quarta-feira, abril 28, 2010

Ruínas

 

                A evolução do ordenamento territorial obrigou à distinção, em perímetro urbano, das áreas de habitação de outras com fins industriais. A necessidade de responder às exigências populacionais relativas a qualidade de vida e sobretudo, ambientais, implicaram a criação de ferramentas de gestão de urbanismo, por parte das autarquias.

            As próprias empresas, com unidades industriais confinadas em aglomerados habitacionais, sentiram a carência de espaço e deslocaram-se para zonas apropriadas. Este fluxo libertou áreas no centro das cidades, algumas aproveitadas para projectos imobiliários. Por outro lado, o carácter ou interesse público dessas fábricas devolutas, permitiram através da capacidade de investimento dos municípios em que estavam inseridas, o restauro da infra-estrutura, transformando-as para adquirirem outra utilidade.

            Toda esta resenha histórica, semelhante a vários municípios, não tem um final feliz. Antigos edifícios industriais abandonados, com os vidros das janelas quebrados, estruturas metálicas enferrujadas e vergadas, telhados com buracos, portas substituídas por tijolos - para impedir o acesso a intrusos - fazem parte da paisagem urbana das localidades com passado industrial. Esta imagem de degradação fica completa com a pincelada de grafittis nas paredes envelhecidas dos edifícios.

            Infelizmente, pelo que se pôde observar nas fotografias que acompanham os artigos publicados na imprensa, assim como pelas reportagens editadas pela televisão, o parque industrial da Oliva apresenta graves sinais de deterioração. Da descrição anterior, pode-se retirar os tijolos e as estruturas metálicas vergadas. Acrescente-se a cor castanha ou alaranjada que circunvizinha aquela área da cidade, proveniente daquela empresa e o cenário decrépito fica traçado.

            O futuro das instalações desta empresa passará pelo retalho: uma parte para a cultura municipal, outra para a especulação imobiliária. Permanecem as letras na torre e o nome para o projecto das indústrias criativas, para memória futura.

            Fica uma marca, que será recordada pelos seus produtos, em especial pelas máquinas de costura.

            Restam as histórias de quem por lá laborou; de quem se especializou em metalomecânica; de quem trabalhou para o bom nome da empresa. O contributo social desta empresa para a história da cidade é inegável. Todos o reconhecem e tem sido documentado ao longo de vários anos. O legado técnico e organizacional nem por isso. Uma lacuna que convinha erradicar, recolhendo testemunhos e compilando essa informação. Na história da cidade pode-se abrir uma página diferente, que não seja apenas povoada por edifícios, marcas ou empreendedores.

            Por agora, o panorama é outro e não é nada agradável. É triste este final. Sem glória. Deixando na incerteza os seus qualificados trabalhadores e acalmados os seus vizinhos, tal era o impacto negativo causado pela recente laboração desta empresa.

            Um desfecho, aos 85 anos, em que sobrevivem as ruínas do passado magnífico da Oliva.

 

(a publicar no dia 29/04/10)

Sem comentários: