“A História não nos dá nenhum exemplo, nem um, de unanimidade ou mesmo de maioria absoluta onde essa maioria se tenha mostrado com a força de quem tem razão, segura, justa, generosa e com a vocação de quem está ao serviço dos outros.(...)”, cito Carlos Quevedo, num excerto de um dos seus textos publicados no livro “Já não me lembrava”.
A unanimidade foi o principal facto da política concelhia no ano de 2006, o primeiro do segundo mandato do executivo liderado pelo Dr. Castro Almeida.
O PSD aproveitou três assuntos nacionais para envolver a oposição e de seguida esvaziou-a na Assembleia Municipal: primeiro com a aprovação do documento contestatário à pretensa intenção do Secretário de Estado da Administração Interna em extinguir Juntas de Freguesia, em concelhos de uma freguesia única; no caso do possível financiamento à renovação da linha do Vouga, para introdução de um transporte tipo vai-vém; finalmente, no emotivo e (im)previsível fecho da Urgência do Hospital.
Para cada um destes assuntos, o argumento principal rondou sempre o “bairrismo”: “não se pode extinguir uma Junta de Freguesia como a de S. João da Madeira”; “um voto unânime é importante para negociar com o governo a possibilidade de requalificação da linha do Vouga, infra-estrutura que permitirá dotar a cidade com um moderno e único transporte”; e no Hospital, após meses (se calhar anos) em que o Director foi anunciando a importância de se preparar a defesa da Urgência, quando o Ministério da Saúde anunciou o estudo, a situação ficou colocada da seguinte forma, “quem não está contra o fecho das Urgências, está contra a cidade e os seus munícipes”.
Desta forma, o executivo camarário deu outra dimensão à sua nova maioria. Conseguiu criar a imagem de que até a oposição local “está do seu lado”.
Perante este ardil a oposição desapareceu. As recentes entrevistas dos líderes das concelhias locais, apesar das divergências apresentadas, demonstraram isso mesmo.
Dos actuais partidos de oposição com representação camarária, um manteve a convicção que os bons projectos em curso são os do executivo anterior e outro, por seu lado, manteve uma excelente retórica num discurso de oposição, com argumentos adequados, virados para o passado e não para o futuro.
Em todo o espectro político permanece a convicção que o futuro da política local passa forçosamente pelo actual Presidente. É evidente de que nada serve opinar sobre a sua eventual carreira política, a nível nacional, como eu próprio já o fiz, ou querer encaminhá-lo para a Feira, como vi escrito na imprensa local na semana anterior. Nos próximos dois anos e meio, o calendário político terá a agenda do Dr. Castro Almeida, que como político profissional e experiente, saberá qual o seu tempo de saída e certamente quer deixar o seu cunho na cidade, finalizando alguns seus projectos antigos, mais os que apresentou no seu programa eleitoral e pelos quais tem lutado. Aliás, apesar de alguns contratempos que vão sempre aparecendo ao longo da gestão política, a imagem dinâmica e sobretudo, renovadora com que o Presidente da Câmara se apresentou ao eleitorado em 2001, ainda resiste.
Obviamente, o PSD está refém da sua continuidade e os outros partidos anseiam a sua saída.
É por aqui que poderá começar a diferença entre os vários partidos.
Da oposição espera-se a apresentação de propostas alternativas e inovadoras. A sua capacidade de argumentação não deve apenas servir para criticar o facto consumado, ou em vias de o ser mas também, para marcar a agenda política da cidade.
A oposição deverá iniciar assertiva e tranquilamente o seu projecto político com um discurso de ruptura, com ideias próprias - novas de preferência, com um projecto integrado para a cidade e claro, com um conceito urbano esclarecido, onde sejam enquadrados os parceiros regionais envolventes, até por referência ao novo QREN que assim o exige.
Numa cidade em renovação, com fluxos permanentes de pessoas, tendo por ideia ser o centro da região onde está inserida, o argumento “bairrismo” não pode continuar a ser uma bandeira. Corre-se vários riscos como a dificuldade de integração de novos munícipes e o afastamento das populações vizinhas.
Termino com um forte conceito escondido por detrás da globalização, “uma pessoa é de onde se sente bem”.
(publicado em 01/02/07)
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