Um quarto de século tem esta Praça. Sem semáforos, nem passadeiras, nem alcatrão. E sem trânsito, só ocasionais automóveis e pessoas a circular, em ruas calçadas à portuguesa. Lojas, cargas e descargas, clientes, mais os esquecidos moradores fizeram o seu dia-a-dia.
Local de encontros diurnos.
E noturnos.
No espaço pedonal, sem consumo obrigatório, ou nas inúmeras cadeiras envolvendo as mesas das esplanadas. Sessões de horário alargado, com música de fundo. Colunas debitando sons para o momento. Diversão democrática. Para todos, eles e elas. Conversas, gritinhos e gargalhadas sobrepondo-se a tudo. As ruas animadas em frente a bares. E dentro destes, o ambiente igual.
Tem sido assim durante estes últimos vinte e cinco anos. Provavelmente, a noite é o único elemento diferenciador para a Praça. A partir de certa hora, não tem concorrência dentro da cidade.
Estes hábitos de convívio, descontraídos e de procura de diversão, alteraram o modo de estar dos cidadãos.
Um dado relacionado e curioso é apreciar a notoriedade na sociedade portuguesa dos habitantes locais. Reduzida há vinte e cinco anos, limitava-se à enumeração de dois ou três jogadores de futebol. Hoje, tudo é diferente. Apresentadoras de televisão, jornalistas, estilista e músicos surgem como os mais destacados. Profissões ligadas a áreas de entretenimento, lazer, cultura e criatividade, demonstrando opções diferentes perante o mercado de trabalho. Uma coincidência geracional, podendo-se enquadrar, sem muito esforço, como consequência na alteração de mentalidades desenvolvida na sociedade local no último quarto de século.
Esta mudança, na visibilidade dos nossos cidadãos, ganha contornos distintos, ao mencionarmos uma nadadora como a desportista no ativo com melhores resultados. Além de ser uma prova inequívoca da igualdade de género, já implícita nas menções por profissão do parágrafo anterior, significa uma melhoria técnica no desporto praticado na cidade, o que é outro dado curioso em termos de evolução social.
Regressando à Praça.
Não se fez nada para incentivar a fixação de população nas ruas centrais. Hoje há menos moradores no centro. A equação fica reduzida a partir daqui. Regresse à última linha do primeiro parágrafo. Coloque menos antes de todas as palavras aí encontradas. Menos população, menos clientes. Menos comércio. Menos serviços. Tudo menos.
O que sobra, a marginalidade.
Curiosamente mais visível durante o dia, enquanto a Praça está meia vazia, do que durante a noite.
(a publicar no dia 26/01/2012)