Nas regiões vinhateiras as vindimas estão a acabar.
As do Douro têm um atributo especial. A longa tradição de viticultura produziu uma envolvência paisagística de beleza excepcional, classificada pela UNESCO, desde 2001, como Património da Humanidade, precisamente na categoria de paisagem cultural. Acrescente-se a qualidade dos vinhos produzidos, entre os quais o admirável Vinho do Porto.
A tradição da Região produziu efeitos em termos de evolução tecnológica, social e económica. Apesar de todas estas características procurou-se no Douro Vinhateiro manter a identidade da região. Se por um lado, a modernidade foi sendo alcançada com o desenvolvimento de Vila Real - hoje uma cidade com Universidade, diversos equipamentos adequados à sua dimensão, incluindo um enorme centro comercial e recentemente com a ligação à rede de auto-estradas do estado, por outro lado temos uma série de Vilas ou pequenas Cidades – sedes de concelho – e suas aldeias, com as características vinhateiras de sempre, apesar dos ténues sinais de progresso.
Neste espírito surgiu o programa “Aldeias Vinhateiras do Douro”, este ano na primeira edição. A ideia é valorizar e regenerar as tradições da Região, criando-se um vasto programa, envolvendo seis aldeias de outros tantos concelhos. A programação semanal envolve espectáculos de grupos locais e profissionais de teatro e animação de rua. Além de alguns Grupos de Danças e Cantares da Região, estão programadas animações por artistas espanhóis, italianos e portugueses, entre os quais, o conhecido Pedro Tochas. Uma série de espectáculos itinerantes, um misto de tradicional com moderno. As actividades tradicionais são hoje exploradas ao máximo, para efeitos turísticos. Com programações arrojadas, aplicando o tal conceito “combinado” numa fórmula que pretende sobretudo, atrair pessoas das próprias terras para a rua, numa série de dias e de noites. Mais os turistas interessados.
Este evento surge dentro do mesmo conceito, que orientou a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, no lançamento dos seus apelativos Festival de Teatro de Rua – Imaginarius e obviamente, A Viagem Medieval. Se ambos surgiram do nada, há pouco tempo e deixaram consequências para o presente e futuro, fica a certeza da promoção dos maiores e melhores eventos culturais da Região Entre o Douro e Vouga.
A estimativa da última edição d’ A Viagem Medieval foi o número total de visitantes ter-se situado perto do meio milhão de pessoas. Este é um sinal claro do envolvimento da população local, que participa por sentir que se observaram as capacidades concelhias. Um olhar interno, permitiu projectar o seu Castelo, para muito mais do que um simples “ex-libris”, presenteando-o com um cariz tradicional, até então oculto.
Pode parecer um contra-senso preparar um texto sobre tradição, num momento em que o assunto de todas as conversas na cidade de S. João da Madeira, é a abertura do Centro Comercial 8ª Avenida. Também objecto de romarias e curiosidade. Um pretexto para visitar a cidade. Preenchimento do vazio de quem ao fim de semana não pode sair da localidade. Redimensionando a amplitude dos interesses nocturnos e das horas de lazer.
Em suma, redefiniu-se o novo centro da Cidade, tornando-se o shopping na sua principal atracção, nos tempos actuais, fruto de conceitos modernos de comércio e lazer.
No imediato, nada se alterará.
A realidade não se refaz.
É sempre impetuosa a mudança em S. João da Madeira... Os edifícios antigos vão sendo substituídos por equipamentos mais modernos. Uma sucessão de construções que retiram o passado físico à Cidade.
Neste contexto, é urgente procurar na história da povoação, os costumes da sua população.
É tempo de recuperar as suas tradições: assumir o seu passado industrial, tão dignificante.
Analisar o lado pitoresco desse passado e explorá-lo. À semelhança do que outros fazem.
Envolver a população e lançar um evento cultural único, de dimensão significativa.
Encontrar outro motivo para a cidade ser visitada.
A fórmula até é simples.
Está cá tudo.
( publicado no dia 12 de Outubro de 2007)
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