quarta-feira, outubro 12, 2016

Depois da emancipação

Na continuação do artigo publicado na semana passada, sobre o significado da emancipação concelhia e a evolução comunitária nos 90 anos da sua história, importa, na presente edição, referir outros dados que permitirão entender a transformação operada na povoação ao longo das nove décadas.

Pode-se identificar três fases distintas nesta transfiguração quase secular.

A enorme vontade de afirmação perante os seus vizinhos, nos primeiros anos do concelho, fez de S. João da Madeira uma comunidade percussora.

Exemplo disso foram as  angariações de fundos, enquadradas pelo envio de remessas de grandes empresários brasileiros que marcariam as primeiras décadas do século passado. Só assim, se compreende a construção do hospital, por iniciativa da Santa Casa da Misericórdia, entre outros equipamentos. Sintomático, por ser ilustrativo, é a construção do pavilhão da ADS, antes de qualquer um das Escolas Secundárias, ou mesmo de iniciativa municipal.

Existe uma segunda fase de desenvolvimento, com a continuidade do forte investimento industrial, com a construção de imensas fábricas e instalação de lojas comerciais, a que se sobrepõe temporalmente o conceito de estrutura urbana do concelho, com a definição de zonas industriais, a abertura de arruamentos, o saneamento básico, entre outra infraestruturas essenciais, para a povoação adquirir níveis de qualidade de vida de primeiro plano.

                Em complemento deste desenvolvimento surgem as políticas do Estado de investimento em habitação social, entre outras ténues melhorias de descentralização implementadas.

Numa terceira fase, a atual, em que a economia local quebrou, não colapsando, mantendo empregos mas, sem a vitalidade e sobretudo, sem a visibilidade de outrora, a que não será estranho a aquisição de algumas empresas por capital estrangeiro, a autarquia adquiriu um papel preponderante no desenvolvimento da cidade.

Para retratar melhor a última fase, a contemporânea, verifique-se o grande investimento da Sonae no Centro Comercial, canalizado pela venda de terrenos da autarquia. Veja-se a ideia da incubadora de empresas, condicionando a opção empresarial a indústrias tecnológicas, quando no passado uma unidade industrial devoluta, permitia a instalação de micro empresas em fase embrionária, com o mais diversificado ramo de atividade.

                Três fases, não indexadas a anos certos, nem a regimes políticos distintos como os que o País viveu. Sendo certo, que a partir de meados dos anos 80, com as verbas atribuídas pelo Estado às autarquias locais, houve um desenvolvimento descentralizado, ainda assim em velocidade menor, quando comparado com a capital do País. Logicamente, que os fundos comunitários permitiram acelerar o progresso dos concelhos e S. João da Madeira não foi exceção. Assim, como as políticas de evolução dos vários Governos que permitiram a construção da rede escolar, de valências da Justiça, da Saúde, da Segurança Pública, incrementando a habitação social, entre outros investimentos públicos, a que não se pode esquecer a rede de estradas e autoestradas nacionais.

O perigo desta exposição ao serviço público ficou patente na última década, quando a necessidade de racionalizar os meios de Estado, colocou em xeque as repartições abertas pelo País e S. João da Madeira não tem uma história diferente, neste capítulo, dos restantes concelhos fustigados.

O ADN da população local é a conjugação das duas vertentes: a iniciativa privada e o investimento autárquico. Ponderado em doses apropriadas. Pensar que só com a última componente é que se promove o espírito comunitário é um grande erro.

Por aqui, pode-se explicar os resultados eleitorais dos anos da democracia, com o escrutínio das eleições autárquicas a ser, a mais das vezes, diferente da tendência das eleições nacionais.

A História por vezes é muito elucidativa.

 

(a publicar no dia 13/10/16)