quarta-feira, março 12, 2008

Satisfação

Dois estudos promovidos por duas entidades distintas, indicaram S. João da Madeira como um dos concelhos com maior qualidade de vida. As duas análises tiveram em comum o cruzamento de diversos dados estatísticos oficiais e diferenciavam-se na metodologia, pois o promovido pelo INTEC – Instituto de Tecnologia Comportamental –, baseou-se ainda em entrevistas telefónicas às populações locais.

Em ambos os estudos, este concelho ficou no pódio, i.e., nos três primeiros lugares, só tendo sido superado pelo concelho de Albufeira. Com este lugar no ranking nacional, vários foram os comentários, as interpretações e até sugestão de outros indicadores.

Houve quem preferisse não dar importância às conclusões de qualquer um dos estudos. Do rol de argumentos depreciativos não surgiu a normal visão redutora da função média: “se duas pessoas tiverem vencimentos anuais de 5.000 e 50.000 euros, em média auferiram 27.500 euros”; ou a mais conhecida: “se um fulano não comer uma refeição e o outro comer duas, em média ambos comeram uma e o desgraçado que ficou com fome, estatisticamente ficou satisfeito”. O cruzamento de vários dados estatísticos e a elaboração de rankings por domínios tratados, permite não se cair na tentação fácil de denegrir a análise estatística.

O facto das apreciações finais dos estudos terem sido semelhantes, confere idoneidade às metodologias utilizadas e sabendo-se que nove dos doze municípios financiaram o estudo do INTEC, em nada altera, na minha opinião, os resultados divulgados. Só seriam suspeitos se a amostra fosse menos homogénea e o ranking final colocasse, precisamente, os financiadores nas primeiras posições.

Com tudo isto, sabendo-se de todas as carências que existem na cidade, os problemas sociais incluídos, ligados obviamente aos dados “paradoxais” como bem englobou este Jornal na semana passada, o que ressalta dos resultados das entrevistas telefónicas é a satisfação global dos habitantes de S. João da Madeira.

Para os municípes deste concelho as áreas que funcionam menos bem são: saúde, ambiente, urbanismo, habitação, turismo, diversidade e tolerância. Em contrapartida, os aspectos positivos são: cultura; lazer; economia e emprego; ensino e formação; acessibilidades e transportes.

A felicidade é o grande trunfo da cidade. Subjectivamente, claro.

O trecho retirado do estudo do INTEC, segundo o Jornal Regional de 28-02-08 é o paradigma da análise subjectiva “(...) salienta a facilidade de mobilidade e curtos tempos de deslocação, assim como o fácil acesso a cidades como Porto e Aveiro, que disponibilizam equipamentos e serviços que escasseiam localmente, o que, segundo os autores do estudo, ajuda a explicar as boas avaliações dos munícipes nos domínios da saúde e educação e formação(...)”. Numa só frase, eis o resumo para a boa localização geográfica do concelho. Poderia evidenciar o paradoxo contido no texto transcrito, que elimina dois aspectos positivos do concelho mas, essa tarefa deixo-a para os leitores.

Voltando às preocupações da população, de todas as enumeradas, a eleita para análise pelo poder político foi friamente o turismo (ver texto “Turismo com nota negativa”, publicado no Jornal Labor de 06/03/08). Este desfasamento entre as dificuldades da população e a actividade política são a dura realidade nacional.

A satisfação dos Sanjoanenses é claramente elevada e distante do poder político municipal. Se verificarmos os domínios tratados classificados com nota positiva, nos recordarmos do Plano de Actividades da Câmara Municipal para o ano 2008, focados na capacidade de concretização do programa eleitoral do actual executivo municipal, ficamos sem palavras.

Estes documentos, os rankings divulgados podem ser criticáveis pelos indicadores eleitos, no entanto, retratam, pela abrangência de temas, a relação dos munícipes com os seus concelhos. Se alguns são demasiado cépticos, outros conformados e outros optimistas, os resultados obtidos, em especial, pelas entrevistas telefónicas permite obter-se uma análise social sobre a generalidade das suas expectativas.

Esse é o desafio para os próximos anos.

(a publicar dia 13/03/08)

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