Antes de 1995 era difícil encontrar um livro de Miguel Torga numa livraria.
- Boa tarde, tem o livro Portugal de Miguel Torga?
Repeti
Depois do escolar “Bichos”, desejava algo mais do que os contos e os da montanha já estavam lidos. Ansiava por descobrir mais da escrita de Torga, antes da sua morte. Não cheguei a tempo. A reedição integral, algo usual quando um escritor é premiado ou falece, permitiu-me adquirir ou receber os vários títulos (duplicando alguns livros) e sobretudo, ler a totalidade da sua obra. Passei pelo livro procurado e deslumbrei-me com “A criação do Mundo”. A rudeza duma infância afastada dos pais, o relato melancólico da vida do médico, a transparência da linguagem, a transmissão das experiências vividas, tudo isso me maravilhou.
A minha vontade de um dia escrever, começou por aquelas páginas, devo revelar.
O interesse literário alargou-se. Sem enumerações presunçosas.
Por estes dias, voltei a entrar num alfarrabista. Voz familiar estava maravilhada pelo achado e eu não me lembrava de o ter procurado no passado.
Já no interior, lembrei-me da saga infrutífera de outrora e com os olhos tentei perceber a organização dos livros nas estantes. Dei por mim a procurar a letra “T”. Parei a tempo. Perguntei por um livro específico de José Rodrigues Miguéis e não havia. Procuro “Páscoa Feliz” sem sucesso há algum tempo. Prossegui, atalhando:
- Certamente, não está nenhum livro de Teixeira Pascoaes esquecido nas prateleiras?
Obviamente que não.
Fico na dúvida se valerá o esforço de procurar por outros. Alfarrabistas, claro.
Desejo mais as palavras de Pascoaes do que edições raras, ou remotas. Havendo ainda livros disponíveis em livrarias e em bibliotecas municipais.
Como está distante o tempo, em que o escritor da região do Tâmega era para mim o nome da rua da escola, aqui em S. João da Madeira.
Quando termino a leitura de um dos seus livros, fico estupefacto pensando na homenagem que os meus conterrâneos lhe fizeram. Certamente haverá registos municipais da proposta toponímica e da consagração ao letrado de Amarante. Mais do que querer descobrir esses dados, prefiro acreditar que a perpetuação deste escritor - tal como outros autores que ficaram com nome de rua na cidade – é um tributo mais do que merecido.
A grandeza de uma cidade passa por estes pequenos reconhecimentos, o que pode fomentar a curiosidade dos seus habitantes, levando ao conhecimento e à leitura dos autores homenageados.
(a publicar dia 03/02/11)