quarta-feira, fevereiro 01, 2017

O Comboio Urbano

A expansão do cartão “andante” para outros transportes da Área Metropolitana do Porto, incluindo o Vouguinha, poderá ser o primeiro passo para a hipotética reabilitação da antiga linha do Vouga.

O Vouguinha carateriza-se atualmente pelos dois ramais dos seus extremos: Espinho – Oliveira de Azeméis a norte e Aveiro – Sernada do Vouga. Longe vão os tempos da ligação da cidade vizinha ao sul e ainda mais longínqua é a memória da viagem até Viseu, serpenteando o rio que batizou a linha. Do passado permanece a bitola de via estreita, de largura métrica, praticamente a única do país, que tem como enraizada a distância entre carris de 166 centímetros, a chamada bitola ibérica. Outra caraterística desta linha são as suas composições, agora grafitadas, com as imagens suburbanas em movimento, como bem o expressou a pintora Maria João Gabriel.

Para os passageiros do Vouguinha, a expansão do “andante” só terá significado se houver ligação direta à cidade do Porto. As particularidades da linha, como vimos, são limitações para a sua integração na rede de transportes da Área Metropolitana do Porto. O terminar a Norte em Espinho é um contratempo, obrigando a um primeiro transbordo de transporte, que não é muito prático, para quem quer deslocar-se para o Porto, com o tempo contado.

Durante anos, o deslumbramento da região Entre Douro e Vouga foi transformar a linha do Vouga num metro de superfície. A hipótese de expansão do Metro do Porto para sul e o aproveitamento do corredor Espinho – Oliveira de Azeméis, tal como se fez com a linha da Póvoa (e chegou a projetar-se para a linha da Lousã, nas imediações de Coimbra) era a hipótese mais ventilada. Só que o Metro do Porto estacionou em Santo Ovídeo e o seu avanço para sul não é certo que seja para o litoral – o próximo passo será muito provavelmente chegar a Vila D’Este, com 17.000 potenciais clientes. 

Descartada a aproximação do Metro, é importante dar outra dimensão ao que resta da linha do Vouga, ou se quisermos ser mais precisos, ao seu ramal Norte. Enquadrar esta linha dentro dos comboios urbanos que servem a cidade do Porto é a solução mais lógica. Atualmente temos 4 linhas urbanas: a de Aveiro (coincidente com o troço da linha do Norte), a de Braga, a de Guimarães e a de Marco Canaveses. Acrescentar uma linha Porto – Oliveira de Azeméis é a opção mais fácil de entender e provavelmente a com menor custo de execução.

A existência de um traçado e de estações definidas permite enquadrar a futura procura desta ligação ao centro do Porto, com base na população residente nos concelhos ao longo do percurso e chega-se com facilidade a uma população alvo de aproximadamente 200.000 habitantes.

A distância entre a Linha do Norte e o Vouguinha, em Espinho, é menos de 100 metros. O início do túnel ferroviário, que carateriza Espinho, a sul, é precisamente encostado à estação da linha que une os concelhos do Entre Douro e Vouga. Significa isto que a ligação entre as duas linhas não será onerosa e não tem habitações entre elas. Existindo traçado, não é necessário expropriar. Além disso, já estão definidas as pontes, as passagens de nível e outras particularidades ferroviárias e como o alargamento entre bitolas é de 66 centímetros, não é de todo impossível incorporar composições mais rápidas, devendo para isso eliminar-se algumas anormalidades como a passagem de automóveis sem cancela e sem guarda, em curvas de baixa visibilidade.

Mesmo o aumento de composições na Linha de Norte, entre Espinho e Porto não deve constituir problema para a CP, sempre solícita a responder aos pedidos dos adeptos dos clubes de futebol, no frete para deslocação a jogos. É importante referir que a Norte da cidade do Porto os comboios urbanos, das três linhas mencionadas, seguem pela mesma via, até Ermesinde, desviando-se nesta localidade a linha do Marco. E mais a norte, em Lousado dá-se a bifurcação para Guimarães. Mesmo a linha que segue para Braga, surge de uma bifurcação em Nine, situada na Linha do Minho (Porto-Vigo).

Ora, se a norte do Porto foi possível conciliar várias linhas, também a sul não haverá problemas em acrescentar alguns horários ao tráfego ferroviário da Linha do Norte, fazendo uma bifurcação em Espinho.

Uma rede de transportes ferroviária, a sul do Porto, é vital para a integração na Área Metropolitana do Porto da população residente nestes concelhos mais periféricos. A facilidade de movimentação da população, com transportes mais rápidos, sem necessidade de utilizar o automóvel, ou uma sucessão de transportes coletivos, permitirá fixar mais residentes nestes concelhos da região do Entre Douro e Vouga.   

A evolução da linha do Vouga para comboio urbano, será o fim do suburbano Vouguinha no norte do distrito de Aveiro. Ficará consignado às ligações de Águeda à capital de distrito. Contudo, pela sua importância, terá um lugar na memória coletiva da população sanjoanense. 

 

(a publicar no dia 02/02/17)