quarta-feira, novembro 09, 2016

Assim vai o mundo

                A pacatez à beira mar foi interrompida, durante o pretérito mês, pela passagem da frota naval Russa. Nada de assinalável a registar, julgando que o itinerário previamente definido, foi cumprido na integra. Contudo, o invulgar movimento marítimo, fez acionar os mecanismos de vigilância da NATO. Durante uns dias, na base aérea de Maceda a movimentação provocou uma inquietação na área envolvente, com a constante descolagem e aterragem de várias aviões.

                Não é a primeira vez que naquela base houve um movimento inusual. Há alguns anos o a sucessão de revoluções nos países mediterrâneos, que ficariam na História como a Primavera Árabe, implicou um procedimento de prevenção militar da NATO, obrigando a uma certa alteração do quotidiano da base aérea.

                As precauções causadas por manobras da NATO são antigas. A primeira recordação que tenho está relacionada com uns elementos, a cumprir serviço militar obrigatório, de um grupo musical, dos anos 1980, Radar Kadhafi, que devia o seu nome precisamente a umas escaramuças na Líbia, quando o ditador ainda não tinha sido deposto e era ameaça pública para o mundo ocidental. Ora, alguns dos músicos ficaram retidos umas noites, no respetivo quartel, por prevenção militar, enquanto as manobras militares decorriam perto de Tripoli. Por essa razão, foram os concertos anulados e a banda adotou um novo nome.

                Apesar desta longevidade de ações militares, a diferença para contemporaneidade destaca-se pela aproximação da frota naval Russa à nossa costa. A anunciada deslocação de uma armada do mar Báltico para o mar Mediterrâneo, com o propósito de reforçar e intensificar os ataques no processo de paz da Síria, colocaram a Europa em alerta.

                Todos estão recordados da recente invasão da Crimeia na Ucrânia e na incapacidade Europeia de contrariar as tropas Russas. A pressão crescente na fronteira Russa com a Europa, desde o Norte até ao Sul, atemoriza os Europeus Orientais. Apesar dos boicotes económicos de retaliação, a ameaça bélica é intimidante para os povos transfronteiriços.

                Numa época que o conceito de Europa se desintegra – posições diferenciadas a leste e no ocidente, o Brexit e a incógnita das próximas eleições presidenciais francesas, é importante percebermos como funcionará a segurança Europeia nos tempos futuros.

                Neste capítulo é importante perceber que sempre houve diferenças históricas entre os povos europeus. O império romano conseguiu “impor” a paz na fronteira germânica, através de acordos com os Visigodos, que mantinham afastados de Roma os povos bárbaros. Até um dia… Mais tarde, o Sacro Império Romano Germânico impôs-se e acentuou a diferença entre as partes extremas da Europa. A modernização da Rússia, por Pedro o Grande, pressupôs a europeização do povo Russo. Os anos de invasões, guerra mundiais e revoluções colocaram em choque as diferenças entre os povos europeus. Na segunda metade do século XX, na “guerra fria”, a cortina de ferro foi a linha de fronteira entre as diferentes civilizações. A queda do muro de Berlim e o desagregar da União Soviética deveriam atenuar essas diferenças.

Seria bom que a História terminasse assim.

Os últimos meses inspiram cuidados.

A segurança Europeia baseia-se na força bélica transatlântica. A colocação de tropas da NATO na Polónia e nos países bálticos são sinais para o lado Russo, ou se quisermos, a transposição para Este da cortina de ferro.

Por estes dias, as eleições nos Estados Unidos na América evidenciaram alguma falta de solidariedade para com os povos Europeus. Os elogios a Putin e a suposta a interferência de piratas internautas russos podem ser interpretados de várias formas mas, no fundo, aproxima Europeus ao projeto do Partido Democrata.

Escrevo este texto, na noite das eleições Norte Americanas. Não sabendo, por isso, quem será o vencedor das eleições.

Espero que o bom senso prevaleça e que nos próximos anos não venha a dormir sobressaltado, pelas manobras noturnas das forças militares da NATO.

 

(a publicar no dia 10/11/16)