quarta-feira, julho 30, 2014

Antes das Férias

Após meses de devidas críticas e justas reparações, retificando-se erros iniciais, a Rua da Liberdade vive agora um período tranquilo.
A reposição do trânsito em sentido ascendente em corredor central, criando zonas de estacionamento, intercaladas com canteiros relvados e dotando a rua de dois largos passeios laterais – apenas na metade inferior da via ficando a metade superior para posterior intervenção, foram as grandes mudanças estruturais operadas. O melhor de tudo foi o eliminar da totalidade dos degradantes chapéus de ferro. Uma simples ação, que permitiu transformar a perspetiva da rua comercial.
Enquanto se espera pela conclusão da obra, faltando retirar os degraus centrais e continuar o trabalho efetuado na primeira metade, é tempo de se analisar o efeito destas intervenções de retificação, ou requalificação das vias públicas, no comércio local.
Dos vários indicadores possíveis, elegi o número de estabelecimentos comerciais abertos após a referida intervenção. Dos quatro disponíveis, na parte agora com trânsito, nenhum foi alugado e muito menos, passou a local de comércio. Na metade superior, ou seja, entre a Rua Júlio Dinis e a Praça Luís Ribeiro existiam cinco lojas fechadas. Destas, abriram três no último meio ano.
Friamente, apenas 3 em 9, ou seja, um terço na totalidade da rua.
Se dividirmos a rua em dois, zona com mais intervenção e a área com apenas a retirada de chapéus, ficamos com zero para um dos lados e 60% para o outro, respetivamente.
Não é possível retirar conclusões. Embora alguns gostassem logo de o fazer.
A relação causa-efeito provocada pela reabilitação não pode ser equacionada. Falta tempo (leia-se meses) para percebermos se a procura de espaços comerciais no centro é uma tendência, ou se coincidiu com a intervenção municipal, ou é tudo fruto do acaso, ou pelo contrário, da dinâmica económica da cidade.
                É bom recordar que, o estacionamento à porta da loja, sempre foi uma exigência dos comerciantes instalados na zona pedonal.
A solução para todos os seus males.
Este da Rua da Liberdade é grátis.
Devo abrir um largo parêntesis acerca do estacionamento, alargando a análise à cidade e não apenas às ruas centrais.
Identifica-se em S. João da Madeira três tipos de estacionamento: grátis, pré-pago e pós-pago.
O facto de o estacionamento ser grátis no shopping é motivo de discriminação relativamente às restantes zonas comerciais da cidade. Como pode um comerciante na área da restauração competir com a oferta do shopping, se os seus clientes têm que pagar estacionamento à hora de almoço? O mesmo podendo perguntar outro comerciante, que não tem possibilidade de oferecer estacionamento e verifica a injusta concorrência a que está sujeito, comparando-se com a grande superfície. A título de exemplo, veja-se a igualdade a que estão sujeitos os comerciantes de Aveiro. 
Por cá, o pós-pago inserido em parques subterrâneos, segundo apurei, oferece a primeira meia hora aos clientes. Não deveria ser dado oportunidade igual aos automobilistas que estacionam mais perto do comércio?
Todo este processo deveria ser analisado, por quem de direito, apresentando-se conclusões e soluções integradas, não se esperando por 2020, concursos ou por fundos comunitários, para minorar o efeito do estacionamento sobre os munícipes, comerciantes ou não.
                Fecho o parêntesis e regresso à análise inicial, recordando outra das reivindicações dos comerciantes.
Outro apontamento histórico, que merece referência, é a reabertura de trânsito na zona pedonal. A passagem de carro permite conhecer as lojas existentes, ver as suas montras, ver os artigos expostos… é a lógica apresentada.
Na confluência da Rua da Liberdade, com a Praça 25 de Abril e com a Rua João de Deus não há uma placa indicando a possibilidade de acesso àquela rua. A sinalética poderia indicar o estacionamento da Praceta Júlio Dinis, o acesso ao centro, ou mesmo, à rua comercial. Sem esta ou outra qualquer informação mais relevante, o número de carros que acede à Rua de Liberdade é reduzido - um indicador fácil de controlar.
Trânsito, zonas de estacionamento, passeios largos e canteiros são a nova referência diurna da Rua da Liberdade. Uma melhor iluminação é a necessidade noturna. Esperando-se que nos canteiros sejam plantados arbustos de médio porte, para manter a sustentabilidade ambiental da rua, dotá-la de beleza natural, como nos anos em que por ali existiam magnólias, encantando os invernos da cidade.
O toque essencial para voltar a harmonia à rua.
O texto já vai longo, por isso, cumpre-me informar que as ideias apresentadas são compilações de queixas ou sugestões de comerciantes instalados na Rua da Liberdade, que ao longo do último ano se foram dirigido à minha pessoa.
Espaço livre somente para desejar boas férias aos leitores.
 
(a publicar no dia 31/07/14)

quarta-feira, julho 16, 2014

Rabiscos

                A minha inabilidade para trabalhos ditos manuais, foi por mim evidenciada nas páginas deste jornal, há alguns meses atrás.
Neste mesmo periódico, umas edições depois da minha revelação, vi numa fotografia, uma professora que me pareceu ser uma das que se atravessaram no meu percurso de estudante, em concreto na disciplina de Educação Visual.
                Mais do que a incerteza, aqui fica a recordação de um episódio, que foi decisivo para o desenvolvimento da capacidade criativa deste vosso cronista.
                Vivendo com o estigma da falta de habilidade dos canhotos para as artes, sempre me esforcei para conseguir uma nota meritória na disciplina de Educação Visual. Muito provavelmente pela leitura desenfreada de banda desenhada franco-belga, o desenho seduzia-me.
Tardei a verificar estar redondamente enganado.
Logo no 5º ano, na época o 1º ano do ciclo, nas instalações da Escola Preparatória Alão de Morais, a propósito de um trabalho ilustrando o Natal, a referida professora premiou o meu esforço e escolheu o meu desenho, para ser um dos trabalhos dos alunos que seriam reproduzidos e colocados à venda, para angariar verbas para o corso de Carnaval. Se a memória não me atraiçoar, o primeiro das escolas, em 1982. O desenho era simples: uma sala decorada com os motivos natalícios, aguardando a chegada das pessoas para as celebrações familiares. 
Anos mais tarde, já no 8º ano, uma outra professora, na Escola João da Silva Correia adorou a minha perspectiva do Parque América. Nada mais fiz do que desenhar o referido prédio, cuja lateral perspectivada não cabia na folha, deixando incompleta a construção. Dando a ideia de monstro, ao edifício que ainda fora inaugurado.
Só no ano seguinte, com o desenho rigoroso, mais a tinta-da-china, abandonei a ideia de que teria futuro a desenhar.
E com sofrimento continuei o meu percurso académico, sendo colocado à prova em anos seguintes e com grau de exigência elevado, para o qual dei sempre uma resposta sofrível.
Voltemos ao 5º ano. Desenho premiado, final de período com boa classificação. Começa o segundo período, primeiro trabalho em Educação Visual: o ano novo. A caminho dos 11 anos, não pensei duas vezes, como a passagem de ano era também uma festa de família, utilizei a mesma base do desenho premiado. Troquei umas decorações, posicionei uns móveis em novo lugar e siga. Ao apresentar o trabalho tive uma surpresa. A professora pediu-me licença e sem pestanejar, rasgou a folha em quatro. Obviamente que me explicou o motivo do acto, apelando ao despertar da criatividade e à obrigatoriedade de inovar de trabalho para trabalho.
Foi difícil assimilar, como devem compreender. No entanto, ficou o ensinamento.
Hoje, não desenho, não pinto, nem toco qualquer instrumento, limito-me a exercitar a escrita, procurando por esta via, desenvolver uma vocação artística. Quando começo um texto, a folha em branco, ou melhor, a página limpa do ecrã do computador, já que escrevo directamente no pc, lembro-me sempre do desenho rasgado e isso é motivo mais do que suficiente para partir para o desafio duma nova crónica, em que espero surpreender os leitores. Escrevo o título para o texto e passo para o teclado o fluido de ideias que se desenvolveram anteriormente, no cérebro.
O mesmo princípio utilizo na vida social e associativa. Assumo que o sucesso é sempre momentâneo. Há sempre outra fórmula a testar, um conceito a precisar de ficar no passado e deve ter-se sempre presente que o conteúdo não é tudo, quando queremos mostrar inovação e captar a atenção dos demais. 
 
(a  publicar no dia 17/07/2014)