No final do mês de Julho a Câmara Municipal do Porto (CMP) anunciou a intenção de alterar o modelo de gestão do Teatro Municipal Rivoli. Pretende com esta medida, o executivo liderado por Rui Rio, concessionar a uma entidade privada a gestão do Teatro, garantindo desta forma uma diminuição dos custos de programação cultural, cingindo-se os gastos apenas à gestão corrente com o teatro, como manutenção, limpeza, pagamento de água e de electricidade. A CMP receberá como contrapartida 5% das receitas de bilheteira. A entidade que assumir a gestão do Teatro Rivoli terá de garantir 300 dias de espectáculos por ano, duas grandes produções anuais, espectáculos para crianças, peças experimentais com actores do Porto e garantir a formação teatral aos jovens da cidade.
É evidente que a apresentação deste modelo de gestão causou polémica e foram várias as formas de protesto, incluindo a contestação dos números da autarquia, no que se refere à média diária de espectadores no ano de 2005 - 388, à receita efectivamente gerada – 6%, entre outros.
Curiosamente, o Rivoli, nome pelo qual é usual referir-se o Teatro Municipal da cidade do Porto, nunca foi encarado pela autarquia de S. João da Madeira como o exemplo a seguir na reabilitação do antigo Cinema Imperador, transformando-o na Casa das Artes do Espectáculo. Inexplicavelmente, o Presidente da autarquia local preferiu inspirar-se em modelos externos ao País, segundo o próprio Teatros de Berlim e Paris.
O estudo prévio de arquitectura apresentado há largos meses pelo Arquitecto Filipe Oliveira Dias transformará o antigo cinema num moderno Teatro Municipal, versátil, com boas condições técnicas, capaz de albergar vários tipos de produções. Serão certamente encontradas boas e óptimas soluções do ponto de vista técnico para tornar o edifício num moderno e único equipamento. E depois? Como será depois de concluídas as obras e inaugurado o espaço?
Já em Janeiro do presente ano abordei este assunto, incentivando a uma melhoria na programação cultural de forma a atrair público à cidade e lançar assim os alicerces da Casa de Artes e Espectáculo. Sabendo-se hoje que a capacidade financeira do Município melhorou consideravelmente e antes que surja a tentação de novo endividamento - para por exemplo arrancar com as obras no antigo cinema, seria importante analisar-se qual será a capacidade financeira para promover vários espectáculos por ano para 400 pessoas ou para promover “importantes espectáculos teatrais”, como finaliza o estudo prévio atrás citado e “entrar assim na alta roda cultural”?
A resposta está no Rivoli...
A CMP chegou à conclusão que precisa de um parceiro privado. A grande cidade tem vários equipamentos públicos, que aqui não é importante descriminar. Não tem público para todos, por vários erros e um que é apontado é precisamente programação deficiente.
Mais do que encarar o projecto de reabilitação e inauguração da Casa das Artes e Espectáculo, é necessário pensar-se nos meses seguintes. Será o Teatro Municipal capaz de gerar receita própria para fazer face aos custos inerentes de exploração ou terá necessidade de recorrer ao orçamento municipal?
Acreditando que a resposta será o recurso ao orçamento municipal, em que rubrica se vai enquadrar? Pensando-se na lógica macro orçamental, será na reduzida verba para actividades culturais ou na verba distribuída pelas associações desportivas e afins, significando com isto uma redução das verbas actualmente distribuídas? Ou muito pelo contrário, gerando receitas extraordinárias com a venda de património municipal?
Pode-se responder de várias formas mas, seria importante equacionar-se qual o modelo adequado à gestão do Teatro Municipal. Mais do que copiar modelos externos, com realidades culturais próprias, importa estudar os vários casos nacionais de recuperação e consequente exploração de antigos teatros. A realidade de outros concelhos poderá ajudar a definir o modelo a seguir. Desta forma, as linhas orientadoras do estudo prévio de arquitectura farão mais sentido, tornando a centralidade do reabilitado espaço cultural uma mais valia para todos.