O actual Secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural, Daniel Campelo, causou polémica quando, no ano 2000, fez uma greve de fome no Parlamento, em protesto contra a transferência da produção do queijo Limiano para fora do concelho de Ponte de Lima, do qual era autarca à época. Nesse ano e no seguinte, como deputado, viabilizaria os Orçamentos de Estado do Governo liderado por António Guterres, conseguindo várias contrapartidas para o seu concelho. Melhoria nas acessibilidades e garantia de investimento, promovendo a criação de emprego no concelho, foram as mais apregoadas.
Este modelo norteou os autarcas eleitos depois de 2001. O alargamento da rede de auto-estrada foi exigido praticamente por todos. O investimento público, co-financiado por fundos comunitários estruturais, assegurou inaugurações de edifícios de utilidade incerta. Durante vários anos, assistiu-se à reivindicação desse financiamento para projectos semelhantes em concelhos vizinhos. Ou para a abertura de valências do Estado, tentando retirá-las aos concelhos mais próximos.
Em paralelo, a criação de emprego mudou de paradigma. Esgotados os investimentos em indústrias de mão-de-obra intensiva, em especial, de capital europeu - protagonizada nos finais da década de 80 e ainda durante os anos 90, do século passado - surgiram as grandes superfícies e os serviços associados. Hipermercados e centros comerciais desafogaram os cofres das autarquias.
Esta última variável fugiu um pouco do modelo de Daniel Campelo. Mais interessado em preservar a zona histórica da sua vila, o seu comércio tradicional, mantendo as margens do rio Lima entregues à população. Desta forma evitou a especulação imobiliária e a construção de aberrações arquitectónicas.
Tudo corria bem aos autarcas do nosso país. A pretensão ao estatuto de “cidade-estado” podia ser ventilada, não fosse a dependência nas verbas enviadas pelo governo central.
Até que a necessidade de racionalizar os equipamentos do Estado, por escassez de verbas do Orçamento de Estado, alterou tudo. Hospitais, centros de saúde, esquadras, tribunais, escolas, repartições, passaram a ser equacionadas e a encerrar caso não se verificasse a sua utilidade.
Uma luta fratricida.
A recordar a história. Os senhores dos isolados castros a resistirem à presença romana ou muitos séculos mais tarde, os senhores medievais sempre interessados em desviarem do Rei, os proveitos que lhe eram devidos.
Este é o balanço da última década de poder local. Não é o balanço dos dez anos de mandatos do Dr. Castro Almeida. Reconhecidos como muito positivos, embora com demasiados projectos em aberto, para ser atribuída uma nota final.
No atrás exposto, mais do que uma crítica, está a clara intenção de enquadramento destes mandatos em contexto histórico político.
Daqui a alguns anos, se calhar, nova década, novo balanço será feito. Com outros protagonistas. Então subjugados ao efeito Relvas, caso a reforma da Administração local seja implementada.
(a publicar dia 15/12/11)