terça-feira, junho 20, 2006

Bandeiras Azuis

Nesta fase do ano, em que a época balnear já abriu e os infantários, as pré - escolas, ou os ATLs, preparam as semanas de praia dos seus alunos, as atenções viram-se para a segurança dos transportes e para a Praia eleita, em especial, a qualidade que esta deverá ter. As praias dos concelhos mais próximos são o destino mais lógico e por isso, inevitável.
De alguns anos para cá, o indicador de qualidade das Praias Portuguesas é a atribuição do galardão, Bandeira Azul.
Em geral os concelhos marítimos – e não só – têm procurado assegurar que as suas principais praias sejam reconhecidas, tendo melhorado e dotado as zonas costeiras com os indispensáveis equipamentos de apoio aos banhistas, incluindo a limpeza da praia e claro está, da qualidade da água.
O concelho de Gaia não perdeu tempo. Aproveitou quinze quilómetros da sua costa, designou-a por Orla Marítima e lançou-se ao desafio ambiental de a qualificar. Resultado: dezassete praias têm Bandeira Azul em 2006, nesses 15 quilómetros. Em contraste, na Zona Centro, que é definida em termos costeiros pela sequência entre o norte do concelho de Ovar até ao sul da Figueira da Foz, finalizando concretamente na Praia do Osso da Baleia do concelho de Pombal, o número de praias com Bandeira Azul é inacreditável... Dezasseis, sim dezasseis praias, em 125 quilómetros de costa. Que desperdício! Se virmos no mapa, apenas Ovar com a atribuição a 3 praias, Ílhavo com 2 e a Figueira da Foz com 5 é que aproveitam um pouco melhor a costa. O resto é um concelho, uma praia com Bandeira Azul: Murtosa, Aveiro, Vagos, Mira, Cantanhede e a já referida de Pombal.
Num país que se pretende turístico, não aproveitar a totalidade da costa e deixar dezenas de quilómetros de praias, sem acesso rápido, não faz muito sentido. Tendo em comum dunas na retaguarda, escondem-se largos ou estreitos areais, sem barracas, sem jogos de futebol maçadores, sem nadadores salvadores, nem cafés e muito menos cerveja gelada. Os concelhos a que fazem parte esquecem-se delas, desperdiçando assim a costa. Praias sem acesso por estrada, apenas sendo alcançadas atravessando a mata a pé. Porquê?
Mesmo com vias de comunicação, temos outros exemplos de boas praias sem o investimento necessário pelas autarquias para possuírem o desejado certificado. Acessos entregues à anarquia generalizada que, durante anos, caracterizaram as praias de Portugal. Salvo raras excepções; só que essas não as divulgo.
Voltando ao caso de Gaia, praias como Valadares, Canide e Madalena têm dois galardões atribuídos. Metodicamente associou-se qualidade e quantidade, conseguindo-se aquele rácio de número de Bandeiras Azuis por quilómetro. Mais do que atrair turistas, Gaia voltou-se para dentro, garantiu e melhorou a qualidade de vida dos seus habitantes.
Infelizmente na Zona Centro do nosso país, constatamos que nem a vocação turística dos concelhos marítimos está a ser devidamente trabalhada. De nada serve verificar que não é só nesta zona. Só piora.
Termino com um sinal de esperança que nos chega de Ovar. Mais ano menos ano, a Praia do Areínho na Ria de Aveiro conquistará a Bandeira Azul, pelo menos essa é a intenção da Câmara local. Apenas não foi distinguida este ano, porque um dos parâmetros não cumpria o exigido. Algo começa a alterar-se nas praias fluviais, mas aí a situação global é bem mais catastrófica.