A expectativa para estas eleições europeias residia em verificar como seria o voto de protesto do eleitorado. O fenómeno das últimas eleições autárquicas, registado na cidade do Porto, um independente a ganhar a dois partidos colossais, não poderia ser igualado, pela própria exigência da lei eleitoral, que apenas permite a candidatura de partidos políticos. Neste sentido, outras soluções foram encontradas pelos eleitores e bem simples: a maioria preferiu não votar (2/3 dos inscritos nos cadernos eleitorais), outros preferiram o voto em candidatos sem perfil político (MPT e LIVRE) e os restantes foram às urnas e não preencheram o boletim, ou então, rabiscaram-no em demasia, ultrapassando o estipulado na validação. Entre brancos e nulos somaram-se perto de 8% dos votos. Razão suficiente para um partido eleger a sua candidata e poder continuar a adiar a sua “morte” anunciada (BE).
Pelos resultados apurados percebe-se que o eleitorado fiel votou sem surpresas. Os partidos históricos captaram 2.358.881 votos. Ao verificarmos a intenção de voto entre eleições similares pode-se depreender que o voto do eleitorado de direita encaminhou-se para o MPT. O verdadeiro voto escrutinado penalizador da política do governo. Sem fazer comparações com outros países europeus, nos quais os partidos marginais, ou anti europeus, conseguiram votações extraordinárias, depreende-se que o discurso e a atitude do cabeça de lista daquele partido agradaram aos portugueses. A eleição do segundo da lista, por arrasto, tornou o resultado eleitoral formidável, premiando uma polémica figura pública nacional, presença constante na televisão, não deixando por isso, o eleitorado indiferente à sua pessoa.
Sem conseguir eleger ninguém, o LIVRE foi uma agradável surpresa eleitoral, sobretudo, no concelho de Lisboa. Longe da militância obtusa, algum do eleitorado de esquerda preferiu escolher um, agora, ex-eurodeputado, um novel partido, sem estruturas locais disseminadas pelos concelhos do país, nem pelos mais variados sindicatos. Um voto do leitor esclarecido, habituado a ler as crónicas do líder deste partido, incisivo para sancionar forças semelhantes, que aparentavam um discurso de abertura e no entanto, vieram a revelar-se tão ou mais ortodoxas que aquelas que tanto criticavam.
O último apontamento para as consequências do resultado desanimador do PS. Parece que desta é de vez. A liderança amorfa passou a ser posta em causa e obviamente perfilha-se a sua sucessão. Espera-se que a vassourada seja generalizada e que os seus apoiantes, mais preocupados com o seu feudo, sejam colocados na prateleira da inutilidade política.
66% de abstenção não podem deixar ninguém calado. É o apontamento extra. Eleições sem adesão deviam obrigar a repensar a lei eleitoral. Mesas de voto para 1.100 eleitores são um exagero, no número de pessoas envolvidas no escrutínio. Com os números do último domingo, cada mesa deveria estar preparada para receber 3.000 potenciais eleitores. Obviamente que isto deixaria muito militante sem a gratificação dos 50 euros, livres de impostos e isso seria uma dor de cabeça para os partidos políticos.
(a publicar no dia 29/05/14)