O alto rendimento desportivo voltou ao léxico local. O projeto da nova piscina, o consequente parecer favorável da Federação Portuguesa de Natação, trouxeram para a ribalta uma ambição antiga da autarquia, abrir em S. João da Madeira um centro de alto rendimento (CAR).
Relativamente ao projeto inicial, duas mudanças: a localização e uma federação específica a apoiar o centro. A mudança de localização é de enaltecer, em especial, por se desistir de construir as instalações do CAR nas margens do Rio Ul, amputando a expansão a nascente do parque urbano, negando o acesso da população aquela zona do rio.
Sobre o apoio federativo, vou esquecer o facto de ser progenitor de um atleta federado naquele organismo, expressando o meu ponto de vista ao longo das próximas linhas, de uma forma difusa, indicando dados genéricos do desporto de alto rendimento, para o leitor criar a sua própria opinião.
Os resultados nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, uma mudança de Governo em 2005, a necessidade de criar melhores condições de treino para os atletas de alto rendimento de várias modalidades Olímpicas, num país com apetência para a construção desenfreada, que anos antes tinha finalizado a edificação (ou reconstruído) de dez estádios de futebol, foram condições suficientes para se lançar uma ideia peregrina, construir 18 centros de alto rendimento desportivo.
Os projetos foram lançados por algumas autarquias, uns CAR foram recusados, outros conseguiram co-financiamento e foram inaugurados.
Abreviando, existem atualmente em Portugal dez CAR abertos. Outros três estão a finalizar-se. Se cruzarmos este número, com o número de modalidades praticadas em Portugal que conseguem apurar atletas para os Jogos Olímpicos de Verão, precisamente treze a catorze, tudo podia estar bem.
Existem CAR nas seguintes localidades: Montemor-o-Velho, Anadia, Nazaré, Caldas da Rainha, Rio Maior, Vila Real de Santo António, Aveiro – S. Jacinto, Golegã, Peniche e Viana do Castelo. Estando a ser finalizados dois CAR, um em Gaia e outro em Vila Nova de Foz Côa - Pocinho. O terceiro projetado é na Maia. Embora, Coimbra tenha anunciado em período de campanha eleitoral a construção do seu.
Acontece que cada centro não corresponde a uma modalidade Olímpica. Várias federações utilizam os mesmos centros, já que os espaços de treino são similares, ou os CAR têm versatilidade suficiente para receber modalidades diferentes.
Terei que esmiuçar: em Montemor-o-Velho reúnem-se Canoagem, Remo, Triatlo e Natação (modalidade águas livres); em Rio Maior está indexada a Natação Pura; na Golegã o Hipismo; na Anadia, no Velódromo Nacional, temos em comum Ciclismo, Esgrima, Ginástica e Judo; nas Caldas da Rainha, junto à respetiva Federação, o CAR de Badmington. Gaia irá receber dois CAR: Ténis de Mesa e Taekwondo. Para completar as restantes modalidades presentes nos Jogos de Londres em 2012, agrupam-se em Lisboa, no Complexo do Jamor, Atletismo, Vela, Tiro e Tiro com Arco.
Esta distribuição demostra o aproveitamento das sinergias das várias modalidades e um bom planeamento da gestão desportiva, até porque alguns centros são próximos de cidades universitárias e isso permitirá aos atletas continuar os seus estudos.
Vejamos agora o outro lado da moeda: para a mesma modalidade, não Olímpica, o surf, existem em Portugal quatro CAR: Peniche, Nazaré, Viana do Castelo e Aveiro – S. Jacinto. Um exagero, quanto mais não seja pela proximidade geográfica de alguns destes equipamentos. Além desta casualidade, existem mais dois aspetos que fazem cair o argumento do bom planeamento: Vila Real de Santo António não tem nenhuma modalidade associada; o da Maia por agora também não tem, nem se deslumbra qual será a modalidade associada; o de Foz Côa receberá o CAR de Remo, desviando atletas de Montemor-o-Velho. O mesmo acontecerá com o de Coimbra, que reclama a abertura de um CAR para a modalidade de Judo e Canoagem, ou seja, fará concorrência aos vizinhos já existentes.
Perante este cenário de duplicação de CAR por modalidades, ou de ausência de modalidades indexadas, havendo um reduzido contingente de atletas nacionais de alto rendimento, é urgente encontrar-se uma solução para o equilíbrio financeiro destes Centros, sabendo-se que para isso, a tutela delegou competências na Fundação do Desporto, mantendo-se o Complexo do Jamor, sob a alçada do Instituto Português da Juventude e do Desporto.
É este o contexto do desporto de Alto Rendimento em Portugal.
É nesta lógica de desperdício que surgirá o segundo CAR da Federação Portuguesa de Natação.
(a publicar no dia 19/02/14)