O recente anúncio publicitário de uma instituição de crédito nacional, incentiva os jovens até aos 35 anos a recorrerem às condições por eles oferecidas para adquirirem habitação. O anúncio é bem simpático por sinal, ao associar a minha geração com uma música dos Dexis Midnigt Runners.
Tivemos sorte. Há alguns anos atrás chamaram-nos “geração rasca” e encharcaram-nos os ouvidos com música pimba. Agora, separado o trigo do joio, mostram-nos com um ar moderno em várias actividades. O que o anúncio televisivo se esqueceu, foi de explicar porque é que alguém aos 35 anos precisa de comprar uma habitação maior. Os vários assobiadores aparecem todos individualmente, sem demonstrarem o seu lado familiar. Para alguns, como é óbvio, a necessidade de compra de uma habitação com maior área surge pelo aumento do número de elementos da família. A vontade de proporcionar uma vida com qualidade aos nossos descendentes, atira-nos para um novo crédito e endividamento até aos 70 anos.
Além desta característica comum, os jovens que cantaram pela noite fora “Come on Eileen”, debatem-se com os sonos, ou a falta deles, dos seus filhos. É usual em encontros de “trintões” ouvirmos falar em noites mal dormidas, insónias até às 5 ou mais da manhã e o facto mais difícil de entender, o acordar cedo, bem cedo, dos pequenos príncipes e princesas ao fim de semana.
Um certo sábado de Setembro, com os primeiros raios solares, uma vozinha chamava-me: “Pai!...”. Mal viu um olho aberto disparou: “o parque Infantil de Arada já abriu! Podemos lá ir?”. À pergunta, como é que sabes, resposta imediata, “está uma placa no poste em frente ao meu quarto, com uns senhores a dizer o caminho”. Surpresa matinal e esforço para perceber. A placa, era afinal um cartaz de propaganda política, para as eleições autárquicas, com uma fotografia colectiva dos membros de uma das listas concorrentes, que tinha como fundo, o novo parque infantil de Arada. Tínhamos acompanhado o inicio das obras, semana após semana e a ansiedade gerada nos miúdos, era recompensada com aquela visão matinal. O prazer de brincar em parques infantis é um dos encantos inesgotáveis das crianças.
Tal como outros, o concelho de S. João da Madeira também apostou nestes equipamentos, abrindo de uma assentada dois parques, no inicio do passado mês de Outubro. Este facto permitiu a muitos habitantes da cidade regressar ao Parque Ferreira de Castro, assim como o rappel já havia sido responsável por algumas peregrinações a Fundo de Vila. Excelentes exemplos da reabilitação urbana de que foi alvo S. João da Madeira nos últimos anos. O centro é que não teve tanta sorte. Todos estes parques são periféricos e a sedução dos mais pequenos retira muitos dos apreciadores da Praça para outros locais. Os comerciantes bem se esforçam, mas uma ida à Praça Luís Ribeiro já não tem o mesmo encanto.
A zona pedonal da cidade tem sofrido algum abandono. Especula-se sobre a necessidade de a abrir ao trânsito, altera-se o sentido de trânsito numa rua, introduz-se transportes especiais no centro e lentamente, esta zona perde o seu sentido pedonal. Existem várias cidades, de variada dimensão, com zonas vedadas ao trânsito, voltadas para o lazer dos seus habitantes, estimulando a partilha de espaços públicos por várias gerações.
Seria bom que a rede de parques infantis no concelho se centralizasse, começando pela criação de um parque na Praça (ali no topo Norte, na confluência da Rua Oliveira Júnior, com a rua Dr. Maciel, por exemplo). A cidade agradecia, os mais pequenos também. Os da geração do assobio podiam voltar à Praça e mesmo os avós teriam mais motivos para sorrir.