A Selecção Nacional terminou a sua participação no Campeonato Mundial de Rugby, prova que se está a disputar, até ao próximo dia 21 de Outubro, em França.
A prática de desportos colectivos foi um dos principais legados do Império Britânico. Os Ingleses conseguiram, numa sociedade com classes, inventar uma forma de atenuar essas diferenças. Através dos desportos colectivos, qualquer súbdito de Sua Majestade poderia afirmar-se e realizar-se numa equipa heterogénea. A difusão pelo planeta e a assimilação pelos diversos povos de vários desportos, contribuíram para fenómenos curiosos de implementação de modalidades desportivas, em alguns pontos do Globo. O râguebi é uma delas. Na Oceânia, este é o desporto mais popular, mais praticado. Além da referida Nova Zelândia, estão também presentes neste Campeonato selecções da Austrália, da Samoa, das Ilhas Fiji e da Tonga.
O râguebi difere do futebol, por não ter sido desvirtuado na sua essência por povos latinos e sul-americanos, atingindo os dias de hoje grandemente fiel à sua génese.
No Campeonato do Mundo em competição, Portugal foi a única amadora e era também das vinte participantes a pior classificada do ranking mundial. Pela primeira vez a disputar uma prova desta importância, o “quinze” Português partiu com o propósito de nos quatro jogos previstos, tentar ganhar apenas um, frente à Roménia e perante os restantes adversários, perder mas, deixando uma imagem competitiva.
Se no primeiro jogo, com a Escócia a derrota ficou dentro do esperado, 52-10, Portugal partia para o segundo jogo (o mais esperado) frente à favorita Nova Zelândia, com o propósito de evitar sofrer cem pontos. Uma tarefa difícil. Para cumprir o objectivo, Portugal precisava de parar o adversário, resistir em média cinco minutos e vinte segundos entre cada ataque da Nova Zelândia, à linha do fundo. Não se conseguiu. Dezasseis ensaios para os Neozelandeses, uma sequência deles em períodos curtos e o resultado final 108-13, espelham bem a diferença dos dois conjuntos. Ainda assim, Portugal pontuou, inclusive através de um ensaio, por intermédio de Rui Cordeiro.
A reacção dos jogadores foi fantástica. Os Lobos, como se autodenominam, entraram em campo para se divertirem – palavras do Capitão. Tiveram pela frente alguns dos melhores jogadores do mundo, uma oportunidade única. Jogaram o jogo pelo jogo, marcaram um ensaio, uma conversão e dois pontapés de ressalto. No final, trocaram-se camisolas, visitaram-se os balneários, beberam-se umas cervejas e jogou-se uma partida de futebol...
No jogo seguinte frente à Itália, Portugal fez um excelente jogo, dando bastante réplica, embora perdendo por 31-5. Mais uma vez, Portugal conseguiu um ensaio e lutou bastante até ao final. Só nos últimos minutos é que o quinze Português fraquejou, sofrendo dois ensaios que desvirtuaram o marcador. No jogo disputado no passado dia 25 com a Roménia, a Selecção Nacional não se aguentou. Portugal perdeu por 14-10. Um jogo extremamente disputado com a Roménia a virar o marcador nos instantes finais.
Noutras modalidades com estes resultados e o falhanço total dos objectivos seria um escândalo no panorama desportivo nacional. Acrescente-se a isto, a suspensão por quatro jogos do jogador nacional Juan Severino, por ter agredido um adversário, logo no primeiro encontro.
Poderá parecer incompreensível, com este cenário, que a opinião pública se sinta orgulhosa da sua Selecção Nacional de Râguebi. Mas, a verdade é que está.
A Federação Portuguesa trabalhou bem a imagem desta equipa, na comunicação social. Projectou a sua simpatia e a visão do seleccionador (Tomás Morais) com antecedência.
Depois foi pô-los em campo…
As imagens dos jogadores nacionais a cantar o Hino Nacional a plenos pulmões, nos quatro jogos disputados - inclusive no primeiro jogo um deles emocionado verteu lágrimas pela cara abaixo - o abraço colectivo no momento solene e de alguns com a mão sobre o peito, foram momentos decisivos para a empatia do público nacional.
O amadorismo dos jogadores, participando com prejuízo nas suas carreiras profissionais foi compensado com a generosidade com que se entregaram ao jogo, nunca virando a cara à luta, ao valor do adversário. Uma placagem dos Portugueses foi um feito notável. Tal como, corridas com finta ou pontapés de progressão, foram classificadas como proezas fantásticas. Os pontos conseguidos por qualquer jogador tornaram-no herói nacional – o que dizer dos ensaios conseguidos?
Estamos perante um fenómeno nacional!
De repente, os grandes êxitos do futebol são esquecidos. Os recentes maus resultados e o comportamento do Seleccionador, levaram as pessoas a olharem para os bravos Lobos de outra forma.
Porém, não se lhes exige nada. Embora, o espírito de auto – crítica tivesse presente nas palavras finais, reconhecendo faltar experiência competitiva à Selecção para jogar a este nível.
Existiu nesta afeição pela Selecção um patriotismo genuíno, um modo diferente de sentir a nação, fazendo-me evocar os versos finais do poema de Fernando Pessoa dedicados a Bandarra:
“(…)Este, cujo coração foi
Não português, mas Portugal.”
(a publicar no dia 27/09/07)