Com o aproximar do final de Fevereiro, era suposto haver alguma divulgação acerca dos candidatos à Câmara Municipal de S. João da Madeira. A pouco mais de seis meses das eleições, se descontarmos o mês de Agosto, habitual período de férias, o tempo começa a ficar apertado para os novos candidatos. Para adquirirem credibilidade eleitoral, aquelas etapas iniciais, de apresentação pública, visita prévia às instituições locais, contacto com a população nas ruas e espaços públicos da cidade, terão que ser planeadas de forma acelerada, com prejuízo para os candidatos pouco conhecidos, relativamente a quem já está instalado na política local, sendo por isso, perfeitamente assimilados pelos eleitores.
Surpreendeu por isso, por ser em contraciclo, a divulgação, em período pré-eleitoral, do auto afastamento, por renúncia de mandato, de dois vereadores do partido da oposição ao executivo municipal. Podendo tal facto significar a impossibilidade de se tornarem candidatos em Setembro deste ano, o que resultaria no abandono da vida política local ao fim de quatro anos. Ora, tal facto, para quem em tempos foi assessor do executivo de Castro Almeida, índicia uma prática de relação com a vida comunitária apenas na ótica partidária.
A dicotomia política não se resume à separação ideológica entre esquerda e direita, ou vice-versa. O centro encontrou uma fórmula nova: a distinção entre progressistas e conservadores. O candidato independente às eleições presidenciais francesas, Emmanuel Macron, encontrou aqui a sua tábua de salvação para contrariar os extremismos que a velha dicotomia originou, com as respetivas derivas populistas e que estão a lançar o pânico no mundo Ocidental.
Na política local, as diferenças são outras e a maioria das vezes podem-se resumir à volatilidade versus cristalização. Nada melhor do que um exemplo para ajudar a perceber esta classificação. O falecido professor Josias Gil foi candidato autárquico em 1997 e em 2001. Quando terminou o seu mandato, continuou a participar na vida comunitária, quer lecionando, quer participando no grupo de teatro, ou através da vida associativa – foi presidente da delegação local dos Rotários (opto pela designação abreviada, para poupança de carateres), ou escrevendo nos jornais e editando livros. Poderia prosseguir, recordando o seu regresso à política ativa e o reconhecimento pela maioria dos agentes da política local, do seu desempenho enquanto Presidente da Assembleia Municipal. Um exemplo de uma longevidade política e um grande envolvimento na comunidade.
Existem mais casos e vários exemplos de membros de vários partidos com uma longa carreira política, associada à sua vida profissional e à participação em várias associações locais. São, portanto, os políticos enraizados na sociedade, que dão garantias de continuidade aos partidos em que militam e promovem uma política de proximidade para com a população, por participarem ativamente na sua vida comunitária.
A tal vertente de cristalização, em contraste com a volatilização. Esta última definida, de modo simples, pela ação dos políticos que à primeira oportunidade desaparecem da participação na comunidade. Há aqueles que prosseguem a sua carreira política com outras ambições e desempenhos, quer em cargos nacionais ou internacionais, que não podem ser confundidos com outros que desaparecem ou fim de alguns anos, não deixando rasto, nem se envolvendo nas Associações de Pais, ou nas desportivas, ou culturais, ou de solidariedade social. Ou mesmo criando outras formas de intervenção, pondo em prática muito daquilo que defenderam durante os anos precedentes, só que desta vez com ação.
As comunidades têm sempre lugares para todos. Haja vontade em permanecer e contrariar o julgamento popular, que se pode reduzir pela frase repetida exaustivamente ”eles o que querem é um tacho”.
(a publicar no dia 23/02/17)