O relato efectuado pelo labor, na sua última edição, da troca de argumentos mantida numa sessão da Assembleia Municipal, acerca da construção de um hipotético parque subterrâneo na Praça Luís Ribeiro, deixou a cidade em suspenso e pouco esclarecida.
Os anos da gestão autárquica de Castro Almeida têm sido marcados pela defesa do bem-estar da população, do interesse público, das contas da autarquia. Neste sentido foram realizadas uma série de obras, enquadradas dentro de um programa eleitoral, que evidenciavam um projecto para a cidade de S. João da Madeira, a curto e médio prazo.
É apanágio dos autarcas efectivar obras, no sentido de perpetuar o seu mandato e torná-lo visível aos olhos dos eleitores. Por seu lado, os eleitores ao avaliarem o mandato de autarcas, tendem similarmente a apreciar o trabalho realizado, comparando os avaliados com os seus antecessores.
A separação da forma do conteúdo, no exercício do cargo político, foi a principal alteração introduzida no primeiro mandato de Castro Almeida, relativamente ao seu antecessor. A dinâmica evidenciada, muito suportada no cuidado da imagem, permitiu alcançar uma folgada vitória para um segundo mandato. Apoiado pelo seu partido e por grande parte da sociedade civil, a maioria política acreditou e convenceu-se da unanimidade em torno das ideias do presidente do executivo municipal.
Alertadas no devido tempo, as restantes forças políticas modificaram a sua forma de agir, passando a questionar e a debater ideias sobre a cidade. Efectivamente, o que se espera de uma democracia.
Da tal sessão da Assembleia Municipal os argumentos, a favor da construção do mencionado parque, oscilaram entre a vacuidade e a contradição. O de primeiro tipo porque não existiu um argumento favorável válido: não existem estudos; não se analisou a actual situação após a construção dos outros dois parques; não se decifrou o que falta na Praça para captar o interesse das pessoas. Por outro lado, segundo o labor, foi referido que será necessário criar condições para “libertar as ruas para os peões” - uma vontade oposta à da última intervenção efectuada na zona pedonal, em 2007.
O inexplicável desempenho em rectificar esse erro, não permite compreender o empenho da autarquia no alinhamento de rotundas, separadores centrais e outros condicionantes de trânsito, em artérias não essenciais ao regular fluxo do tráfego na cidade. A sucessão de intervenções nas vias públicas, mais o retirar de pedras, noticiadas recentemente, fazem recordar os idos de 90, ainda hoje incompreensíveis para os eleitores, pela forma espontânea como eram executadas a maioria das construções, obrigando a questionar a sua utilidade, assim como a prioridade e a importância.
Nestes tempos difíceis de convulsão económica, há que ponderar entre o interesse pelos arranjos ou pela desejada harmonia social. As políticas sociais do município resumem-se a donativos, amplamente divulgados e pouco concretizados, mais uma série de organizações com idosos.
Em simultâneo, na indústria, as principais empresas empregadoras da cidade estão em agitação. Os seus trabalhadores vivem momentos de incerteza. Por sua vez, o comércio tradicional sofre com a deslocação dos clientes para o centro comercial. Os números sobre a população activa divulgados pelo centro de emprego são significativos. Mais preocupante é que o número de empregos começa a diminuir.
A cidade está sobredimensionada com mais habitação do que moradores, com mais pavilhões industriais do que empresas, com mais lojas do que comércio.
O poder político prefere ignorar este estado devoluto, arrepiando caminho com o lançamento de mais obras, de pouco ou nenhum interesse público.
Curioso nestes tempos difíceis é assistirmos à reconciliação da primitiva forma com o conteúdo. Um retrocesso, tornando o quotidiano político banal e sem qualquer motivo de interesse para o futuro.
(a publicar dia 19/02/09)