quarta-feira, novembro 23, 2016

Algumas linhas sobre sons estranhos, recusa, esquecimento, ideologias perdidas e feitos históricos.

                A periocidade da escrita tem sido irregular e os temas a desenvolver sobrepõem-se, por isso, para não adiar por mais tempo a minha opinião, apresento um resumo de vários assuntos, que deveriam ter merecido outro fôlego.

                Sem cronograma, aqui fica um resumo dos apontamentos, que me acompanharam nas últimas cinco semanas, equivalente ao período em que não consegui o desenvolvimento ideal dos temas e por isso, optei por não publicar os assuntos em texto longo e apropriado.

1)      Leonard Cohen era um dos meus músicos favoritos. Herdei-o dos anos 60, por ser referência de vários artistas que eu apreciava e quando optou pela eletrização das suas músicas, durante a minha adolescência, todo o som pareceu estranho, quanto mais não seja, por o último dos bardos aderir ao som elétrico. Os longos poemas, a forma de os cantar, alongando ou entrecortando sílabas, promovendo arranjos musicais simples, com coros femininos, alguns com registos demasiadamente agudos foram a sua imagem de marca durante 20 anos. Anteriormente ao início de carreira de músico, Leonard Cohen escreveu poesia e prosa. Um dos seus livros acompanhou-me numas férias. Depois de ler o Ulisses de James Joyce, o livro “Belos Vencidos” era similar na provocação e experimentação sexual. Valia pelo significado da publicação na década de 60, reconhecida pelo seu carater de libertação. No entanto, a contínua comparação com a obra mencionada, retirou encanto à leitura. A edição de discos recentemente retirou aos seus primeiros trabalhos o estatuto de melhores da sua discografia. É curioso isto ter acontecido a um músico quando tinha perto de 80 anos, provando que a longevidade não é sinónimo de decrepitude. Nos últimos 30 anos, o músico recentemente falecido publicou imensos discos e fez vários concertos, em virtude da sua falência, após ter sido lesado por um contrato ruinoso promovido pela sua agente. Bob Dylan indicou como melhor álbum de Leonard Cohen, o editado em 2012 “Old Ideas”, o que consagrou a segunda etapa da sua vida artística, como divinal. Por mim, ouvirei eternamente “Dance me to the end of love” como se fosse a primeira vez, ou mesmo “The Stranger Song”, que continuarei a idolatrar como reconhecimento da tenacidade criadora de um artista que sempre soou como estranho.

2)      Aproveitando a deixa do ponto anterior, uma menção a Bob Dylan e ao seu Nobel. Se a Academia Sueca surpreendeu, por premiar formas diferentes de expressão literária, consagrando as letras das músicas do cantor norte-americano, como exemplo da sua influência na música popular, já Bob Dylan manteve-se fiel a si próprio, pela indiferença com que reagiu à notícia da nomeação e não desiludiu os seus fãs, ao recusar estar presente na cerimónia de entrega no Nobel. Não retirando mérito ao Nobel da literatura e apesar do prémio ser também o reconhecimento para outros escritores de canções, a atitude de Bob Dylan mostra que ele continua igual a si próprio, indiferente aos holofotes e recusando a exposição da sua vida pessoal.

3)      Umas pequenas linhas para mencionar o falecimento de António Manuel Relva, conhecido como Relvas. Era conhecida a sua ideia de viver à margem. Contou-me várias das suas histórias, uma passada em Lisboa, era representativa da sua opção de vida: estando ele no metro, verificou estar apenas na companhia de mais outro sujeito, de ar suspeito. Este começou a aproximar-se e Relvas pressentiu que ia ser assaltado, pelo que teve uma ideia salvadora, dirigiu-se ao desconhecido e pediu-lhe 100 escudos. Perante tal pedido, o outro não teve coragem de exigir nada. Relvas morreu esquecido, ficam as suas aventuras para o recordar.

4)      Há entrevistas que projetam o futuro. Pedro Nuno Santos concedeu uma ao jornal Público sintomática. Primeiro pela sua projeção pessoal, não será difícil adivinhar o seu futuro, como Ministro num próximo Governo do Partido Socialista. Mas, da entrevista ressaltou um facto ideológico: Pedro Nuno defende que esta solução governativa é o garante da social-democracia. Acredito mais depressa nele do que nas intenções do atual Presidente do PSD, em colocar este partido de novo nesta ideologia, com a sua liderança. A social-democracia à portuguesa é um caso curioso da política: dois partidos pretendem ser os seus defensores, um pelo nome que ostenta, com práticas liberais e outro pela prática política e com nome de esquerda democrática. O que fica demonstrado na entrevista de Pedro Nuno Santos, é que a corrida ao centro político já começou e a sua afirmação não foi gratuita, tem um significado político importante, pois definirá muita estratégia para os próximos meses.

5)      O último apontamento para o feito do futebol da ADS. A história vai-se escrevendo. Foi reconfortante ler as capas dos jornais no Domingo e ver as notícias da secção de desporto. É importante inverter a tendência das últimas cinco décadas: desempenhos individuais com maior projeção do que os feitos do clube. É bom saber do atual sucesso desportivo de antigos atletas da ADS, ou de outro clube local. Do mesmo modo, outros agentes desportivos também me despertam a mesma satisfação. Mas, quando recentemente li, superficialmente, que havia polémica entre um antigo treinador e os atuais dirigentes do clube, percebi que era bom que, nos próximos anos, a história fosse diferente. Pois apesar de desejar a maior sorte a todos os antigos jogadores, treinadores e até dirigentes, penso que é tempo de a ADS voltar a obter feitos históricos. Sem pressas, com ponderação, com o objetivo do reconhecimento coletivo. Para que, daqui a uns anos, ao comemorar o centenário do clube, a projeção do clube e seus agentes esteja em alta e se procure não noticiar o percurso de outros que por cá passaram.

 

(a publicar no dia 24/11/16)