Ao iniciar um artigo para o Jornal Labor deparo-me sempre com duas condições: introduzir elementos de diferenciação e desejar que qualquer leitor dê por bem entregue o seu tempo de entretenimento e de procura de informação.
Os textos, que o Jornal publica em exclusivo, são escritos de forma desinteressada, pretendendo melhorar a qualidade da edição e nessa perspectiva, opto por vezes em lançar a debate alguns assuntos do quotidiano da Cidade. Ideias, apenas.
Neste aspecto, nunca consegui obter retorno por escrito, por parte de outras pessoas interessadas na realidade, com pontos de vista diferentes do exposto.
(Refugiei-me de provocações publicadas nalguns textos de terceiros, que objectivamente fugiam da troca de ideias. A criticas infundadas e de tentativas de ataques pessoais sem nexo, nada disse.)
Não quero com isto constatar que opiniões apresentadas, embora mais acutilantes, nada fracturantes, tivessem sido em vão. Como raramente me encontro em S. João da Madeira, não tenho oportunidade de contactar pessoalmente os leitores e assinantes do Jornal Labor. O reconhecimento surge por uma palavra amiga de circunstância, mais por via de familiares do que por convívio pessoal.
Os leitores foram-se fidelizando e mesmo com textos longos optam pela leitura. Se não for no acto imediato, procuram um tempo livre, para se debruçarem sobre uma nova visão dos acontecimentos. Esta curiosidade estende-se aos agentes da política, quer por leitura própria, quer através do resumo efectuado pelos seus assessores de imprensa. Mas, se por ventura nos cruzamos com um político local, na troca de opiniões sobre um assunto, este nega sempre a leitura dos nossos textos mais melindrosos, utilizando a técnica “esse por acaso não li”.
No dia de 11 Outubro, no discurso das Comemorações de Emancipação Concelhia, o Presidente da Câmara Municipal referiu-se ao futuro da Cidade, falando sobre os vinte e dois mil habitantes, número jamais oficial e anteriormente nunca reconhecido e que sendo uma projecção, foi por mim antecipado no texto que intitulei “Migrações”.
É certo que o ponto alto de todo o discurso se concretizou no reconhecimento do seu projecto pessoal para a Cidade, embora seja importante o apelo à participação colectiva no seu futuro.
Voltando ao número…
Os 22 mil surgiram como sinal da estagnação do crescimento populacional, a alternativa apresentada foi a hipótese para outro tipo de crescimento, sustentado em construção de qualidade superior ou então na construção de bairros sociais.
Não querendo colocar-me em bicos de pés, penso existir uma terceira via.
Nada mais do que a construção de qualidade superior em terrenos de preço inferior. Passo a explicar: promover em terrenos municipais a construção de habitações, não de âmbito social mas, de acabamentos de elevado nível. Com isto seria possível atrair e fixar jovens, com algum poder de compra, dando-lhes a opção de residência em S. João da Madeira a preços de acordo com a sua carteira.
Esta opção é frequente nos concelhos de Espinho e até em Santa Maria da Feira, em prédios com poucos condóminos, retirando-lhes desde logo, toda aquela carga de habitação social. Os preços das habitações, normalmente de tipologia T2, são mais baixos do que os de mercado. Não se pense que com isto os construtores ou promotores ficariam prejudicados, pois nos concelhos referidos o ritmo de construção não se alterou, antes pelo contrário, pois este sistema permite fixar residentes no concelho e alterar o seu ritmo de crescimento.
Não podemos acreditar que as políticas de juventude só se destinam a estudantes do secundário, baseando-se em acções de ocupação de tempos livres. É necessário contextualizar o jovem até uma idade superior e perceber que as suas preocupações fundamentais são a formação, o trabalho (emprego) e habitação própria.
Uma cidade moderna, competitiva e promovendo a inovação, com a possibilidade de vir a oferecer empregos com base em novas tecnologias, não pode manter-se com uma política de promoção de habitação arcaica, destinada apenas a angariar receitas através dos vários impostos municipais, ou a vender terrenos municipais com muitas mais valias.
Finalizar um texto deste modo é arriscado mas, imagine-se o risco de qualquer jovem em adquirir um apartamento em S. João da Madeira, através de empréstimo bancário e verificar a subida da prestação mensal, acompanhada pela desvalorização temporal do imóvel.
Este tipo de Habitação destinado a Jovens pode ser uma forma de aumentar a procura, numa cidade em que a oferta habitacional é grande mas, mais do que isso servirá para promover equílibrios sociais, evitando a exclusão de muitos e fixando uma classe média, importante para o desenvolvimento do Concelho.
(a publicar no dia 25/10/07)
compilação dos textos publicados no jornal labor (www.labor.pt), de 2004 a 2020.
segunda-feira, outubro 22, 2007
segunda-feira, outubro 08, 2007
Usos & Costumes
Nas regiões vinhateiras as vindimas estão a acabar.
As do Douro têm um atributo especial. A longa tradição de viticultura produziu uma envolvência paisagística de beleza excepcional, classificada pela UNESCO, desde 2001, como Património da Humanidade, precisamente na categoria de paisagem cultural. Acrescente-se a qualidade dos vinhos produzidos, entre os quais o admirável Vinho do Porto.
A tradição da Região produziu efeitos em termos de evolução tecnológica, social e económica. Apesar de todas estas características procurou-se no Douro Vinhateiro manter a identidade da região. Se por um lado, a modernidade foi sendo alcançada com o desenvolvimento de Vila Real - hoje uma cidade com Universidade, diversos equipamentos adequados à sua dimensão, incluindo um enorme centro comercial e recentemente com a ligação à rede de auto-estradas do estado, por outro lado temos uma série de Vilas ou pequenas Cidades – sedes de concelho – e suas aldeias, com as características vinhateiras de sempre, apesar dos ténues sinais de progresso.
Neste espírito surgiu o programa “Aldeias Vinhateiras do Douro”, este ano na primeira edição. A ideia é valorizar e regenerar as tradições da Região, criando-se um vasto programa, envolvendo seis aldeias de outros tantos concelhos. A programação semanal envolve espectáculos de grupos locais e profissionais de teatro e animação de rua. Além de alguns Grupos de Danças e Cantares da Região, estão programadas animações por artistas espanhóis, italianos e portugueses, entre os quais, o conhecido Pedro Tochas. Uma série de espectáculos itinerantes, um misto de tradicional com moderno. As actividades tradicionais são hoje exploradas ao máximo, para efeitos turísticos. Com programações arrojadas, aplicando o tal conceito “combinado” numa fórmula que pretende sobretudo, atrair pessoas das próprias terras para a rua, numa série de dias e de noites. Mais os turistas interessados.
Este evento surge dentro do mesmo conceito, que orientou a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, no lançamento dos seus apelativos Festival de Teatro de Rua – Imaginarius e obviamente, A Viagem Medieval. Se ambos surgiram do nada, há pouco tempo e deixaram consequências para o presente e futuro, fica a certeza da promoção dos maiores e melhores eventos culturais da Região Entre o Douro e Vouga.
A estimativa da última edição d’ A Viagem Medieval foi o número total de visitantes ter-se situado perto do meio milhão de pessoas. Este é um sinal claro do envolvimento da população local, que participa por sentir que se observaram as capacidades concelhias. Um olhar interno, permitiu projectar o seu Castelo, para muito mais do que um simples “ex-libris”, presenteando-o com um cariz tradicional, até então oculto.
Pode parecer um contra-senso preparar um texto sobre tradição, num momento em que o assunto de todas as conversas na cidade de S. João da Madeira, é a abertura do Centro Comercial 8ª Avenida. Também objecto de romarias e curiosidade. Um pretexto para visitar a cidade. Preenchimento do vazio de quem ao fim de semana não pode sair da localidade. Redimensionando a amplitude dos interesses nocturnos e das horas de lazer.
Em suma, redefiniu-se o novo centro da Cidade, tornando-se o shopping na sua principal atracção, nos tempos actuais, fruto de conceitos modernos de comércio e lazer.
No imediato, nada se alterará.
A realidade não se refaz.
É sempre impetuosa a mudança em S. João da Madeira... Os edifícios antigos vão sendo substituídos por equipamentos mais modernos. Uma sucessão de construções que retiram o passado físico à Cidade.
Neste contexto, é urgente procurar na história da povoação, os costumes da sua população.
É tempo de recuperar as suas tradições: assumir o seu passado industrial, tão dignificante.
Analisar o lado pitoresco desse passado e explorá-lo. À semelhança do que outros fazem.
Envolver a população e lançar um evento cultural único, de dimensão significativa.
Encontrar outro motivo para a cidade ser visitada.
A fórmula até é simples.
Está cá tudo.
( publicado no dia 12 de Outubro de 2007)
As do Douro têm um atributo especial. A longa tradição de viticultura produziu uma envolvência paisagística de beleza excepcional, classificada pela UNESCO, desde 2001, como Património da Humanidade, precisamente na categoria de paisagem cultural. Acrescente-se a qualidade dos vinhos produzidos, entre os quais o admirável Vinho do Porto.
A tradição da Região produziu efeitos em termos de evolução tecnológica, social e económica. Apesar de todas estas características procurou-se no Douro Vinhateiro manter a identidade da região. Se por um lado, a modernidade foi sendo alcançada com o desenvolvimento de Vila Real - hoje uma cidade com Universidade, diversos equipamentos adequados à sua dimensão, incluindo um enorme centro comercial e recentemente com a ligação à rede de auto-estradas do estado, por outro lado temos uma série de Vilas ou pequenas Cidades – sedes de concelho – e suas aldeias, com as características vinhateiras de sempre, apesar dos ténues sinais de progresso.
Neste espírito surgiu o programa “Aldeias Vinhateiras do Douro”, este ano na primeira edição. A ideia é valorizar e regenerar as tradições da Região, criando-se um vasto programa, envolvendo seis aldeias de outros tantos concelhos. A programação semanal envolve espectáculos de grupos locais e profissionais de teatro e animação de rua. Além de alguns Grupos de Danças e Cantares da Região, estão programadas animações por artistas espanhóis, italianos e portugueses, entre os quais, o conhecido Pedro Tochas. Uma série de espectáculos itinerantes, um misto de tradicional com moderno. As actividades tradicionais são hoje exploradas ao máximo, para efeitos turísticos. Com programações arrojadas, aplicando o tal conceito “combinado” numa fórmula que pretende sobretudo, atrair pessoas das próprias terras para a rua, numa série de dias e de noites. Mais os turistas interessados.
Este evento surge dentro do mesmo conceito, que orientou a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, no lançamento dos seus apelativos Festival de Teatro de Rua – Imaginarius e obviamente, A Viagem Medieval. Se ambos surgiram do nada, há pouco tempo e deixaram consequências para o presente e futuro, fica a certeza da promoção dos maiores e melhores eventos culturais da Região Entre o Douro e Vouga.
A estimativa da última edição d’ A Viagem Medieval foi o número total de visitantes ter-se situado perto do meio milhão de pessoas. Este é um sinal claro do envolvimento da população local, que participa por sentir que se observaram as capacidades concelhias. Um olhar interno, permitiu projectar o seu Castelo, para muito mais do que um simples “ex-libris”, presenteando-o com um cariz tradicional, até então oculto.
Pode parecer um contra-senso preparar um texto sobre tradição, num momento em que o assunto de todas as conversas na cidade de S. João da Madeira, é a abertura do Centro Comercial 8ª Avenida. Também objecto de romarias e curiosidade. Um pretexto para visitar a cidade. Preenchimento do vazio de quem ao fim de semana não pode sair da localidade. Redimensionando a amplitude dos interesses nocturnos e das horas de lazer.
Em suma, redefiniu-se o novo centro da Cidade, tornando-se o shopping na sua principal atracção, nos tempos actuais, fruto de conceitos modernos de comércio e lazer.
No imediato, nada se alterará.
A realidade não se refaz.
É sempre impetuosa a mudança em S. João da Madeira... Os edifícios antigos vão sendo substituídos por equipamentos mais modernos. Uma sucessão de construções que retiram o passado físico à Cidade.
Neste contexto, é urgente procurar na história da povoação, os costumes da sua população.
É tempo de recuperar as suas tradições: assumir o seu passado industrial, tão dignificante.
Analisar o lado pitoresco desse passado e explorá-lo. À semelhança do que outros fazem.
Envolver a população e lançar um evento cultural único, de dimensão significativa.
Encontrar outro motivo para a cidade ser visitada.
A fórmula até é simples.
Está cá tudo.
( publicado no dia 12 de Outubro de 2007)
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