quarta-feira, abril 20, 2016

Tempos novos, conversas antigas

Há duas formas de conduzir uma entrevista na imprensa local. Uma delas é enviar as perguntas ao entrevistado, para este responder igualmente por escrito. A outra é em direto, dando ao jornalista a oportunidade de fazer as perguntas, ao longo da conversa, com o entrevistado. O método da resposta por escrito é o preferido da maioria dos agentes da política e a entrevista é, por sua vez, o favorito dos jornalistas. Pode parecer um contrassenso, pois a resposta escrita dá mais trabalho ao entrevistado, ficando o jornalista passivo. Por outro lado, a entrevista oral, implica a transposição para texto, por parte do jornalista. Contudo, a condução da entrevista, o momento da pergunta, a imprevisibilidade da mesma, confere ao jornalista um ascendente sobre o entrevistado e este é o fator decisivo para a preferência.

                Anabela Carvalho, enquanto colaborou no jornal labor, não desarmou. Pretendia ouvir o entrevistado e com isso, não agradava à totalidade dos agentes da política local. Nos últimos anos deve ter efetuado seguramente dezenas de entrevistas, utilizando o seu método, entre trabalhos de reportagem e outras peças jornalísticas. A mudança profissional de Anabela é uma perda para a imprensa local, no entanto, não pensem os leitores que os agentes da política ficam mais descansados.

                  A aproximação ao quotidiano local de Sara Dias Oliveira, jornalista com vasta experiência profissional, escrevendo inclusivamente para um jornal diário nacional de referência, precisamente sobre a sub-região Entre Douro e Vouga, é um sinal inequívoco da aposta do jornal labor num patamar de qualidade elevada.

                (abro um parêntesis, para declarar a minha grande estima pela Sara, que já conheço pessoalmente há vários anos, sendo obviamente seu leitor assíduo e reconhecendo-lhe muito mérito nos seus textos, conferindo às pessoas destes concelhos um sentido verdadeiramente cosmopolita, que ela expressa de forma criativa nas suas mais diversas reportagens.)

                Se Sara Dias Oliveira tivesse seguido de perto a campanha eleitoral das intercalares para a Câmara Municipal, repararia que o PS visitou praticamente a totalidade das instituições e associações locais, por isso não deixaria de confrontar o seu entrevistado na edição do jornal labor da semana passada, Rodolfo Andrade, com esta redundância.

                Embora se entenda a intenção deste dirigente em reabilitar a imagem do PS, promovendo esses contactos, é importante levar mais do que um discurso bonito para junto dessas instituições ou associações e sobretudo, doravante, adequar as ações políticas dos seus militantes, a esse propósito. Em três anos a bota não bateu com a perdigota. 

                O facto mais relevante da entrevista conduzida por Sara Dias Oliveira é a afirmação do novo líder da concelhia do PS em aproximar-se dos empresários. Esta reflexão, correta, retira o partido de uma bolorenta luta de classes, em que se viu envolvido com a anterior liderança. Contudo, cria um dilema para as próximas eleições.

                Depois de umas eleições intercalares, em que o PS ficou sozinho, é necessário compreender os novos tempos de política de coligações. A direita coligada em S. João da Madeira foi impensável durante 34 anos. Esta possibilidade, oferecida pela complexidade da oposição, vinculou-se num regresso de uma maioria coligada no executivo camarário. A bipolarização, que durante anos, permitia a um só partido político obter maiorias, é nos dias de hoje diferente. Existem frentes democráticas com semelhantes ideologias, que podem fazer acordos pós-eleitorais, ou mesmo pré-eleitorais. A praticamente um ano das eleições autárquicas este é o grande desafio do PS, consegue ou não entender-se com as outras forças políticas do seu espectro político? Ou pelo contrário, tentará engolir o movimento independente S. João da Madeira Sempre, situando-se ao centro?

                Qualquer uma das soluções implicará negociação política e cedência de lugares elegíveis em futuras listas conjuntas. Um processo nada fácil, que poderá ser agravado com a aproximação às entidades empresariais, que requer muita tenacidade e capacidade de autocrítica de todas as forças políticas envolvidas.

 

Nota: Há pessoas que pela sua simplicidade e dedicação ao desporto são exemplares. Ao senhor Gabriel Silva Dias, do basquetebol da ADS, aprendi a respeitá-lo, por o encontrar sempre ocupado junto às 4 linhas de um pavilhão. Neste momento de luto para a sua família, não posso deixar de escrever estas singelas linhas, relembrando a sua simpatia e sabendo que não será fácil substitui-lo, muito menos superá-lo.