terça-feira, novembro 27, 2007

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A actividade desportiva da cidade tem-se distribuído por três vertentes: o entretenimento, a associativa e a manutenção.
A primeira, o entretenimento, verifica-se pela existência de bons equipamentos desportivos, que permitem dar uma maior visibilidade ao município e servem sobretudo, para promover a organização de campeonatos ou eventos de âmbito nacional, torneios ou jogos particulares de selecções ou equipas nacionais, proporcionando aos habitantes da cidade e da região próxima, momentos de lazer como espectadores. Nos últimos anos, o melhor exemplo deste tipo de promoções é a chegada da Volta à Portugal em Ciclismo - obviamente, fugindo do conceito atrás definido de utilização dos equipamentos desportivos, embora num passado recente existam vários exemplos de aproveitamento dos espaços municipais para espectáculos do género, como o Mundial de Andebol de 2003.
A parte associativa do desporto compreende a formação, a competição e no limite o profissionalismo e está intimamente ligada aos vários clubes da cidade, que utilizam os equipamentos públicos e envolvem centenas de atletas. A divulgação de resultados nas páginas dos jornais locais demonstra bem, a forte actividade desportiva das associações do concelho. Associada a estes clubes, temos uma pequena componente de entretenimento, composta pela assistência a jogos ou treinos, normalmente formada por familiares dos atletas e nalguns casos por outros atletas da mesma secção e claro está, por sócios ou simpatizantes.
Por último, temos a vertente de manutenção. Por exclusão do desporto federado, a manutenção engloba todos os que praticam desporto apenas pela forma física ou pela promoção de saúde. Provavelmente, sem ser possível obter um número rigoroso destes desportistas, penso que esta última vertente é a que maior adesão tem tido nos últimos anos. Não errarei muito se contabilizarmos alguns dos inscritos na Escola de natação, nos grupos que alugam pavilhões, court de ténis e campos de futebol. Contudo, além daqueles e daquelas que frequentam ginásios, existem vários que praticam jogging (em corrida ou em ritmo de caminhada), além dos ciclistas de horas de lazer e dos utilizadores dos ringues em zonas habitacionais.
O conceito actual de Desporto apenas aceita a vertente federativa. Vários são os atletas que sentem a obrigação de recorrer a associações pela necessidade de competir no desporto federado. O bem estar, a forma física, a aprendizagem - sem componente competitiva - e a promoção pela saúde são actividades que caiem fora da moderna definição de desporto.
A ideia existente do “Desporto para todos” vai sendo abandonada e os índices calculados vão sendo descurados, porque ridiculamente comprovavam a pouca penetração da actividade desportiva nos hábitos da população Portuguesa.
A Autarquia de S. João da Madeira idealizou a sua política desportiva, no sentido de apoiar os clubes locais. Em tempo acertado e oportuno, procedeu à atribuição e distribuição de espaços públicos para sede social de várias Associações. Ao longo dos últimos anos, a Câmara Municipal tem contribuído para o financiamento dos clubes, através de contratos programa concedendo subsídios mensais, o que permitiu a qualquer dirigente competente gerir a sua Associação de forma mais organizada e profícua.
Além destes subsídios, surgiram também outros incentivos financeiros através de prémios por títulos individuais ou colectivos alcançados, tanto em competições distritais, como nas nacionais.
Neste panorama, extremamente animador para quem é dirigente, surge agora mais uma oportunidade de melhoria: a criação de uma página na Internet através do EDV Digital. Pelo que retive, das afirmações dos responsáveis do projecto, as associações aderentes terão ao ser dispor um Módulo que lhes permitirá fazer a gestão do ficheiro de Sócios, permitindo efectuar-se, entre outras opções, a listagem actualizada, o processo de pagamento de quotas, etc..
É certo que os clubes existem de acordo com a vontade dos seus associados, no entanto, a história recente, tem demonstrado que vários são os clubes, ou associações, que têm tido um rumo bem definido ao serviço do bem comum, da comunidade local.
Estes devidamente enquadrados por protocolos específicos, certamente estarão em condições de se organizar, no sentido de conseguirem uma autonomia de receitas, através da consignação de equipamento desportivos e espaços auxiliares públicos.
Este acto permitiria um aliviar das despesas correntes da Autarquia, reduzindo e clarificando o fluxo mensal dos subsídios atribuídos às colectividades locais e sobretudo, gerir melhor os mencionados bens públicos, muitos extremamente mal aproveitados, ou em concessão a privados.

quarta-feira, novembro 14, 2007

Gente com palavras

No seu desassossego, Bernardo Soares descreve o escritor de um modo inquietante. Na sua prosa surge a observação da não muito digna posição da cabeça de um autor, obrigada pelo acto da escrita, a estar vergada, colocando o escritor como um ser submisso.

O progresso introduziu a máquina de escrever como instrumento de escrita. Apesar de todas as melhorias consequentes, a postura de qualquer escritor não se alterou. Os textos sofreram alterações de forma, a caligrafia pessoal foi substituída por um tipo de letra “universal” mas, apesar deste avanço técnico, a cabeça continuou ligeiramente curvada a assistir ao fluxo de palavras entre o pensamento e o teclado “HCESAR” ou mais tarde “AZERT”.

Na exposição relativa ao centenário de nascimento de Miguel Torga, entre os vários objectos patentes: reportagens de várias homenagens, edições de livros e biografia do autor, estava em lugar de destaque a máquina de escrever do poeta Transmontano. Naquelas teclas foram “marteladas” as suas palavras, quer de poesia, quer a sua prosa, em formato de conto, ou em ensaio, ou o seu diário. Tal como o artesão era caracterizado pelas suas ferramentas também alguns dos escritores contemporâneos serviram-se da máquina de escrever para criar a sua obra.

Sempre com a cabeça inclinada.

A adaptação a novas tecnologias e a utilização de computadores pessoais, com processadores de texto com possibilidades múltiplas tornaram o acto da escrita mais acessível. Em primeiro lugar pela posição da cabeça. Os olhos passaram a fitar em frente um monitor, mantendo a cabeça horizontal. O domínio do teclado permite que os dedos vão escrevendo, sem necessidade de procurar a posição das letras, quer se escreva com um, dois, quatro ou mais dedos. As palavras vão aparecendo no ecrãn e pelo facto de existirem correctores automáticos, os erros ortográficos são prontamente eliminados. Existem outras possibilidades: escolher o estilo de letra, o tamanho da letra, o espaçamento entre linhas, entre outras hipóteses. Alguns editores de texto têm a capacidade de verificar a concordância gramatical de cada frase. Evita-se erros, acerta-se no sujeito e respectivo predicado, não colocando vírgulas antes do complemento directo. Pelo meio colocam-se uns adjectivos e uns advérbios, normalmente como este, de modo.

Pela facilidade destes meios, surgiram mais artigos de opinião nos jornais, mais relatos e comentários acerca do quotidiano e mais blogs pessoais na web.

Muitos destes novos membros da escrita têm pretensões a serem reconhecidos como escritores. Alguns não se assumem como tal, pretendendo uma classificação mais suave, menos pretensiosa, auto-denominando-se com outros títulos, independentemente da aceitação do público.

Só que o reconhecimento das palavras escritas é um acto moroso. Poucos são os que editam livros e têm sucesso editorial e mesmo este indicador não é o mais próprio para classificar autores. Os escritores Norte–Americanos actualmente mais procurados e mais reconhecidos têm mais de 70 anos de idade e alguns mais de quarenta anos de publicação de livros. Como se pode concluir, todos eles passaram pelo processo de escrita com a cabeça vergada.

Os bons utilizadores das novas tecnologias tardarão a ser galardoados. Provavelmente daqui a trinta ou quarenta anos, alguns desses escritores estarão a receber prémios de carreira, serão o tema de conversa literária e de leitura, quer seja em livro, ou noutro formato entretanto criado.

Neste processo de regeneração, existe uma tendência: esquecer o passado, relegar escritores duma época e os seus escritos para memórias, para prateleiras esquecidas de bibliotecas públicas, além da inserção desse nome na toponímia local, ou a atribuição a uma escola. Por vezes, criam-se prémios literários com nome de um determinado autor, por um período de tempo, esse já indeterminado.

Depois é para esquecer. Um dia em S. Martinho da Anta, na sua terra natal, o nome de Torga será apenas associado ao busto da Praça Central, junto ao negrilho. Tal como várias estátuas de tantos escritores, entretanto esquecidos, espalhadas por várias localidades de Portugal.


Neste sentido, se hoje lamentamos a intenção de alterar o nome da Escola EB 2/3, um dia o mesmo irá acontecer à memória de João da Silva Correia.

É urgente recriar-se a memória dos nossos escritores, que retrataram uma época específica, de forma a perpectuar no tempo todo esse passado, para gerações futuras.

quinta-feira, novembro 08, 2007

Participar

A troca de ideias sobre assuntos da cidade não pode ser exclusivo dos agentes políticos, em funções executivas ou em funções parlamentares.
A participação dos eleitores em actividades cívicas são raras. O acto mais frequente é a contestação a medidas anunciadas e por vezes, ou no limite, o recurso a acções judiciais para impedir a execução de determinadas decisões do poder político.
A sociedade civil devia debater o mais possível o quotidiano, emitir opiniões e sugestões, realizar estudos, introduzir temas e não esperar apenas pelas forças partidárias para decidir o futuro de todos.
O resultado prático dessas sugestões ou análises traduz-se muitas vezes, em nada. O poder político actua com desconfiança, sente-se legitimado pela força de votos conseguidos em eleições e caso não haja forte contestação, prefere continuar no seu trilho.
Normalmente, até às vésperas das eleições seguintes.
Nos últimos anos, esta relação entre eleitores e eleitos tem evoluído de forma diferente, num modo mais simbiótico, sem desconfianças sobre a pretensão dos cidadãos. Uma afinidade clara e enérgica, que permitiu a vários municípios adoptarem várias práticas de Democracia Participativa.
Neste parágrafo é urgente esclarecer este conceito, servindo-me para isso da definição existente na Wikipedia: “O regime da democracia participativa é um regime onde se pretende que existam efectivos mecanismos de controle da sociedade civil sob a administração pública, não se reduzindo o papel democrático apenas ao voto, mas também estendendo a democracia para a esfera social. Os defensores da Democracia participativa argumentam que o real sentido da palavra democracia foi esvaziado ao longo dos tempos, e foi reduzida a mera escolha de dirigentes, sem participação efectiva da sociedade civil organizada na administração de seus respectivos governos eleitos. Um exemplo é o orçamento participativo, com o intuito de submeter o destino de parte dos recursos públicos à consulta pública, através de reuniões comunitárias abertas ao público, onde primeiro são colectadas sugestões, depois votadas as prioridades, e encaminhadas ao governo para que ele atenda a solicitação através de investimento público.”
Em Portugal, além das consultas à população através da Agenda 21 Local, são vários os concelhos que optaram por introduzir o conceito de Orçamento Participativo. Uma dessas autarquias inovadoras é precisamente S. Brás de Alportel – caracterizada, tal como S. João da Madeira, por ter apenas uma freguesia. O concelho de Tomar, cujo executivo é liderado pelo PSD é outra das autarquias que já fez esta experiência. Além destes concelhos, também algumas freguesias já desenvolveram esta metodologia de participação cívica, como é o caso da Freguesia de S. Sebastião do concelho de Setúbal.
Estes exemplos permitem verificar que existem autarquias inovadoras neste âmbito.
O conceito genérico é normalmente associado à cidade brasileira de Porto Alegre onde foi aplicado pela primeira vez mas, como se pode observar, freguesias urbanas e concelhos com semelhanças ao de S. João da Madeira não se inibiram de adoptar o Orçamento Participativo, sem com isso deixar cair o “poder na rua”.
O apelo à participação na escolha do futuro da cidade efectuado pelo Presidente da Câmara de S. João da Madeira, a que já fiz referência em anterior artigo, terá forçosamente que contemplar este tipo de medidas inovadoras. Não se pode, por um lado, apelar à participação e por outro lado, não utilizar metodologias modernas de Democracia Participativa.
A sociedade civil não deve apenas participar em reuniões de trabalho para conhecer e ser confrontada com as ideias do executivo, quando estas existem. Esta forma de actuar é extremamente redutora para o conceito de participação, remetendo-nos para o exposto na definição de democracia atrás transcrita.
Esta aproximação entre eleitos e eleitores poderá esvaziar o conceito de oposição. Em termos práticos, esse sintoma só poderá ser verificado quando os executivos municipais que implementarem a Democracia Participativa forem sujeitos a votos. Nas eleições autárquicas existem sempre surpresas que não permitem criar regras de antevisão de resultados.