quarta-feira, janeiro 18, 2017

A demolição (em jeito pimba)

O labor, o Jornal Notícias e o Porto Canal utilizaram o mesmo título, para noticiarem a demolição do Elemento Arquitetónico da Praça Luís Ribeiro. A utilização da expressão popular “pirilau” associada à sua queda, remete-nos para um registo de malícia, ajudando a focalizar o interesse dos leitores na notícia.

                Poder-se-ia continuar com a mesma linguagem, perguntando se o “pirilau” cumpriu a sua função?

                A sua construção não foi pacífica, por jamais ser entendida pela população. O batismo popular prejudicou a sua aceitação. Os pareceres técnicos para a sua demolição, mesmo durante a edificação, reforçaram a ideia.

A Praça Luís Ribeiro divide os pontos cardeais da cidade. É local de confluência de ruas. A edificação no lado nascente, dos anos 60 até aos anos 80 do século passado, formou uma meia-lua, não tendo sido possível a construção do círculo completo, com o mesmo tipo de edifício. A implantação do “pirilau” veio ocupar o centro, preenchendo em demasia um espaço que deveria ter ficado amplo, para se procurar encontrar o equilíbrio no complemento geométrico da zona central da cidade.

Os 25 anos de abertura ao público deram várias funções ao Elemento Arquitetónico. Sala de exposições, camarins para os músicos a atuar na Praça e sede de uma associação de jovens. Provavelmente, esta última foi a sua melhor ocupação. Sendo a Praça, no final do século passado, o local de encontro de jovens, dinamizar uma associação para os mesmos nesse local, foi uma excelente ideia. Muito apropriada e reforçada pelo trabalho desenvolvido e pela forte afluência à sede. 

Em 2001, tudo mudou.

A Associação de Jovens “Ecos Urbanos” foi desalojada, em Agosto desse ano. Houve posteriormente uma mudança do executivo municipal, no final de Dezembro, só que o regresso aos moldes antigos de ocupação do espaço e mantendo a proximidade aos jovens, fazendo da Praça o seu ponto de encontro, nunca foi recuperado.

Nestes últimos 16 anos, tenho dificuldade em recordar-me da utilidade do interior do “Pirilau”. Já o seu exterior serviu para a decoração de Natal, tendo num dos anos da década passada, sido aplicadas uma sucessão de lâmpadas, dando à Praça uma iluminação festiva (e não só), extramente atraente.

Ora, isto é manifestamente pouco, para um edifício municipal localizado no centro da cidade.

A hipótese de demolição ganha efetivamente sentido. A Praça ganhará amplitude. E as outras medidas anunciadas, como a reposição do trânsito, podem efetivamente ter sentido, para aproximar os automobilistas do centro da cidade e como alternativa ao fluxo existente na Avenida Renato Araújo. Ainda assim, o equilíbrio geométrico da Praça não será alcançado, ficando a meia-lua separada do resto, já que a estética de construção assim o impôs. 

Perante isto, havendo uma certa consensualidade sobre a demolição, verificando-se que a estratégia para esvaziar e retirar sentido ao edifício, começou há alguns anos, faltava vontade em promover a demolição.

Parece que será agora. Dando azo a que se termine com mais uma brejeirice: espera-se que, no futuro, não se ergam “pirilaus” de forma inútil.

 

(a publicar no dia 19/01/17)

 

quarta-feira, janeiro 11, 2017

Eternamente Bochechas

                Era eu pequeno, bem pequeno e o mundo da política pouco, ou nada, me interessava. Os políticos apareciam em imagens a preto e branco, quer nos jornais, quer na televisão e vestiam-se todos de forma igual, muito formal, de fato, com gravata sobre uma camisa branca. As discussões à volta da política eram bastante crispadas. Observava os adultos com os ânimos exaltados e ouvia-se imenso barulho, mesmo nos programas de televisão.

                Por essa época, num regresso a casa, num final de tarde de Domingo, vindo de carro pela estrada nacional número 1, que era praticamente a única oferta, para quem queria voltar das imediações do Porto para S. João da Madeira, ao passar em Lourosa, presenciei os meus pais a ficarem surpreendidos ao verem Mário Soares em campanha eleitoral, numa carrinha Peugeot 504 beje, com apenas uma bandeira do Partido Socialista, sem comitiva atrás dele e com uma dezena de pessoas à sua espera. No fluxo intermitente dos semáforos da localidade, que ainda hoje subsistem, deu-me tempo para olhar e observar a felicidade daquelas dez pessoas a abraçarem Mário Soares e ele a retribuir. Para mim, era a primeira vez que via um político. Em carne e osso, a cores, sem roupa cinza-escura. Enquanto isso, apercebi-me que os meus pais trocavam os apropriados comentários, perante a desoladora cena presenciada, a pouca afluência de pessoas, à espera do antigo primeiro-ministro. Estávamos nos finais da década de 70, do século passado.

                O político ainda voltaria a vencer no partido, ainda voltaria a ser Primeiro-Ministro, resgatando o país da bancarrota, provocada por um governo da antiga AD, impondo uma segunda vinda do FMI. Na época, habitual, já que no seu primeiro governo, Mário Soares também teve que chamar o Fundo Internacional.

                Em 1986, apesar de eu ter apenas 15 anos, a eleição presidencial não deixou ninguém indiferente. Depois da primeira volta, o mundo político partia-se em dois. A maioria dos jovens tinham dísticos do “Prá Frente Portugal”, eu optei pelo “Soares é fixe”, no que foi a minha primeira participação em campanhas eleitorais. Cheguei a envolver-me na campanha, passando música na sede, que ficava situada na esquina da Praça Luís Ribeiro com a Rua da Liberdade. Aí senti a hostilidade entre a militância e a independência política, algo que infelizmente me acompanhou durante as décadas seguintes e que tantos dissabores me causaram.

                Se a vitória de Soares, a 16 de Fevereiro daquele ano, foi um marco político importante, os seus dois mandatos foram extremamente importantes na definição da condição de social-democrata.

Pelo meio surgiu a sua vinda a S. João da Madeira, que proporcionou uma lufada de modernidade à cidade, convertendo-se o centro em zona pedonal. Nessa visita, que segui com entusiasmo, tive a oportunidade de ser cumprimentado pelo Presidente da República, que vendo alguém a ladear as ruas, acenava sem qualquer despudor. Magricelas, cabeludos, vestido de preto, com botas de tropa nos pés, a todos, o Presidente cumprimentava, sorrindo com simpatia. Ato espontâneo, que tive oportunidade de verificar, anos mais tarde, nas ruas de Lagos enquanto se dirigia para o jantar, ou noutro registo, nas ruas do Porto, nos banhos de multidão das Presidências Abertas.

Recordo a campanha eleitoral de 1991, quando a Praça Luís Ribeiro encheu num Domingo à tarde, com a multidão à espera da passagem de Mário Soares pela cidade. O contraste com a campanha do final da década de 70, fizeram-me perceber como é importante não desistir, quando temos convicções ideológicas e políticas.

O seu segundo mandato presidencial foi, para mim, o seu melhor período político. De combate permanente à maioria de direita, demonstrando que nem tudo era sucesso em Portugal. Foi neste período que aprofundei a minha consciência política e este mandato vincou as minhas opções durante os vinte anos seguintes.

Mário Soares foi político toda a vida. Antes do 25 de Abril, durante o processo da revolução, nos anos da democracia, não conseguindo parar de se envolver nos atos eleitorais. Terá dito basta e arrependeu-se de o dizer. Esticou em demasia a corda, só que estava-lhe no sangue e jamais pararia, enquanto tivesse energia para participar em campanhas eleitorais.

Soares foi fixe.

Soares será recordado como um dos homens da liberdade e da democracia Portuguesa. É necessário acrescentar a tolerância e o pluralismo, que ele tão bem compreendia e incentivava.

                Soares é do Povo.

O eterno bochechas, sempre disponível para receber um abraço, ou um beijo das peixeiras nas suas faces.

Até ao Presidente da República atual, nunca houve outro, que compreendesse o simples Português, como Mário Soares o fez.

(a publicar no dia 12/01/17)

quarta-feira, janeiro 04, 2017

O que esperar de 2017?

                As eleições autárquicas, a realizarem-se em finais de Setembro, ou em princípios de Outubro, condicionarão o novo ano, no quotidiano da cidade.

                Enquanto não se queimam as etapas iniciais, com a definição de candidatos, importa verificar qual será a estratégia partidária para o ato eleitoral.

                Do lado dos partidos que suportam o executivo municipal, o cumprimento das promessas eleitorais das intercalares de 2016, sobretudo, a finalização dos 22 projetos de investimento serão o grande trunfo político deste ano. Conjugar a capacidade de investimento, mantendo o nível de endividamento da Câmara Municipal baixo, serão argumentos difíceis de contrariar. Acrescente-se a possibilidade de captar investimento privado, com o consequente aumento de emprego na cidade e o prato da balança ficará extremamente inclinado para a coligação.

Não esquecer, neste capítulo, a piscina municipal não construída. Obviamente que, rejeitar o investimento assegurado de três milhões de euros, será sempre penalizador para os partidos que assumiram essa posição. 

                Para contrapor esta argumentação, a oposição terá que encontrar trunfos para ter uma candidatura credível. Pouco mais lhe resta, para agradar a um eleitorado específico, senão suportar-se nas iniciativas legislativas da maioria parlamentar, que vai suportando o Governo PS.

                O próprio Governo deu o mote esta semana, ao anunciar uma choruda transferência de verbas para as autarquias, que possibilitará um desafogo financeiro em ano eleitoral.

No caso específico de S. João da Madeira, a reabertura da Urgência Básica no Hospital será sempre o principal argumento político, para todos os partidos que defenderam esta posição, aquando o atual Governo revogou o acordo com a Santa Casa de Misericórdia da cidade.

                Haverá outras medidas políticas vindas da Assembleia da República, que poderão influenciar as eleições autárquicas?

                Há sempre a tentação de associar Milheirós de Poiares a S. João da Madeira. Além do reconhecimento pela mudança, os votos da nova freguesia poderão afetar o atual desequilíbrio eleitoral existente, baralhando a contagem de votos.

                Por outro lado, a petição, acerca dos maus cheiros da fábrica de Arrifana, se conseguir alterar o modo operatório daquela indústria, através de regulamentação aprovada em Assembleia da República pode servir para demonstrar alguma capacidade política para resolver problemas ambientais, antigos, na região.

                Finalmente, não se deve descurar a hipótese de descentralização, na área da educação, em estudo pelo atual Governo, que além de trazer competências na matéria à autarquia, poderá devolver, por exemplo, equipamentos desportivos à cidade, como o pavilhão encerrado na antiga Escola João da Silva Correia. Outra hipótese poderá passar por recolocar os alunos pelos estabelecimentos de ensino dos vários agrupamentos e desmantelar, atendendo à existência de placas de amianto, a atual EB 2/3, transformando-a num complexo desportivo, em zona central da cidade, ficando por isso, mais próxima da zona habitacional.

                Poderá haver outras iniciativas legislativas que tenham repercussão para a cidade. No entanto, as atrás descritas poderão não ser publicadas até Setembro e a sua influência  ser nula nas eleições locais.

Para já vamos aguardar pelos próximos tempos, que como se sabe, serão de divulgação dos candidatos a presidente da Câmara.        

 

(a publicar no dia 05/01/17)