Na extensa província da Andaluzia Espanhola, existe uma pequena cidade perto de Jáen chamada Martos. Com pouco mais de 20 mil habitantes, esta povoação não é conhecida por nada de especial. Normalmente, existem monumentos, especialidades gastronómicas, incluindo os vinhos e a doçaria, que fazem a fama de uma terra, ou de uma região. Outras vezes, são a origem de um escritor, um artista plástico, ou um compositor. Mas, Martos não é o caso. A referência da pequena cidade Andaluza surge no livro autobiográfico “Patagonia Express”, do escritor chileno Luís Sepúlveda, conhecido pela facilidade de leitura dos seus livros.
Em Martos reencontra o chileno as suas origens. Dali tinha saído o seu avô para o Chile. O exílio forçado de um anarquista, de ideias libertárias, que guardava de Espanha a má memória da derrota na guerra civil, a perseguição e a prisão. Um avô dos que incluem na suas tarefas a leitura do grande livro de Cervantes aos seus netos. O de Sepúlveda incentivou na infância do neto, um outro ritual. Aos Domingos oferecia-lhe todas as bebidas que normalmente os pais não deixam beber. O rapaz ficava felicíssimo e de bexiga cheia. No regresso a casa, com o miúdo aflito, o alívio surgia invariavelmente na porta de uma igreja, das que existem em Santiago de Chile.
Os anarquistas sempre tiveram dificuldade em lidar com a ordem, tanto da Igreja, como do Estado. Comportamentos como o do rapaz, eram usuais contra as mais variadas paredes, em especial, as da esquadra da polícia. No final do passeio da Rua do Visconde, em noites secas e de luar permanentemente visível, a parede da antiga esquadra da PSP frequentemente aparecia molhada... Ali perto, a Igreja Matriz permanecia seca e altaneira.
As Igrejas, sem entrar em considerações religiosas, são importantes monumentos da história. Testemunhos de várias épocas. Por vezes singelas, outras vezes faustosas. Da simples capela ao enorme mosteiro ou catedral, por toda a Europa vemos edificados monumentos que são ex-libris das mais variadas cidades. Em S. João da Madeira, a construção de uma nova Igreja é uma ideia antiga na paróquia. O Rev. Padre tem-na defendido e procurado encontrar várias soluções, tendo inclusivamente convidado um prestigiado arquitecto para fazer um estudo sobre a nova Igreja, pretendendo assim um local de culto que fique conhecido pelas melhores razões arquitectónicas. Efectivamente, S. João da Madeira precisa de uma Igreja para o mundo. À semelhança do que aconteceu com a igreja de Marco de Canaveses, projectada pelo Arquitecto Siza Vieira.
Parece-me, que a localização escolhida não é a melhor. A minha discórdia surge apenas de uma opinião pessoal que assenta no direito e no dever do exercício de cidadania. No “caos urbanístico”, como em tempos foi referida a cidade, o melhor é aproveitar os espaços existentes, enriquecendo-os com equipamentos modernos e procurar, com tranquilidade, harmonizar os outros, sem grandes revoluções. Construir a nova igreja perto da actual Matriz, é retirar a esta a importância que ele teve. Além disso, o centro já está sobrecarregado com várias construções.
Para contrariar esta tendência, a melhor opção seria construir a nova igreja numa zona com menor índice de construção. Para mim, a melhor localização é a Praça Barbazieux, no largo em frente ao cemitério n.º 3, que em tempos albergou o Mercado por Grosso e agora serve de pseudo Parque Radical. O espaço é amplo e a envolvente paisagística é um dos locais mais aprazíveis de S. João da Madeira, o que daria ao arquitecto a possibilidade de melhor projectar a futura igreja.