quarta-feira, novembro 29, 2017

Aguardar pela descentralização

                As infraestruturas municipais desportivas vão conhecer melhorias.

                As últimas ações do anterior presidente da Câmara permitiram perceber que a finalização do novo campo de futebol deve estar por dias. Do mesmo modo, fui anunciado em tempo oportuno, um plano para a construção de novos courts de ténis.

Mais recentemente, o novo Presidente da Câmara demonstrou estar empenhado em dotar a cidade de uma pista de atletismo.

E claro continua nos planos da população ver uma nova piscina construída, fazendo-se cumprir as promessas eleitorais.    

Todos estes investimentos deviam ter duas análises prévias: em primeiro lugar a localização – equacionando a proximidade das novas infraestruturas desportivas às áreas habitacionais da cidade; em segundo lugar, o investimento municipal - a capacidade financeira da autarquia para assegurar os empréstimos e verificar quantos anos demoram a ser pagos.

Apesar destas duas discussões serem importantes, existe um terceiro fator que não deve ser desprezado: a ideia repetida durante estes dois últimos anos, pelo atual Governo, de descentralizar, nomeadamente a totalidade da gestão das escolas. Ou seja, pretende-se que à semelhança das escolas do ensino básico, as autarquias assumam a responsabilidade de gerir os estabelecimentos de ensino dos anos seguintes.

Essa intenção, mesmo ser ter recebido atenção na discussão do orçamento do Estado para 2018, tem sido estudada por este Governo, através do atual Ministro da Administração Interna, que ao assumir esta pasta manteve na sua alçada a reforma da descentralização.

É com expetativa que autarquias aguardam pelo desbloquear do programa, para terem uma noção das verbas indexadas à descentralização e também quais as competências que devem receber.

Atendendo ao mandato do atual Governo e à necessidade de cumprir com o programa de reformas administrativas, tudo terá que ser resolvido até 2019.

Até lá, é oportuno que os novos autarcas aguardem pelos resultados dessa descentralização. A possibilidade de passar a gerir a totalidade das escolas públicas, permitirá equacionar uma série de soluções, dentro das instalações daqueles espaços. Veja-se o potencial desportivo de S. João da Madeira: 4 escolas – 4 pavilhões, mais um court de ténis, espaços exteriores com ringue para a prática desportiva; não esquecendo o pavilhão devoluto do antigo liceu, ou antigas instalações da Escola João da Silva Correia.

Este parque desportivo, mesmo tendo que remodelar-se dois pavilhões, permitirá à autarquia, em horário pós-escolar, responder a todas as solicitações das associações e de grupos informais de cidadãos que procuram a prática desportiva nas suas horas de lazer.

A excelente localização das escolas, em contexto de proximidade ao centro e encostadas aos núcleos habitacionais permitirá equacionar-se a dotação de novas infraestruturas desportivas de que a cidade está carente, em alguns destes espaços. Existe uma grande vantagem de aproximação do desporto às escolas, precisamente a possibilidade de proporcionar aos alunos uma prática diferenciada de atividades desportivas, além de promover a captação de talentos em determinados desportos.

Criar uma pista de atletismo na escola EB 2/3, não será muito difícil. Ficaria central, próximo de alguns dos equipamentos desportivos da cidade. Do mesmo modo, construir court de ténis na escola Dr. Serafim Leite, também não será difícil.

É uma mudança de paradigma, com a valorização das instalações escolares e permitirá aplicar-se o investimento de uma forma mais racional, evitando-se expropriações, com custos desnecessários.

Quanto à piscina municipal, as considerações ficarão para futura oportunidade.

 

(a publicar no dia 30/11/17)

 

quarta-feira, novembro 22, 2017

Memórias fragmentadas

No texto publicado a semana passada, intitulado “A fachada”, por necessidade de não transgredir o espaço que gentilmente me é disponibilizado, não me alonguei em demasia com menções à evolução da povoação.

Visitar os espaços onde vivemos a infância, ajuda-nos a preservar a memória. Percorrer a casa dos pais, ou mesmo dos avós, permite manter intactas certas recordações, sobretudo quando o espaço físico permanece semelhante ao longo de anos. As memórias individuais, ou familiares, transformam-se em coletivas, quando as vivências foram partilhadas em espaço público. Tudo é mais fácil se o espaço continua semelhante. O pior é se tudo é modificado, ou destruído, não ficando vestígios desse passado.

Neste capítulo, as transmissões orais funcionaram, durante anos, como a base da memória de uma povoação. Esta tendência humana, de partilha de lembranças, teve a necessidade de ser documentada para o futuro. Primeiro, através da pintura paisagística, ou pela descrição literária, que ajudavam a documentar as recordações. Pode-se incluir neste âmbito, os documentos oficiais, caso o escriba tivesse obrigação de fazer algum enquadramento do local.

Tudo mudou com a introdução das fotografias. E da captação de imagens com movimento, os filmes. A divulgação, dos primeiros destes documentos, permitiu à imprensa desempenhar um papel preponderante na perpetuação da memória coletiva ao longo do século XX. As redes sociais, já no presente século, permitiram a partilha de fotos e vídeos pessoais, o que pode ser considerado como o lado mais positivo desta novas formas de sociabilização.

A recolha dos mais variados documentos possibilita entender-se melhor a história de cada povoação. Infelizmente, em S. João da Madeira, a maioria desses documentos e mesmo a memória coletiva, concentra-se no desenvolvimento ocorrido ao longo do último século.

Existem menções históricas em documentos medievais, anteriores à independência de Portugal. Mas, a partir daí, ao longo dos vários séculos, todo o evoluir da região de Terras de Santa Maria – do feudalismo até à criação do concelho da Feira no século XVI – permanece nebuloso. Perceber como a estrada real atravessava a paróquia de S. João da Madeira, como se desenvolvia o casario, com os seus ofícios relacionados com madeira e sapatos, são exercícios imaginativos. É certo que a partir da Monarquia liberal, portanto, no século XIX, com a agregação ao novel concelho de Oliveira de Azeméis começa a haver mais informação. Ainda assim, os vestígios que permaneceram para o século XX, foram as vastas propriedades agrícolas, entretanto fragmentadas e alguns agrupamentos de casas, em torno de alguns lugares, incluindo igrejas.

Poder-se-ia esperar um espólio mais alargado, comas fotografias e os filmes, para melhor retratar o século passado. No entanto, apesar de existirem várias fotografias e mesmo coleções, a maioria continua no foro privado. Mais concretamente, as várias imagens captadas por Carlos Costa continuam a não estar no acervo municipal. Para os mais novos (em idade ou com menos de tempo de habitação na cidade), é necessário fazer um enquadramento, pois o nome poderá não significar nada. Carlos Costa foi um fotógrafo amador que captou várias cenas do quotidiano sanjoanense, ao longo de várias décadas do século XX. A sua coleção está dispersa pelos seus herdeiros. Como representa um valor inquestionável para a comunidade local, seria de todo o interesse que a Câmara Municipal o adquirisse para o seu acervo, podendo a partir daqui desenvolver e apetrechar a tal “Casa da Memória”, por exemplo.

No mesmo sentido, existem documentos interessantes associados às casas comerciais que se dedicavam à venda de material fotográfico. Seria um desperdício para a memória coletiva, que todo esse espólio se perdesse, com o encerramento desses estabelecimentos.

Para finalizar a ideia dos exemplos fragmentados, seria igualmente interessante que os documentos, alguns seculares, da paróquia fossem cuidadosamente digitalizados e colocados ao dispor da comunidade.

A autarquia tem um papel preponderante para promover a centralização das memórias dispersas. Nos últimos anos, conseguiu abrir ao público dois museus de cariz industrial. Foi consensual, ao longo da última campanha eleitoral, as propostas para se aproveitar a singularidade nacional da indústria do lápis e associá-la ao espólio dos Encontros Internacionais de ilustração. Parece-me ser igualmente importante que o património humano da população tenha agora o seu lugar, num espaço próprio e condigno, para preservação da memória coletiva.

 

(a publicar no dia 23/11/17)

quarta-feira, novembro 15, 2017

A fachada

O modo de ser lusitano persistiu durante anos na maneira de viver dos Portugueses. Castrejos, encerrados sobre o seu povoado, assim se justifica a variedade musical do seu povo, pelas demais regiões, ou ainda pela peculiaridade da sua secular cozinha, que vai variando de tipicismo em poucas léguas.

As aldeias são o que restam dessa forma de vida. Sem plano urbanístico, com arruamentos estreitos e sinuosos, com casas a entrar pelas ruas, sem qualquer harmonia na construção. Nem é em vão que sistemas radiais permaneceram durante anos nas principais cidades portuguesas, ou que é usual existir uma Rua Direita nas mais diversas toponímias, por ser diferente das outras artérias da povoação. Outra caraterística é o horror ao vazio. Os largos, que eram pequenos, eram sempre preenchidos com qualquer elemento no centro. Isto é usual na paisagem humana Portuguesa. São comuns praças com o centro preenchido com árvores, ou pequenos lagos, ou chafarizes, além de pelourinhos, cruzeiros e as merecidas estátuas de homenagem

Tudo mudou com o terramoto de 1755. Em Lisboa, a necessidade de reconstrução, implicou a adoção de um sistema ortogonal, com ruas mais largas, paralelas e com outras a cruzar-se perpendicularmente. Sistema que vigorou na construção nas avenidas novas, anos mais tarde. A harmonia da construção foi outra caraterística adaptada.

A cidade do Porto, depois das desavenças absolutistas, já no século XIX, iniciou a sua expansão com o mesmo sistema ortogonal, abrindo-se ruas e avenidas, para norte, para o mar, dentro do mesmo princípio moderno.

Ainda assim, é visível nestas cidades, a ideia de preencher o centro das praças. Permaneceu como fator histórico do povo que somos. As grandes praças de Lisboa têm estátuas no centro. No Porto também. E no resto do país são raras as exceções de praças espaçosas.

Esta apetência arquitetónica vinca a diferenciação no Iberismo dos dois povos peninsulares. Os portugueses com as suas praças preenchidas e os espanhóis com espaços amplos. Uma exceção, curiosa, é a cidade do país vizinho, Mérida, outrora a capital romana da província Lusitânia. Ali tudo está preenchido, na praça central, parece que estamos em Portugal, o templo a Diana, mais intacto que o de Évora, está rodeado de alçados de prédios e nas principais ruínas romanas avistam-se as varandas dos prédios circundantes.

Toda esta introdução, histórica, permitirá entender-se o desenvolvimento urbano do século XX. Por um lado, a abertura de ruas e praças com amplitude e largas, por outro, a necessidade de ocupar o vazio, sobretudo, nos terreiros. Não esquecendo a harmonia arquitetónica, nos edifícios a construir, com fachadas semelhantes e idêntico número de andares.

Neste capítulo e centrando a atenção do leitor para a Praça Luís Ribeiro, pode-se verificar que a desocupação da zona central permitiu uma extensão pouco comum à nossa cultura. Ainda assim, pelo projeto divulgado na imprensa local, está programada a plantação de árvores, num anel interior, o que irá preencher mais um pouco o “miolo” da praça, retirando-lhe novamente versatilidade. Mais relevante e sem solução imediata no projeto de reabilitação urbana em curso, é o enquadramento do edifício Parque América. Com moradores, com comércio e serviços ali instalados a sua demolição não faz qualquer sentido. Contudo, uma alteração na fachada, com pintura de branco e a colocação de aros de granito, em torno dos pilares da arcada e das janelas, tornava o edifício mais encaixado. A réplica da fachada dos edifícios em meia-lua construídos à sua frente, com a simulação do avermelhado telhado à cota dos oponentes, pode ser equacionado em projeto futuro.

Apenas uma minimização do impacto visual do prédio, que poderia proporcionar-lhe uma maior ocupação, caso se converta em espaço contemporâneo de serviços, trazendo com essa uma maior dinâmica ao centro da cidade.

 

(a publicar no dia 16/11/17)

quarta-feira, novembro 08, 2017

Caras

As reportagens sobre os conterrâneos espalhados pelo mundo, leva ao esquecimento dos que vivem perto e assumem posições de relevo no quotidiano nacional.               

Na passagem de António Costa por S. João da Madeira, no pretérito mês de Setembro, surgiu uma informação que despertou interesse: “há três Secretários de Estado oriundos desta cidade”.

               Um deles despensa apresentações, Pedro Nuno Santos, político local, está em funções desde a primeira hora deste XXI Governo constitucional, exercendo as funções de Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares.

Ana Lehmann, Secretária de Estado da Indústria, teve destaque na imprensa local, logo na tomada de posse, tendo sido explicado as suas ligações à cidade e indicado o nome dos seus familiares.

Entretanto, ficou-se a saber que desde essa tomada de posse, há uma terceira Secretária de Estado, desta feita da Habitação, de seu nome Ana Pinho, que se apresenta como sendo de S. João da Madeira.

À semelhança das notícias associadas a Ana Teresa Lehmann, fiquei à espera que a imprensa local nos informasse quem era Ana Pinho.

Esperei uma semana, mais outra e nada vi escrito. Era tempo assumido da campanha eleitoral e as atenções da imprensa estavam depositadas em outros protagonistas.

É sempre bom verificar que aos nossos conterrâneos é reconhecido mérito social, profissional e político para exercerem cargos importantes no nosso país.

A curiosidade em saber-se quem é quem e se por acaso nos cruzamos no passado, na infância, ou na adolescência, ou mesmo em adulto, sobressalta-nos a memória.

Antes de avançar com os dados de Ana Pinho e a propósito de recordações da adolescência, como fui contemporâneo de Ana Teresa Lehmann na Escola Secundária Dr. Serafim Leite, recordava-me das suas capacidades académicas. Lembrava-me de anos mais tarde, a ter visto em alguns debates da televisão e de a ter reconhecido, apesar do nome de casada. Como Ana Lehmann vivia no Porto e estava a exercer atividade profissional na CCDR-N, propus o seu nome para participar no Fórum Repensar S. João da Madeira, no ano de 2012. Por dificuldades várias o seu contributo não veio a ser conseguido. Em 2013, vi o seu nome a ficar relacionado com a Assembleia Municipal do Porto e atendendo à sangria que o executivo municipal daquela cidade sofreu, durante os últimos 4 anos, cheguei a comentar com uma sua antiga colega de turma que a Ana Teresa estaria bem posicionada para ser Vereadora da Câmara Municipal do Porto, pela lista de Rui Moreira. Apesar do meu palpite, errei no prognóstico. Ainda bem.

Voltemos a Ana Pinho.

Depois da espera, passei eu próprio à pesquisa. Por isso, aproveito as próximas linhas para vestir a pele de jornalista e transmitir os dados que recolhi.

Vi as suas habilitações académicas e o currículo profissional, continuei sem saber quem era. Revi a fotografia da tomada de posse dos vários Secretários de Estado perfilados e não reconheci aquele perfil. Até que aprofundei mais um pouco. Pesquisei o nome e ao ver Ana Cláudia da Costa Pinho a memória começou a processar alguma informação. Ainda assim, só quando acedi a uma fotografia individual, é que reconheci aquele rosto. Em primeiro lugar, associei-a com uma sua irmã, que foi minha colega no secundário em pelo menos 3 anos.  Confirmando esta informação, recordei-me que a conhecia como Cláudia e que tinha jogado xadrez na AEJ, nos primeiros anos da década de 90, ou seja, na sua adolescência, tendo participado no Campeonato Nacional Feminino organizado em S. João da Madeira. Lembrei-me então que o seu pai foi proprietário de um próspero comercio de motas, situado das galerias comerciais Santo António. Julgo que o stand tinha o nome de “Big Rela”, se a memória não me falha.

O pior é se falhou e tudo o que eu escrevi, acerca da ligação da Secretária de Estado da Habitação a S. João da Madeira, não se confirmar.

 

(a publicar no dia 09/11/17)