A maior controvérsia prende-se pela proibição de fumar em determinados locais, nomeadamente os descritos nas vinte e cinco alíneas consideradas.
A aceitação da proibição por parte dos fumadores e em especial, pelos proprietários de estabelecimentos de restauração e similares, foram extremamente enaltecidas pela restante população – maioritária – de não fumadores. Ainda assim, como o vício não se controla por decreto, ficou a possibilidade de restaurantes, cafés e bares optarem por criar uma zona de fumadores, ou nalguns casos, preferiram classificar o seu estabelecimento como tal, obedecendo ao previsto na lei, acerca de extracção de fumos e sinalização adequada no exterior.
Mesmo a este nível a situação não tem sido totalmente pacífica. Espera-se, como é costume em Portugal, que o legislador indique qual o tipo de extractor adequado. Entretanto, procura-se com os meios existentes dentro de portas, ventilar o local, retirando o fumo.
Com alguma piada e com utilidade para alguns, foram sendo elaborados roteiros a nível nacional dos poucos locais onde é permitido fumar.
A minha experiência de, num fim de tarde, ter aproveitado uns quinze minutos livres, para beber um café, é esclarecedora da confusão a que a nova Lei nos sujeitou. O estabelecimento onde entrei, parecia a costa ocidental portuguesa em dia de nortada, vento por todo o lado. Não estava a perceber a opção de manter o ar condicionado ligado - como ventilador, em pleno Inverno. Só quando me dirigi ao balcão para pagar o consumo e vi dois fumadores a partilhar o cinzeiro em amena conversa, é que compreendi estar dentro de um estabelecimento de dístico azul afixado. Ao sair, confirmei-o.
Como em tempos escrevi, apesar de asmático, o tabaco nunca me incomodou. Suportaria melhor o fumo de 50 fumadores naquele café, do que as rajadas de ar frio que me trespassavam o corpo. É evidente que não vou tomar medidas radicais de evitar dísticos azuis, antes pelo contrário. Agora se fosse fumador, procuraria não entrar nestes locais supostamente arejados, evitando assim complicações pulmonares desnecessárias. Pelo que senti, era preferível fumar no exterior do local, que mesmo sendo fim de tarde estava mais protegido e portanto, mais ameno, do que estar sujeito àquelas correntes de ar forçadas.
Por mais que tente, não consigo perceber esta lógica na sinalização utilizada. A cor azul não tem coerência alguma. O vermelho é normalmente empregue como cor de proibição, tanto na sinalização do estado do mar nas praias, como ao nível de código da estrada, como também ao nível de segurança e higiene no trabalho. Já o azul é usado no referido código e na sinalização de segurança, como sinal de obrigatoriedade em placas redondas e como sinal de informação em placas quadradas ou rectangulares.
Um dístico azul dizendo "fumadores" e traduzido em outras duas línguas é meramente informativo ou pretende encaminhar os fumadores para um determinado local?
Obviamente a pergunta é meramente retórica e jamais me vão responder, até porque não é claro qual o critério para a escolha da cor. Contudo, qualquer conhecedor da obra do belga Hergé, lembra-se dos livros de Tintin. Numa fantástica aventura, o jovem jornalista vê-se envolvido numa rede internacional de tráfico de ópio e é forçado a deslocar-se para a China, então ocupada pelo Japão. Nesse livro, o desenhador faz referência ao Lótus Azul (precisamente o nome desse álbum), estabelecimento no qual os clientes fumam ópio, espalhados pelo chão a inalar o fumo.