quarta-feira, junho 13, 2007

Migrações

Pelos valores retirados dos Censos populacionais, obtidos desde do ano de 1930 até ao último de 2001, verifica-se que a população de S. João da Madeira passou de 5.481 para 21.102 habitantes. Um crescimento populacional acelerado em setenta e um anos, equivalente a um aumento de 285%, praticamente o quádruplo da sua população aquando da emancipação concelhia.
Os valores seguintes, retirados da Wikipédia, mostram a evolução ao longo das últimas décadas,
1930 = 5481 habitantes
1960 = 11921 habitantes
1981 = 16444 habitantes
1991 = 18452 habitantes
2001 = 21102 habitantes
2004 = 21538 habitantes
Este último ano apesar de não estar associado a nenhum Censos, e portanto, sem o rigor em termos de estudos demográficos, divulga-se em todas as páginas dedicadas aos concelhos da Região Entre o Douro e Vouga (EDV), o que permite deduzir estar associado a um outro tipo de estudo, cuja fonte me é desconhecida.
O crescimento populacional está associado a factores naturais – número de nascimentos e número de óbitos - e a factores de migrações.
Este último é o grande responsável pelo aumento da população em S. João da Madeira e da região onde este concelho está inserido. A forte industrialização da região condicionou a fixação da população ao longo dos anos. Em 1930, o somatório da população dos concelhos do EDV apresentava o valor de 128.410 habitantes, sendo que actualmente esse número é de 283.856 pessoas.
Se analisarmos os dados dos concelhos vizinhos em termos de evolução numérica, podemos ficar mais elucidados sobre o crescimento populacional da região:

Ano Feira OA VC Arouca
1930 52679 33072 15745 21433
1960 83483 46263 20404 26378
1981 109531 62821 24224 23896
1991 118641 66846 24537 23894
2001 135964 70721 24805 24227
2004 142245 71243 24761 24019

O crescimento constante de S. João da Madeira, é similar aos concelhos de Santa Maria da Feira e de Oliveira de Azeméis ao longo dos anos. Vale de Cambra e Arouca estagnaram em termos de crescimento populacional, tendo este último regredido até, durante alguns anos.
Analisando de novo os dados de S. João da Madeira...
Em termos percentuais, o crescimento populacional entre os anos dos estudos referidos é o seguinte:
1930-1960: 117%
1960-1981: 38%
1981-1991: 12%
1991-2001: 14%
2001-2004: 2%
Se considerarmos em termos médios anuais, a relação é mais esclarecedora:
1930-1960: 3,9%
1960-1981: 1,8%
1981-1991: 1,2%
1991-2001: 1,4%
2001-2004: 0,7%
Isto significa que o ritmo de crescimento da população alterou após o ano de 2001. Em termos demográficos existem dois tipos de crescimento populacional, acelerado e lento. Pelos valores indicados em 2004, S. João da Madeira está na fase de crescimento lento. Isto significa que um dos tipos de crescimento atrás verificado se alterou. Empiricamente, deduzo tratar-se do contributo das migrações.
Esta fase de crescimento lento poderia ser explicada por algum dos seguintes fenómenos: a) existem vários fluxos de migração de rotina diária à volta do concelho, diversas são as freguesias vizinhas que recebem muitos habitantes provenientes de S. João da Madeira, devido à procura de preços mais baixos por metro quadrado das habitações ou de terrenos para construção de moradias individuais. b) o fluxo de estudantes para o ensino superior – estudos universitários - que, não encontrando na cidade resposta para as suas necessidades de emprego após obterem as resectivas licenciaturas, fixam residência noutros locais.
Estes fluxos sempre existiram e não me parece terem surgido apenas entre os anos de 2001 e 2004.
Existe um dado que não procurei mas, que poderia ser fundamental para perceber melhor a fixação e aumento da população em S. João da Madeira: trata-se do ano da finalização da construção e atribuição das habitações sociais no concelho. Este dado juntamente com a história industrial do concelho explicaria melhor o seu processo demográfico.
No entanto, é no emprego que surgem as melhores justificações. A perda de postos de trabalho no sector do calçado em S. João da Madeira - 1700 em 10 anos, trouxe como repercussão a migração negativa, ou seja, a crise no sector económico obriga à procura de emprego fora da cidade, para dentro do país ou para o estrangeiro.
Com este fluxo e observando em gráfico a evolução da população, podemos constatar que a curva característica apresenta sinais e semelhanças com uma curva logarítmica, fixando-se num determinado patamar de valores. A tendência será fixar-se em 22.500 habitantes em 2011.

(gráfico não disponível)

Tudo isto, salvaguardo, são suposições com base num valor estranho aos habituais Censos Populacionais.
A definição de um modelo para a cidade de S. João da Madeira não passa apenas pela qualidade de construção e funcionalidade de equipamentos públicos, acessibilidades às principais vias de comunicação e outros indicadores de índole urbana. Mais do que factores de modernidade, ao escolher-se um modelo existem implicações a nível económico, com reflexos na população activa e no número de habitantes da cidade.
Sendo certo que qualquer conceito moderno para a cidade não devia esquecer os problemas sociais da mesma: o desemprego constante (mais de 1.000 activos), os desempregados de longa duração (provavelmente retirados das listas do Centro de Emprego), uma população inactiva com necessidade de reconversão a curto e a médio prazo e claro, um tecido empresarial em lenta transformação, com artigos de valor acrescentado a não ocuparem a totalidade da mão de obra existente.
Tudo isto associado ao diagnóstico da Rede Social, cáustico a vários níveis, concretamente nas habilitações literárias da população do Concelho: para 4959 habitantes o 1º ciclo completo é a habilitação mais frequente.
Os próximos tempos não serão fáceis para a maioria da população residente em S. João da Madeira.
Não querer encarar esta situação é hipotecar o futuro da Cidade.
É urgente contrariá-la, traçando e executando projectos políticos na área social a médio prazo, dotando-os com elevadas verbas.
Todo o dinheiro aplicado na qualificação da população será mais útil do que qualquer obra municipal, tão caracteristicamente de fachada e muitas vezes desnecessária.

(a publicar no dia 21/06/07)

segunda-feira, junho 04, 2007

Handicap

Ao assumir o incumprimento do seu programa eleitoral, o Presidente da Câmara Municipal de S. João da Madeira revelou uma forte auto – confiança. Os valores anunciados de 30%, implicam a concretização de alguns projectos da responsabilidade do Governo. A construção da A32 - com uma saída que sirva os interesses de S. João da Madeira para ficar com uma ligação terrestre rápida ao Porto e a renovação da linha do Vouga, com a introdução do vai e vem local são as empreitadas pretendidas, cuja conclusão é esperada antes das próximas eleições autárquicas. O risco do executivo municipal, torna-se maior se a renovação do Cinema Imperador não se concretizar e a projectada Sala de Espectáculos não abrir as portas até 2009.
Nesse cenário as metas anunciadas não serão alcançadas e o programa eleitoral ficará concretizado em apenas 40%.
Perante este panorama estatisticamente desolador, o programa eleitoral do ano de 2005, que suportou a maioria do partido vencedor, servirá de modelo a novos projectos políticos, para o ciclo eleitoral seguinte.
Outros argumentos políticos serão revelados.
Um iniciado na causa política descobre desde muito cedo as preocupações dos partidos no período que antecede umas eleições autárquicas. Essas inquietações são normalmente e hierarquizando: candidato, elementos das listas, promessas eleitorais, acções de campanha e programa político. O método não varia muito de partido para partido. Vencidas as duas primeiras etapas - ficando as listas constituídas e divulgadas, procura-se uma série de frases fortes para elaborar as promessas eleitorais. Depois desta fase, as energias passam a estar concentradas em questões de propaganda eleitoral: cartazes de várias dimensões, sites na Internet, folhetos e jornal de campanha, campanhas de rua, uma ou outra acção política programada, os jantares característicos e claro, a caravana de encerramento.
O programa político, o projecto, as ideias sobre e para o município, por vezes não conhecem a luz do dia.
Manifestamente por falta de tempo. O arranque tardio, com a escolha de candidatos e a constituição de listas de forma intermitente, não permite muito mais.
Habitualmente fazem-se programas eleitorais com duas ou três ideias sobre um determinado assunto – tópico político. Elegem-se os assuntos mais relevantes, ou por questões de mediatismo momentâneo e assim consegue-se atingir números como quarenta a cinquenta ideias soltas para os municípios. Por vezes, nada mais são do que promessas.
Tudo isto tende a repetir-se nos vários concelhos do país.
Os partidos consideram o mais importante nas eleições autárquicas a apresentação de candidatos. Retirando significado a questões como projecto político e consequente programa eleitoral. Esta atitude, impõe uma ideia de menoridade destas eleições e revela um desinteresse das concelhias pela causa comum, a pública.
Utilizando uma linguagem desportiva, concretamente do golfe, diria ser este o “handicap” das estruturas locais dos partidos políticos. O atraso com que iniciam a campanha eleitoral, relativamente ao partido do executivo Camarário, não lhes permite ter oportunidade de reduzir a diferença para quem já tem projecto político e obviamente candidato pré - definido. A menos que alguma “tacada” mal efectuada, provoque situações de crise política ou financeira.
Como foi o caso da Câmara Municipal de Lisboa.
Para as próximas eleições intercalares, os partidos e listas de independentes apresentaram candidatos fortes: ex-ministros, ex-presidentes de Câmara, ex-autarcas e políticos com inegável currículo.
Na comunicação social, os últimos dois anos da Autarquia Lisboeta não foram esquecidos, exigiu-se aos candidatos ideias para a Capital, nalguns casos por estas serem desconhecidas, obviamente.
A fórmula autárquica dos partidos, para Lisboa não foi suficiente.
Enquanto uns alegam a natureza intercalar das eleições, para conseguirem ganhar tempo e apresentarem um projecto estruturado para a cidade, outros preparam o ataque ao candidato que lidera as sondagens. Assim, só serão divulgados alguns programas, sendo certo, que a concretização efectiva dos mesmos ficará por números idênticos aos revelados há dias em S. João da Madeira.

(a publicar dia 07/06/07)