Minho, Lima, Cávado, Ave, Douro, Vouga, Mondego, Tejo, Sado, Mira e Guadiana. Os principais rios de Portugal, caracterizados por desaguarem no Oceano Atlântico. Na instrução primária ou para cultura geral memorizava-se o nome destes onze cursos de água, apresentando-os pela sua disposição geográfica. Em matéria de nomes de rios, aprendia-se os principais afluentes do rio Douro, o Tâmega (e vá lá o Paiva) e dos afluentes do Tejo, restava o Zêzere.
Todos os outros eram desconsiderados.
Abria-se raras excepções: rio Leça, pelo aproveitamento portuário e rio Liz pela passagem pela cidade de Leiria. Os demais, jamais eram referenciados pelo comprimento ou distância entre margens, a bem dizer, apenas em épocas de forte precipitação, com o galgar do leito, inundavam os noticiários e as margens envolventes ganhavam importância, sobretudo, se havia estradas cortadas, com a água a atingir os tabuleiros das respectivas pontes. Nestes rios secundários, a maioria das ligações rodoviárias era estreita – previa-se sempre pouco tráfego - e sobretudo, curta, por tão reduzida ser a largura do curso de água. Era frequente atravessar-se pontes, sem se perceber que rio corria por baixo.
As necessidades eléctricas implicaram a construção de barragens. Em geral, os leitos dos rios principais alteraram-se, subindo a cota das águas. O conceito de passagem entre margens repensou-se. O aumento do trânsito rodoviário e os novos itinerários completaram a reformulação na configuração de pontes. Ainda assim, comedidas em comprimento e ajustada em largura.
Viajar, pelo país, passou a ser enriquecedor em termos geográficos, no meio do vão de qualquer ponte, uma indicação do nome desse rio, apesar de na maioria das vezes, não se deslumbrar qualquer água por baixo do tabuleiro.
Com a proliferação de auto-estradas, os conceitos de construção alteraram-se. Partindo para o exemplo concreto, na A41, a sul do Porto, entre Espinho e Crestuma surge a ponte sobre o Rio Uíma. Leia-se os dados técnicos: "uma extensão aproximada de 670 metros e é composta por dois tabuleiros paralelos que se estendem ao longo de 12 vãos de comprimentos diferentes, tendo o maior dos vãos uma distancia de 110 metros entre pilares. Os pilares mais altos têm uma altura de 42 metros aproximadamente (…)". Seguindo-se pela A41 para Norte atravessa-se o rio Douro, por uma ponte de características semelhantes – extensão 760 metros e altura de pilares 45 metros, que permite observar-se a central termo eléctrica da Tapada do Outeiro, sobranceira na margem norte.
Não duvide dos seus conhecimentos sobre os rios de Portugal. O rio Uíma nasce em Romariz e corre para norte, atravessando várias freguesias do concelho de Santa Maria da Feira e Vila Nova de Gaia até desaguar no rio Douro, junto a Crestuma, ou seja, perto de 20 quilómetros de extensão e poucos metros de largura ao longo do seu percurso.
Comparar o rio Uíma com o rio Douro é um exercício inútil. Só está ao alcance de alguns.
Na nova auto-estrada A32 surge um viaduto sobre o rio Uíma. Não consegui encontrar os dados técnicos dessa ponte. Empiricamente pareceu-me mais curta, embora, com altura de pilares excessiva, pois tal como na A41, não tive qualquer hipótese de espiar o rio.
No espaço de três quilómetros, duas pontes sobre o rio Uíma. Dois exemplos do exagero vivido em Portugal na última década. Auto-estradas de utilidade reduzida, construídas com custos excessivos e com poucos utilizadores.
É novidade?
Só para os distraídos.