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A ausência de reacções à provocação expressa pelo director do labor, acerca do abandono de funções do presidente da Câmara de S. João da Madeira para ingressar na Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDRN), é curiosa.
Há alguns meses, neste jornal, Castro Almeida foi apresentado como possível candidato a autarca do concelho de Santa Maria da Feira. O silêncio sobre o assunto foi esclarecedor.
O limite do número de mandatos, imposto pela actual lei eleitoral, permite entrar-se em especulação sobre o futuro dos vários autarcas. Aceitando-se que a interpretação da nova lei, contrariando o jeito português, manterá o limite de mandatos dos presidentes das autarquias, haverá vários que pretendem conservar a sua actividade política em outros concelhos. É perfeitamente conhecida, a intenção do presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia em atravessar a margem do Douro, por exemplo. A tentação de copiar este figurino, provável vencedor, deve ser obsessão de várias concelhias dos partidos políticos.
A outra variável política é a suspensão de mandato. Em Cascais e em Coimbra, os presidentes eleitos suspenderam funções, para darem oportunidade aos seus vereadores de “mostrarem” serviço e potenciarem-se como candidatos a autarcas nas respectivas eleições de 2013.
Estas tácticas políticas, ao serem equacionadas para S. João da Madeira, merecem da população uma resignação surpreendente. A suspensão de mandato é a única que pode merecer o meu comentário. O actual presidente da Câmara não o deve fazer. Pode mas, não deve. A lei permite. A ambição política de exercer um cargo de dimensão regional é tentadora, só que existe um balanço a apresentar aos seus actuais eleitores.
Neste momento a convulsão vivida na cidade, motivada por obras municipais, é elevada:
a) Dois palacetes restaurados sem destino à vista. A Quinta do Rei da Farinha continua sem o seu inquilino e terminadas as obras para o Palacete dos Condes, sem surpresa, anunciou-se uma intenção, que poderá acarretar empréstimos elevados numa conjuntura nada favorável, para o possível ocupante.
b) A reabilitação do cineteatro imperador e da academia de música. Empreiteiros falidos, ou a caminho. Empreitadas canceladas e abertura de novos concursos. Os contratempos e respectivos atrasos nas obras a adiarem a inauguração. Além disso, é importante garantir a futura sustentabilidade do projecto da Casa das Artes e do Espectáculo, incluindo a Criatividade.
c) A ampliação da incubadora de empresas, entregue a empreiteiro mencionado, com a solvência incerta.
d) A nova piscina a precisar de financiamento em 2013. Ou na ausência deste, de um projecto realista.
e) A Oliva CF a ser atraiçoada pelo seu co-criador. À espera do estudo de viabilidade económica ou do desastre completo?
Além destas obras municipais (deve haver mais), a preocupação com o futuro do hospital e da linha do Vouga, cujos encerramentos prejudicarão a qualidade de vida dos habitantes locais, não permite saídas airosas a quem quer que seja.
O sentido de responsabilidade vingará, estou certo.
(a publicar dia 24/11/11)