No rescaldo das eleições holandesas, realizadas no passado dia 15 de Março, importa relembrar dois factos:
a) o empolamento do resultado eleitoral partido nacionalista;
b) o apagamento do partido social democrata.
Analisemos o primeiro facto.
Já tinha acontecido nas eleições presidenciais Austríacas, nas quais a comunicação social praticamente só destacou o resultado do candidato do partido perdedor, relegando para segundo plano, o vencedor – Alexander Van der Bellen, afeto ao partido ecologista. De tal forma que passado três meses, mesmo depois das eleições Austríacas terem sido repetidas, tendo o resultado final confirmado o primeiro escrutínio, ainda surgem referências aos 44% dos votos do partido de extrema-direita, como se tivesse sido uma vitória eleitoral.
O mesmo aconteceu na Holanda.
Apesar de várias sondagens preverem um resultado favorável ao partido nacionalista (PVV liderado por Geert Wilders), mesmo com a interferência exacerbada da Turquia na campanha eleitoral, o vencedor foi o partido conservador (VVD), liderado pelo primeiro-ministro Mark Rutte. Na divulgação dos resultados na imprensa Portuguesa, em muitos casos, a imagem que acompanhava o texto era a fotografia de Geert Wilders. Estranho no mínimo, não é?
E apesar do PVV ter conseguido apenas 13% dos votos, tal como mais outros dois partidos, elegendo exatamente o mesmo número de deputados, foi-se analisar o resultado à décima, para divulgar que afinal este partido tinha ficado em segundo. A coligação governamental ainda não está formada, havendo apenas uma certeza, o PVV não será governo, pois todos os outros partidos declararam-se indisponíveis para fazer acordos com o partido nacionalista.
O efeito prático do empolamento dos resultados eleitorais na Europa central não é claro. Não se percebe se o objetivo é minimizar o populismo para eleições em países como a França ou a Alemanha, ou se pelo contrário, a intenção é enaltecer o crescimento destes partidos. Contudo, como verificado nas urnas, os resultados demonstram que a vontade popular europeia não se modificou assim tanto.
Relativamente ao PvdA (partido de inspiração social democracia), inscrito na Internacional Socialista como o PS Português, foi o maior derrotado das eleições Holandesas. A coligação governamental, nos últimos anos, com o partido conservador, promovendo políticas de austeridade foi extremamente penalizadora para o PvdA, desmobilizando os seus eleitores habituais. Apesar desta evidência, tentou abafar-se o mais possível o resultado Holandês, sobretudo, entre os detratores do Governo de António Costa, que colocou o seu partido noutro caminho da social-democracia.
Acontece que o líder do PvdA, Jeroen Dijsselbloem, resolveu mostrar o seu caráter. Nem uma semana tinha passado do escrutínio eleitoral e soltou uma série de insultos aos povos do Sul da Europa.
Muito se escreveu a este propósito.
Retirando toda a carga sexista associada ao discurso do Holandês, temos a oportunidade provar que os portugueses são iguais aos restantes povos europeus. Sabem distinguir momentos de trabalho, de momentos de confraternização e diversão.
Este fim-de-semana, aproveitando o Oliva Beer Mind, festival de cervejeiros que reúne 20 produtores nacionais e 5 espanhóis, S. João da Madeira tem a hipótese de provar uma variedade de sabores, com nomes com os quais não estamos familiarizados. Com um pouco de sorte, haverá algum com a designação semelhante ao do futuro ex-ministro Holandês. Ou a certo momento da noite, no calor da animação, a articulação verbal daqueles paladares poderá soar a qualquer coisa parecido.
De qualquer modo, brindemos a quem demonstrou conhecer-nos tal mal.
(a publicar no dia 30/03/17)