunciando a importância de se preparar a defesa da Urgência, quando o Ministério da Saúde anunciou o estudo, a situação ficou colocada da seguinte forma, “quem não está contra o fecho das Urgências, está contra a cidade e os seus munícipes”.
Desta forma, o executivo camarário deu outra dimensão à sua nova maioria. Conseguiu criar a imagem de que até a oposição local “está do seu lado”.
Perante este ardil a oposição desapareceu. As recentes entrevistas dos líderes das concelhias locais, apesar das divergências apresentadas, demonstraram isso mesmo.
Dos actuais partidos de oposição com representação camarária, um manteve a convicção que os bons projectos em curso são os do executivo anterior e outro, por seu lado, manteve uma excelente retórica num discurso de oposição, com argumentos adequados, virados para o passado e não para o futuro.
Em todo o espectro político permanece a convicção que o futuro da política local passa forçosamente pelo actual Presidente. É evidente de que nada serve opinar sobre a sua eventual carreira política, a nível nacional, como eu próprio já o fiz, ou querer encaminhá-lo para a Feira, como vi escrito na imprensa local na semana anterior. Nos próximos dois anos e meio, o calendário político terá a agenda do Dr. Castro Almeida, que como político profissional e experiente, saberá qual o seu tempo de saída e certamente quer deixar o seu cunho na cidade, finalizando alguns seus projectos antigos, mais os que apresentou no seu programa eleitoral e pelos quais tem lutado. Aliás, apesar de alguns contratempos que vão sempre aparecendo ao longo da gestão política, a imagem dinâmica e sobretudo, renovadora com que o Presidente da Câmara se apresentou ao eleitorado em 2001, ainda resiste.
Obviamente, o PSD está refém da sua continuidade e os outros partidos anseiam a sua saída.
É por aqui que poderá começar a diferença entre os vários partidos.
Da oposição espera-se a apresentação de propostas alternativas e inovadoras. A sua capacidade de argumentação não deve apenas servir para criticar o facto consumado, ou em vias de o ser mas também, para marcar a agenda política da cidade.
A oposição deverá iniciar assertiva e tranquilamente o seu projecto político com um discurso de ruptura, com ideias próprias - novas de preferência, com um projecto integrado para a cidade e claro, com um conceito urbano esclarecido, onde sejam enquadrados os parceiros regionais envolventes, até por referência ao novo QREN que assim o exige.
Numa cidade em renovação, com fluxos permanentes de pessoas, tendo por ideia ser o centro da região onde está inserida, o argumento “bairrismo” não pode continuar a ser uma bandeira. Corre-se vários riscos como a dificuldade de integração de novos munícipes e o afastamento das populações vizinhas.
Termino com um forte conceito escondido por detrás da globalização, “uma pessoa é de onde se sente bem”.
(publicado em 01/02/07)
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