terça-feira, novembro 29, 2016

As primeiras linhas sobre as eleições autárquicas 2017

                As eleições autárquicas para 2017 já mexem. Há dias, Jerónimo de Sousa informou que a CDU concorrerá sozinha, às mencionadas eleições. Por seu lado, numa entrevista concedida ao jornal labor no mês de Outubro, Moisés Ferreira já tinha avançando que o Bloco de Esquerda iria apresentar-se com listas próprias em S. João da Madeira.

Perante este cenário, com a esquerda fragmentada no período pré-eleitoral, começam-se a definir os concorrentes para as próximas eleições. Haverá alguma semelhança com as intercalares de 24 de Janeiro de 2016, caso haja coligação entre o PSD e o CDS-PP. Desconhecendo-se ainda se o movimento de cidadãos “SJM Sempre” continuará a apresentar-se a sufrágio, necessitando para isso de voltar a reunir as assinaturas para ser aceite a sua candidatura.

É bom recordar que, das eleições autárquicas de 2013 para as eleições do início do presente ano, o voto concentrou-se em duas forças concorrentes. A bipolarização PSD / CDS-PP versus PS foi retomada, pois tal não acontecia desde 1982. Embora haja registo de período de 4 anos (1985 a 1989), com os mesmos partidos com vereadores eleitos, contudo a coligação foi entre PS e PSD, tendo ficado o CDS, vencedor, isolado. Nos 20 anos seguintes, os executivos municipais foram formados por, pelo menos, três partidos políticos, que se apresentaram a eleições municipais não coligados. Até que em 2009, pela primeira vez, o executivo se reduziu a apenas dois partidos.

Em números de votos, a coligação de direita obteve em 2016, mais de 5.200 votos, ou seja, um acréscimo de 1.100 face aos resultados individuais dos dois partidos em 2013. Por seu turno, o PS também teve um acréscimo de votos, entre as duas eleições, 800 votos, que foram insuficientes para vencer as eleições.

Se analisarmos o número de dias entre estas duas eleições, que tenho vindo a reportar, chegamos a 840 dias. Significando com isto que o PS conquistou em média um apoiante por dia. Este aproximar de eleitores num período conturbado, de permanente campanha eleitoral, criou a ilusão ao PS local de não temer umas eleições intercalares. Só que em igual período, foi maior o número de eleitores que não se reviram nesta política de oposição do PS e preferiram reconduzir Ricardo Figueiredo à presidência da Câmara Municipal de S. João da Madeira, com maioria absoluta.

     Para 2017, na entrevista publicada na semana passada neste jornal, Pedro Nuno Santos defendeu que o projeto do PSD está terminado e por isso, atendendo à evolução das maiorias autárquicas neste concelho, será tempo do PS vencer. Para isso, conta com as políticas do Governo (reversão do acordo do Hospital com a Santa Casa de Misericórdia de S. João da Madeira) e com a apresentação de um “candidato forte”. 

Obviamente que a questão das políticas de Estado para benefício da cidade não é nova. No passado houve a apresentação de argumentos de melhorias introduzidas na cidade por Governos do PS. Os leitores devem estar recordados da comparação da construção da Escola João da Silva Correia com a remodelação da Escola Oliveira Júnior, entre outras polémicas, que teve o ponto alto na racionalização dos serviços de urgência dos Hospitais.

Esta argumentação, meramente partidária, é distante da população, por não haver proximidade entre os agentes políticos ao serviço do Estado e a campanha eleitoral para as autarquias. Sobretudo, em localidades com um forte conceito bairrista e um espírito comunitário enraizado.

Perante estes factos, só mesmo com a apresentação de um “candidato forte” - ou seja, de alguém inserido na comunidade local, com boas relações com os movimentos associativos, com reconhecimento profissional, conhecedor da vida partidária, com experiência autárquica e dos meandros da política - é que levará o PS a poder ambicionar, inverter o ciclo político iniciado em 2001. 

 

(a publicar no dia 01/12/2016)

quarta-feira, novembro 23, 2016

Algumas linhas sobre sons estranhos, recusa, esquecimento, ideologias perdidas e feitos históricos.

                A periocidade da escrita tem sido irregular e os temas a desenvolver sobrepõem-se, por isso, para não adiar por mais tempo a minha opinião, apresento um resumo de vários assuntos, que deveriam ter merecido outro fôlego.

                Sem cronograma, aqui fica um resumo dos apontamentos, que me acompanharam nas últimas cinco semanas, equivalente ao período em que não consegui o desenvolvimento ideal dos temas e por isso, optei por não publicar os assuntos em texto longo e apropriado.

1)      Leonard Cohen era um dos meus músicos favoritos. Herdei-o dos anos 60, por ser referência de vários artistas que eu apreciava e quando optou pela eletrização das suas músicas, durante a minha adolescência, todo o som pareceu estranho, quanto mais não seja, por o último dos bardos aderir ao som elétrico. Os longos poemas, a forma de os cantar, alongando ou entrecortando sílabas, promovendo arranjos musicais simples, com coros femininos, alguns com registos demasiadamente agudos foram a sua imagem de marca durante 20 anos. Anteriormente ao início de carreira de músico, Leonard Cohen escreveu poesia e prosa. Um dos seus livros acompanhou-me numas férias. Depois de ler o Ulisses de James Joyce, o livro “Belos Vencidos” era similar na provocação e experimentação sexual. Valia pelo significado da publicação na década de 60, reconhecida pelo seu carater de libertação. No entanto, a contínua comparação com a obra mencionada, retirou encanto à leitura. A edição de discos recentemente retirou aos seus primeiros trabalhos o estatuto de melhores da sua discografia. É curioso isto ter acontecido a um músico quando tinha perto de 80 anos, provando que a longevidade não é sinónimo de decrepitude. Nos últimos 30 anos, o músico recentemente falecido publicou imensos discos e fez vários concertos, em virtude da sua falência, após ter sido lesado por um contrato ruinoso promovido pela sua agente. Bob Dylan indicou como melhor álbum de Leonard Cohen, o editado em 2012 “Old Ideas”, o que consagrou a segunda etapa da sua vida artística, como divinal. Por mim, ouvirei eternamente “Dance me to the end of love” como se fosse a primeira vez, ou mesmo “The Stranger Song”, que continuarei a idolatrar como reconhecimento da tenacidade criadora de um artista que sempre soou como estranho.

2)      Aproveitando a deixa do ponto anterior, uma menção a Bob Dylan e ao seu Nobel. Se a Academia Sueca surpreendeu, por premiar formas diferentes de expressão literária, consagrando as letras das músicas do cantor norte-americano, como exemplo da sua influência na música popular, já Bob Dylan manteve-se fiel a si próprio, pela indiferença com que reagiu à notícia da nomeação e não desiludiu os seus fãs, ao recusar estar presente na cerimónia de entrega no Nobel. Não retirando mérito ao Nobel da literatura e apesar do prémio ser também o reconhecimento para outros escritores de canções, a atitude de Bob Dylan mostra que ele continua igual a si próprio, indiferente aos holofotes e recusando a exposição da sua vida pessoal.

3)      Umas pequenas linhas para mencionar o falecimento de António Manuel Relva, conhecido como Relvas. Era conhecida a sua ideia de viver à margem. Contou-me várias das suas histórias, uma passada em Lisboa, era representativa da sua opção de vida: estando ele no metro, verificou estar apenas na companhia de mais outro sujeito, de ar suspeito. Este começou a aproximar-se e Relvas pressentiu que ia ser assaltado, pelo que teve uma ideia salvadora, dirigiu-se ao desconhecido e pediu-lhe 100 escudos. Perante tal pedido, o outro não teve coragem de exigir nada. Relvas morreu esquecido, ficam as suas aventuras para o recordar.

4)      Há entrevistas que projetam o futuro. Pedro Nuno Santos concedeu uma ao jornal Público sintomática. Primeiro pela sua projeção pessoal, não será difícil adivinhar o seu futuro, como Ministro num próximo Governo do Partido Socialista. Mas, da entrevista ressaltou um facto ideológico: Pedro Nuno defende que esta solução governativa é o garante da social-democracia. Acredito mais depressa nele do que nas intenções do atual Presidente do PSD, em colocar este partido de novo nesta ideologia, com a sua liderança. A social-democracia à portuguesa é um caso curioso da política: dois partidos pretendem ser os seus defensores, um pelo nome que ostenta, com práticas liberais e outro pela prática política e com nome de esquerda democrática. O que fica demonstrado na entrevista de Pedro Nuno Santos, é que a corrida ao centro político já começou e a sua afirmação não foi gratuita, tem um significado político importante, pois definirá muita estratégia para os próximos meses.

5)      O último apontamento para o feito do futebol da ADS. A história vai-se escrevendo. Foi reconfortante ler as capas dos jornais no Domingo e ver as notícias da secção de desporto. É importante inverter a tendência das últimas cinco décadas: desempenhos individuais com maior projeção do que os feitos do clube. É bom saber do atual sucesso desportivo de antigos atletas da ADS, ou de outro clube local. Do mesmo modo, outros agentes desportivos também me despertam a mesma satisfação. Mas, quando recentemente li, superficialmente, que havia polémica entre um antigo treinador e os atuais dirigentes do clube, percebi que era bom que, nos próximos anos, a história fosse diferente. Pois apesar de desejar a maior sorte a todos os antigos jogadores, treinadores e até dirigentes, penso que é tempo de a ADS voltar a obter feitos históricos. Sem pressas, com ponderação, com o objetivo do reconhecimento coletivo. Para que, daqui a uns anos, ao comemorar o centenário do clube, a projeção do clube e seus agentes esteja em alta e se procure não noticiar o percurso de outros que por cá passaram.

 

(a publicar no dia 24/11/16)

 

quarta-feira, novembro 09, 2016

Assim vai o mundo

                A pacatez à beira mar foi interrompida, durante o pretérito mês, pela passagem da frota naval Russa. Nada de assinalável a registar, julgando que o itinerário previamente definido, foi cumprido na integra. Contudo, o invulgar movimento marítimo, fez acionar os mecanismos de vigilância da NATO. Durante uns dias, na base aérea de Maceda a movimentação provocou uma inquietação na área envolvente, com a constante descolagem e aterragem de várias aviões.

                Não é a primeira vez que naquela base houve um movimento inusual. Há alguns anos o a sucessão de revoluções nos países mediterrâneos, que ficariam na História como a Primavera Árabe, implicou um procedimento de prevenção militar da NATO, obrigando a uma certa alteração do quotidiano da base aérea.

                As precauções causadas por manobras da NATO são antigas. A primeira recordação que tenho está relacionada com uns elementos, a cumprir serviço militar obrigatório, de um grupo musical, dos anos 1980, Radar Kadhafi, que devia o seu nome precisamente a umas escaramuças na Líbia, quando o ditador ainda não tinha sido deposto e era ameaça pública para o mundo ocidental. Ora, alguns dos músicos ficaram retidos umas noites, no respetivo quartel, por prevenção militar, enquanto as manobras militares decorriam perto de Tripoli. Por essa razão, foram os concertos anulados e a banda adotou um novo nome.

                Apesar desta longevidade de ações militares, a diferença para contemporaneidade destaca-se pela aproximação da frota naval Russa à nossa costa. A anunciada deslocação de uma armada do mar Báltico para o mar Mediterrâneo, com o propósito de reforçar e intensificar os ataques no processo de paz da Síria, colocaram a Europa em alerta.

                Todos estão recordados da recente invasão da Crimeia na Ucrânia e na incapacidade Europeia de contrariar as tropas Russas. A pressão crescente na fronteira Russa com a Europa, desde o Norte até ao Sul, atemoriza os Europeus Orientais. Apesar dos boicotes económicos de retaliação, a ameaça bélica é intimidante para os povos transfronteiriços.

                Numa época que o conceito de Europa se desintegra – posições diferenciadas a leste e no ocidente, o Brexit e a incógnita das próximas eleições presidenciais francesas, é importante percebermos como funcionará a segurança Europeia nos tempos futuros.

                Neste capítulo é importante perceber que sempre houve diferenças históricas entre os povos europeus. O império romano conseguiu “impor” a paz na fronteira germânica, através de acordos com os Visigodos, que mantinham afastados de Roma os povos bárbaros. Até um dia… Mais tarde, o Sacro Império Romano Germânico impôs-se e acentuou a diferença entre as partes extremas da Europa. A modernização da Rússia, por Pedro o Grande, pressupôs a europeização do povo Russo. Os anos de invasões, guerra mundiais e revoluções colocaram em choque as diferenças entre os povos europeus. Na segunda metade do século XX, na “guerra fria”, a cortina de ferro foi a linha de fronteira entre as diferentes civilizações. A queda do muro de Berlim e o desagregar da União Soviética deveriam atenuar essas diferenças.

Seria bom que a História terminasse assim.

Os últimos meses inspiram cuidados.

A segurança Europeia baseia-se na força bélica transatlântica. A colocação de tropas da NATO na Polónia e nos países bálticos são sinais para o lado Russo, ou se quisermos, a transposição para Este da cortina de ferro.

Por estes dias, as eleições nos Estados Unidos na América evidenciaram alguma falta de solidariedade para com os povos Europeus. Os elogios a Putin e a suposta a interferência de piratas internautas russos podem ser interpretados de várias formas mas, no fundo, aproxima Europeus ao projeto do Partido Democrata.

Escrevo este texto, na noite das eleições Norte Americanas. Não sabendo, por isso, quem será o vencedor das eleições.

Espero que o bom senso prevaleça e que nos próximos anos não venha a dormir sobressaltado, pelas manobras noturnas das forças militares da NATO.

 

(a publicar no dia 10/11/16)