quarta-feira, setembro 16, 2009

Adeus ao Verão

            Em Setembro de 1989, na Praça Luís Ribeiro, a Associação Estamos Juntos promoveu um espectáculo com artistas locais. A iniciativa começou de manhã, com uma prova de atletismo, em simultâneo com a realização de um painel, por vários pintores da região. De tarde e até à noite, passaram pelo palco uma série de músicos locais, além de grupos de dança e de uma peça de teatro, promovida para o efeito. Por se realizar na passagem da estação, o espectáculo foi designado de “Adeus ao Verão”.  

            Evocar este acontecimento, precisamente vinte anos depois, serve para recordar a ousadia da organização em promover um alinhamento diversificado, com momentos de grande qualidade sonora, numa época em que os concertos nesse palco eram escassos, quase sempre com artistas aclamados e sobretudo, com muita assistência, enchendo semana após semana, a Praça.

            Já neste século foi organizado um evento semelhante – Raízes – com meios técnicos ajustados aos tempos actuais e com uma maior facilidade de recrutamento, reconheça-se, como resultado da formação ministrada ao longo dos anos, pelo aparecimento de novos valores e pela aposta de vários habitantes locais em esforçadas carreiras artísticas.

            Tal como o “Adeus ao Verão”, este evento não teve continuidade.

            É certo que durante o ano, nos novos palcos entretanto surgidos pela cidade, vários concertos e várias actuações são promovidas com artistas locais. O ciclo “Musicatos”, o “Festival da Juventude”, a “Cidade no Jardim”, entre outros, promovem essas actuações e provavelmente é difícil encontrar agenda e vontade em organizar um evento específico, destinado a impulsionar a divulgação dos artistas locais, nas mais variadas especialidades de artes de palco e não só.   

            A cultura foi aposta forte na cidade nos últimos anos e pelos projectos apresentados, continuará a receber grande atenção, devido à construção de arquipélagos culturais na cidade. Durante vários anos a política cultural esteve vocacionada para o apoio à formação, com o Centro de Arte e a Academia de Música a serem o rosto mais visível dessa vontade, através das suas aulas e claro, pelas respectivas exposições, concertos ou concursos de Piano, como o referenciado “Florinda Santos”. O posterior aparecimento do Museu da Chapelaria e dos Paços da Cultura – com peças de teatro, concertos em ritmo mensal - permitiram diversificar o empenho da autarquia, enquanto agente promotor de cultura. A isto junte-se as novas iniciativas dinamizadas, algumas mencionadas no parágrafo anterior, mais outras como a insistente “Poesia à mesa” e teremos o retrato cultural da cidade.

            Apesar de todo o esforço, é muito reduzida a importância de S. João da Madeira no panorama nacional em todo este domínio.

            Cientes disso mesmo, os actuais autarcas lançaram-se à obra. Dois avultados investimentos estão previstos. O primeiro, já com mais de dez anos, a reconversão do Cinema Imperador, deverá ficar concluído no próximo ano. Apresentado durante anos como o espaço capaz de “alavancar” o nome de S. João da Madeira nos meios culturais, não terá tempo de ser consolidado, absorvido e assimilado pela população, pois um novo projecto - a reconversão da antiga Oliva - tende a ofuscá-lo.

            Esta sucessão de anúncios de novos espaços culturais, retirando importância aos existentes, aos inaugurados recentemente e àqueles que a curto prazo deveriam ficar operacionais, revela alguma descoordenação e sobretudo, uma falta de conhecimento sobre os hábitos culturais da população da cidade.

            Bem, é ainda Setembro, o Verão termina na próxima semana. Só depois será Outono.  

 

 

(a publicar dia 17/09/09)

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