quarta-feira, novembro 26, 2014

A reabertura

                Fora d’horas, Novembro de 1995. O duplo CD “Mellon Collie and the Infinite Sadness” dos norte-americanos The Smashing Pumpkins, acabadinho de comprar, não chegaria a acompanhar-me até casa. Passaria os dias seguintes a tocar na aparelhagem do vizinho bar. Uma partilha em voga na época, anterior à duplicação de cds, à internet, ou ao youtube.

Existia essa tendência por aquelas caves. A posse era entregue ao dono do bar, que ouvia, fazia ouvir e deixava ouvir as novidades musicais que os clientes lhe apresentavam. A devolução trazia o cd imaculado. Sem riscos, a caixa intacta e o folheto impecável. Foi assim, com este e com outros que se lhe seguiram. O mesmo acontecendo com os vinis no tempo deles. O disco tinha um valor de preciosidade e o empréstimo não o danificava, podendo assim, ser ouvido por mais pessoas, o que era importante para a difusão de correntes musicais.

Várias foram as tendências musicais daquele bar. Acompanhando correntes das subculturas musicais, ouviu-se drum&bass e outras etapas da música eletrónica. Tal como anteriormente na década anterior, aquelas paredes tinham promovido música ao vivo, com guitarras, bateria e a casa cheia de adeptos do género, oriundos da cidade e das povoações das redondezas.    

As correntes musicais não ficaram por aqui. A expressão moderna, com dj’s e mc’s, que tiveram oportunidade de experimentar pelo Fora d’horas as suas soluções laboratoriais. Alguns conquistando espaço e fama no meio musical.

Nem só de música se fez o bar.

As sinergias artísticas da cidade convergiam para aquele espaço.

Por ali, conversavam e trocavam experiências, estudantes e outros jovens com interesses literários, com gosto pela imagem, pela fotografia, pelo teatro, pela representação e também pela pintura e desenho.

Alguns viriam a despontar no mundo das artes, como o realizador André Gil Mata, ou a atriz Maria João Pinho.

Outras subculturas. Envolvidos por outros clientes. Pelo fumo dos seus cigarros. Em meio suburbano, com a violência que o carateriza latente. Paredes meias com a marginalidade, com a dependência, cujas fronteiras não ficam bem delineadas e por vezes, invadem espaços alheios.

Este texto, pensado para fazer um apelo ao não encerramento do bar Fora d’horas, pelo seu significado na cultura maldita da cidade, pelo incentivo à criatividade dos seus clientes, por acolher no seu interior, como uma informal incubadora, as tendências artísticas da região, teve que ser alterado.

Por uma feliz coincidência, cruzei-me com Luís Reis, ficando com a certeza que o encerramento tinha sido temporário.

Brevemente, voltará a escutar-se música naquela cave da Rua da Liberdade.   

 

(a publicar no dia 27/11/14)

quarta-feira, novembro 19, 2014

A divisão

                Na 6ª-feira passada, o labor informava, na sua página da internet, que o PS estava dividido, já que apareceram duas listas para o congresso nacional, que se realiza no final da próxima semana.

                Este desfecho era esperado.

Ao recusar os três milhões, oferecidos pelos fundo comunitários, votando contra a sua aplicação na construção da piscina, o PS colocou-se a jeito de ouvir críticas e de sentir o odioso da população.

No final deste processo, com mais de três anos, S. João da Madeira continuará com uma Piscina sobrelotada de 25 metros. Continuará sem o adequado tanque de adaptação ao meio aquático para crianças. Continuará sem corredor de 50 metros para a equipa de competição da AEJ. Continuará com o período nobre, correspondente às duas horas antes de jantar, as mais procuradas para ensino de natação, a terem mais procura do que capacidade de oferta. Continuará com uma piscina com ineficiência energética, com sobrecustos de exploração devido a processos de aquecimento de água obsoletos.

Tudo isto pesou na ponderação da votação. A justificação para o voto contra, apenas contemplou uns hipotéticos fundos comunitários para melhorar a eficiência energética. A que custo para a autarquia? Não ficamos a saber. Provavelmente são contas que por agora não interessavam apresentar. Contudo, o mais importante seria perceber, como justificar a aceitação, por mais uns largos anos, da sobreocupação da piscina?

No imediato de forma alguma. No entanto, ficamos a perceber numa autoentrevista do líder da concelhia do PS, que no futuro deve-se construir uma piscina. A que preço? Com que financiamento? Foram as questões que não vimos respondidas.

É certo que o PS, verificando que o financiamento ficava aquém do previsto, por apenas 12,5%, ou seja, pouco mais de 540 mil euros, tratou de encontrar verbas referentes a empreitadas diversas, para ampliar o custo da obra em um milhão de euros e se agarrar a uma diferença de 1,5 milhões para inviabilizar a obra.

É caso para perguntar se a solução futura protagonizada pelo PS não terá aterros, ou outra preparação de terras, além de obras de demolição associadas? Não ficando claro, que a argumentação apresentada na justificação do voto seja realmente válida.

Ainda me resta uma pergunta, para o leitor atestar a má preparação dos autarcas. Recentemente e por unanimidade, em reunião de Câmara, foram aprovados dois projetos para concurso a fundos comunitários, ambos ligados ao futebol e ninguém propôs um projeto para a reconstrução dos campos de ténis para a zona das travessas? Tal era a vontade em ver a piscina chumbada, que nem se analisou a hipótese de encontrar soluções para fazer face às verbas das obras complementares à piscina.

À atual concelhia do PS exige-se uma solução. Explicar à população como vai construir uma piscina, aumentando a oferta de aulas de natação aos munícipes, com um tanque adequado à iniciação das crianças e melhorando as condições de treino da AEJ, tudo por menos de 3 milhões euros, seria obrigação imediata dos autarcas do PS. É importante que nessa verba sejam inscritas as medidas para a eficiência energética das atuais piscinas, a reabilitação dos campos de ténis, que assim ficaram no estado atual, ou seja, degradados, além de outras julgadas necessárias. E para tudo isto, indicar um prazo de construção.

Conscientes de que tal atitude jamais verá a luz do dia, alguns militantes do partido, passaram à ação.

Assistir-se-á à continuação do debate das diretas do PS. De um lado, os argumentos progressistas, do outro o complexo socrático. A incompreensão em assumir o risco do investimento, para o bem-estar da população, ainda paira para os lados da Praça 25 de Abril. Tal como o secretário-geral do partido dos últimos três anos.

A incapacidade de encontrar soluções para os problemas da cidade, em compreender os grandes números dos orçamentos, em impor-se nas negociações municipais, tudo em troco da melhoria das condições de vida da população, foram a base para o erro estratégico, apontado por Josias Gil.

Quem ficou a perder foi a população da cidade e dos seus arredores.

Isto é claro.

Esperemos que a militância do PS perceba o logro em que se enfiou.

 

(a publicar no dia 20/11/14)

quarta-feira, novembro 12, 2014

Guardiões do Templo

                Pela primeira vez na história da Associação Estamos Juntos, uma direção não foi eleita por unanimidade. O resultado, apesar de confortável para os eleitos, demonstrou o desconforto que se vive nesta Associação da cidade.

O processo eleitoral foi tudo menos pacífico.

Antecipando com alguma distância este cenário, a comissão de sócios fundadores da AEJ fez algumas recomendações em Setembro passado               à direção cessante, indicando, entre outras, a necessidade de se atualizar a lista de sócios e de condicionar a candidatura aos órgãos sociais dos prestadores de serviços da Associação.

Se a lista sócios foi atualizada, em especial, nos últimos dias antes das eleições, já a segunda recomendação foi completamente ignorada.

É bom aqui abrir um parêntesis, explicando aos leitores quem são os sócios fundadores da AEJ e o que eles fizeram ao longo dos últimos 28 anos de existência do clube.

Dos 18 fundadores da AEJ, seis presidiram à mesma durante 19 anos, ou seja, desde a fundação até 2005. Durante esse período, a AEJ tornou-se um parceiro sério da cidade, essencialmente em termos desportivos e também pela ocupação dos tempos livre das crianças e jovens de S. João da Madeira, em especial, com a organização do seu Campo de Férias durante o mês de Julho, ininterruptamente no Complexo Desportivo das Corgas, desde ano de 1989. Antes desta data, de 1982 a 1987 ficaram as pioneiras edições deste Campo de Férias, ainda nas traseiras da Escola Primária do Parque.

Durante os anos de gestão liderada por presidentes, membros do conselho de fundadores, a AEJ criou várias secções desportivas: natação, xadrez e ténis, com a longevidade que se conhece até aos dias de hoje. Basquetebol, Automobilismo, Motociclismo, Karting, Parapente, Capoeira foram outras das modalidades desportivas praticadas no clube, entretanto encerradas. Relativamente às instalações desportivas, foi igualmente sob gestão de membros do conselho de fundadores que a Câmara Municipal de S. João da Madeira reconheceu os serviços prestados pela AEJ, disponibilizando-lhe as pistas da piscina interior, em horário nobre para treino da sua equipa de natação, a sede social e a utilização dos campos de ténis, tudo nas Corgas.

Para terminar, convém referir que outros sócios fundadores fizeram parte dos órgãos sociais do clube, na Presidência da Assembleia Geral e no Conselho Fiscal e que dois dos treinadores de natação, os únicos com títulos nacionais, são eles próprios fundadores do clube.

Como se pode ver por este currículo coletivo, é normal que os membros do conselho de fundadores da AEJ, órgão social do clube segundo os seus estatutos, façam análises sobre o estado do clube. Assim aconteceu em 2012, quando houve um diferendo prejudicial para o clube, em torno do funcionamento da secção de ténis e o Conselho de fundadores tomou uma posição sobre o assunto, demitindo de funções o Presidente da Assembleia Geral do Clube.

Este ano, o procedimento foi menos drástico. A comissão de fundadores fez uma lista de recomendações à direção cessante. O ponto mais grave, conforme já mencionado, estava relacionado com o condicionamento à candidatura aos órgãos sociais de prestadores de serviços. Essencialmente pretendia-se evitar o conflito de interesses, iminente na gestão do clube. Em simultâneo, pretendia-se que a AEJ beneficiada de subsídios municipais tivesse uma gestão transparente e não fosse o único clube de S. João da Madeira, em que os membros dos seus órgãos sociais seriam prestadores de serviços ou avençados.

Uma semana antes das eleições, soube-se que a direção cessante ignorava a recomendação do Conselho de fundadores e candidatava todos os membros dos órgãos sociais, nos mesmos cargos, a novo mandato.

Perante este facto provocatório, não me restou mais nada senão informar-me perante juristas, especializados em direito desportivo, se tal facto era ou não legal. A informação que obtive é que dada a omissão dos estatutos e do código civil, existem vários acórdãos do código das sociedades comerciais, em que é penalizado o conflito de interesses. Na prática na AEJ, não existe separação clara entre a entidade patronal e o empregado.

Na Assembleia Geral do dia 29 de Outubro, questionei o presidente da mesma sobre a aceitação dessa lista - A, perante a recomendação do conselho de fundadores da AEJ. Pensava ouvir algum argumento jurídico, alguma consulta a entidade independente mas, não. Ouvi uma omissão, ao não ser informada a Assembleia que o TOC do clube, pelo menos até à data, era o candidato a presidente da comissão coordenadora da lista A. Seguiu-se a vulgarização do cargo de presidente do conselho fiscal, para o qual o candidato da mesma lista é prestador de serviços do clube. O artigo dos estatutos da AEJ sobre o conselho fiscal contém uma redundância ao afirmar que este órgão social “fiscaliza” a ação da Comissão Coordenadora.

Percebi a atrapalhação do presidente da Assembleia Geral, quando ao responder-me me intitulou de membro de uma das listas. O facto, que podia ser ofensivo, deu para perceber que se tratava de completo desnorte, sobretudo, quando um dos visados da minha intervenção pediu para intervir, para esclarecer a sua posição pessoal e o presidente ignorou-o, não lhe dando oportunidade de informar se mantinha ou não a sua candidatura.

Tudo estaria bem, se não fosse o facto de a Assembleia se preparar para votar uma proposta inicial, sem verificar a identificação dos participantes, como sócios do clube. Ainda assisti com regozijo à defesa desta posição pela parte do presidente da Assembleia Geral, argumentando com a mesma veemência, que tinha utilizado na defesa da lista A. Valha-nos a emenda, após várias sensatas intervenções, evitando-se outros erros processuais.

Fiquei com ideia de todo este processo, que houve muita má-fé do Presidente da Assembleia Geral. Distanciamento, isenção e sobretudo, garantir o bom nome da AEJ são as suas principais funções. Naquela noite, assim não aconteceu. 

 Daqui a uns anos, haverá outros sócios na AEJ, a serem diretores ou a votarem em eleições, os fundadores, esses, serão os mesmos de sempre e lá estarão a defender a essência do clube.

 

(a publicar no dia 13/11/14)